Sempre que decorrem actos eleitorais,
sejam eles de que natureza forem, para as legislativas ou para as autárquicas,
como no presente acontece, partidos como o PS e o PSD que, a sós ou
coligados, têm estado à frente dos governos ou das autarquias, apostados em
escamotear as suas responsabilidades na desastrosa situação em que se encontra
o país e o povo, encomendam estudos que aliviem ou aligeirem essa
responsabilidade. A par dessa estratégia, repetem até à exaustão promessas que
sabem de antemão não irem cumprir e proclamam que a culpa da situação não é
deles – pois foram obrigados a herdá-la -,
mas sim dos outros!
Claro que não certamente por acaso, nem
por estarem a prestes a realizar-se eleições autárquicas, chegou rapidamente às
mesas das redacções dos diversos órgãos de comunicação social, um
estudo encomendado pelo governo à Autoridade Metropolitana de Transportes de
Lisboa que revela ter aumentado a taxa de passageiros que não possuem título válido de
transporte, concluindo que tal fenómeno é um dos grandes responsáveis pelo rombo que
apresentam as contas das empresas públicas de transporte.
Certamente por acaso não terá sido, a par
da vinda a público deste objectivo estudo, o facto de o
secretário de estado do sector ter protagonizado e dirigido, na semana passada,
uma vasta operação de fiscalização que, com a prestimosa
colaboração de fiscais pertencentes a empresas fora do sector, com as costas
devidamente guardadas por dezenas de polícias, sequestrou centenas de
passageiros dentro dos autocarros em que viajavam, sobretudo da CARRIS, em
Lisboa, para surpreender meia dúzia de prevaricadores, perigosos criminosos,
cujo horrendo crime foi o de se terem furtado ao pagamento do título que
os habilitaria ao transporte. Ou
seja, numa total desproporção de meios, as forças fiscalizadoras responderam
com um crime de sequestro a uma prevaricação cuja pena máxima seria uma contra-ordenação e…multa!
E, claro está, funcionando sempre como a voz
do dono, e querendo ser mais papista do que o papa, lá
vem a prestimosa comunicação social, na posse dos grandes
grupos financeiros que encontram neste governo de traição o seu pilar
de confiança, relatar com objectividade, que
o estudo terá mesmo concluído que cerca de 60% dos passageiros teriam utilizado os transportes
públicos…sem pagar!
Esmiuçado o estudo, conclui-se que os tais
60% de não pagantes teriam sido registados apenas numa carreira da Carris mas,
provavelmente por razões de conveniência política,
extrapolados para as conclusões gerais do dito. Sendo assim, o objectivo então
só pode ser outro. O de justificar, por um lado, as sucessivas
perdas de utentes e de receita de bilheteira e, por outro, as medidas securitárias e
repressivas que estão a ser tomadas para perseguir e reprimir os prevaricadores.
E, ainda e mais importante, justificar a necessidade de
se privatizar o sector dos transportes públicos.
Mas,
vamos ao que realmente interessa denunciar e combater. Pelo menos de quatro em
quatro anos, os chamados partidos do arco do poder – PS e PSD
que formam o bloco central - que à vez, a sós ou
coligados com outros partidos do arco parlamentar ,
têm governado Lisboa – e o país -,entre outras bandeiras vêm
anunciar que desta vez é que é para valer, os transportes, assim o povo ou os
cidadãos de Lisboa caiam na esparrela de neles voltar a votar, serão alvo de
profunda reestruturação e melhoramentos, as acessibilidades de e para Lisboa
sofrerão uma assinalável melhoria e os lisboetas passarão a contar com uma rede
de transportes moderna, fiável, eficiente e segura, com um preço adequado aos
rendimentos dos seus utentes.
Passado o
período eleitoral , ao que assistimos?! Mandato após mandato, à degradação dos
transportes, à manifesta falta de segurança, ao agravamento das condições de
acesso, com falta de elevadores e escadas rolantes ou de acessos às estações
para invisuais ou deficientes motores, ao agravamento das condições de
comodidade, com diminuição de horários e carreiras, com diminuição do número de
carruagens seja no metro seja nos comboios suburbanos.
E tudo
isto porque as vereações encabeçadas por PS e PSD aprovaram ou implementaram
Planos Directores Municipais que, para além de terem expulso da capital mais de
metade da sua população, ao longo destas quase quatro décadas, a transformaram
num autêntico parque público para automóveis, tendo o automóvel tomado conta
absoluta da cidade, abandonando criminosamente uma articulada política de
transportes que, não só retirasse da cidade o automóvel, como possibilitasse
uma rede de transportes adequada para quem nela vive ou trabalha.
Verdade
seja dita, o PCTP/MRPP tem sido, coerentemente, o único partido a defender
que,para que essa política articulada e eficaz de transportes seja conseguida,
impõe-se a criação da Região Especial de Lisboa, que vá de Torres
Vedras a Setúbal, pois só assim será possível dar um tratamento integrado e
eficaz aos problemas que impedem o correcto funcionamento e desenvolvimento da
cidade, como seja o sector dos transportes, entre outros, de modo a beneficiar
os cidadãos, a cidade e o país.
Relativamente
aos transportes públicos, há muito que o PCTP/MRPP defende a sua
municipalização. É o Município que deve mandar em tudo o que são transportes no
Município! Por outro lado, a actual situação em que as empresas de transportes
públicos se encontram deve-se essencialmente ao incumprimento por parte do
Estado das suas obrigações de investimento, tendo forçado aquelas empresas a
financiamentos usurários junto da Banca, o que conduziu ao desastre actual. A
dívida que foi imposta a estas empresas de transportes deve, assim, ser
assumida pelo Estado e tem que ser criada uma nova política de transportes a
qual deve consistir no seguinte:
- Uma rede de transportes públicos modernos, rápidos, confortáveis e
seguros assente essencialmente no metro e no eléctrico moderno, bonito e
rápido, devendo a cadência da respectiva circulação ser suficiente e
a funcionar em horários que permitam não só a movimentação dos lisboetas
na sua cidade, como também o acesso dos cidadãos que pretendam vir da
periferia para ela e regressar às suas casas.
- Os custos do transporte devem passar a ser suportados pelo
município, através de dotações orçamentais do Estado, pelas entidades que
beneficiam com a rede de transportes – designadamente as universidades e
empresas – e pelos utentes, sendo que o valor a ser suportado por estes
mensalmente, nunca deverá ultrapassar 5% do salário mínimo nacional, tal
como já hoje sucede nas grandes cidades europeias.
- Proibição de entrada de carros no centro da cidade, com a
construção de parques de estacionamento gratuitos, seguros e devidamente
vigiados nos limites da cidade e não no seu interior.
Assim, se
as Universidades ou um conjunto de empresas retiraram benefício da rede de
metro, por exemplo, então têm de contribuir com uma quota-parte de
contrapartida por esse benefício, tal como já hoje sucede nas grandes cidades
europeias.
E tem
também de haver transportes suficientes, não só para os lisboetas circularem na
cidade como também para que as pessoas que pretendem vir da periferia para
assistir a um espectáculo, um evento cultural ou simplesmente divertir-se, o
possam fazer de forma cómoda, barata e segura. Lisboa tem de tratar bem os seus
vizinhos!
Excelente...Joana Miranda à presidência da câmara de Lisboa.
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