Por Marc
Rousset.
Jerome Powell, presidente do Fed, acaba de traçar, em Jackson Hole (Wyoming), as principais linhas do novo quadro de política monetária. O Fed pretende colocar o emprego à frente da inflação. (sic) O Fed terá como objectivo uma taxa média de 2% ao longo do tempo e compensar períodos de inflação baixa com inflação acima de 2% por algum tempo. O banco central americano pretende, assim, trazer os Estados Unidos de volta ao pleno emprego e favorecer o aumento da inflação. A nova estratégia monetária do Fed deve, portanto, levá-lo a manter as taxas nominais muito baixas e as taxas reais negativas.
Enquanto Paul Volcker, chefe do Fed entre 1979 e 1987, aumentou muito a taxa básica dos EUA para controlar a inflação, Jerome Powell procura estimulá-la. Volcker provocou uma recessão, mas conseguiu conter a inflação antes de desencadear uma forte recuperação económica, enquanto Powell poderia bem desencadear uma hiperinflação incontrolável ao longo do tempo. O desemprego nos EUA está actualmente em 10,2%. Está abaixo dos 14,7% de Abril passado, mas ainda bem acima dos 3,5% de Fevereiro. Na semana passada, o número de pedidos de subsídio de desemprego ainda era de um milhão.
De acordo com o Bank of America, é improvável que o Fed
aumente a sua taxa directora até 2062, ou seja antes dos 42 anos, o que é uma
utopia e um colapso económico que está para vir. A única certeza é que
caminhamos para um ambiente com mais inflação. O diabo pode um dia sair da sua garrafa e levar-nos a uma situação
semelhante à da Alemanha em 1923.
A massa monetária M1
dos Estados Unidos, que era de 200 biliões de dólares em 1980, foi
multiplicada por 30 para se elevar, hoje,
a 6.000 biliões de dólares,
com um crescimento acelerado desde 23 de Março de 2020. Como os bancos
comerciais estão relutantes em emprestar dinheiro, devido aos riscos de
impagáveis, o Fed não encontra nada melhor do que aumentar a massa monetária
afim de compensar o seu temor. Isso é exactamente o que aconteceu na Alemanha
dos anos 1920.
A crise de 2008 abriu as comportas para a política de compra
de activos financeiros pelos bancos centrais. A crise da Covid-19 impõe o
recurso à utópica política moderna, isto é, ao "dinheiro do helicóptero", ou
seja, ainda, a creditar directamente as contas dos cidadãos. Alguns economistas
até sugerem experimentar políticas de taxas negativas muito altas. Nos Estados
Unidos, os cheques assinados pelo Tesouro norte-americano não impediram a falência
da retalhista JC Penney, mas impulsionaram os preços das acções.
A França, por sua vez, sofre de uma desindustrialização
imbecil há quarenta anos e, portanto, de uma oferta insuficiente de produtos
industriais. Estimular o consumo por meio de uma política monetária frouxa é
bom para a Alemanha e para a China, mas não para a França, que é importadora.
Os únicos que ganham actualmente, em qualquer parte do
mundo, são a dívida e a criação monetária que aumenta. O hiper-endividamento de um estado só pode terminar com hiperinflação
com desvalorização, uma tributação confiscatória, a austeridade generalizada, o
empréstimo compulsório, a guerra e a pilhagem; o que Napoleão fez, ou a
bancarrota e o colapso como no Líbano (ver link - Liban). Não nos restam senão inconscientes,
do estilo Mélenchon, para acreditar que tudo vai acabar da melhor maneira em França
com uma dívida perpétua num mundo onde, amanhã, as pessoas farão a barba de
graça.
David Hume (Ensaio sobre o crédito público) já
advertia no século 18: “Dificilmente seria mais prudente dar crédito a um filho
pródigo junto a todos os banqueiros de Londres do que dar a um Estado o poder
de sacar dinheiro. esta forma de letras de câmbio sobre a posteridade. Já o
austríaco Stefan Zweig relata, no Le
Monde d'hier, a sua memória da hiperinflação dos anos 1920: “Vivi dias em que
tinha de pagar cinquenta mil marcos de manhã por um jornal e à noite, cem mil
[...] encontrávamos notas de cem mil marcos na sarjeta: um mendigo rejeitava-as
com desdém, mas por cem dólares podiam-se comprar filas de prédios de seis
andares na Kurfürstendamm. "
(Eis
o espectro que se perfila no horizonte da pandemia e do confinamento demente
que a distopia Covid-19 dissimula a consciência colectiva. NDLR)
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