domingo, 13 de setembro de 2020

Presidenciais 2021:




A posição de um comunista perante o Carnaval Eleitoral que agora começou!


Estava prometido. As eleições presidenciais de 2021 já contam com 9 candidaturas oficializadas – André Ventura, dirigente da formação política fascista, Chega, Tiago Gonçalves, proposto pelo Iniciativa Liberal, Marisa Matias, do BE, Ana Gomes, “independente”, Bruno Fialho, líder do PDR, Gonçalo da Câmara Pereira, do PPM, Orlando Cruz, ex-militante do CDS-PP e Vitorino Silva, líder do R.I.R. (o inefável bobo da corte “Tino de Rans”) e o PCP acaba de formalizar a candidatura do delfim João Ferreira.

Aguarda-se a quebra do tabu de Marcelo Rebelo de Sousa. Entretanto, já foi proposta por Alberto João Jardim a candidatura de Miguel Albuquerque, líder do PSD Madeira e Presidente do Governo Regional da Madeira. Ou seja, se todas vierem a cumprir os critérios do Tribunal Constitucional, mormente quanto ao número de assinaturas, teremos, nada mais nada menos, do que cerca de uma dúzia de candidatos ao poleiro da Presidência da República!

Para os comunistas, para a classe operária e seus aliados, tem de ficar claro que estas eleições presidenciais , como as demais – legislativas, regionais e autárquicas – não têm por objectivo permitir que os eleitores “escolham” um candidato, mas sim indicar aos eleitores qual o candidato que ao regime, que serve o modo de produção capitalista dominante, melhor se adequa.

Para que tal seja possível de alcançar, está já a ser colocado em movimento um imponente arsenal de propaganda, no qual são desperdiçadas várias centenas de milhões de euros. Ninguém ficará surpreendido, pois, com a crescente insatisfação dos operários e dos trabalhadores em Portugal com a maneira como a política está ser implementada no nosso país.

Nesta, como em campanhas eleitorais anteriores, manifestar-se-á a raiva incontida do povo português, tanto da classe média burguesa, como da pequena-burguesia empobrecida, da precária classe proletária ou dos sectores pobres e desfavorecidos da sociedade, traduzida numa crescente abstenção – recorde-se que nas recentes eleições para o Parlamento Europeu e para as Legislativas a abstenção foi de mais de 60% e mais de 50%, respectivamente!

Cabe aos comunistas fazer com que os proletários da miséria descubram que, seja qual for o pretendente à cadeira presidencial, nada poderá mudar, nem resolver os problemas do capitalismo falido. Na verdade, os problemas de Portugal e do mundo capitalista e imperialista não são causados ​​pela má governação de uma equipa mais à direita, ao centro ou à pseudo-esquerda, mesmo que esta se reclamasse comunista.

Tem a ver com as condicionantes de um modo de produção capitalista obsoleto e que constitui um real travão ao progresso das forças produtivas. As sucessivas eleições – presidenciais, legislativas, regionais, autárquicas – estão aí para confirmar que se pode mudar de pavão, sem que tal altere o modo de produção capitalista e o seu corolário de exploração, desemprego, precariedade, corrupção, guerra, fome e miséria.

É por isso que os comunistas não podem acalentar falsas ilusões, que se manifestam em alguns sectores do proletariado, em torno das “virtudes” de algumas das personalidades que, emergem do seio da falsa esquerda como sejam Ana Gomes, Marisa Matias ou o candidato do falso partido comunista, agora anunciado, João Ferreira.

À direita, assistimos a um PS sedento em apostar no establishment, apoiando abertamente a recandidatura do representante da direita mais conservadora, Marcelo Rebelo de Sousa, não se arriscando a apostar num candidato próprio. Como resultado, a extrema-direita populista, racista, xenófoba, fascista, resolveu apresentar candidaturas próprias – duas, a do Iniciativa Liberal e a do Chega.

Será necessário que com o sangue-frio e a coragem que os caracteriza, os comunistas saibam demonstrar à classe operária e aos seus aliados que o que se aproxima é mais um Carnaval eleitoral onde nem o tradicional “bobo da corte” faltará para “apimentar” a ocasião. O que a burguesia pretende com este Carnaval é adensar a cortina de fumo que crie a ilusão de que o que se está a materializar, através do voto, é a ... “vontade popular”! Quando, de facto, todos os candidatos são faces da mesma moeda, do mesmo regime de exploração dos operários e dos trabalhadores.

A missão dos candidatos que agora se anunciam é precisamente o de credenciar quer o poder político burguês, quer o modo de produção capitalista que este defende. O observador médio não se deve deixar enganar pela campanha mediática ou pelos uivos da falsa esquerda patética que quer fazer crer que o apoio que os eleitores lhes vierem a dar servirá para alterarem qualitativamente as relações de poder.

Esta falsa esquerda, de braço dado com a extrema-direita que apresenta duas candidaturas a estas eleições presidenciais, mais não farão do que legitimar a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa que se recandidata com o apoio de Costa e do aparelho do PS, bem como de largos sectores das forças militares e de segurança, que preferem a continuidade da política reaccionária de um governo cujas medidas políticas ele tem caucionado e acolhido.

 O proletariado nunca deverá esquecer-se de que, sob o modo de produção capitalista, é a burguesia que possui os meios de produção, marketing e comunicação. Excepto a força de trabalho que pertence a cada operário que não tem outra escolha senão a de vender a sua propriedade, o seu tempo de trabalho, aos capitalistas e ao seu estado fetiche.

Reconhecer esta premissa, é reconhecer que é a classe capitalista que detém e controla todo o poder social nos órgãos económicos, políticos, mediáticos e ideológicos. O operário e o trabalhador podem recusar-se a serem alienados, dentro de limites estritos, a esta ditadura que se auto-intitula de “democracia”.

De 4 em 4, ou de 5 em 5 anos – como será o caso das eleições presidenciais que ocorrerão em Janeiro de 2021 – a burguesia “oferece” à classe operária, aos trabalhadores e ao povo uma autêntica indústria do circo eleitoral. E, no entanto, há mais de 40 anos, que essa alternância “esquerda-direita”, já não constitui mais uma alternativa, estando os fantoches cada vez mais desacreditados perante os eleitores.

De tal forma desacreditados que dão lugar ao aparecimento de forças consideradas “populistas”, “extremistas supremacistas” ou, aquilo a que comummente designamos por correntes fascistas. Este fenómeno, cada vez mais generalizado em todo o mundo – e que começa agora a fazer-se sentir em Portugal – é a manifestação de uma mudança de dominação exercida pela grande burguesia na sua aliança de classe tradicional com a pequena burguesia, mormente aqueles sectores que se sentem representados por partidos como o PCP e o BE, ou pela “candidatura independente” de Ana Gomes.
Os comunistas não podem iludir os operários e os trabalhadores, quanto à natureza de classe burguesa do órgão. Nem iludir a classe operária e os trabalhadores quanto ao facto de que não é uma eleição burguesa que poderá alterar a natureza de classe do poder burguês que dele emana e que cujos interesses ele defende e privilegia.

Os comunistas devem deixar claro junto da classe operária e dos seus aliados, que o modo de produção capitalista e o imperialismo espalharam-se a todos os cantos do planeta e colocaram, definitivamente e de forma clara, frente a frente, a burguesia e o proletariado, as duas classes antagónicas nucleares da sociedade.

Luis Júdice

Setembro de 2020

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