A posição de um
comunista perante o Carnaval Eleitoral que agora começou!
Estava prometido. As eleições presidenciais de 2021 já
contam com 9 candidaturas oficializadas – André Ventura, dirigente da formação
política fascista, Chega, Tiago Gonçalves, proposto pelo Iniciativa Liberal,
Marisa Matias, do BE, Ana Gomes, “independente”, Bruno Fialho, líder do PDR,
Gonçalo da Câmara Pereira, do PPM, Orlando Cruz, ex-militante do CDS-PP e
Vitorino Silva, líder do R.I.R. (o inefável bobo da corte “Tino de Rans”) e o
PCP acaba de formalizar a candidatura do delfim
João Ferreira.
Aguarda-se a quebra do tabu de Marcelo Rebelo de Sousa.
Entretanto, já foi proposta por Alberto João Jardim a candidatura de Miguel
Albuquerque, líder do PSD Madeira e Presidente do Governo Regional da Madeira.
Ou seja, se todas vierem a cumprir os critérios do Tribunal Constitucional,
mormente quanto ao número de assinaturas, teremos, nada mais nada menos, do que
cerca de uma dúzia de candidatos ao poleiro da Presidência da República!
Para os comunistas, para a classe operária e seus aliados,
tem de ficar claro que estas eleições presidenciais , como as demais –
legislativas, regionais e autárquicas – não têm por objectivo permitir que os
eleitores “escolham” um candidato, mas sim indicar aos eleitores qual o
candidato que ao regime, que serve o modo de produção capitalista dominante,
melhor se adequa.
Para que tal seja possível de alcançar, está já a ser
colocado em movimento um imponente arsenal de propaganda, no qual são
desperdiçadas várias centenas de milhões de euros. Ninguém ficará surpreendido,
pois, com a crescente insatisfação dos operários e dos trabalhadores em
Portugal com a maneira como a política está ser implementada no nosso país.
Nesta, como em campanhas eleitorais anteriores,
manifestar-se-á a raiva incontida do povo português, tanto da classe média
burguesa, como da pequena-burguesia empobrecida, da precária classe proletária
ou dos sectores pobres e desfavorecidos da sociedade, traduzida numa crescente abstenção
– recorde-se que nas recentes eleições para o Parlamento Europeu e para as
Legislativas a abstenção foi de mais de 60% e mais de 50%, respectivamente!
Cabe aos comunistas fazer com que os proletários da miséria
descubram que, seja qual for o pretendente à cadeira presidencial, nada poderá
mudar, nem resolver os problemas do capitalismo falido. Na verdade, os
problemas de Portugal e do mundo capitalista e imperialista não são causados pela
má governação de uma equipa mais à direita, ao centro ou à pseudo-esquerda,
mesmo que esta se reclamasse comunista.
Tem a ver com as condicionantes de um modo de produção
capitalista obsoleto e que constitui um real travão ao progresso das forças
produtivas. As sucessivas eleições – presidenciais, legislativas, regionais,
autárquicas – estão aí para confirmar que se pode mudar de pavão, sem que tal
altere o modo de produção capitalista e o seu corolário de exploração,
desemprego, precariedade, corrupção, guerra, fome e miséria.
É por isso que os comunistas não podem acalentar falsas
ilusões, que se manifestam em alguns sectores do proletariado, em torno das
“virtudes” de algumas das personalidades que, emergem do seio da falsa esquerda
como sejam Ana Gomes, Marisa Matias ou o candidato do falso partido comunista, agora
anunciado, João Ferreira.
À direita, assistimos a um PS sedento em apostar no establishment, apoiando abertamente a
recandidatura do representante da direita mais conservadora, Marcelo Rebelo de
Sousa, não se arriscando a apostar num candidato próprio. Como resultado, a
extrema-direita populista, racista, xenófoba, fascista, resolveu apresentar
candidaturas próprias – duas, a do Iniciativa Liberal e a do Chega.
Será necessário que com o sangue-frio e a coragem que os
caracteriza, os comunistas saibam demonstrar à classe operária e aos seus
aliados que o que se aproxima é mais um Carnaval eleitoral onde nem o
tradicional “bobo da corte” faltará para “apimentar” a ocasião. O que a
burguesia pretende com este Carnaval é adensar a cortina de fumo que crie a
ilusão de que o que se está a materializar, através do voto, é a ... “vontade
popular”! Quando, de facto, todos os candidatos são faces da mesma moeda, do
mesmo regime de exploração dos operários e dos trabalhadores.
A missão dos candidatos que agora se anunciam é precisamente
o de credenciar quer o poder político burguês, quer o modo de produção
capitalista que este defende. O observador médio não se deve deixar enganar
pela campanha mediática ou pelos uivos da falsa esquerda patética que quer
fazer crer que o apoio que os eleitores lhes vierem a dar servirá para
alterarem qualitativamente as relações de poder.
Esta falsa esquerda, de braço dado com a extrema-direita que
apresenta duas candidaturas a estas eleições presidenciais, mais não farão do
que legitimar a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa que se recandidata com o
apoio de Costa e do aparelho do PS, bem como de largos sectores das forças
militares e de segurança, que preferem a continuidade da política reaccionária
de um governo cujas medidas políticas ele tem caucionado e acolhido.
O proletariado nunca
deverá esquecer-se de que, sob o modo de produção capitalista, é a burguesia
que possui os meios de produção, marketing e comunicação. Excepto a força de trabalho
que pertence a cada operário que não tem outra escolha senão a de vender a sua
propriedade, o seu tempo de trabalho, aos capitalistas e ao seu estado fetiche.
Reconhecer esta premissa, é reconhecer que é a classe
capitalista que detém e controla todo o poder social nos órgãos económicos,
políticos, mediáticos e ideológicos. O operário e o trabalhador podem
recusar-se a serem alienados, dentro de limites estritos, a esta ditadura que
se auto-intitula de “democracia”.
De 4 em 4, ou de 5 em 5 anos – como será o caso das eleições
presidenciais que ocorrerão em Janeiro de 2021 – a burguesia “oferece” à classe
operária, aos trabalhadores e ao povo uma autêntica indústria do circo
eleitoral. E, no entanto, há mais de 40 anos, que essa alternância “esquerda-direita”,
já não constitui mais uma alternativa, estando os fantoches cada vez mais
desacreditados perante os eleitores.
De tal forma desacreditados que dão lugar ao aparecimento de
forças consideradas “populistas”, “extremistas supremacistas” ou, aquilo a que
comummente designamos por correntes fascistas. Este fenómeno, cada vez mais
generalizado em todo o mundo – e que começa agora a fazer-se sentir em Portugal
– é a manifestação de uma mudança de dominação exercida pela grande burguesia
na sua aliança de classe tradicional com a pequena burguesia, mormente aqueles
sectores que se sentem representados por partidos como o PCP e o BE, ou pela
“candidatura independente” de Ana Gomes.
Os comunistas não podem iludir os operários e os
trabalhadores, quanto à natureza de classe burguesa do órgão. Nem iludir a
classe operária e os trabalhadores quanto ao facto de que não é uma eleição
burguesa que poderá alterar a natureza de classe do poder burguês que dele
emana e que cujos interesses ele defende e privilegia.
Os comunistas devem deixar claro junto da classe operária e
dos seus aliados, que o modo de produção capitalista e o imperialismo
espalharam-se a todos os cantos do planeta e colocaram, definitivamente e de
forma clara, frente a frente, a burguesia e o proletariado, as duas classes
antagónicas nucleares da sociedade.
Luis Júdice
Setembro de 2020
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