sexta-feira, 14 de setembro de 2012

15 de Setembro:


Um dia de luta e não de unidade de todos os “portugueses honrados”!

 

Assistimos nos últimos dias a um frenesim “unitário”, onde uma aparente “convergência” em torno da apreciação às medidas terroristas e fascistas anunciadas por este governo de serventuários ao serviço da tróica germano-imperialista, primeiro através do traidor Passos e, depois, pelo seu “capanga-mor” Gaspar – Dixit -, parece tornar comum o repúdio a largos e variados sectores de classe da nossa sociedade.

Nada de mais ilusório! As contradições que opõem os trabalhadores dos transportes ou da função pública, os professores, os mineiros ou os operários dos estaleiros navais, entre muitos outros sectores do mundo do trabalho, os precários, os desempregados, os reformados e pensionistas, a este governo que nada mais tem feito do que aplicar medidas terroristas e fascistas uma atrás das outras para satisfazer os ditames do directório europeu e da sua chefe, a chancelerina Merkel, são contradições antagónicas, de fundo, que só serão resolvidas com o derrube deste governo e a constituição de um governo democrático patriótico.

De natureza bem diversa são as contradições que opõem figuras gradas do regime, tais como Manuela Ferreira Leite, Bagão Felix ou Alberto João Jardim, Belmiro de Azevedo ou outro qualquer grande capitalista, passando por toda a cáfila de organizações e associações patronais, ao executivo. São contradições meramente formais, que se prendem com o seu desacordo, não quanto ao objectivo comum de que é necessário explorar quem trabalha, de que é necessário fazer o povo pagar uma dívida que não contraiu, nem dela beneficiou, mas quanto a aspectos instrumentais a essa exploração que todos eles advogam.

E, quanto aos senhores, mesmo os que se reclamam de esquerda, que agora já parece apoiarem o derrubamento do governo, que vêm agora querer juntar-se a um movimento que se bate, claramente, pela expulsão da tróica germano-imperialista do nosso país e pelo repúdio da dívida, os democratas, os trabalhadores, a juventude, o povo, exigem que definam qual é a sua posição:

·         quanto à dívida, nomeadamente se consideram que o povo esteve a viver “acima das suas possibilidades” e se existe uma parte “legítima” dessa dívida que deve ser paga; e, já agora, como pensam pagá-la, à custa de quem e durante quanto tempo;

·         quanto à tróica, exigimos saber se esses senhores mantêm o seu programa político de que devem continuar a haver negociações com essa cáfila de saqueadores para “renegociar” ou “reestruturar” uma dívida que é ilegal, ilegítima e odiosa;

·         quanto aos roubos nos salários, traduzidos no confisco dos subsídios de férias e de natal aos trabalhadores da função pública, reformados e pensionistas, no anunciado aumento da TSU para todos os trabalhadores – do sector público e do privado;

·          e aos ataques aos direitos dos trabalhadores, nomeadamente a nova legislação laboral que visa destruir as contratações colectivas, facilitar e embaratecer os despedimentos, que são apenas a continuação do que já Sócrates fazia.

Apoiam estes senhores um programa de governo que repudie a dívida pública, que nacionalize a banca e todos os activos, sectores e empresas estratégicas para o desenvolvimento de uma economia que sirva o povo e seja controlada pelos trabalhadores e suas organizações?

Estão de acordo que o governo democrático patriótico formado na sequência do derrube do actual governo, revogue a legislação laboral de Coelho e de Sócrates e a substitua por legislação que seja discutida e aprovada pelos trabalhadores e suas organizações de classe – sindicatos, comissões de trabalhadores, etc.?

Estão de acordo que se ponha termo à destruição do Serviço Nacional de Saúde recuperando o princípio de uma saúde gratuita para os trabalhadores e para o povo? Estão de acordo que se revogue a legislação que tem levado à sistemática destruição da escola pública, que Sócrates praticou e que Coelho agravou?

É que serão as respostas que estes senhores derem a estas questões que determinarão se eles estão, genuinamente, envolvidos na transformação da sociedade, a favor de quem trabalha e do povo constantemente humilhado e roubado, ou se, o que pretendem, é uma vez mais cavalgar o descontentamento popular para os seu jogos tácticos de repartição do poder – deixando ficar o essencial do sistema que produz a exploração sobre os trabalhadores e o povo a que assistimos intacto - com aqueles contra quem, agora, querem fazer crer que também estão em luta.

E há quem, inclusive, no meio deste bruááá todo, faça correr rumores de um levantamento militar, uma espécie de nova “revolução de Abril”, feita não de cravos, mas de firmeza “revolucionária”, mas sempre, sempre, na base de uma aliança que nunca deveria ter sido quebrada no passado…a famigerada aliança Povo-MFA!

E, de repente, aquela que deveria ser uma manifestação que promovesse uma ampla frente de camadas populares, de esquerda, dispostas a lutar pelo derrube deste governo, dispostas a expulsar a tróica do nosso país, dispostas a REPUDIAR a dívida e a constituir um governo democrático patriótico, dispostas em impor às centrais sindicais – CGTP e UGT – a convocatório de uma GREVE GERAL NACIONAL, pensariam alguns, tornar-se-ia numa quermesse de boas vontades, unidas para condenar as “medidas políticas” adoptadas por este governo.

NÃO! No dia 15 de Setembro, nas praças e avenidas de cerca de 30 cidades do nosso país, os trabalhadores, os estudantes, os intelectuais, o povo em geral, devem, e vão certamente demonstrar que as lições que retiraram da derrota de Abril de 1974, não são lições que os levem à paralisação, à conciliação, aos objectivos que os levem a cair de novo em rumos e becos sem saída, em vias que só os levaram à derrota das suas aspirações por um mundo melhor, trabalho e condições de vida com dignidade, um país na plenitude do seu direito à independência nacional, um país próspero e moderno, um país livre da exploração do homem pelo homem.

2 comentários:

  1. ... com estes "ses" terias meia dúzia de pessoas na s manifestações... é de facto isto que me espanta em ti! Não penso ser inocência nem desconhecimento da realidade mas sim um enorme desejo q assim fosse... mas, NÃO É!!! Não é, mesmo. De resto, basta ires ler aos diversos murais de convocatória das manifestações para teres uma noção real do que para lá anda...
    Qual governo patriótico??? Com quem??? Seria então um governo do MRPP apenas....

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  2. Os "ses" a que te referes não sugerem qualquer ingenuidade da minha parte. Antes, a memória da praxis que gente como Mário Soares, Manuel Alegre, Vasco Lourenço e muitos mais que seria uma interminável e bocejante lista. sempre tiveram perante uma crise das dimensões e da profundidade da que estamos a atravessar.

    A estratégia tem sido sempre a mesma. Cavalgar o descontentamento das massas, escsamoteando quer as suas responsabilidades na actual situação e, tentando criar a ilusão de que pretendem um novo rumo para o país, mais favorável ao povo.

    E não é assim. Eles querem navegar no mesmo mar do Passos e do Portas, querem servir os mesmos senhores, só que, aparentemente mais "esclarecidos", estão a ver que o radialismo de PSD/CDS na defesa dos interesses da tróica pode deitar tudo a perder, isto é, levar não só à queda do governo como à alteração do sistema.

    Nas condições actuais, nemhum partido de esquerda, seja o PCP, seja o BE, seja uma pretensa ala mais à esquerda do PS, seja o PCTP/MRPP, teriam qualquer hipótese de ser açternativa de poder.

    Tão pouco uma soma aritmética das "forças" combinadas desses partidos ou alas partidárias o asseguraria. Há, hoje, muito mais mundo para além dos partidos.Existem plataformas cidadãs, movimentos de cidadãos, independentes, que terão de fazer parte de uma frente alargada, de esquerda, que assegure que, após o derrube do presente governo, haja não só uma alternativa de governabilidade do país, como a possibilidade de esse novo governo levar à prática um programa mínimo que sirva os interesses comuns dessas classes e sectores de classes, de vários sectores da sociedade portuguesa.

    O facto de se reclamar que o governo resultante do derrube do actual executivo seja democrático patriótico tem a ver, não com um desejo empírico e romântico do PCTP/MRPP, mas com a particular situação de unidade de classes, sectores de classe e interesses representativos desses sectore e classes.

    Se é certo que os comunistas pugnam e lutam pela revolução socialista e pela construção da sociedade comunista, não menos certo é que eles têm de analisar a situação concreta, existente em cada momento e, do ponto de vista táctico, organizar-se e aos trabalhadores e as massas em função dos condicionalismos existentes.

    Um deles, à partida, é que fruto da massiva destruição do nosso tecido produtivo, quase que deixou de existir classe operária, o núcleo dirigente de qualquer revolução socialista. Os outros têm a haver com particularidades do nosso processo histórico que indicam que para recuperarmos o tecido produtivo destruido e implementarmos uma economia independente e ao serviço e controlada pelos trabalhadores, teremos de reconquistar a independência nacional o que leva a termos de, imperativamente, expulsar a tróica germano-imperialista do país e a REPUDIAR uma dívida que não foi contraída pelo povo.

    E, se é certo que o combate às concepções oportunistas que paralizam as lutas dos trabalhadores e leva o movimento popular a capitular deve prosseguir com denodo e sem hesitações, não menos certo é que este é um momento particular em que ou aqueles que se reclamam de esquerda se unem para - utilizando uma expressão que abomino - levar a cabo uma política de "salvação nacional" ou o risco de um novo e muito mais prolongado refluxo revolucionário poderá advir.

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