sábado, 29 de setembro de 2012

A propósito da unidade da esquerda


As alianças são para ser respeitadas, não manipuladas!

 
São várias as origens dos clamores daqueles que, reclamando-se de esquerda, com ou sem partido, exigem que, face à unidade que a burguesia exibe para explorar os trabalhadores e salvaguardar o seu sacrossanto sistema da propriedade privada e da ganância sem limites, exigem que a esquerda – TODA! – se una.

A nós, marxistas-leninistas não nos choca a unidade nem as alianças, antes pelo contrário, achamos que ela é necessária e acarinhamo-la. Mas, é verdade, somo muito exigentes quanto a com quem construímos essa unidade e estabelecemos alianças, com que objectivos concretos, baseadas em que princípios, e que acções se espera dessa frente unitária para, na base de um programa mínimo, os trabalhadores e o povo poderem vislumbrar uma saída que realmente lhes permita libertarem-se do jugo do capital sobre o trabalho, do jugo do imperialismo que nos impõe a perda de soberania.

Na situação política actual, em que o governo vende-pátrias do PSD/CDS declarou guerra aos trabalhadores e ao povo português e, todos os dias, se entretém a lançar medidas terroristas e fascistas sobre eles, a mando da tróica germano-imperialista e dos grandes grupos financeiros e bancários, sobretudo alemães, é sincero o nosso desejo de que essa plataforma de unidade se construa, claro que na base de princípios a ser discutidos com franqueza e lealdade pelas partes interessadas em se envolver nesse processo e sem tentativas confinadoras ou manipuladoras que, claro está, como várias experiências recentes demonstram, pouco ou nada contribuem para que a tão propalada unidade da esquerda se produza.

Não se pode esperar que quem defende o não pagamento da dívida se sinta “confortável” com quem, defendendo legitimamente a opinião de que a dívida deve ser auditada e a parte legítima da mesma paga, organize Iniciativas, Congressos ou outros eventos que têm como objectivo, segundo os seus promotores, essa unidade,  iniciando os mesmos tentando apresentar, através de um “show” de media, apresentações “power point”, prolongadas intervenções de oradores que defendem as ideias no formato que estão “dispostos”  a discutir, venham depois responsabilizar os primeiros de não querer a unidade, por denunciarem a tentativa de manipulação.

Podemos e devemos discutir tudo. Desde as teses da “alternativa inteligente”, às teses dos que defendem que a esquerda responsável deve defender a “reestruturação” ou a “renegociação” da dívida, passando pelas teses que nós defendemos de que, responsável, do ponto de vista dos trabalhadores é não aceitar a chantagem da dívida, uma dívida que não foi contraída pelo povo, responsável é não pagar uma dívida impagável, como a realidade tem vindo a demonstrar. Mas, nessa discussão, desde a génese, a organização dos debates deve ser feita com o concurso das ideias de todos os que se deseja unir e não, apenas, com o “círculo restrito”. É que, senão, esta é uma unidade viciada à nascença e condenada ao insucesso…uma vez mais!

Estamos convencidos de que todos aqueles que se reclamam da esquerda ou que afirmam defender o povo e quem trabalha, têm, hoje, a percepção de que, do ponto de vista demográfico e sociológico, a esmagadora maioria do povo se revê no projecto da esquerda. Se ainda subsistissem dúvidas de que, após as greves gerais nacionais de 24 de Novembro de 2011 e de 22 de Março de 2012, tal era assim, e que a pretensa legitimidade eleitoral do governo Passos/Portas tinha ficado completamente esfrangalhada, a manifestação do passado dia 15 de Setembro, apesar de ter uma composição de classes muito diversificada, desvaneceu qualquer dúvida que ainda pudesse subsistir.

Mas, tudo isto tem de ser, aberta e francamente, discutido. Existe ou não, como defendemos, um mandato popular para que seja marcada, com a máxima urgência, uma Greve Geral Nacional, a sério, e que o objectivo político central da mesma seja o derrube do governo dos traidores Passos e Portas? Foi ou não evidente a consciência dos que se manifestaram a 15 de Setembro de que nenhuma oposição às medidas terroristas e fascistas de que os trabalhadores e o povo estão a ser alvo por parte deste governo de serventuários, seria eficaz sem a expulsão dos patrões que servem, isto é, o FMI e restante tróica, do nosso país?

Se não é assim, quais as alternativas? Sugerir mudança de políticas não será sugerir ao sistema que as aplica modelos de gestão do sistema capitalista que promovam uma “austeridade inteligente”? E, a renegociar ou a reestruturar a dívida, como responder à questão: a ser assim, quem paga? Quanto se tem de pagar? Porque é que se tem de pagar? Os “suspeitos” do costume? O povo, os trabalhadores?

Se a alternativa, que deve ser ponderada e discutida de forma profunda e séria – sem tentações manipuladoras – for o derrube deste governo, que governo, com que programa e objectivos deveria surgir no seu lugar? E por iniciativa de quem? Do presidente Cavaco, que sempre caucionou as medidas que Passos e Portas lhe levaram para promulgar e ele, ainda que essas medidas estivessem feridas de inconstitucionalidade, as promulgou? Ou deveria passar pela exigência da convocação de eleições democráticas onde todas as forças que se apresentassem ao escrutínio do povo tivessem, realmente, as mesmas oportunidades de levar ao conhecimento dos eleitores as suas propostas? Ou outra alternativa qualquer?

Para os que, eventualmente, estiveram desatentos quanto ao que os marxistas-leninistas sempre defenderam, relativamente à unidade, à necessidade de uma auditoria cidadã séria, à questão da dívida, lembraremos que no ano passado, precisamente no âmbito da Convenção da IAC, questionámos a audiência, se não seria mais avisado, antes de nos dispormos a “renegociar”, “reestruturar” ou, sequer, pagar em prestações mais suaves e com juros mais baixos esta dívida que agora nos apresentam como tendo de ser, mandatóriamente, paga, pelo povo, claro está, exigirmos que se saiba, através de uma auditoria independente e não manipulada, quanto devemos, a quem devemos e porque é que devemos? Sugerindo, na mesma ocasião que, enquanto não nos fossem dadas estas respostas, deveríamos exigir a imediata suspensão do pagamento da mesma.

Para nós, a unidade é baseada na responsabilidade de respeitarmos aqueles com quem achamos existirem condições para debatermos, de forma seria e objectiva, democrática e em igualdade de circunstâncias, os pontos de acção comuns, o programa que deve nortear essa acção e a organização e mobilização do povo para as levar à prática. As alianças são para ser respeitadas, não manipuladas. A manipulação é o caminho para os que, embora manifestem grandiloquentes intenções de se unirem, de facto o que pretendem é utilizar-se dessas plataformas, congressos ou associações unitárias para impor os seus pontos de vista e, em última análise, contribuir para a cisão!

1 comentário: