A Cigarra e a Formiga
Perante um
coro de apupos que muitos elementos do povo lhe dirigiram (alguns fazendo parte
da comissão de luta contra as portagens nas auto-estradas A23, A 24 e A25),
como vai sendo recorrente nas deslocações de ministros e responsáveis deste
governo de traidores, seja aonde quer que se desloquem, o ministro da
administração interna – que tutela as polícias e as forças de repressão – que
se deslocou a Campia, em Vouzela, para inaugurar o novo edifício do destacamento
local dos bombeiros, citou uma popular fábula de La Fontaine sobre a cigarra e
a formiga e a diferença de atitude perante a vida e o trabalho que cada uma
exibia.
Mas, como em
tudo na vida, as situações evoluiem e transformam-se, sendo que, à época em que
La Fontaine escreveu a citada fábula, as formigas, obreiras, pouca consciência
tinham da exploração a que estavam sujeitas e as cigarras não passavam de umas
diletantes preguiçosas.Por isso, atrevemo-nos hoje a reescrever a fábula de La Fontaine, adaptando-a às novas realidades e à situação política com que somos confrontados. Assim sendo a história poderia ser contada desta forma:
Estava a
formiga, obreira e trabalhadora, a varrer o pátio em frente a sua casa quando
uma luminosa e alva limusine parou, dela saiu um garboso “chauffeur” que
solicitamente abriu a porta traseira da mesma e ajudou a sair uma esplendorosa
cigarra.
A cigarra,
com um fabuloso vestido “haut couture” parisiense, joias caríssimas, um
espampanante chapéu, luvas de carmim e estola de vison, dirigiu-se à
esfarrapada formiga e cumprimentou-a:
- Olá amiga formiguinha, como é que estás?
A formiga,
estupefacta por tão ilustre figura sequer lhe dirigir palavra, balbuciou:
- Desculpe Dª Cigarra, mas não a estou a
reconhecer! Deveria reconhece-la de algum lado?
Ao que lhe
responde a cigarra:
- Então não te lembras de me ter salvado a
vida, à dois invernos atrás, quando eu, quase moribunda, andrajosa e esfomeada,
te bati à porta e tu me deste guarida, me agasalhaste e alimentaste?
Boquiaberta,
respondeu a formiga:
- O quê? Então o que se passou entretanto
para agora me apareceres assim toda produzida à minha porta?
Responde a
cigarra:
- Quando a primavera regressou, voei para
Paris onde conheci um grande banqueiro que se apaixonou por mim, montou-me casa
e outras coisas que não vale a pena mencionar, patrocinou-me todas as fantasias
e fez-me chegar ao estilo de vida que hoje podes observar.
A formiga
continuava atónita. Mas, passado aquele momento de surpresa, virou-se para a
cigarra e perguntou-lhe:
- Disseste que vivias actualmente em Paris,
não foi?- Sim! Confirmou a cigarra.
- Vais para lá agora? Torna a perguntar a
formiga.
- Sim! Confirma a cigarra.
E é então
que a formiga lhe pede um favor:
- Se não te importas, assim que chegares a
Paris, tenta um encontro com um tal de La Fontaine e se o vires dá-lhe um
recado meu : que vá para a puta que o
pariu!
A moral que
poderemos retirar desta nova versão da fábula de La Fontaine é a de que, tudo o
que a formiga tem produzido tem servido para alimentar um bando de cigarras
que, à custa da corrupção, do compadrio e do roubo do produto desse trabalho
vai enriquecendo e engordando. Será que o ministro Miguel Macedo, quando aludiu
a fábula de La Fontaine julgava que fazia parte do exército das formigas?
Haja alguém
que tenha a piedade de desenganar o homem!
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