domingo, 23 de setembro de 2012

Novos Contos de La Fontaine



A Cigarra e a Formiga


Perante um coro de apupos que muitos elementos do povo lhe dirigiram (alguns fazendo parte da comissão de luta contra as portagens nas auto-estradas A23, A 24 e A25), como vai sendo recorrente nas deslocações de ministros e responsáveis deste governo de traidores, seja aonde quer que se desloquem, o ministro da administração interna – que tutela as polícias e as forças de repressão – que se deslocou a Campia, em Vouzela, para inaugurar o novo edifício do destacamento local dos bombeiros, citou uma popular fábula de La Fontaine sobre a cigarra e a formiga e a diferença de atitude perante a vida e o trabalho que cada uma exibia.
Mas, como em tudo na vida, as situações evoluiem e transformam-se, sendo que, à época em que La Fontaine escreveu a citada fábula, as formigas, obreiras, pouca consciência tinham da exploração a que estavam sujeitas e as cigarras não passavam de umas diletantes preguiçosas.

Por isso, atrevemo-nos hoje a reescrever a fábula de La Fontaine, adaptando-a às novas realidades e à situação política com que somos confrontados. Assim sendo a história poderia ser contada desta forma:

Estava a formiga, obreira e trabalhadora, a varrer o pátio em frente a sua casa quando uma luminosa e alva limusine parou, dela saiu um garboso “chauffeur” que solicitamente abriu a porta traseira da mesma e ajudou a sair uma esplendorosa cigarra.

A cigarra, com um fabuloso vestido “haut couture” parisiense, joias caríssimas, um espampanante chapéu, luvas de carmim e estola de vison, dirigiu-se à esfarrapada formiga e cumprimentou-a:
    - Olá amiga formiguinha, como é que estás?

A formiga, estupefacta por tão ilustre figura sequer lhe dirigir palavra, balbuciou:
   - Desculpe Dª Cigarra, mas não a estou a reconhecer! Deveria reconhece-la de algum lado?

Ao que lhe responde a cigarra:
    - Então não te lembras de me ter salvado a vida, à dois invernos atrás, quando eu, quase moribunda, andrajosa e esfomeada, te bati à porta e tu me deste guarida, me agasalhaste e alimentaste?

Boquiaberta, respondeu a formiga:
    - O quê? Então o que se passou entretanto para agora me apareceres assim toda produzida à minha porta?

Responde a cigarra:
   - Quando a primavera regressou, voei para Paris onde conheci um grande banqueiro que se apaixonou por mim, montou-me casa e outras coisas que não vale a pena mencionar, patrocinou-me todas as fantasias e fez-me chegar ao estilo de vida que hoje podes observar.

A formiga continuava atónita. Mas, passado aquele momento de surpresa, virou-se para a cigarra e perguntou-lhe:
    - Disseste que vivias actualmente em Paris, não foi?

    - Sim! Confirmou a cigarra.

   - Vais para lá agora? Torna a perguntar a formiga.
   - Sim! Confirma a cigarra.

E é então que a formiga lhe pede um favor:
    - Se não te importas, assim que chegares a Paris, tenta um encontro com um tal de La Fontaine e se o vires dá-lhe um recado meu : que vá para a puta que o pariu!

A moral que poderemos retirar desta nova versão da fábula de La Fontaine é a de que, tudo o que a formiga tem produzido tem servido para alimentar um bando de cigarras que, à custa da corrupção, do compadrio e do roubo do produto desse trabalho vai enriquecendo e engordando. Será que o ministro Miguel Macedo, quando aludiu a fábula de La Fontaine julgava que fazia parte do exército das formigas?
Haja alguém que tenha a piedade de desenganar o homem!

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