A face hedionda do Rei Hussein
da Jordânia!
Jaafar Al Bakli, 2 DE junHO DE 2025 EM Géopolitique
A face hedionda do Rei Hussein da Jordânia !
A soldo da CIA, espião por conta de Israel.
O monarca hachemita, descendente da família do Profeta
do Islão, esteve na folha de pagamentos da CIA durante 30 anos e manteve também
relações com a Mossad israelita.
Por Jaafar Al Bakli, académico tunisino, investigador de temas islâmicos, especialista em história política dos países árabes, em particular dos Estados do Golfo; colunista do diário libanês Al Akhbar. As suas contribuições para o https://www.madaniya.info/ pode ser encontrado no ficheiro do autor.
René Naba, director do sítio Web https://www.madaniya.info/
O rei Hussein da Jordânia, que reinou durante mais de
46 anos (de 11 de Agosto de 1952 a 7 de Fevereiro de 1999) e se auto-proclamava
descendente directo da família do profeta do Islão, figurou na lista de
pagamentos (Pay Roll) da CIA, a agência central de inteligência americana,
durante trinta anos.
Segue-se o relato desta revelação narrada em árabe por
Jaafar Al Bakli no jornal libanês «Al Akhbar», datado de 30 de Abril de 2024,
que relata a conversa entre o presidente democrata Jimmy Carter, o jornalista
do Washington Post Bob Woodward e o editor-chefe deste jornal, Ben Bradley.
1 – As revelações do Washington Post; «O presidente dos Estados Unidos
olhou longamente para os seus dois convidados, antes de responder em voz baixa:
«É verdade».
Mas Bob Woodward, que ficou famoso pelas suas
revelações sobre o escândalo Watergate, que provocou a demissão do presidente
republicano Richard Nixon (1969-1974), não se contentou com esta resposta
lacónica.
Bob Woodward voltou a questionar Jimmy Carter,
perguntando ao presidente americano se ele poderia confirmar as informações em
seu poder de que o monarca hachemita havia recebido verbas do orçamento da CIA
durante trinta anos.
Um silêncio pesado instala-se então no Salão Oval e o
rosto de Jimmy Carter contrai-se, revelando sinais de grande irritação.
Virando-se para o seu conselheiro de segurança
nacional, Zbigniew Brezinski, em busca de uma resposta, o presidente americano
depara-se com um rosto impassível, impávido. Depois, reconsiderando, confirma a Bob Woodward as
suas informações:
«As suas informações são verdadeiras. Mas devo
informar que dei hoje instruções para interromper imediatamente o pagamento de
750 000 dólares e eliminar definitivamente o orçamento atribuído ao soberano
jordaniano. De qualquer forma, o rei Hussein já não precisa destas subvenções,
tendo-se tornado um dos líderes mais ricos do Médio Oriente», afirma Carter.
Ben Bradley, editor-chefe do Washington Post, comenta
as declarações presidenciais com estas palavras: «Fiquei realmente muito
surpreendido que um homem que não tem qualquer necessidade estenda a mão para
pedir subsídios à CIA, quando possui palácios na Europa no valor de milhões de
dólares cada, além de um haras no Reino Unido, no valor de dez milhões de
dólares.
NDLA! De acordo com os Pandora Papers, a investigação
jornalística sobre as fortunas ocultas dos líderes mundiais, quando faleceu, em
3 de Fevereiro de 1999, o rei Hussein possuía várias propriedades luxuosas em
vários locais do planeta, incluindo três residências luxuosas em Point Dôme,
numa colina com vista para a praia de Malibu, na Califórnia (35 milhões de
dólares)
E sete propriedades luxuosas no Reino Unido, incluindo três no bairro nobre
de Belgrave Square, em Londres, bem como em Ascot e Washington (Estados
Unidos).
O seu filho e sucessor, Abdallah, colocou 100 milhões
de dólares em empresas de fachada instaladas nas Ilhas Virgens (arquipélago das
Antilhas), a oeste de Porto Rico. A família real hachemita também possui contas
numeradas no Crédit Suisse, uma das quais no valor de 224 milhões de dólares.
Jimmy Carter fez um sinal, como para interromper a
conversa sobre esse assunto, e então dirigiu-se a Ben Bradley:
«Jody Powell, porta-voz da Casa Branca, informou-me
que o Washington Post estava prestes a publicar uma notícia bombástica sobre o
rei Hussein. É uma verdadeira exclusividade e fiquei pessoalmente surpreendido
ao saber que Hussein recebia um salário da CIA. Nem Henry Kissinger, secretário
de Estado de Gerald Ford, nem George Bush Sr., director da CIA, me informaram
sobre esse facto durante a sua reunião sobre o Médio Oriente....
Não está ao meu
alcance intervir para impedir essa informação. Mas a sua publicação sobre um
antigo aliado dos Estados Unidos prejudica a segurança nacional americana. A
divulgação desta informação, no momento em que Cyrus Vance, secretário de
Estado, se prepara para realizar a sua primeira viagem ao Médio Oriente, que
inclui uma paragem na Jordânia, prejudica os interesses dos Estados Unidos.
Depois, olhando directamente nos olhos dos dois
jornalistas, Jimmy Carter dirige-se a eles com um tom suplicante: «Fui franco e
claro convosco. Agora é a vossa vez de serem leais ao nosso país. Eu expus-vos
toda a verdade e deixo-vos a responsabilidade de decidir se é oportuno publicar
— ou não — esta informação. O interesse dos Estados Unidos diz-vos tanto
respeito quanto a mim.»
Resposta de Ben Bradley:
«É evidente que todos nós levamos este assunto muito a
sério. Mas não tenho o monopólio da decisão, que será colegial e emanará do
Conselho Editorial do jornal. Partilharei com os meus colegas as vossas
apreensões e darei ênfase aos aspectos sensíveis deste assunto. Agradeço o
tempo que concedeu a mim e ao Bob.
No entanto, caso o Conselho Editorial do jornal
considere que a função jornalística não tem relação com a defesa de um regime e
não deve preocupar-se com a reputação de um rei... O único dever de um jornal é
publicar a verdade».
NDLA: A entrevista de Jimmy Carter com os jornalistas
do Washington Post foi relatada por Ben Bradley no seu livro «A Good life:
Newspapering and other adventures» Simon And Schuster 1995, páginas 323, 425,
428.
2 – Nome de código «No Beef», a prevaricação do alto comando jordaniano
pela CIA.
Sobre este facto, em 16 de Fevereiro de 1979, o
Washington Post publicou o relato da relação entre o rei Hussein da Jordânia e
a CIA, num artigo assinado por Bob Woodward.
Sob o título «A CIA pagou milhões de dólares ao rei
Hussein da Jordânia», o artigo especifica que o monarca recebia 750 000 dólares
por ano entre 1957 e 1977, ou seja, durante trinta anos. A isso se somava uma
subvenção em dinheiro do chefe da CIA em Amã, destinada aos oficiais superiores
do exército jordaniano e dos serviços de inteligência. A operação tinha o nome
de código «No Beef». O seu objectivo era dotar os Estados Unidos, através da
Jordânia, de influência sobre o poder decisório no Médio Oriente.
É evidente que a publicação do artigo do Washington
Post causou um choque na Jordânia. O Ministério dos Negócios Estrangeiros
acusou o jornal americano de ter elaborado um artigo que misturava especulação
e difamação. Mas essa resposta não impediu a Jordânia de demonstrar
flexibilidade na gestão deste caso.
«A confiança nos Estados Unidos não será afectada por
esta campanha. O Reino Hachemita continuará a manter relações estreitas com os
seus amigos», prossegue o comunicado, mal disfarçando a irritação jordaniana.
3- O Mossad, espião filho de espião.
As relações do rei Hussein com os seus amigos não se
limitaram à CIA. Elas também incluíram o Mossad. Em 2023, por ocasião do 50.º
aniversário da Guerra de Outubro, os arquivos israelitas desclassificaram as
conversas entre Golda Meir, na altura primeira-ministra israelita, e o rei Hussein,
a pedido expresso do monarca. A conversa teve lugar na sede da Mossad, perto de
Telavive.
Elie Mizrahi, chefe de gabinete de Golda Meir, revelou
que a conversa versou sobre os preparativos secretos do Egipto e da Síria para
a Guerra de Outubro, marcada pela destruição da Linha Bar Lev, a defesa
israelita no Sinai, no Canal do Suez.
Na época, Hussein tinha o nome de código «LIFT»
(elevador) junto aos serviços israelitas.
NDLA: O relatório da Mossad datado de 25 de Setembro
de 1973 sobre o encontro entre Hussein e Golda Meir, na sede da Mossad, perto
de Telavive, revela o nome de código dado ao rei «LIFT», uma referência ao
facto de o monarca transmitir informações do mundo árabe para Israel.
Referindo-se a «fontes altamente sensíveis» do
exército sírio, Hussein informa os israelitas que «os preparativos para a
guerra estão agora concluídos. Todas as unidades combatentes sírias assumiram
as suas posições de combate na frente, incluindo a aviação e as forças
balísticas», afirma.
NDLA: O oficial jordaniano que recolheu as
confidências do sírio era o general Abboud Salem, vice-director dos serviços de
inteligência jordanianos. Não foi possível descobrir o nome do espião sírio que
informou a Jordânia sobre os preparativos para a guerra de Outubro de 1973.
De acordo com informações que circularam na época,
seria um general. O contacto ocorreu em 1 de Outubro de 1973, coincidindo com
as ordens dadas pelo comando sírio para enviar tropas para o Golã. Cinco
generais sírios comandavam uma divisão. O espião só poderia ser um dos cinco
generais em questão.
As relações de Hussein com os americanos, israelitas e
ingleses não são surpreendentes nem recentes, assim como as suas relações com
os grandes nomes da espionagem mundial. Hussein apenas seguiu o caminho traçado
anteriormente pelo seu avô Abdallah, fundador da dinastia hachemita na
Jordânia.
Alguns jordanianos ofereceram-se para defender a
reputação do seu rei, garantindo que o monarca foi levado pela força das
circunstâncias a mover-se na lama, não por escolha, mas por necessidade, pois a
sua função o obrigava a dotar-se de aliados fortes capazes de apoiá-lo nos
períodos difíceis que abalaram o trono.
Esta lógica é inaceitável. A protecção do seu rei
nunca deve implicar a traição das aspirações de uma nação, nem justificar a
degradação a que Hussein foi levado.
4- Um começo promissor
O xerife Hussein de Meca, antepassado do rei Hussein,
foi o líder árabe mais próximo de Israel. A tal ponto que Itzhak Rabin, antigo
primeiro-ministro israelita, confidenciou um dia ao rei Hussein: «Majestade, o
senhor é amado em Israel, se um dia pensar em candidatar-se ao cargo de
primeiro-ministro, ganhará o voto de confiança por uma ampla maioria».
Ao ascender ao trono, Hussein quis livrar-se de uma
pesada herança, que o marcou profundamente e lhe causou um verdadeiro trauma: o
assassinato do seu avô, Abdullah I, dentro da própria mesquita Al Aqsa, em
Jerusalém, em 1951.
No início do seu reinado, Hussein parecia ser um
reformista, levando em consideração as aspirações do seu povo.
5 – O massacre de Kobbyé (Cisjordânia) e a retirada dos ingleses do comando
do exército jordaniano, nomeadamente do general Glubb Pacha.
Mas cinco meses após assumir o cargo, ocorreu um
massacre em Kobbyé (Cisjordânia), causando a morte de 67 pessoas, a maioria
mulheres e crianças. Manifestações eclodiram em todo o reino, a ponto de
colocar em risco o trono hachemita.
A ira popular dirigia-se não só contra os sionistas,
mas também contra os seus aliados, os ingleses. Hussein teve então de destituir
o general Ashton, comandante de uma divisão jordaniana, e, sobretudo, o general
Glubb Pacha, comandante-chefe da Legião Árabe, em 2 de Maio de 1956, livrando
assim o exército jordaniano de todo o corpo de oficiais ingleses que
supervisionavam o exército jordaniano em todos os níveis de comando, em virtude
do acordo jordano-inglês de 1946.
6- A agressão tripartida de Suez e o Pacto de Bagdade, um ponto de viragem.
Em 1958, Hussein teve de enfrentar uma nova provação:
o Pacto de Bagdade, criado na sequência da agressão tripartida de Suez (França,
Reino Unido e Israel) contra o Egipto e o símbolo do nacionalismo árabe, Gamal
Abdel Nasser, na sequência da nacionalização do canal de Suez, em 1956.
Formado pelo Iraque hachemita e dois países muçulmanos
pró-ocidentais, o Paquistão e a Turquia, o Pacto de Bagdade foi fundado pelos
Estados Unidos no contexto do conflito de potências durante a Guerra Fria
soviético-americana. Ele deveria servir
como elo intermediário entre a OTAN (sector atlântico) e a OTASE
(Ásia-Pacífico) e conter a ascensão do nacionalismo árabe na região.
Hussein entrou em pânico com a fusão sírio-egípcia, em
Fevereiro de 1958, e a queda da monarquia iraquiana, cinco meses depois, em Julho
de 1958. A Jordânia encontrava-se então rodeada por países hostis: Egipto,
Síria, Iraque e Arábia Saudita, que tinha expulsado a sua família de Meca.
7- A ascensão ao abismo. As ofertas de serviço da CIA, no dia seguinte à
fusão egípcio-síria.
Hussein sentiu então a necessidade de estabelecer
relações sólidas com aliados fortes e poderosos. É certo que a Jordânia tinha
relações sólidas com o Reino Unido, mas a expedição de Suez provocou uma onda
de desconfiança em relação aos ingleses no mundo árabe. Foi nesse momento que a
CIA fez ofertas de serviço ao rei Hussein. Em 1957, após a agressão de Suez e
na véspera do lançamento do Pacto de Bagdade;
8- Londres 1963, residência do Dr. Emmanuel Herbert, local do primeiro
contacto entre o rei Hussein da Jordânia e Ya'cov Herzog
A relação com Israel demoraria a concretizar-se, pois
os israelitas queriam primeiro testar o soberano jordaniano.
O primeiro contacto ocorreu em Londres, em 1963, na
clínica do Dr. Emmanuel Herbert, médico pessoal do monarca jordaniano, judeu e
sionista notório, localizada na 21 Devonshire Place Street, um edifício de seis
andares no centro de Londres.
NDLA: De nome verdadeiro Emmanuel Herzog, o Dr.
Herbert optou pelo nome patronímico Herbert quando chegou ao Reino Unido vindo
da Rússia, de onde havia fugido. Médico do hotel Claridge, foi recrutado pelo
Serviço de Inteligência Britânico durante a Segunda Guerra Mundial e
encarregado de entrar em contacto com personalidades e celebridades que se
hospedavam nesse prestigioso estabelecimento.
Seguindo instruções dos serviços ingleses, ele
estabeleceu contactos com sionistas britânicos, como Marcus Sief, proprietário
da cadeia Marcus and Spencer. Marcus Sief seria posteriormente nomeado barão e
assumiria o título de Barão Sief de Brimpton.
Para sua grande surpresa, Herbert revelou aos seus
empregadores que Hussein era favorável não só a contactos com os sionistas
britânicos, mas também com os israelitas, desde que isso permanecesse em
segredo.
O primeiro contacto do rei Hussein foi com Ya cob
Herzog, vice-director-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita.
O historiador israelita Avi Shlaim, autor de uma
biografia sobre o rei Hussein, «O Leão da Jordânia», registou 46 encontros
entre Hussein e Herzog, sem contar com os encontros paralelos entre o rei e
outros responsáveis israelitas.
NDLA: Segundo Avi Shlaim, os encontros ocorreram em Londres,
Paris, Telavive, na sede da Mossad, em Amã, no deserto jordaniano de Wadi
Araba, a bordo de uma caravana climatizada, a bordo do iate real ancorado no
Golfo de Aqaba, a bordo de um navio de guerra israelita lançador de mísseis,
ancorado no Golfo de Aqaba
9- A entrada em cena de Golda Meir em Paris... apartamento da Rue
Raynouard, no 16.º arrondissement
No Outono de 1963, Hussein viaja para Londres para uma
consulta médica com o Dr. Herbert. Nessa ocasião, ele informa ao seu médico
pessoal que se reunirá com interlocutores israelitas de patente superior à de
Ya'cov Herzog.
A resposta israelita não demorou a chegar! Golda Meir,
ministra dos Negócios Estrangeiros, seria doravante a interlocutora do rei e a
reunião não se realizaria em Londres, mas em Paris, num apartamento na Rue
Raynouard, no 16.º arrondissement da capital francesa, no bairro chique de
Passy, escolhido por Walter Eytan, embaixador de Israel em França.
Yossi Melman e Dan Rafif, dois escritores israelitas,
relataram a reunião da seguinte forma:
«Hussein entra primeiro, recebido por Golda Meir. Os
dois interlocutores começam a evocar a memória do avô de Hussein, Abdallah I,
assassinado na Mesquita Al Aqsa.
Sobre o assassinato de Abdallah I, consulte este link
https://www.madaniya.info/2020/07/22/l-assassinat-de-roi-abdallah-1er-de-jordanie-en-1951/
Em seguida, Hussein pede a Golda Meir que o ajude
contra os seus inimigos, começando por Nasser, as organizações palestinianas e
a Síria.
Na sequência, pede-lhe que Israel intervenha junto dos
Estados Unidos para favorecer a venda de blindados americanos modernos à
Jordânia, comprometendo-se a não os utilizar contra Israel.
Resposta de Golda Meir:
«Não nos contentamos com promessas, precisamos também
de garantias sólidas.
Hussein: Estou pronto a dar-lhe uma garantia a si e
aos Estados Unidos. Garanto a minha promessa pela minha honra».
NDLA; Cf. a este respeito, «O relato das relações
secretas entre Hussein da Jordânia e Israel», Yossi Milman e Dan Raffi, página
91
10 – O pequeno rei inteligente: BYK «Brainy Young King», nome de código do
rei Hussein junto dos israelitas
O rei Hussein rapidamente se tornou o líder árabe mais
querido pelos israelitas. A tal ponto que Itzhak Rabin, antigo
primeiro-ministro israelita, confidenciou um dia ao monarca hachemita:
«Majestade, o senhor é amado em Israel. Se um dia pensar em candidatar-se ao
cargo de primeiro-ministro, obterá o voto de confiança por uma ampla maioria».
Na correspondência secreta israelita, o rei Hussein da
Jordânia era designado pelas iniciais BYK, que significavam «Brainy Young King»
(Rei Jovem Inteligente). Por extensão, os jornais ocidentais referiam-se a ele
como «pequeno rei», um termo aparentemente afectuoso que, na verdade, marcava
uma conivência tácita com a designação israelita.
11- Hussein, um mistificador. A falsa reconquista de duas localidades
jordanianas. Uma operação de propaganda mediática para restaurar a sua imagem.
Com o desenvolvimento das relações
jordano-palestinianas, os encontros já não se realizavam na Europa, mas em
Israel; a distância é mais curta, o local mais discreto.
Posteriormente, os locais de encontro
jordano-israelitas migraram da Europa (Londres, Paris) para o Médio Oriente, Telavive,
ou então a bordo de um navio lançador de mísseis israelita, a bordo de um iate,
no golfo de Aqaba, numa caravana climatizada no deserto de Wadi Araba.
Em Março de 1970, uma reunião reuniu a bordo de um
navio de guerra israelita lançador de mísseis que tinha ancorado no Golfo de
Aqaba.
O rei estava acompanhado pelo seu primo, o general
Zayed Ben Chaker, na época comandante da 40ª divisão blindada, que seis meses
mais tarde desempenharia um papel activo na repressão da revolta anti-palestiniana
durante o Setembro Negro jordaniano. Do lado israelita estavam presentes: Moshe
Dayan, ministro da Defesa; Abbas Eban, ministro dos Negócios Estrangeiros; Haim
Bar Lev, chefe do Estado-Maior; e Haim Herzog, director dos serviços secretos
israelitas.
O rei pediu aos israelitas que o ajudassem a controlar
as organizações palestinianas. Em resposta, Moshe Dayan oferece-lhe um
presente: a retirada do exército israelita de duas localidades do vale do
Jordão, Ghor as Safi e Ghor Fifa.
Hussein quis tirar partido da retirada israelita, pensando nos dividendos
que esta operação poderia gerar para si e para o seu trono.
Com base na promessa israelita, Hussein ordenou ao
exército jordano que atacasse as duas cidades evacuadas “a fim de as libertar
das garras da ocupação israelita”.
A propaganda jordana anunciava que o próprio rei tinha
comandado a batalha, infligindo “pesadas perdas ao inimigo”.
Em 18 de Setembro de 1970, no auge da guerra
jordano-palestiniana, veículos blindados sírios invadem a Jordânia e tomam a
cidade de Irbid, capital do norte do Reino. Israel veio então em socorro do
Rei, transferindo uma divisão blindada da Frente do Suez, face ao Egipto, para
a Frente Oriental, face à Síria, enquanto a força aérea israelita aumentava as
suas incursões no espaço aéreo jordano, ultrapassando várias vezes a barreira
do som sobre os sírios, para os intimidar.
A intervenção directa dos israelitas, bem como as
perdas sírias, levaram Damasco a retirar as suas tropas do Reino.
Em Outubro de 1970, quando o Rei acabava de ganhar a
sua guerra contra os palestinianos, Hussein encontra-se com Ygal Allon, o
vice-primeiro-ministro israelita que tinha sido o mais forte apoiante do Rei
durante a sequência do “Setembro Negro”. Os dois homens felicitaram-se calorosamente.
O Rei agradeceu a Israel “do fundo do coração” o seu apoio político e militar.
Para os falantes de árabe, cf, este link
Sobre o mesmo tema
Sobre o papel da Jordânia na sequência da
"primavera Árabe”
Jaafar Al Bakli
Universitaire tunisien, chercheur sur les questions de
l’Islam, spécialiste de l’histoire politique des pays arabes, notamment les
pays du Golfe.
Link para ler TODOS OS
ARTIGOS de
Jaafar Al Bakli
Fonte: https://www.madaniya.info/2025/06/02/la-face-hideuse-du-roi-hussein-de-jordanie/
Este artigo foi traduzido para Língua
Portuguesa por Luis Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário