"Basileia III»: o dólar como moeda de reserva
está ameaçado?
5 de Julho de 2025 Robert Bibeau
Por Valentin Katassonov,
doutor em economia e presidente da Sociedade Charapov, as normas de Basileia III podem comprometer o estatuto do dólar como moeda de
reserva internacional e, consequentemente, o poder geo-político dos Estados
Unidos. Um cenário que Washington procura adiar a todo o custo.
RT France
por Valentin
Katassonov
Um dos elos mais
fracos da economia contemporânea continua a ser o sector bancário, pois os compromissos dos bancos podem exceder em
muito o seu próprio capital. Esse desequilíbrio explica as falências recorrentes
de instituições de depósito e crédito. Quando o efeito dominó se inicia, as
falências isoladas transformam-se em crises bancárias, susceptíveis de provocar
falências noutros sectores da economia.
Desde o século XIX, foram feitas tentativas para reforçar a estabilidade dos bancos e dos sistemas bancários a nível nacional. Mas foi somente após a Segunda Guerra Mundial que surgiram iniciativas a nível supranacional. O principal actor nessa área é o Banco de Pagamentos Internacionais (BRI), às vezes apelidado de «clube dos bancos centrais», com sede em Basileia. Foi no seio do BRI que, no final de 1974, dez bancos centrais de primeira linha – o «Grupo dos 10» – fundaram o Comité de Basileia sobre Supervisão Bancária (CBCB). Trata-se de uma estrutura relativamente autónoma, encarregada de elaborar normas comuns para as atividades bancárias e metodologias de avaliação destinadas aos reguladores bancários, a fim de reforçar a solidez do sistema e evitar crises.
As normas do Comité de
Basileia são recomendações estritas. Os bancos centrais são convidados a
adoptá-las e a incorporá-las na sua legislação nacional, conferindo-lhes assim
força regulamentar. O conceito-chave introduzido desde o início é o de “capital
bancário” (com requisitos mínimos de capital definidos pelo CBSB).
As primeiras normas, conhecidas como «Basileia I», foram adoptadas em 1988. A maioria dos bancos centrais implementou-as. No entanto, elas revelaram-se insuficientes para prevenir crises bancárias em muitos países.
Em 2004, o «Basileia II» substituiu o «Basileia I», com
requisitos mais rigorosos. No entanto, esta segunda versão, embora amplamente
adoptada, não permitiu antecipar a crise financeira mundial de 2008-2009. Foi
então necessário um endurecimento adicional das regras.
Na sequência dessa crise, o BIS elaborou o «Basileia III», aprovado entre 2010 e 2011 por todos os bancos
centrais membros do BRI (nomeadamente pelo Banco da Rússia).
O «Basileia III» aumentou os requisitos
de capital, redefiniu o conceito de capital e os seus métodos de avaliação.
Muitos países saudaram a iniciativa, mas demoraram a transpor as suas normas
mais rigorosas. Durante a década seguinte, o texto foi revisto e aperfeiçoado.
A última versão data de 2019, mas ainda não foi totalmente aplicada a nível
nacional. O BRI indica que o «Basileia III» foi implementado apenas
parcialmente em países como a China, Índia, Brasil, Rússia, etc.
É importante lembrar que a maioria dos grandes bancos
– especialmente os bancos sistémicos – está localizada no Ocidente: nos Estados
Unidos, no Reino Unido e na União Europeia. São precisamente esses países que
mais travam a implementação de «Basileia III». Em várias ocasiões, os seus
bancos centrais (a Reserva Federal dos Estados Unidos, o Banco da Inglaterra, o
Banco Central Europeu) anunciaram que iriam adotar essas normas, antes de adiar
o prazo, muitas vezes sem justificação.
Nos últimos anos,
vários grandes bancos ocidentais faliram (especialmente em 2023), ameaçando
desencadear crises sistémicas. Na sequência destes acontecimentos, a Fed, o
Banco da Inglaterra e o BCE prometeram novamente cumprir os requisitos de
Basileia III até 2025.
Assim, nos meios de comunicação americanos, fontes
anónimas afirmavam ainda recentemente que a aplicação do Acordo de Basileia III
teria início a 1 de Julho deste ano. Hoje, fala-se de um novo adiamento. O
mesmo se verifica no Reino Unido e na União Europeia.
Um aspecto essencial do Acordo de Basileia III é a revalorização do papel do
ouro no balanço dos bancos. De acordo com as
regras do CBCB, os fundos próprios dos bancos são classificados em três
categorias. A primeira inclui as moedas oficialmente reconhecidas, em dinheiro
ou em depósitos. A segunda diz respeito aos títulos do Estado com melhor notação
(nomeadamente as obrigações do Tesouro americano). O ouro, por sua vez, estava
até agora relegado para a terceira categoria — equiparado a uma moeda
secundária — e era considerado apenas a 50% do seu valor de mercado para o
cálculo do capital. Nestas condições, os bancos não tinham qualquer incentivo
para armazenar o metal precioso.
No entanto, o Acordo de Basileia III coloca agora o
ouro na categoria mais elevada, onde é avaliado a 100% do seu valor. Esta
medida deverá provocar um aumento significativo da procura bancária de ouro,
uma evolução vista como uma ameaça directa ao dólar americano, rival histórico
do metal amarelo. Na minha opinião, os Estados Unidos temem mais do que tudo a
entrada em vigor de Basileia III, pois o seu poder e influência mundial, desde
1945, baseiam-se em grande parte no estatuto do dólar como moeda de reserva
internacional. Basileia III poderia pôr em causa esse estatuto.
fonte : RT France
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/300700?jetpack_skip_subscription_popup#
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário