REPULSA COMUM E RESPONSABILIDADE COLECTIVA
25 de Julho de 2025
A par das notícias das manifestações populares e espontâneas de protesto das gentes da Europa contra o massacre dos palestianos -gregos que não deixam desembarcar turistas "israelitas", galegos que se recusam a ter na sua esplanada, outros turistas "israelitas", por exemplo, a par das notícias da necessidade de disciplinar com intervenção policial, um bando de crias "israelitas" que se sentiam autorizadas a brincar, até, com a autoridade do comandante de um avião comercial em Valência, a par destas coisas, chegam-nos notícias de manifestações, em "Israel", contra a chacina "israelita" da população da Palestina, sobretudo em Gaza, (complementada com ataques à Síria e à Cijordânia).
Essas manifestações são bem acolhidas
pela opinião pública europeia.
A mim parecem-me, não obstante,
tentativa de evitar - ou minorar - a arguição acusatória da responsabilidade
colectiva.
Abstenho-me portanto de me regozijar com
essas manifestações políticas de boa consciência cívica, tal como querem
apresentar-se.
Um estado cuja assembleia legislativa
aprova coisas destas, um estado cujo aparelho judiciário não reage a coisas
destas, não pode ser salvo com o truque de uns escassos milhares de pessoas na
rua a darem a imagem de protesto e a pretender demonstrar que não há unanimidade.
A unanimidade expressa-se - numa dita
democracia representativa - institucionalmente. Se o parlamento não censura
aquilo, se os tribunais não reagem àquilo, se o governo faz aquilo, se as
Forças Armadas consumam aquilo, não será um punhado de manifestantes a
demonstração suficiente da falta de unanimidade.
Pouco me importa que soldados daquela
coisa se suicidem. É frequente que a repulsa moral por si próprio se salde em
gestos desses. Esses suicídios valem confissões. E podem, por isso, suscitar
uma atenuação. Talvez não o perdão.
Como deixou escrito Jankélévitch, os que
excluem os outros da Dignidade Humana, excluem-se, por isso mesmo, de qualquer
possibilidade de perdão. Cortaram todas as pontes. Não há regresso.
De resto, nunca seríamos nós quem teria
a legitimidade de perdoar.
Que fácil seria perdoar os crimes contra
os outros, cujas dores não sentimos nunca. Perdoar, em vez das vítimas, a
redução ao estado de animais, a quem se nega alimento, depois de proibir as
formas mais elementares de o angariar - afundando qualquer embarcação de pesca,
matando os seus tripulantes, disparando contra quem venha à beira-mar -
abatendo os que esperam por ajuda humanitária, nos lugares fixados pelos
monstros para a recolha, e deixando morrer por inanição quem perdeu as forças
para continuar a viver.
Não temos manifestamente legitimidade
para perdoar, sendo certo que quem abateu as pontes da dignidade comum a todos
os homens, cortou igualmente a possibilidade de qualquer diálogo e,
evidentemente, de qualquer perdão.
E havendo, como parece, responsabilidade colectiva... As coisas são o que são e serão o que tiverem de ser.
Sem comentários:
Enviar um comentário