terça-feira, 14 de julho de 2020

A pandemia revela a verdadeira doença das nossas sociedades : a desigualdade de classe


Por Moon of Alabama – 9 de Julho de 2020


Esta manhã vi este mapa (ver link - carte) na primeira página do Washington Post.



Número de casos assinalados de Covid-19 por 100.000 habitantes contabilizados desde a semana passada.
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Lembrei-me imediatamente  de que já tinha visto um mapa com um aspecto semelhante.
Foi no meu artigo (ver link - article) de 2 de Abril. Eis a secção publicada há três meses :
Quando a distância média percorrida caiu pela primeira vez abaixo das 2  milhas 









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Quando a distância média percorrida caiu pela primeira vez abaixo das 2  milhas Agrandir (Aumentar)



Charles M. Blow @CharlesMBlow - 11:51 UTC · 2 avr.2020

Meus deus, vejo uma catástrofe a preparar-se
# COVID19Pandemic #RacialTimeBomb

Distribuição da população negra bos EUA em 2010 Agrandir (Aumentar)

É bastante evidente a partir dos mapas que as áreas em que vivem mais pessoas de cor são muito mais afectadas pelo Covid-19 do que as outras áreas.
Um estudo britânico publicado na Nature que utilizou dados de assistência médica de 17 milhões de pessoas ligadas a cerca de 11.000 mortes de Covid-19 descobriu que pessoas de cor na Grã-Bretanha têm muito mais probabilidade de morrer desta pandemia:

Comparados com pessoas de etnia branca, negros e sul-asiáticos estavam mais em risco, mesmo após o ajuste por outros factores (HR 1,48, 1,30-1,69 e 1,44, 1,32). -1,58, respectivamente).

Uma taxa de risco – “Hazard Ratio” (HR) - de 1,48 significa que essas pessoas eram 48% mais susceptíveis de morrer da doença do que a pessoa comum.
Uma observação semelhante ( ver link - a été faite) foi feita nas fábricas americanas de processamento de carne:

Mais de 16.200 trabalhadores de fábricas de processamento de carne nos Estados Unidos testaram positivo para Covid-19 no final de Maio e 86 morreram, disseram os Centros de Controle e Prevenção de Doenças num relatório na terça-feira. [..] Dos casos que apresentaram raça e etnia, 87% envolveram trabalhadores pertencentes a minorias - empregados identificados como hispânicos, representando 56% das infecções, mesmo que eles representassem menos de um terço da força de trabalho global.


Não há diferença biológica entre os diferentes grupos étnicos em relação ao Covid-19. Não existe uma teoria científica que atribua isso a outras causas além de problemas sociais - baixo rendimento, habitação precária e falta de acesso aos cuidados.

É uma questão de classe, não de identidade. Negros e hispânicos encontram-se na mais baixas. Infelizmente, nem o estudo britânico nem o estudo (ver link -  l’étude ) dos  CDC têm parâmetros concernentes a rendimento ou outros indicadores sociais. Tenho a certeza de que eles mostrariam que brancos desfavorecidos têm a mesma hipótese de morrer de Covid-19 do que não brancos que vivem em circunstâncias semelhantes.

Sim, existe uma diferença de salário (ver link -  écart de salaire) racial nos Estados Unidos. Mas a diferença real está entre o crescimento da produtividade e o crescimento dos salários. Nas últimas décadas, nem trabalhadores negros nem trabalhadores brancos sofreram aumentos salariais substanciais. É uma questão de classe.

Todos os salários dos trabalhadores, independentemente do seu género ou raça, não se estimam em função do aumento da produtividade - Agrandir (Aumentar)
Essa lacuna entre o aumento da produtividade e o aumento dos salários na base da escala começou no final da década de 1970, quando os ideólogos neoliberais de Reagan e Thatcher introduziram políticas económicas que favoreciam (ver link -  favorisaient) os 1% mais ricos :
De 1979 a 2018, a produtividade líquida aumentou 69,6%, enquanto o salário por hora dos trabalhadores padrão estagnou, aumentando apenas 11,6% em 39 anos - após o ajuste pela inflação. Isso significa que, embora os americanos estejam a trabalhar de maneira mais produtiva do que nunca, os frutos do seu trabalho beneficiaram principalmente os que estão no topo e os lucros dos negócios, especialmente nos últimos anos.

Os rendimentos foram amplamente partilhados nas primeiras décadas após a guerra, mas não depois - Agrandir (Aumentar)

As políticas de identidade em relação à etnia, género ou preferência sexual são essenciais para ocultar a verdadeira doença de nossas sociedades. As diferenças entre as classes tornaram-se extremas. Os ricos tornaram-se muito mais ricos, enquanto os de baixo não ganharam nada em termos de poder de compra. A pandemia destaca as consequências mortais dessas políticas.
Adenda

É provável que Trump tenha iniciado a sua campanha para acabar urgentemente com o desconfinamento depois de perceber que a epidemia em Nova York afectou principalmente a sub-classe negra. Não era o seu povo. Mas essa ideia é falsa. Uma epidemia, uma vez lançada para promover os seus próprios interesses, não fará a diferença. Os pobres serão os primeiros a ser afectados. Mas o vírus não parará neles. Perguntamo-nos quanto tempo levará Trump a descobrir isso.

Moon of Alabama
Traduzido por jj, relido por Hervé para o Saker Francophone










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