Por Célestin Bernard N’Dri.
A solução para a angústia
Com cabelos no estilo rasta, e olhar lacrimoso, "Little" Moussa não
podia acreditar no que os seus olhos vêem. Neste sábado, 18 de julho, entre
dois soluços e com amargura, ele está a ser repatriado da Líbia. No ano
passado, quando ele dispendeu toda a sua fortuna para a traversia do Oceano Atlântico
(sul-norte). Chegar a Lampedusa em Itália, que ele nunca
alcançará, era o seu único objetivo. Diz que deu ao seu passador de infortúnio,
os seus dois milhões de francos CFA, o equivalente a 3340 dólares canadenses.
"Vou tentar a sorte novamente. É melhor ir do que ficar com dor aqui em
Abidjan". Está armado de coragem, este jovem marfinense de 28
anos, sem qualificação.
O compromisso de Moussa de imigrar para novos horizontes é
sintomático da febre que afecta todos os anos milhares de africanos que fogem
da angústia, do seu continente e terra natal em busca de uma vida melhor, fora
da sua civilização.
A sua disposição em enfrentar todos os obstáculos com risco para
a sua própria vida, leva a
questionarmo-nos.
Que reter das ajudas ao desenvolvimento que o Banco Mundial e o FMI,
distribuem aos países africanos?
O que trouxeram os vários Planos de Ajustamento Estrutural aos
quais esses Governantes são obrigados a aderir com os fórceps da sua dignidade?
Se numa esquina da rua, apesar de contrariado, é forçado a discutir a equação da imigração de
todos os azimutes dos povos da África, para Europa, Ásia e América do Norte, procurem
primeiro sondar o horizonte pelo outro lado. É claro que as Instituições de Bretton
Woods, que sabem apreciar a "boa" administração dos líderes
africanos, na maioria das vezes, muito decepcionantes, têm pouca consideração pelo seu próprio povo.
Desde o início da independência, os governos africanos elaboraram orçamentos
colossais no início do ano, de cujos méritos se vangloriam porque, segundo
eles, todas as preocupações das suas populações estão lá consignadas. (sic)
Cumprir tais afirmações é querer ser cúmplice de crimes
perfeitos, cujas vítimas são naturalmente as populações pobres e desempregadas,
que carecem de tudo, até mesmo de um pedaço de sabão e uma escova de dentes,
vivendo numa casa insalubre, desprovida de comodidades de primeiro nível e lutando para comer o suficiente, todos os
dias. A verdadeira dor, é o que é! O cenário assim definido sugere sérias
disparidades entre jovens licenciados, desempregados, ociosos, toda essa
população em busca de felicidade e oportunidades e as mentiras dos governantes
sobre o crescimento económico de dois dígitos que brandem nos salões luxuosos
de Abidjan, Brazzaville… e Yaoude.
Perante a inacção
desses administradores desonestos de bens ilícitos e do crescente
desemprego e da falta de uma visão de acções concretas para a integração
profissional de populações vulneráveis, não há debate. Como garantir o
bem-estar das pessoas deixadas para trás, quando
o governo se sente obrigado a transferir toda a riqueza do seu país para
paraísos fiscais? como podemos viver em um país onde falta segurança e
coesão social? Por que permanecer num país, quando sabe que não há visibilidade
do ponto de vista do emprego?
Porquê, finalmente, ficar num país onde o capitalismo selvagem aumentou severamente a diferença entre ricos e pobres? Da Guiné, passando pelo Senegal, Marrocos, Costa do Marfim, Mali, Argélia, Tunísia, Burkina Faso, Congo, Camarões, Chade, Níger, Gana, Nigéria … E na Zâmbia, o clima político permanece o mesmo, excepto por alguns mícrons de diferença. Quando o verdadeiro pesadelo se apodera da dignidade desses jovens e diante do modo de vida insolente daqueles que beneficiam da generosidade do Estado, infelizmente, em pouquíssimos números, a ideia de partir para outros céus em busca pela felicidade imaginada, apanha-os desprevenidos.
Em África, uma criança que seja bem sucedida, esse sucesso é para toda a comunidade. Se
necessário, esta organizar-se-á para ajudá-lo a partir para o Ocidente, muito
organizada e ciosa quando se trata de preservar os direitos do homem. (sic) O
evangelho de São João vem coroar tudo a este nível. Jesus disse: “Eu sou a Luz, e quem me segue não andará nas
trevas”. Por mais surpreendente que isso possa parecer, o Ocidente para estes
jovens permanece como a Luz; porque é uma fonte de organização científica, de
equidade e liberdade. Estabelecer-se lá contra todas as probabilidades é um
sacerdócio para todas as famílias africanas.
A busca por uma vida melhor e o consolo para justificar a sua
presença no mundo é uma obrigação que deve ser superada, independentemente do
custo e dos riscos. as populações africanas sabem disso.
Assim revigorados, mesmo dez embarcações improvisadas que se afundem nunca desencorajarão estes mortos com o tempo emprestado, em busca do bem-estar numa terra estrangeira que lhes abre, portanto, as suas portas com as suas próprias realidades. Se os seus governos locais estivessem cientes disso, os massacres mortais já teriam diminuído. Estamos convencidos disso. Mas o que fazer quando as riquezas africanas são pilhada por mãos ocultas que se recusam a criar empregos num quadro de vida razoável? A única alternativa é sair, quando ainda há tempo. Mas para onde ir?
Célestin Bernard N’Dri
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