quinta-feira, 30 de julho de 2020

Insegurança na Costa do Marfim



 30 de Julho de 2020  Robert Bibeau 

Por  Célestin Bernard N’ Dri


Essas crianças vulneráveis que se tornaram ladrões, assassinos, « micróbios »

São muitos, muito numerosos ... Cem, mil ou mais que mil? Somente o Ministério da Segurança e Protecção Civil pode estimar e fornecer o seu número exacto. A idade varia entre 7 e 17 anos. Essas crianças dos bairros muito pobres de Abidjan, educadas em total miséria, mas forçadas a criar as suas condições de vida e existência, parecem sem qualquer dúvida àquelas que vivem numa selva. Elas roubam, espancam ... e matam. Estas crianças assassinas, chamadas "Micróbios" por causa do seu impressionante número e das suas características nocivas, semeiam terror e desolação no seu caminho ... Elas são a face hedionda do desespero absoluto que o sistema capitalista produz na sua absoluta decrepitude.

Regresso de um fenómeno social muito perigoso que finalmente gangrenou os bairros de Abobo, Attecoube, Adjame, Yopougon, Ayama e… Koumassi. No coração da capital económica, onde moradias luxuosas vivem paredes meias com os kraals da miséria e as favelas que se impuseram à queda da infame cidade de Abidjan.

Essa decadência da nossa sociedade dita moderna, que deu origem a "monstrinhos", deve interpelar-nos por razões bem precisas. Em Novembro de 2010, a situação de insegurança, corolário da miséria provocada pela guerra civil na Costa do Marfim, provocada pela França após os resultados que contestou impugnando a eleição presidencial, colocou famílias inteiras na guerra, onde pais e filhos lutaram juntos sob as ordens dos senhores da guerra com promessas mirabolantes e fáceis dos assassinos militares financiados pela criminosa França. Com o fim da guerra, apesar de alguns modestos programas de inserção financiados por doadores internacionais, as famílias dos mortos em acção nunca foram totalmente compensadas. Crianças órfãs por causa da guerra são abandonadas sem que lhes seja dada qualquer perspectiva de vida. Sem meios de sobrevivência, tornam-se ases dos traficantes de todo o género que  que invadiram a capital económica, distribuindo drogas em todos os cantos da rua, aos desprovidos, que se tornaram, por consequência, muito vulneráveis.

Evidentemente, a guerra civil imposta ao país deu origem a uma sociedade sem referências. Crianças em idade escolar, abandonadas por famílias sem pais, devido a mortes durante os combates. A violência transformou-se-se infelizmente em troféus de guerra. A delinquência juvenil também se tornou a partilha dessas crianças, algumas das quais nasceram durante a guerra. Com a ausência de programas concretos de integração do governo, as razões fundamentais dessa outra guerra, tal como é travada, não pode senão piorar. Os filhos dos subúrbios costa-marfinenses, em grande medida vítimas expiatórias de um sistema de governança indesejado, de um modo de produção imposto, são forçados a alimentar-se de maneira diferente.

Armados com catanas, martelos, pistolas automáticas, facas de dois gumes para atacar o seu alvo depois de o ter despojado completamente. Às vezes, as vítimas sucumbem, após essa incrível violência exercida sobre elas. Esse gangue, que opera como um grupo, costuma cercar bairros inteiros por horas a fio e aí os habitantes saem, totalmente despojados. Em Abidjan, as crianças micróbio atacam as suas vítimas a qualquer hora do dia. O governo da Costa do Marfim, incapaz de controlá-los, fala de crianças em conflito com a lei.

Enquanto isso, este fenómeno que dura há mais de dez anos cria a psicose na cidade de Abidjan, onde sair à noite se torna muito arriscado. Neste momento, todos os costa-marfinenses choram e questionam-se se um dia os governantes poderão pôr um fim às acções desses ladrões e agressores, de outra idade. Talvez seja chegado o momento de colocar um ponto final neste sistema social de uma outra idade que devia ser visado.



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