Robert Bibeau
Capitulação e retirada americana do
Afeganistão
Após dezoito anos de massacre pós-colonial no Afeganistão,
foi assinado um acordo de retirada das tropas de ocupação da “coligação” entre
a administração dos EUA e a resistência nacionalista afegã - liderada pelos Talibã.
Este acordo faz parte da reestruturação geoestratégica imperialista no Médio Oriente,
levada a cabo desde a guerra na Síria da qual os Estados Unidos foram expulsos,
antes de serem extraditados do Iraque, e de se retirar em da Palestina-Israel dissimulados
sob o ridículo e farsante "negócio do século" (“deal of
the century” – Nota do Tradutor).
Afirmamos isso há já alguns anos! As dificuldades económicas estruturais do império americano forçam os financiadores de Wall Street a reorganizar os seus esforços de guerra em direcção ao seu principal inimigo - a aliança imperial China-Rússia - e a abandonar os campos de confronto como a Síria, Israel-Palestina, o Paquistão, o Iraque, o Irão e o Golfo Pérsico, o Iémene, o Sudão,a Líbia e o Afeganistão, guerras que o império está a tentar impingir à NATO e à França.
Nos últimos oito anos ( início da guerra nacional de autodefesa da Síria), em cada um desses terrenos de confrontos – de bombardeamentos – de refugiados - de mortos e destruição - o império americano passou da derrota ao desastre. Em cada um desses países, o império capitula e, depois de semear o caos e a destruição, tenta conter os danos após o seu desmembramento militar e prossegue a sua agressão no plano económico e financeiro, quando tal é possível. De facto, se o Irão, um estado moderno e poderoso, mantiver um comércio internacional florescente com o Ocidente e com o Oriente (China em particular), o Afeganistão, um dos estados mais pobres do planeta, não exporta senão ópio, de que os traficantes da China, da Europa e dos Estados Unidos não podem prescindir. É difícil sob essas condições imaginar como o império em declínio conseguirá sancionar e isolar diplomaticamente esse país subdesenvolvido, onde os Talibãs reinam de facto há, não obstante o que dizem os escribas a soldo do imperialismo .
Os motivos da
invasão americana
É compreendendo os motivos para a invasão deste país
subdesenvolvido, isolado, em guerra civil perpétua que podemos fazer um balanço
dessa invasão fracassada da qual os ianques emergem enfraquecidos. Qual foi o
verdadeiro motivo da invasão deste país exangue? Esqueçam o absurdo de George
W. Bush a propósito da
libertação das mulheres da burca (que elas usam sempre incidentalmente); a
propósito de Bin Laden, o seu apoio face ao declínio do império soviético; a
propósito da Al Qaeda, do Daesh e outros mercenários
jihadistas (exfiltrados dos teatros de operações na Síria, no Iraque e no Iémen);
esqueçam os Talibãs e a sua guerra de clãs contra os senhores feudais, contra os
mercenários jihadistas e outros espantalhos criados pela CIA e financiados pela
Arábia Saudita. Não havia necessidade de mobilizar 200.000 soldados de vinte
países da OTAN para conter os combatentes da resistência dos Talibãs na sua
guerra contra os chefes de tribos corrompidos; bastava cortar o seu
financiamento, incluindo o tráfico de ópio, subsídios Wahhabi de Riad e privá-los do armamento da CIA.
Mas então, por que é que essa invasão e essa guerra, que
custaram tantos biliões de dólares aos contribuintes americanos que nunca
entenderam o que os soldados ianques estavam a fazer naquele país no fim do
mundo, sem riqueza natural para saquear, sem mão-de-obra qualificada para
explorar? Essa invasão da OTAN não teve como objectivo conter os talibãs, mas
recrutá-los para a guerra americana contra as "Novas Rota da Seda"
chinesas. Um vasto projecto planetário de vários biliões de dólares que a
Aliança de Xangai empreendeu para impulsionar o comércio internacional, do qual
se tornou a força incontestada. O megaprojeto das Rotas da Seda (um trilião de
dólares em investimentos repartidos ao longo de décadas) é composto por
infra-estruturas de transporte marítimo (oceano Índico em particular e portos
de águas profundas no Ceilão e no Paquistão); por via aérea (aeroportos internacionais
que ligam a China ao Médio Oriente e à Europa, primeiro mercado mundial); por
terra (redes de estradas que ligam Pequim aos portos do Mediterrâneo oriental);
e gasodutos e oleodutos a ligar a China ao Médio Oriente, fonte de seu
aprovisionamento.
Grande parte dessas infraestruturas de transporte passa pelo
Afeganistão, em território iraniano e no Cazaquistão membro da Aliança de
Xangai e próximo do território afegão. A invasão imperialista do Afeganistão,
controlada pelos Talibãs, visava simplesmente impor um governo fantoche
pró-OTAN, encarregado de negociar e recrutar os Talibãs como mercenários a soldo
dos Estados Unidos, a fim de dinamitar e destruir essa infraestrutura de
transporte e tornar inoperante o vasto
projecto das "Novas Rotas da Seda" chinesas, colocando assim o aspirante
à hegemonia imperialista mundial à mercê do antigo poder decadente americano.
Hoje, os Estados Unidos teriam conseguido recrutar os
talibãs que, até agora, estavam completamente desinteressados pelas ofertas e
mercados ocidentais, e conseguiram reconquistar a quase totalidade do país, ao
mesmo tempo contra o governo fantoche dos senhores da guerra, os restos da Al-Qaeda
e os resíduos do Daesh, todos apoiados pelos restos da Força Expedicionária da
OTAN (ou o que resta dela, cerca de 13.000 soldados reclusos e cercados em
alguns campos entrincheirados).
Surge agora a questão de saber se os artigos secretos do
acordo EUA-Talibãs incluem cláusulas que garantem a sobrevivência do governo
fantoche em Cabul e se, em troca da retirada total das tropas americanas e de
subsídios generosos, o governo dos Talibãs concordará em importunar, minar e
destruir as infraestruturas chinesas que passam pelo território afegão ou
próximo dele. O acordo prevê um tempo de espera de 14 meses para se verificar
se os talibãs estão a aplicar os termos secretos do mesmo. Assim, alguns dias
após o anúncio do acordo, os Talibãs bombardearam as posições do governo
fantoche de Cabul, ao qual os EUA reagiram bombardeando santuários dos Talibãs,
o que não significa de forma alguma que um ou outro dos signatários do acordo
está a quebrar os seus compromissos secretos (2).
O proletariado revolucionário
Para nós, proletários revolucionários, nunca nos deveremos jamais
ser enganados por essas manigâncias
entre as forças feudais e burguesias nacionais e seus senhores imperialistas.
Negociações que nunca servem para defender os interesses da população afegã
trabalhadora. Somente o proletariado afegão pode servir os interesses do povo
afegão (a continuar).
Notas
1.
Afeganistão: os Estados Unidos e os Talebãs assinam um acordo histórico
após dezoito anos de guerra. Os americanos e a OTAN retirarão todas as suas
tropas do Afeganistão dentro de 14 meses se os Talebãs cumprem as suas
promessas. "Os Estados Unidos e os Talebãs assinaram um acordo de paz no
sábado, 29 de Fevereiro, após dezoito anos de guerra. Os americanos e os outros
países da OTAN presentes no local (Alemanha, Reino Unido e Itália, em
particular) retirarão todas as suas tropas do Afeganistão dentro de 14 meses se
os Talibãs cumprirem os seus compromissos (sic), declararam os Governos
americano e afegão numa declaração conjunta. "A coligação completará a
retirada das tropas que permanecerem no Afeganistão dentro de 14 meses após a
publicação desta declaração conjunta e do acordo Estados Unidos-Talibãs (...),
desde que os Talibãs respeitem os seus compromissos nos termos do acordo
EUA-Taliban ", diz. Os Estados Unidos começariam a reduzir o seu
contingente para 8.600 homens dentro de 135 dias após a assinatura do acordo
com os Talibãs, que deve ocorrer esta tarde em Doha, acrescenta o comunicado.
Por fim, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, apelou no sábado aos
talibãs que tomem cuidado com o "declarar vitória" e "que
mantenham a promessa de ruptura com a Al-Qaeda". https://www.msn.com/fr-ca/actualites/monde/afghanistan-les-etats-unis-et-les-talibans-signent-un-accord-historique-apr%C3%A8s-dix-huit-ans-de-guerre/ar-BB10zcja?ocid=spartanntp
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