Soaram
trombetas patrióticas quando, na conferência de imprensa, que se seguiu à
reunião do Conselho Europeu (constituído por 27 Chefes de Estado e de Governo),
de dia 24 de Março, levado a cabo por tele-conferência, Costa considerou
repugnantes as posições assumidas pelo ministro das finanças holandês – Wopke
Hoekstra –, mais tarde acolhidas pelo primeiro-ministro daquele país – Mark
Rutte – declarações que mais não fazem do que replicar as posições da Alemanha
e da chanceler Merkel.
Dando
voz e expressão ao que o cinismo pragmático das burguesias da Europa do
Norte, nomeadamente da Finlândia, defendem abertamente, o ministro das Finanças
holandês, questionara as razões pelas quais a Espanha e a Itália – chegará a
vez de Portugal – não conseguiram constituir reservas para enfrentar a presente
crise, pedindo inclusivamente à União Europeia que investigue estes
países.
Por
seu lado, no Conselho Europeu, a Holanda, agora chamada de Países Baixos, e
mais três países do norte da Europa, entre os quais a já citada Alemanha,
opõem-se à solução eurobonds –
ou, na versão saloia de Costa e seus pares de centenobonds –
para fazer face à dívida cujo crescendo exponencial se adivinha, argumentando,
curiosamente, o que Costa também já dissera: “não é sensato gastar todas as
armas”, defendendo que só em último recurso se deve recorrer ao Mecanismo
Europeu de Estabilidade (MEE). E, assim, perante a enorme crise sanitária e
social provocada pela pandemia, e tal como o PCTP/MRPP sempre denunciou, fica
mais uma vez a nu o que é efectivamente o projecto de coesão europeu.
Torna-se
repugnante que o primeiro-ministro Costa recorra à mais pura das demagogias
para atacar comportamentos desta natureza, como sendo contrários ao espírito
europeu e contributos para o desmantelar da unidade europeia.
Sempre
o dissemos. A União Europeia e, sobretudo, o euro, são tenazes que esmagam os
interesses de Portugal e de outros países do sul da Europa, elos fracos da
cadeia capitalista e imperialista europeia. É notório que os países e
burguesias que mais beneficiaram desta união e
desta moeda são, precisamente, aqueles que agora se opõem em participar num
esforço conjunto e solidário para combater a pandemia.
Nada
de novo, portanto! Com o apelo a uma “União Nacional Antiviral”,
Costa pretende escamotear que a União Europeia nunca foi um espaço de
convergência ou de solidariedade entre povos. Antes pelo contrário. Foi sempre
um espaço em que, com a Alemanha à cabeça, as nações com maior poder económico,
financeiro e industrial, impuseram uma divisão de trabalho europeia que melhor
serve os seus interesses.
E,
o resultado está à vista. A burguesia portuguesa – de que Costa é um lídimo
representante – aceitou destruir o tecido produtivo, delegando na Alemanha o
papel de motor da indústria europeia e na França o papel de fornecedor de
produtos agrícolas do continente europeu. Ao mesmo tempo, Costa representa esse
sector da burguesia nacional que aceitou o papel de criado de libré – a que
chama pomposamente turismo – para os trabalhadores portugueses.
E aqui temos a
grande diferença, sendo a Alemanha o quinto país com mais casos no mundo,
poucos alemães morrem do vírus, porque a Alemanha investiu na aplicação de
testes que produz, assim como ventiladores. Enquanto isso, Portugal se precisar
de ventiladores, só poderá contar com ventiladores alemães lá para o mês de
Junho. É repugnante? É. Constitui uma surpresa? Claro que não!
A
precariedade, o desemprego, os baixos salários, são tudo consequências dessa
política vende-pátrias levada a cabo por PS e PSD, com as muletas do
PCP/BE/Verdes/PAN e CDS/PP, que nunca indignaram aqueles que agora se dispõem a
formar uma santa união nacional antiviral.
A
burguesia só entende uma linguagem: aquela que lhe vai ao bolso.
Está provado, pelos exemplos da Coreia do Sul, Taiwan, Macau, China, a própria Alemanha, que a aplicação de testes e o recurso a material de protecção, pode salvar muitas vidas e travar a pandemia. É necessário e urgente tomar medidas.
Está provado, pelos exemplos da Coreia do Sul, Taiwan, Macau, China, a própria Alemanha, que a aplicação de testes e o recurso a material de protecção, pode salvar muitas vidas e travar a pandemia. É necessário e urgente tomar medidas.
Para
além da exigência da criação de uma rede integrada de saúde – com a requisição
de todos os recursos, humanos e materiais, públicos e privados
– coordenados e geridos pela DGS, de forma a assegurar os cuidados de saúde
necessários a todos aqueles que a ela têm de recorrer, os operários e os
trabalhadores portugueses devem opor a esta “União Nacional Antiviral”
a unidade e a luta pelo encerramento de todos os locais de trabalho, – com o
pagamento integral dos salários – salvo aqueles que asseguram a resposta de
saúde à actual crise pandémica, a aplicação de testes a todos (sintomáticos e
assintomáticos) os que são obrigados a trabalhar para manterem os serviços
mínimos.
O
Governo tem de ter uma estratégia, tem de conhecer com rigor os meios e
recursos que o País possui e ter a capacidade de planear, reconvertendo, se for
necessário, fábricas para produzirem material médico e de protecção. E não, não
é verdade que “até à data não faltou nada, nem se prevê que venha a faltar!! E
já agora, em época de férias de Páscoa, haverá alguma razão para se decidir que
não haverá controlo, relativamente aos estrangeiros que entram em Portugal?
Há
que salvar vidas em vez de dividendos que só servem para engordar os lucros da
burguesia, nesta crise que se vai estender por tempo ainda indeterminado.
Retirado de: http://www.lutapopularonline.org/index.php/pais/104-politica-geral/2692-o-grande-projecto-europeu-e-a-uniao-nacional-antiviral
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