terça-feira, 31 de março de 2020

Covid-19 – Entrevista com Didier Raoult (França)



por Robert Bibeau
Fonte -  Marcelle-blogue.


O artigo do Pr. Didier Raoult (portait du Pr Didier Raoult) publicado há uma semana em Marcelle (https://marcelle.media/2020/03/26/covid-19-entretien-avec-celui-qui-est-au-coeur-des-polemiques-didier-raoult/) explodiu todos as bancas de jornais e revistas (mais de 100.000 leitores). Ainda mais surpreendente, não deu origem a nenhuma controvérsia. Actualmente, o pesquisador está no centro de todos os debates sobre a solução terapêutica que recomenda. Ontem de manhã, o Canard Enchaîné dava título às ameaças de morte às quais foi sujeito. Portanto, este exercício de perguntas e respostas, ao qual o virologista mais famoso hoje do planeta está disposto a responder, porque conhece os jornalistas que o questionam há muito tempo.

Fez saber  na terça-feira que não participaria mais nas reuniões do comité científico que aconselha as nossas autoridades sobre o que fazer diante da epidemia, porquê?
Não tenho duas horas para perder em discussões que não vão ao essencial. Aqui estamos sobrecarregados de trabalho, surpreendidos pelos resultados dos testes e pelos dados dos nossos pacientes. Um terço das nossas 75 camas hospitalares é renovado todos os dias, as nossas equipes estão mobilizadas 24 horas por dia ... Isso é o que é importante para mim, não as conversas em que, sobretudo, ninguém deve ofender ninguém.

As críticas ou o colocar em causa as suas opiniões, isso incomoda-o ?

As críticas e conversas de bar em fóruns televisivos, estou-me nas tintas até um ponto que você nem pode imaginar. O que me incomoda, no entanto, é que a França, o meu país, não segue o que é razoável e fica para trás porque as pessoas que pensam que são importantes não querem sair disso. Eu estou calmo, eu sei como isto vai acabar.

É por isso que alguns o condenam, por prever o futuro.
Não se trata de premonição, mas de conhecimento. No meu campo, sei o que estou a dizer, sei o que as minhas equipas estão a fazer, estou a acumular dados - portanto, conhecimento suplementar - e meço todos os dias o efeito clínico do que preconizo. Alguns não querem acreditar? Esse é um problema deles. A política e suas decisões são julgadas pela história. Veremos muito rapidamente o que se passará com esta crise. Saberemos a verdade. Mil pacientes foram declarados positivos nos testes que realizámos. Graças à monitorização do seu tratamento, temos uma quantidade considerável de dados. Nós os compilamos. Em breve, eles nos darão uma idéia mais precisa da acção da hidroxicloroquina.

Ajustou as suas indicações terapêuticas ?
A nossa doutrina é detectar e tratar o mais cedo possível. A hidroxicloroquina funciona em casos moderados a graves. Além disso, quando os pacientes estão em terapia intensiva, é tarde demais. O vírus ainda está lá, mas o paciente sofre inflamações pulmonares consecutivas.

Precisamente, o estudo Discovery vai ser levado a cabo em pacientes muito afectados ...

Se quiséssemos provar que não funciona, não faríamos de outra maneira. Depois de tudo isto, haverá uma investigação parlamentar e será sangrenta, tanto quanto o caso do sangue contaminado. E será pior se o governo decidir negar o acesso à droga.

Mas, mesmo a Organização Mundial da Saúde adverte contra o tratamento que preconiza...  
Antes de tudo o mais, eu sou médico. Fiz o juramento de Hipócrates em 1981 e, desde então, o meu dever é fazer o que me parece melhor para os doentes, com base no meu conhecimento e no estado da ciência. É o que venho a fazer há 40 anos e o que estou a fazer agora com as minhas equipas: tratando da melhor forma possível os pacientes que se apresentam. Isso significa testá-los, avaliar a condição daqueles que são positivos e tratá-los com as terapias disponíveis. Hoje, não existe senão um que começou a dar resultados,  é a hidroxicloroquina combinada com o antibiótico azitromicina. Todos os dados que colectamos desde que começámos, há um mês atrás, após os primeiros ensaios na China, apontam na mesma direcção. Agora, se isso respeita ou não os procedimentos científicos habituais ... Eu concordo com o Presidente quando ele diz que estamos em guerra. Uma guerra que justifica lutar com todas as armas que temos. Como médicos, é nosso dever oferecer aos pacientes o melhor tratamento disponível no momento T. O resto é literatura.

Que mecanismos estariam em jogo com a administração da hidroxicloroquina?
Essa molécula teria dois efeitos para acelerar a eliminação do vírus: primeiro modificaria o ambiente ácido da bolsa vacúolo (do latim vaccuus – vácuo – Nota do tradutor) da célula. Este pequeno saco de líquido protegido pela membrana serve como ninho ao vírus. Ao aumentar o seu pH (potencial hidrogénio), o ecossistema tranquilo desse abrigo fica perturbado e as enzimas envolvidas nas máquinas celulares usadas pelo vírus para replicar são impedidas de agir. Acredita-se também que a hidroxicloroquina promova a apoptose, que é a morte celular programada, um mecanismo genético que protege o corpo contra infecções, causando a autodestruição das células infectadas. Vou trabalhar com o renomado especialista Guido Kroemer, professor de imunologia da faculdade de medicina da Universidade de Paris Descartes e director da unidade de pesquisa "Metabolismo, cancro e imunidade", para aprofundar o trabalho sobre os mecanismos envolvidos.

Sem prenunciar a publicação das suas novas observações, o que pode dizer da eficácia do Plaquenil ?
Não se preocupe: funciona. E ainda melhor do que isso: temos duas vezes menos vítimas de infecções virais este ano, todas as doenças combinadas, nenhum pico de mortalidade e sem resistência a antibióticos.

Numerosos colegas seus gritam alto e bom som sobre os efeitos secundários provocados pela cloroquina ...

Todos os medicamentos têm efeitos colaterais, principalmente quando as dosagens não são seguidas. Sobredosagens de aspirina, paracetamol e ibuprofeno são muito mais perigosas do que a hidroxicloroquina nas doses administradas. Quanto à azitromicina, a cada um a oito americanos é prescrita pelo menos uma vez por ano. Se matasse pessoas ou as tornasse mais doentes do que são, nós ficaríamos a saber.


Anunciou no domingo que testaria todas as pessoas febris que se apresentassem no IHU. Vimos filas que se formaram fente às vossas instalações. O que nos pode dizer sobre isso ?
Desde 2ª feira que realizámos 2.000 testes por dia. Cerca de 10% das pessoas testadas eram positivas.
O que se passa com as pessoas que vocês despistaram como positivas ?
Nosso protocolo está bem estabelecido. Verificamos se eles têm sinais clínicos da doença e passamos um scanner pulmonar de “baixa dose” (1), como fazem os chineses, porque algumas pessoas infectadas não têm sinais clínicos óbvios da doença. mas têm danos nos pulmões que piorarão se não forem tratados. É a eles que administramos o que consideramos ser o único tratamento disponível até o momento e, dois dias depois, são convidados a vir e fazer um eletrocardiograma. O risco cardiovascular é o efeito colateral mais importante. Este tratamento é ambulatório,  mas os pacientes mais graves são naturalmente hospitalizados.

O que é que, no seu entender, impede a generalização destes testes e destes exames a nível nacional?
É antes de tudo uma questão de vontade política e implementação logística. Nós temos os meios. Entre os laboratórios privados de análise, os laboratórios veterinários de alta qualidade que possuímos, os médicos da cidade e os enfermeiros liberais, todos qualificados para colher amostras, assim como os nossos recursos hospitalares, há muito o que fazer. Aqui não somos extraterrestres. Se conseguirmos fazer 2.000 testes por dia na IHU em Marselha, não acredito que em toda a França não sejamos capazes de fazer o mesmo, como na Alemanha ou na Coréia do Sul, 100.000 testes por dia é o que precisamos e podemos fazê-lo. Testes básicos de PCR, excluindo epidemias, fazemos 300.000 por ano na IHU. Quanto aos scanners, fazemos face a Marselha, mas pode ser mais difícil noutros lugares, já que a nossa taxa de equipamentos em scanners é uma das mais baixas dos países da OCDE. Essa é a consequência das escolhas políticas e financeiras dos últimos 30 anos. As asneiras acabam sempre por se pagar.
 
Como explica que esta estratégia que já fez provas por esse mundo fora, não seja ainda uma realidade no nosso país?
Em França, infelizmente, antes de fazer a única pergunta válida, isto é, "o que deve ser feito para lidar com essa situação? ", Sempre nos questionamos se" somos capazes de implementar esta ou aquela solução? " Colocamos a carroça à frente dos bois e ela não avança.

O ministro da saúde escuta-o?
É um homem inteligente, mas herdou uma situação muito difícil, muito desorganizada.
Que pensa da atitude das autoridades, políticas e médicas, de uma maneira geral?
Contentar-me-ía em citar a máxima atribuída a Seneca : « Errare humanum est, perseverare diabolicum » ( O erro é humano, prosseguir no erro é diabólico . Nota do Tradutor)


(1) Um scanner « low dose » (dose fraca em português – nota do tradutor) permite obter uma imagem de boa qualidade com um nível de irradiação muito baixo para o paciente.  



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