por Robert Bibeau
O artigo do Pr.
Didier Raoult (portait
du Pr Didier Raoult)
publicado há uma semana em
Marcelle (https://marcelle.media/2020/03/26/covid-19-entretien-avec-celui-qui-est-au-coeur-des-polemiques-didier-raoult/)
explodiu todos as bancas de jornais e
revistas (mais de 100.000 leitores). Ainda mais surpreendente, não deu origem a
nenhuma controvérsia. Actualmente, o pesquisador está no centro de todos os
debates sobre a solução terapêutica que recomenda. Ontem de manhã, o Canard Enchaîné dava título às ameaças
de morte às quais foi sujeito. Portanto, este exercício de perguntas e
respostas, ao qual o virologista mais famoso hoje do planeta está disposto a
responder, porque conhece os jornalistas que o questionam há muito tempo.
Fez saber na terça-feira que não participaria mais nas
reuniões do comité científico que aconselha as nossas autoridades sobre o que
fazer diante da epidemia, porquê?
Não tenho duas horas para perder em discussões que não vão
ao essencial. Aqui estamos sobrecarregados de trabalho, surpreendidos pelos
resultados dos testes e pelos dados dos nossos pacientes. Um terço das nossas
75 camas hospitalares é renovado todos os dias, as nossas equipes estão
mobilizadas 24 horas por dia ... Isso é o que é importante para mim, não as
conversas em que, sobretudo, ninguém deve ofender ninguém.
As
críticas ou o colocar em causa as suas opiniões, isso incomoda-o ?
As críticas e conversas de bar em fóruns televisivos, estou-me nas tintas até um ponto que você nem pode imaginar. O que me incomoda, no entanto, é que a França, o meu país, não segue o que é razoável e fica para trás porque as pessoas que pensam que são importantes não querem sair disso. Eu estou calmo, eu sei como isto vai acabar.
É
por isso que alguns o condenam, por prever o futuro.
Não se trata de premonição, mas de conhecimento. No meu
campo, sei o que estou a dizer, sei o que as minhas equipas estão a fazer,
estou a acumular dados - portanto, conhecimento suplementar - e meço todos os
dias o efeito clínico do que preconizo. Alguns não querem acreditar? Esse é um
problema deles. A política e suas decisões são julgadas pela história. Veremos
muito rapidamente o que se passará com esta crise. Saberemos a verdade. Mil
pacientes foram declarados positivos nos testes que realizámos. Graças à
monitorização do seu tratamento, temos uma quantidade considerável de dados.
Nós os compilamos. Em breve, eles nos darão uma idéia mais precisa da acção da hidroxicloroquina.
Ajustou
as suas indicações terapêuticas ?
A nossa doutrina é detectar e tratar o mais cedo possível. A
hidroxicloroquina
funciona em casos moderados a graves. Além disso, quando os pacientes estão em
terapia intensiva, é tarde demais. O vírus ainda está lá, mas o paciente sofre
inflamações pulmonares consecutivas.
Precisamente,
o estudo Discovery vai ser levado a cabo em pacientes muito afectados ...
Se quiséssemos provar que não funciona, não faríamos de outra maneira. Depois de tudo isto, haverá uma investigação parlamentar e será sangrenta, tanto quanto o caso do sangue contaminado. E será pior se o governo decidir negar o acesso à droga.
Mas,
mesmo a Organização Mundial da Saúde adverte contra o tratamento que
preconiza...
Antes de tudo o mais, eu sou médico. Fiz o juramento de
Hipócrates em 1981 e, desde então, o meu dever é fazer o que me parece melhor
para os doentes, com base no meu conhecimento e no estado da ciência. É o que
venho a fazer há 40 anos e o que estou a fazer agora com as minhas equipas:
tratando da melhor forma possível os pacientes que se apresentam. Isso
significa testá-los, avaliar a condição daqueles que são positivos e tratá-los
com as terapias disponíveis. Hoje, não existe senão um que começou a dar
resultados, é a hidroxicloroquina
combinada com o antibiótico azitromicina. Todos os dados que
colectamos desde que começámos, há um mês atrás, após os primeiros ensaios na
China, apontam na mesma direcção. Agora, se isso respeita ou não os procedimentos
científicos habituais ... Eu concordo com o Presidente quando ele diz que
estamos em guerra. Uma guerra que justifica lutar com todas as armas que temos.
Como médicos, é nosso dever oferecer aos pacientes o melhor tratamento
disponível no momento T. O resto é literatura.
Que
mecanismos estariam em jogo com a administração da hidroxicloroquina?
Essa molécula teria dois efeitos para acelerar a eliminação
do vírus: primeiro modificaria o ambiente ácido da bolsa vacúolo (do latim vaccuus – vácuo – Nota do tradutor) da
célula. Este pequeno saco de líquido protegido pela membrana serve como ninho
ao vírus. Ao aumentar o seu pH (potencial hidrogénio), o ecossistema tranquilo
desse abrigo fica perturbado e as enzimas envolvidas nas máquinas celulares
usadas pelo vírus para replicar são impedidas de agir. Acredita-se também que a
hidroxicloroquina
promova a apoptose, que é a morte celular programada, um mecanismo
genético que protege o corpo contra infecções, causando a autodestruição das
células infectadas. Vou trabalhar com o renomado especialista Guido Kroemer,
professor de imunologia da faculdade de medicina da Universidade de Paris
Descartes e director da unidade de pesquisa "Metabolismo, cancro e
imunidade", para aprofundar o trabalho sobre os mecanismos envolvidos.
Sem
prenunciar a publicação das suas novas observações, o que pode dizer da
eficácia do Plaquenil ?
Não se preocupe: funciona. E ainda melhor do que isso: temos
duas vezes menos vítimas de infecções virais este ano, todas as doenças
combinadas, nenhum pico de mortalidade e sem resistência a antibióticos.
Numerosos
colegas seus gritam alto e bom som sobre os efeitos secundários provocados pela
cloroquina ...
Todos os medicamentos têm efeitos colaterais, principalmente quando as dosagens não são seguidas. Sobredosagens de aspirina, paracetamol e ibuprofeno são muito mais perigosas do que a hidroxicloroquina nas doses administradas. Quanto à azitromicina, a cada um a oito americanos é prescrita pelo menos uma vez por ano. Se matasse pessoas ou as tornasse mais doentes do que são, nós ficaríamos a saber.
Anunciou
no domingo que testaria todas as pessoas febris que se apresentassem no IHU. Vimos
filas que se formaram fente às vossas instalações. O que nos pode dizer sobre
isso ?
Desde 2ª feira que realizámos 2.000
testes por dia. Cerca de 10% das pessoas testadas eram positivas.
O
que se passa com as pessoas que vocês despistaram como positivas ?
Nosso protocolo está bem estabelecido. Verificamos se eles
têm sinais clínicos da doença e passamos um scanner
pulmonar de “baixa dose” (1), como fazem os chineses, porque algumas pessoas
infectadas não têm sinais clínicos óbvios da doença. mas têm danos nos pulmões
que piorarão se não forem tratados. É a eles que administramos o que
consideramos ser o único tratamento disponível até o momento e, dois dias
depois, são convidados a vir e fazer um eletrocardiograma. O risco
cardiovascular é o efeito colateral mais importante. Este tratamento é
ambulatório, mas os pacientes mais
graves são naturalmente hospitalizados.
O
que é que, no seu entender, impede a generalização destes testes e destes
exames a nível nacional?
É antes de tudo uma questão de vontade política e
implementação logística. Nós temos os meios. Entre os laboratórios privados de
análise, os laboratórios veterinários de alta qualidade que possuímos, os
médicos da cidade e os enfermeiros liberais, todos qualificados para colher
amostras, assim como os nossos recursos hospitalares, há muito o que fazer.
Aqui não somos extraterrestres. Se conseguirmos fazer 2.000 testes por dia na
IHU em Marselha, não acredito que em toda a França não sejamos capazes de fazer
o mesmo, como na Alemanha ou na Coréia do Sul, 100.000 testes por dia é o que
precisamos e podemos fazê-lo. Testes básicos de PCR, excluindo epidemias,
fazemos 300.000 por ano na IHU. Quanto aos scanners, fazemos face a Marselha,
mas pode ser mais difícil noutros lugares, já que a nossa taxa de equipamentos
em scanners é uma das mais baixas dos
países da OCDE. Essa é a consequência das escolhas políticas e financeiras dos
últimos 30 anos. As asneiras acabam sempre por se pagar.
Como
explica que esta estratégia que já fez provas por esse mundo fora, não seja
ainda uma realidade no nosso país?
Em França, infelizmente, antes de fazer a única pergunta válida, isto é,
"o que deve ser feito para lidar com essa situação? ", Sempre nos
questionamos se" somos capazes de implementar esta ou aquela solução?
" Colocamos a carroça à frente dos bois e ela não avança.
O
ministro da saúde escuta-o?
É um homem inteligente, mas herdou uma
situação muito difícil, muito desorganizada.
Que
pensa da atitude das autoridades, políticas e médicas, de uma maneira geral?
Contentar-me-ía em citar a máxima
atribuída a Seneca : « Errare humanum est, perseverare diabolicum » ( O
erro é humano, prosseguir no erro é diabólico . Nota do Tradutor)
(1) Um scanner « low dose » (dose
fraca em português – nota do tradutor) permite obter uma imagem de boa
qualidade com um nível de irradiação muito baixo para o paciente.
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