Face à actual crise pandémica ou a qualquer outro evento, é
preciso que os comunistas afirmem, com toda a clareza, que não é possível, no
quadro do sistema capitalista e imperialista dominante em todo o mundo, uma
solução para o colapso dos sistemas nacionais de saúde ou das organizações
mundiais que, supostamente, actuam no sentido de tornar mais eficazes e
eficientes os actos e estratégias de saúde que satisfaçam as necessidades de
quem a eles tem de acorrer.
Quando os comunistas analisam estes fenómenos, políticos,
sociais, financeiros e económicos, é normal aparecerem toda a sorte de
oportunistas – dos quais se destacam os jornalistas de merda, que praticam um
jornalismo de merda – a questionar o que faríamos para melhorar o quadro se
estivéssemos no governo. A resposta a dar, sem hesitações, é a de que, ao
contrário da falsa esquerda que se coloca em bicos dos pés para servir a
burguesia com soluções de gestão milagrosas, nós afirmamos, sem rebuço, que não
é possível curar cancros com aspirinas e que os comunistas não se prestam a
servir de muletas ao poder burguês.
E é disso que se trata. O Sistema Nacional de Saúde (SNS),
no quadro do sistema capitalista e imperialista dominante no nosso país,
acolheu as ideias neo-liberais de gestão, mesmo a nível hospitalar. Esta
corrente burguesa caracteriza-se por considerar que tudo o que mexe, tudo o que
possa gerar rendimento e lucro, deva ser imediatamente privatizado. Reclamam...menos
estado! Mas, quando são apanhados com as calças na mão, como é o caso da corrente
crise pandémica, gritam oh! Da guarda, para que o estado venha em seu socorro,
isto é, em socorro do assegurar dos seus lucros e da sua sacrossanta
propriedade.
O colapso do SNS a que assistimos tem uma razão que só se
pode entender a montante.
Quer antes, quer imediatamente a seguir às crises do sistema
capitalista e imperialista mundiais de 2008 e 2011, recorrendo a todas as
agências que tutela para controlar todo o sistema a nível mundial – FMI, Banco
Mundial, Bancos Centrais (entre os quais a FED americana e o BCE europeu) – os
neo-liberais da Escola de Chigago e outras correntes neo-liberais, impuseram um
novo paradigma, o da privatização dos serviços públicos de saúde em toda a
parte. Desde a América Latina à Oceânia, passando pela Europa e os continentes
africano e asiático.
Onde não foi possível a privatização de hospitais e outros
equipamentos de saúde – como centros de saúde, clínicas, laboratórios, centros
de investigação, etc. – impôs-se um modelo de gestão privada, baseados em
critérios de rentabilidade e lucro, como se de unidades privadas se tratasse.
Os ratios deixaram de ser os de
eficiência dos serviços prestados, para se basear em critérios economicistas.
E é precisamente neste estado que a actual crise pandémica
encontra a esmagadora maioria dos países onde o COVID-19 provoca milhares de
mortes e centenas de milhar de infectados. Devido às políticas neo-liberais, os
sistemas de saúde estão anémicos, não conseguem produzir defesas ou anti-corpos
para lhe fazer face. A gestão hospitalar, apostada num modelo just in time que se traduz em não
promover o armazenamento de mais do que o indispensável, face ao primeiro
impacto da crise pandémica, ressentiu-se e, por mais que o tempo passe, não consegue
dar a resposta adequada à crescente necessidade de todo o tipo de material
médico, cirúrgico, de segurança e análise que a situação exige.
Havendo uma interdependência entre os sistema de saúde de
todos os países e a capacidade industrial instalada e logística para satisfazer
a procura de equipamentos vários, a presente crise pandémica encontrou Portugal
e os restantes países a nível mundial numa absoluta carência e inexistente programação
e planeamento industrial que estivesse à altura dos acontecimentos. Certamente
que ninguém esperará que contrariar medidas instaladas há décadas se possam
resolver em alguns meses, quer isto dizer que é praticamente impossível
estabilizar a situação ao ponto de resolver a presente crise a contento do
direito à vida que os operários e os trabalhadores exigem.
Mesmo na eminência das condições criadas para que ocorra uma
revolução a nível mundial que destrua o sistema capitalista e imperialista e o
substitua por um sistema comunista, livre da escravatura assalariada, mesmo
tendo em conta essa possibilidade, seria necessário um enorme esforço de
solidariedade operária e planeamento comunista para que se começassem a
vislumbrar alterações ao quadro de colapso que hoje se vive.
É muito importante que fique claro que a responsabilidade
pela propagação meteórica do COVID-19, a gritante e manifesta falta de meios
que possibilitem um ataque sanitário mais robusto, é dos governos da burguesia
capitalista e imperialista. Não é dos profissionais da saúde e do socorro e
emergência, únicos que neste processo têm excedido a sua própria capacidade
física para acudirem a todos os que procuram mitigar o seu sofrimento. Todas as
mortes, neste contexto, têm de ser contabilizadas como assassinatos provocados
por um sistema económico e financeiro caduco que precisa de ser enterrado,
definitivamente, pela história. Porque, o capitalismo, mata!
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