terça-feira, 4 de agosto de 2020

Viúvas, « as condenadas » da sociedade africana ?




4 de Agosto de 2020  Robert Bibeau  
Por Célestin Bernard N’Dri.

Ser viúva em África é aceitar, sem o saber, beber o cálice da amargura até se esgotar. A imagem não é muito forte, mas proporcional ao sofrimento que essas mulheres experenciam durante o luto que carregam. Ser viúva em África faz lembrar o que um preso no corredor da morte vive no momento do seu fuzilamento.

Enfim, ser viúva em África, também é morrer, de uma morte cruel. As atrocidades medievais que essas senhoras experimentam diariamente em África não podem ser descritas ou recontadas. Infelizmente, à vista da media e das ONGs internacionais, que se tornam finalmente cúmplices dessa barbárie indizível.
Enquanto isso, a decadência moral continua a alimentar essa maldade dos tempos antigos.

Quando essas mães de família sofrem, choram, agonizam e morrem, uma aprendizagem moral é contrária ao bom senso, concedida aos seus algozes em qualquer  lugar, numa aldeia africana. Por que razões? Ninguém se atreverá a dizer claramente, mas a sua própria análise concluirá que a pobreza da sociedade e a decadência da moral são as principais razões.

O que dizer ?

No substrato desta análise, lembremos que o africano tem uma crença multifacetada. Ele é ou animista ou cristão. Mas em ambos os casos, ele é fundamentalmente apegado a um Deus cuja supremacia é transcendente. Pelo exposto, tudo o que acontece com ele obedece a uma razão profunda.

Quando ocorre a sua morte, a sua esposa é indexada directamente pelos seus sogros, que a acusam de todos os pecados de Israel. Caberá a ela afastar a má sorte que ocorre com a família. Como vai ela fazer isso? A este nível, quatro acções vigorosas são-lhe impostas, a ela e aos seus sogros. Em primeiro lugar, se a viúva ainda é jovem, certas práticas africanas ainda estão em vigor (isso não acontece  em todo o lado no continente), mas na Costa do Marfim, Burkina Faso, Togo, Camarões, Benim, Nigéria ... gostariam que a viúva fosse legada a um parente próximo do marido falecido; o irmão, o primo ou, um tio que por sua vez se casará com ela, para cuidar disso de acordo com o costume. A sua recusa colocá-la-ia em desgraça e tudo lhe seria tirado, mesmo tudo o que ela tivesse economizado para ela e para os seus filhos. Se não tiver sorte, o novo pretendente que é forçosamente um parente próximo do defunto marido, pode violá-la copiosamente sem que o céu lhe tombe em cima. Em segundo lugar, quando ela acaba de perder, o seu esposo, se o casal tiver vivido em concubinagem, sem base jurídica, todas as golpadas são permitidas. Para além disso, em casos excepcionais, tudo lhe será retirado,  até mesmo as facas de cozinha e os pratos. Ela é expulsa do domicílio conjugal num ambiente totalmente humilhante, por vezes numa privação sem paralelo. Na maioria dos casos, ela é exposta nua nas vilas, sob o pretexto desconcertante de ter morto o seu marido.

Nada o prova, mas a sua culpa está estabelecida e a sanção da Comunidade é aplicada sem rodeios. Ela deixará os seus sogros com a certeza, desta vez, de ter perdido tudo, inclusive a sua dignidade.

Em terceiro lugar, a velha viúva analfabeta e os seus filhos, podem não herdar do pai que acabou de morrer, se a Comunidade se aperceber que o falecido marido é um homem rico e com propriedades. Subterfúgios serão organizados para deserdar as crianças e a  sua mãe, das quais, no final, tudo será arrancado ... pela força.

Ao menor ruído, para qualquer reclamação, essa mulher, já taxada como bruxa, verá a sua vida ainda mais complicada. Como sabemos, durante o luto, ela será forçada a compartilhar o mesmo quarto que o falecido marido, antes do seu enterro.

Em quarto lugar, quando a viúva é alfabetizada e legalmente casada, em muitos casos, a sucessão do seu falecido marido é a aplicação da justiça. Mas, combates cerrados entre ela e a sua bela família acontecem porque ela é acusada, seja de ter matado o marido para confiscar os bens, seja por o ter envenenado para ter outra vida com um amante, muito simpático.

Neste último caso, não é tão certo que esta viúva volte num futuro próximo, a estar ligada à família enlutada, a dos seus sogros. O pano entre viúvas e sogros em África queimará sempre. Enquanto aguarda que as autoridades públicas tomem medidas regulatórias para a sobrevivência dessas ... mulheres mortificadas. A sociedade continuará a humilhá-las. Viúvas mais frágeis, vítimas de insultos e das piores formas de humilhação, acabam por morrer, apenas algumas semanas após a morte dos seus maridos. Enquanto outras, isoladas numa sociedade que realmente as rejeita, preferem matar-se. O mesmo acontece com África, na era digital, mas cujos usos e costumes permanecem feudais.

Célestin Bernard N ‘Dri



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