sexta-feira, 10 de abril de 2020

As grandes pandemias que marcaram a história






  Por Céline Deluzarche (revista de imprensa : Futura Sciences – 31/3/20)*.  Em France-Irak Actualité

As epidemias não esperaram pela globalização ou pela crise do coronavírus para se espalharem pelo mundo. Desde os tempos antigos, as doenças dizimaram populações inteiras no espaço de alguns meses ou mesmo dias, provocando o terror entre os habitantes diante de um mal desconhecido.

Versão globalizada da epidemia, a pandemia  (pandémie) é caracterizada por uma rápida disseminação e alta taxa de mortalidade. Transmitidas por vírus ou bactérias  (virus ou bactéries) desconhecidas na sua época, essas pandemias mataram milhões de pessoas e marcaram a história da humanidade.

A peste de Atenas (-430 à -426 antes de Cristo)

A primeira pandemia (pandémie)  documentada na história, a peste (peste) de Atenas é provavelmente devida à febre tifóide (fièvre ). Descrita pelo historiador Tucídides, ele próprio afectado pela doença, ela manifesta-se por febres intensas, diarreias (diarrhées), vermelhidão e convulsões (convulsions).  Vinda da Etiópia, ataca o Egipto e a Líbia, depois chega a Atenas no momento do cerco da cidade de Esparta, durante a Guerra do Peloponeso (guerre du Péloponnèse). Estima-se que um terço da cidade, ou 200.000 habitantes, pereceram durante esta epidemia que marcará o início do declínio de Atenas.

A peste Antonina (165-166)

Aqui de novo, esta pandemia não se deve à peste, mas à varíola (variole). Leva o nome da dinastia Antonina, da qual se destacou o imperador Marc-Aurèle, que reinava então sobre o Império Romano. A pandemia começou no final de 165 na Mesopotâmia, durante a guerra contra os Parthes e chegou a Roma em menos de um ano. Estima-se que tenha causado 10 milhões de mortes entre 166 e 189, enfraquecendo consideravelmente a população romana (la population romaine). A varíola, causada por um vírus (virus )e caracterizada por crostas (croûtes) avermelhadas, diarreia e vómito, foi declarada erradicada no ano 180.

A peste negra (1347-1352)

Depois de ter assolado a China, a pandemia da peste negra (peste) chegou em 1346 à Ásia Central, entre as tropas mongóis que cercavam o porto de Caffa, no Mar Negro, mantido por comerciantes genoveses. A doença, manifestada por horríveis bolhas (bubons), espalhou-se para o norte de África e depois para a Itália e a França, onde chegou pelo porto de Marselha através de navios genoveses. Estima-se que essa epidemia, também apelidada de "a grande peste", tenha causado entre 25 e 40 milhões de mortes na Europa, ou seja, entre um terço a metade da sua população na época.

A gripe espanhola (1918-1919)

Causada por um vírus do tipo A H1N1 particularmente virulento, a gripe espanhola (grippe espagnole)  é na realidade de origem asiática. A seguir chega aos Estados Unidos, depois atravessa o Atlântico trazida por soldados que vieram ajudar a França. Se foi apodada de gripe espanhola (grippe), é porque o país, não sujeito a censura e guerra, relata as primeiras notícias alarmantes. Quando se extinguiu em Abril de 1919, o balanço foi terrível. A gripe espanhola matou 20 a 30 milhões de pessoas na Europa e até 50 milhões à escala mundial, não poupando quase nenhuma região do globo. Estima-se que um terço da população mundial tenha sido infectada.

A cólera (1832-1932)


Endémica durante vários séculos no delta do Ganges, na Índia, a cólera (choléra ) espalhou-se para a Rússia em 1930, depois para a Polónia e Berlim. Desembarcou em França em Março de 1832, através do porto de Calais, e depois chegou a Paris. Manifestando-se por diarreias brutais e vómitos, a cólera (cuja causas desconhecemos, a bactéria Vibrio choleræ) (choléra) causa desidratação rápida (déshydratation), às vezes levando à morte em poucas horas. A epidemia causará quase 100.000 mortes em menos de seis meses em França, incluindo 20.000 em Paris. Chegará então ao Quebec-Canadá através de imigrantes irlandeses, onde também causará estragos.

A gripe asiática (1956-1957)

Ligada ao  virus influenza H2N2, a gripe de 1956 é a segunda pandemia de gripe mais letal depois da ocorrida em 1918. Causará de dois a três milhões de mortes em todo o mundo, incluindo 100.000 em França, 20 vezes mais do que a gripe clássica sazonal (grippe saisonnière). Com origem na China (daí o seu nome), o vírus espalha-se para Hong Kong, Singapura e Bornéu, depois Austrália e América do Norte, antes de atingir a Europa e a África. Alguns anos depois, transferiu-se para o H3N2 para causar uma nova pandemia em 1968-1969, apelidada de "gripe de Hong Kong". Esta última marcará o início das primeiras vacinas eficazes contra a influenza (vaccins antigrippaux).

A sida (1981-até aos dias de hoje)


Originário de Kinshasa (República Democrática do Congo), o vírus da sida (virus du sida) vê a luz do dia em 1981, quando a agência epidemiológica de Atlanta, nos Estados Unidos, alertou para casos incomuns de pneumocistose (uma pneumonia rara -  pneumonie - presente em pacientes imunodepressivos). O HIV (VIH )não foi identificado senão dois anos depois, em 1983, por uma equipa de pesquisadores do Instituto Pasteur liderada por Luc Montagnier. No auge da epidemia, na década de 2000, dois milhões de pessoas morriam do vírus a cada ano. Actualmente, 36,9 milhões de pacientes vivem com HIV, mas a terapia anti-retroviral (antirétroviraux) reduziu significativamente a mortalidade.


Céline Deluzarche formou-se no Institut Français de Presse em 2004. Criou e alimentou a rúbrica Ciência no site L'Internaute até 2007, antes de trabalhar para a secção de negócios do Journal du Net.


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