Por
Khider Mesloub.
Há mais de um mês, centenas de milhões de pessoas foram
condenadas à prisão, sujeitas a controle social e electrónico, denúncias da
vizinhança, repressão policial. Ao abrigo da protecção da população decretada
em nome da saúde, a mesma que foi massacrada por todos os Estados responsáveis
pelo desmantelamento dos hospitais e pela redução da efectivos de cuidadores, dezenas de países, na
sequência de medidas de quarentena iniciadas pela ditadura chinesa, estão
alinhados com a mesma política de confinamento. Como se explica esse
alinhamento quase pavloviano da maioria dos países "democráticos" com
a China?
A resposta pode ser encontrada no contexto económico da crise
global contemporânea. Ninguém ignora a
gravidade da deterioração da situação económica que começou depois de 2008. O
ano de 2020 anunciava-se catastrófico. Todos os sinais económicos estavam no
vermelho.
A economia real foi atormentada pela sobre-produção sem
paralelo, enquanto o comércio internacional retraiu a partir de 2018. O sector
financeiro especulativo, por sua vez, ameaçava explodir. A frente social estava,
ela mesmo, em plena agitação, marcada por revoltas populares em muitos países,
sendo os Coletes Amarelos o modelo exemplar https://les7duquebec.net/archives/253109.
As classes dirigentes, vítimas de insatisfação política e perda de confiança,
foram, nos últimos anos, desqualificadas, desacreditadas, a ponto de perder o
poder contestado nas ruas.
É neste contexto de desestabilização económica e de protesto
político e social generalizado que aparece oportunamente o coronavírus.
Paradoxalmente, desde os primeiros alertas relacionados com
o coronavírus, tirando proveito da psicose alimentada pela comunicação social
enfeudada, por vezes sem a presença de casos comprovados no seu território, os
países decidiram prontamente impor o confinamento às suas populações. Mesmo que
isso significasse comprometer a sua economia nacional, já prejudicada pela
cessação da produção, penalizando assim os lucros, precipitando milhões de
trabalhadores no desemprego e na precariedade. No entanto, diante de tais
medidas irracionais prejudiciais à economia, não testemunhamos protestos de
bilionários, banqueiros ou empresários.
Tudo se passa como se esse golpe de estado sanitário,
impulsionado pela pandemia de Covid-19, estivesse a solucionar os negócios do
grande capital, impaciente para proceder a uma desvalorização do capital, dito
de outra forma a uma destruição das infraestruturas económica menos eficazes,
para tentar uma regeneração salvadora. De facto, os principais beneficiários da
crise sanitária e económica são os grandes patrões. Sem a eclosão de uma guerra
armada generalizada, o grande capital está a tenta rejuvenescer económicamente,
redesenhar uma nova ordem mundial, com o apoio sustentado dos estados que
fornecem subsídios financeiros públicos.
Sob o pretexto da crise sanitária de Covid-19, a maioria dos países do mundo apressou-se em colocar em quarentena a sua população. Sob o pretexto de combater a disseminação do coronavírus, esses estados instauraram o confinamento. No entanto, o confinamento, um método medieval, se garante a possibilidade de retardar a disseminação do vírus e da mortalidade, por outro lado, não salva a vida de pacientes frágeis e idosos, presa favorita do vírus. Assim, a única eficácia do confinamento é retardar a propagação do vírus, dito de outra forma escalonar a mortalidade, evitando o congestionamento de hospitais que estão insuficientemente preparados ou totalmente em falência. Qualquer que seja a medida de saúde instituída, o vírus sempre segue a sua missão, em alta velocidade ou em câmara lenta. Mas certamente não é o confinamento que impedirá a sua propagação, a sua progressão letal.
Além disso, por que é que os governos, que normalmente não
se importam com a saúde das suas populações, como o provaram nas últimas
décadas pela sua política de destruição do sistema de saúde perpetrada em nome
da austeridade orçamental, decidiram decretar apressadamente o confinamento,
apesar das suas repercussões financeiras prejudiciais e do risco de um colapso
económico? Os governantes e os poderosos tornaram-se inconscientes e suicidas ao
ponto de comprometer o seu poder? Ao ponto de causar tensões sociais que
provavelmente levarão a insurreições? Certamente que não. O verdadeiro desafio
de todos esses poderosos com domínio precário, envolvidos numa guerra de classe
final travada contra as suas populações trabalhadoras ameaçadoras, é a
perpetuação da sociedade capitalista mundializada, há vários anos contestada
pelos proletários em revolta. E o confinamento, ou melhor, o coronavírus (como
costumava ser o terrorismo) é a arma oportuna ideal para impulsionar a
militarização da sociedade num contexto de "paz". Como? Através de um bombardeamento mediático que
provoca ansiedade, dito de outr forma em nome da criação de uma atmosfera de
insegurança apocalíptica digna de uma guerra nuclear, levando as pessoas ao medo-pânico.
O contexto de sideração assim criado paralisa as populações, obrigando-as a
reclamar a protecção do seu governo, ainda no dia anterior odiado e contestado.
É o início do processo de controle social, o estabelecimento de medidas para
restringir as liberdades, a instituição de leis repressivas, a subjugação
totalitária da população, supostamente ditada em nome da crise sanitária.
Entrámos na era da ditadura light, da tirania suave. Ela é exercida em nome da saúde da
população passiva.
Numa coluna publicada
recentemente no Wall Street Journal, Henry escreveu: "A coesão e a
prosperidade das nações repousam na convicção de que as suas instituições podem
antecipar as catástrofes, conter os seus
efeitos e restaurar a estabilidade. Quando a pandemia do Covid-19 terminar, as
instituições de muitos países darão a impressão de ter falhado. (…) após o
coronavírus, o mundo nunca mais será o mesmo (noutras palavras, será
militarizado, seguro, NDA). O coronavírus atacou em
proporções e com uma brutalidade sem precedentes (o emprego da técnica de
dramatização provocadora de ansiedade para preparar a população para a
aprovação de medidas de segurança totalitárias em preparação por todos os
estados do mundo capitalista, NDA). A sua progressão é exponencial: nos
Estados Unidos, o número de casos dobra a cada cinco dias. No momento que
redijo estas linhas, não existe cura. Os equipamentos médicos existem em
quantidade insuficiente para enfrentar as vagas de um cada vez mais importantes
número de doentes (falso: a medicina americana é digna dos países do Terceiro Mundo, está
sub-equipada, NDA). (…) Os testes não permitem identificar a extensão
da infecção, e muito menos inverter a sua propagação. Pode levar de doze a
dezoito meses para desenvolver uma vacina. A administração dos EUA fez o que
devia para evitar uma catástrofe imediata (impostura vergonhosa: a administração dos
EUA mostrou negligência criminal, NDA). O teste final será o de saber se
a propagação do vírus pode ser travada e depois invertida de uma maneira e com
proporções que preservem a confiança do público na capacidade dos americanos de
se governar. O esforço feito para enfrentar a crise, qualquer que seja a sua
escala e a sua necessidade, não deve impedir o lançamento urgente de uma
iniciativa paralela para garantir a transição para a nova ordem mundial do
pós-coronavírus ”(todo o pensamento de Kissinger está sintetizado nesta última frase: O
desafio capital, sem trocadilhos, para as classes dominantes, neste contexto de
guerra de classes travada em nome da salvaguarda da saúde, é o de salvar na
realidade a ordem capitalista mundializada, através de algumas medidas de
ajuste político e operações estéticas económicas, para fazer crer no advento de
uma ordem mundial refundada, mas sempre dirigida pelos poderosos, NDA).
Assim, a coberto da crise sanitária lançada para o pasto,
como um isco ideológico viral, para as populações assustadas e paralisadas pela
mediatização provocadora de ansiedade da propagação do coronavírus, a principal
aposta dos poderosos é fortalecer o poder dos Estados enfraquecidos nestes
últimos anos pelas múltiplas contestações e sublevações populares. Como? Pelo recurso à "teoria do caos" (que
por trás de uma aparente desordem, na
verdade sob controle, a teoria do caos prepara uma ordem totalitária
instituída).
De facto, o objectivo principal, neste contexto de colapso económico deliberadamente provocado, o desemprego maciço voluntariamente suscitado, o caos generalizado, marcado pelo sofrimento e pela miséria inevitável iminentes, é duplo. Por um lado, fragilizar, nos planos social e psicológico, as populações a fim de forçá-las a aceitar a mão segura dos seus governantes "benevolentes e generosos", restaurando assim a sua confiança no aparelho burocrático do Estado, nestes últimos anos duramente contestado nas ruas. Por outro lado, correlativamente, assegurar por cima a perenidade da ordem capitalista dominante. Como o confirma Henry Kissinger: "Será necessário também implementar programas para mitigar os efeitos do caos iminente sobre as populações mais vulneráveis do planeta" (dito de outra forma, é preciso que o governo dos ricos preserve a ordem económica dominante restabelecendo o papel proeminente do Estado, com a cumplicidade de certos estratos recrutados para reprimir qualquer rebelião do proletariado actualmente agitado, NDA).
Henry Kissinger, o ex-Secretário de Estado americano,
prossegue com os seu conselho aos poderosos: "Hoje, num país dividido, é necessário um governo eficiente e perspicaz
para superar obstáculos de magnitude e alcance globais sem precedente ”. (...)
"Enfim, os princípios da ordem liberal internacional devem ser
preservados. O mito fundador do estado moderno é uma cidade fortificada
protegida por líderes poderosos, às vezes despóticos, às vezes benevolentes,
mas ainda com força suficiente para proteger o seu povo de um inimigo externo
ou interno”, afirma o decano da diplomacia americana.
Tudo está resumido nesta última frase. O inimigo não é o
coronavírus, mas o proletariado, esse inimigo interno há vários anos, muito
ameaçador, tentado pela insurreição social, esse vírus social mais perigoso que
o coronavírus. Essa força suficiente (O Estado), como Kissinger diz, é a única
arma do governo dos poderosos para salvar a sua ordem capitalista mundializada.
"O desafio histórico para os dirigentes é gerir a crise enquanto constrói
o futuro. Um fracasso pode inflamar o mundo ", conclui Henry Kissinger, dirigindo-se
aos seus amigos poderosos. O desafio deles, lembra ele, é o de se prepararem
para o advento da nova ordem mundial militarizada ou sucumbir ao ataque de
pessoas afectadas pelo vírus da rebelião.
Mesloub Khider

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