sexta-feira, 3 de abril de 2020

As revoltas sociais vão propagar-se mais rapidamente que o coronavirus


por Robert Bibeau
Por khilder Mesloub.
A utopia ainda faz o seu caminho, mesmo que os governantes, aproveitando a crise da saúde, tentem cortar-lhe as pernas confinando-a ao isolamento domiciliar angustiante, propício a emoções suicidas desesperadas, à expressão ofuscante da raiva impotente.

Os períodos de crise revelam tanto o pior como o melhor nas sociedades humanas. Certas pragas emocionais activadas pelos governantes podem libertar as bestas imundas. Hoje, por detrás do clima de psicose sobre a pandemia do coronavírus alimentada pela comunicação social às ordens, é uma praga emocional xenófoba, uma psicose histérica que o governo está a destilar para esconder a sua negligência na gestão da crise de saúde do COVID -19. Hoje, a crise está a permitir aos governantes que tentem torturar psicologicamente a população e, acima de tudo, infectá-la com um sofrimento paralisante causado pelo confinamento debilitante.

As classes dominantes não recuam perante qualquer cinismo. Depois de ter demonstrado, em todos os países expostos a movimentos sociais, que a repressão policial é a única resposta sempre operacional do governo, nomeadamente pelo desencadeamento da violência policial contra manifestantes pacíficos, hoje, os governantes, incapazes de fornecer uma solução de saúde para a crise do COVID-19, decidiram ditatorialmente confinar toda a população em quarentena. Esse confinamento forçado é uma condição para a interiorização do protesto metida num colete domiciliário, da militarização da sociedade sujeita a leis de excepção. Isso faz-nos lembrar de quanto a democracia é uma palavra vazia.

Assim, depois de, pela sua negligência criminosa, ter permitido que a epidemia invadisse todas as casas, todos os países, governantes e outros pirómanos  oficiais fazem-se passar por salvadores. E como eles pretendem salvar-nos das chamas devoradoras do coronavírus, atiçadas pela ausência de mobilização sanitária precoce e falhanço logístico e médico, pelo confinamento de geometria variável da população sujeita a um controlo social totalitário e a uma quadratura policial e militar. Confinamento com geometria variável, porque não se aplica aos milhões de trabalhadores, obrigados a deslocar-se em transportes públicos para chegar ao seu local de exploração, fonte de contágio, mas acima de tudo fonte de lucro.

Na verdade, não fosse a deterioração acelerada da situação económica, ameaçada de colapso, os Estados não teriam intervindo para tentar em vão conter a crise sanitária do COVID-19 (subestimada deliberadamente no início da sua propagação), sobretudo com meios médicos irrisórios dignos das Repúblicas das bananas.

Seja como for, esta crise sanitária era previsível. Quando os trabalhadores dos hospitais se manifestaram desesperadamente durante anos para dar o alarme sobre a degradação do sistema de saúde, o estado enviou CRS (polícia de choque) contra os trabalhadores da saúde para resolver democraticamente a dramática questão sanitária. Hoje, esse mesmo estado finge pretender descobrir o estado de delapidação dos hospitais que estão desprovidos de equipamento essencial e, portanto, incapazes de tratar os doentes. Se fosse necessária uma prova de que o desmantelamento do sistema de saúde por questões de rentabilidade teria consequências catastróficas para a saúde humana e económica, ela é-nos hoje administrada pela pandemia de coronavírus. Essa gestão caótica da crise é inerente ao capitalismo financeiro globalmente dominante. A crise da saúde do coronavírus é sintomática da falência do estado-charlatão capitalista.

Eis pelo menos um assunto de reflexão para as vítimas de confinamento forçado. A contenção, se abolir a liberdade de circulação, não pode impedir a circulação de idéias, de viajar. A quarentena é propícia à abertura de discussões levadas a cabo nas redes sociais e por telefone. Esse confinamento é uma oportunidade inesperada para reflectir sobre a sociedade, em particular a sua transformação social radical.

Em todo o caso, esta crise sanitária permitiu descobrir uma nova realidade atmosférica. De facto, a interrupção da actividade económica, a cessação de perturbações produtivistas, tornaram possível reduzir a poluição mundial. É certo que o coronavírus terá dizimado alguns milhares de pessoas, mas pelo menos ofereceu igualmente a oportunidade de poupar a morte programada de milhões de pessoas. Certamente que os pulmões de algumas pessoas já frágeis foram maltratados, mas a natureza redescobriu a sua respiração há muito reprimida pela poluição industrial. Assim, por ter subordinado a saúde da população às leis da rentabilidade e do lucro, o capitalismo está prestes a causar hoje uma catástrofe sanitária mundial.

Além disso, não se deve deplorar o colapso desta civilização capitalista mortífera. Não é o fim do mundo, mas de um mundo imundo. De qualquer forma, por toda a parte, surgem interrogações sobre a perenidade desta ordem mundial fúnebre. A partir de agora, em toda a parte, a crise sanitária e económica está a desencadear lutas sociais, nomeadamente em Itália. Os trabalhadores lançam greves violentas para exercer o seu direito de reforma, em nome da salvaguarda das  suas vidas ameaçadas não pelo coronavírus, mas pelos patrões responsáveis ​​pelo seu confinamento a esses cárceres industriais vectores de contaminação letal, cárceres mantidos em funcionamento para salvaguardar os lucros, apesar da periculosidade e contagiosidade. Em França e nos Estados Unidos, assistimos igualmente à emergência de revoltas sociais. A este ritmo, a disseminação de levantamentos sociais vai espalha-se mais rapidamente do que a pandemia de coronavírus.





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