sexta-feira, 24 de abril de 2020

O confinamento oferece-nos uma oportunidade inesperada






Não existe conspiração à vista … business as usual

Hoje, não agradaremos nem aos conspiradores nem aos conspiracionistas. Um mau hábito, do qual nos devemos livrar, é pensar que impenitentes rondam o mundo para destruir a humanidade pela maldade - megalomania - em busca de lucro (!) Se essas pessoas buscam o lucro, não devem tentar destruir os meios de produzir esse lucro.

O modo de produção capitalista atribui-nos a cada um, e atribui aos plutocratas como a outros, uma posição social, qualquer que seja, o nome da pessoa medíocre (tartempion – Nota do tradutor)  que ocupa a primeira posição (pole position – NdT). E a esta posição está anexada uma função, tarefas e poderes. Assim, para nós, escravos assalariados alienados, a tarefa é enorme, o salário de miséria e os poderes inexistentes.

Assim, sob a presente pandemia (sic), o objectivo do confinamento não pode ser a vontade maquiavélica dos plutocratas de destruir parte dos meios de produção, uma parte do capital e destruir a economia. No entanto, mecanicamente, inexoravelmente, o confinamento maciço de trabalhadores, os únicos produtores de valores, terá o efeito perverso e sistémico de desligar o capital e tornar anémicos os lucros, o que desafia os plutocratas cuja missão é precisamente a de aumentar o capital e acumular o lucro.

A função dos plutocratas é acumular capital e, se possível, graças a uma crise inevitável, aumentar a sua riqueza - não pela megalomania - mas porque a lei do mercado e da concorrência o força a fazê-lo, e por meio desse mecanismo de busca de lucro, relançar a máquina de capitalização se ela desmoronar, apesar dos seus esforços para a manter.

A função de um intelectual como Henry Kissinger, de quem falamos no nosso último editorial https://les7duquebec.net/archives/254133, é o de modelar essa mecânica de crise, contra-crise e retoma e de o explicar aos seus amigos plutocratas para lhes recordar quais são as suas atribuições e como cumprir as suas funções, apesar de estar confrontado com as piores condições.

Vocês acreditam que ultimamente essa por assim dizer pandemia e esse confinamento enervante e debilitante, se esqueceram de vós, os assalariados?  Não se alegrem muito rapidamente, caros proletários. Na fase 1 deste cenário macabro, que ocorre em três actos: crise económica - confinamento e destruição dos meios de produção - retoma económica em V ou em U (1), vocês estiveram trancados, confinados à residência, colocados em sacos, controlados, espionados, rastreados, multados, perseguidos, espancados, esfomeados, mas, mesmo considerando tudo isso, nada se  não compara com os gaseados nas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial, massacrados às centenas de milhar. Pensa assim o proletariado  safar-se desta vez (?) Não chega (Que nenni – NdT)!

Vocês esqueceram-se que se seguirá a fase 2: fiz apenas um esboço no final do meu último artigo: https://les7duquebec.net/archives/2541333. Vocês acreditavam que essas subvenções, abonos, prestações, atribuições eram doações concedidas pelo estado talismã vandalizado? Pensem de novo! Foi o dinheiro do Monopólio (referência ao jogo Monopoly – NdT) emprestado aos banqueiros que virão reclamar os seus dividendos.

Para os condenados da Terra que ainda trabalham, para aqueles que ainda têm a chance de encontrar um emprego, porque antecipamos 30 a 40% do desemprego, 33 milhões de desempregados apenas nos Estados Unidos neste momento (2) e 10 milhões no Canadá - salários baixos – retracção do poder de compra - hiperinflação – desvalorização das moedas - expropriação das poupanças e dos fundos de pensão se estes não tiverem já flutuado para os mercados bolsistas - alugueres e hipotecas que já dobraram – todos  se tornarão ecologistas independentemente da sua vontade - todos quererão o seu jardim por falta de pão, se ainda houver terra, na cidade de Nova York, Paris ou Montreal isso não está garantido – todos num metro apinhado por aqueles  que puderem pagar, o carro será reservado à fina flor dos bairros chiques-. Tudo isto sob uma possível pandemia mortal - uma real desta vez - lançada pela potência capitalista em declínio - desesperada por se ver atirada para fora do mercado – face à potência capitalista  crescente ...

Apocalypse Now! "A mãe de todas as recessões", fomos avisados ​​(3), de onde emergirá uma maior concentração monopolista. Em suma, o grande capital internacional estabelecerá uma economia de guerra antes de intensificar a guerra inter-imperialista travada pelas principais alianças comerciais (sino-russa, americana, União Europeia) (4). Estamos apenas no primeiro acto dessa tragédia de três actos, que ocorrerá dentro de uma década.

 Que fazer agora ?

Devemos questionar-nos sobre a origem asiática do Covid-19? Devemos procurar um bode expiatório: Macron, Trump, Xi Jin Ping, Merkel ou Trudeau? Certamente que não! Se fosse tão fácil sair destas crises económicas endémicas quanto votar num novo "perdedor", teríamos sabido há muito tempo, uma vez que nos pedem para votar fútilmente há décadas. O confinamento militar oferece aos proletários a oportunidade de se distanciar do estado talismã  adulado pela pequena burguesia. Devemos parar de confiar no estado talismã dos ricos. Ele deve ser desconstruído e, assim, desarmar os plutocratas, abolir a sua tarefa e abolir a sua função. Depois disso, um mundo inteiro terá que ser construído, não uma pseudo-Nova Ordem Mundial baseada nas mesmas leis do capital ... mas um Novo Mundo sem capital.



Notas

L’économie de guerre : https://les7duquebec.net/archives/254316




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