A
forma como este governo decidiu dar resposta ao Covid 19, torna, dia-a-dia,
cada vez mais evidente, a ausência de uma estratégia e de um plano para
situações de emergência, com sérias consequências na saúde dos portugueses,
visível no agravamento dos doentes e inclusive no número de óbitos.
A
suspensão, há mais de um mês (16 de Março), de todos os actos que não fossem
“considerados graves”, o pedido para o auto-afastamento dos doentes das
unidades de saúde, para não recorrerem às urgências, criou um ambiente de
desconfiança que se traduziu numa dramática diminuição da procura das urgências
e consultas hospitalares e que revela bem o estado a que os sucessivos governos
levaram o Serviço Nacional de Saúde.
Há
cerca de cinco anos no poder, António Costa não pode mais desculpar-se do
estado caótico a que chegou a saúde pública pelo facto de a tróica e os
executores do seu plano de liquidação do SNS – o governo de coligação entre a
direita e a extrema-direita, PSD/CDS-PP – tudo terem feito para privilegiar a opção
da privatização da saúde em Portugal.
Os
quase cinco anos de governo PS, apoiado nas muletas do PCP, BE e Verdes, a que
se juntaram o PAN e, pontualmente, o próprio PSD, demonstraram que também Costa
e Centeno apostam na privatização da saúde, como o comprovam sucessivos
orçamentos de mentira, que apresentavam verbas para a saúde nunca executadas
por virtude das famigeradas cativações (ainda que lhes dêem outros nomes), do
Ronaldo das Finanças, o inefável Mário Centeno, ministro das Finanças.
Perante
a fragilidade do sistema e, sobretudo a ausência total de uma política de
preparar e consolidar o SNS para fazer frente a uma pandemia para a qual
tiveram cerca de dois meses para se preparar – e não o fizeram, já que
decidiram não aprender com o exemplo da China e da Itália –, os operários e os
trabalhadores vêem-se agora confrontados, para além da pandemia COVID-19, e
segundo os especialistas, com uma nova pandemia.
Desde
que se iniciou, oficialmente, o surto de coronavirus, registou-se uma diminuição de 20 milhões de actos clínicos
no SNS – consultas, exames, urgências, etc. –, sendo que esta pandemia paralela
é responsável por 30 mortes por
dia (muito mais do que os hoje anunciados 23 óbitos
por COVID-19, nas últimas 24 horas). Os pacientes deixaram de recorrer a
urgências e consultas hospitalares, demonstrando uma total desconfiança na
capacidade de os serviços de saúde assegurarem a prevenção da infecção, em
ambiente hospitalar por COVID-19.
Os
médicos de várias especialidades vieram manifestar a sua preocupação por uma
quebra de mais de 50% da procura das urgências hospitalares, revelando que é
muito estranho que quase tenham desaparecido daqueles serviços casos de AVC,
cancro e outras patologias graves que, se não forem devidamente diagnosticadas
e monitorizadas, podem redundar em mais fatalidades.
No
sector da oncologia, para apenas mencionar um exemplo, os especialistas estimam
que deixaram de ser diagnosticados ou seguidos cerca de 5 mil cancros por mês (4.894). Entre
eles:
• 866 colorrectais
• 135 do pâncreas
• 581 da mama
• 551 da próstata
• 440 do pulmão
• 135 do pâncreas
• 581 da mama
• 551 da próstata
• 440 do pulmão

Urge
que, no meio de um pandemónio em que Marta Temido anuncia o fim da suspensão
dos cuidados programados, os operários e os trabalhadores, aliados aos
profissionais de saúde que estão cada vez mais conscientes das realidades que
aqui denunciamos, se insurjam contra este caos e exijam a demissão imediata da
Ministra da Saúde, do seu Secretário de Estado da Saúde e da Directora-Geral da
Saúde, Graça Freitas, ao mesmo tempo que imponham que se torne efectivamente
ilegal o recurso às cativações a que se tem assistido – diz Centeno, para
lançar poeira nos olhos dos trabalhadores de saúde e nos doentes que têm de
recorrer ao SNS, que não há cativações naquele serviço de saúde pública,
mas sim na reorganização de serviços e verbas para o sector administrativo, o
que vem a dar no mesmo.
Mesmo
a nível orçamental, as opções deste governo são claras. Executar orçamentos que
sirvam os credores e os seus interesses. É por isso que as sucessivas Leis do
Orçamento de Estado, promulgadas pelo PS e suas muletas, reservam verbas
maiores para o “serviço da dívida” do que para o Serviço Nacional de Saúde.
Enquanto
persistir este sistema capitalista, claro está, nenhuma medida – por mais justa
que pareça – será consequente e duradoura. Só uma revolução que imponha a
destruição do modo de produção capitalista e acabe com a escravatura
assalariada poderá garantir uma política de saúde efectivamente ao serviço da
classe operária e dos trabalhadores.
26Abr2020
Retirado de: http://www.lutapopularonline.org/index.php/pais/89-saude/2714-uma-pandemia-paralela-diminuicao-da-procura-das-urgencias-e-consultas-hospitalares
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