Aí
está! A decisão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa – que, cada
vez mais ao estilo das conversas em família do outro Marcelo, o Caetano, a
anunciou – em prolongar os efeitos do golpe de Estado que suspendeu as
liberdades e garantias constitucionais, com o cúmplice acolhimento de Costa e
da Assembleia da República, permitindo um prolongamento de mais 15 dias do
estado de emergência.
O
cinismo e a hipocrisia atingiram, aliás, um ponto alto quando, esta manhã, no
hemiciclo da Assembleia da República foi proposta pelo deputado fascista do
CDS/PP, Telmo Correia, a celebração da aprovação da Constituição ocorrida há
precisamente 44 anos, a 2 de Abril de 1976, no contexto da anti-democrática
decisão do então Conselho da Revolução em excluir o MRPP das eleições para a
Constituinte, a mando dos social-fascistas do PCP de Álvaro Barreinhas Cunhal.
Não
satisfeitos com as medidas fascistas que já integravam a anterior versão da Lei
de Emergência Nacional, o Presidente da República, o governo de Costa/Centeno,
os partidos do “arco parlamentar” – mesmo o Iniciativa Liberal que votou contra
o decreto por motivos pueris e oportunistas e aqueles que se abstiveram –,
fizeram passar uma extensão daquela lei fascista, com medidas ainda mais
gravosas do que a versão anterior.
Ficam cientes os operários e os trabalhadores de que estão autorizados pelo governo
dos patrões a ir para os seus locais de trabalho, neles permanecer e ser
explorados para, finda a jorna, regressarem aos seus domicílios, estando-se o
patronato e o governo nas tintas para assegurar as condições de segurança que
obstem à contaminação de COVID-19, desde logo por não poderem garantir a
distância exigível para que tal não ocorra.
Contrastando
com esta permissibilidade, a nova versão da Lei de Emergência proíbe o direito
constitucional de reunião e manifestação. Isto é, os operários e trabalhadores
estão proibidos de se reunir ou manifestar contra quem os explora, os lança no
desemprego e não lhes garante o mínimo de segurança sanitária – veja-se o caso
das operadores de caixa nos supermercados – ou o salário, como acontece com as
centenas de operários que foram despedidos no parque industrial da Auto-Europa
ou os estivadores do porto de Lisboa.
Uma
medida que se compagina com a possibilidade de o governo requisitar às
operadoras de telemóvel a monitorização dos telefones e chamadas telefónicas,
como forma de conhecer os passos que o respectivo proprietário dá. É o policiamento
à boa moda da extinta (?) PIDE, levado até às últimas consequências.
Quem
tinha dúvidas àcerca do que afirmávamos quanto à natureza absolutamente
fascista dos pressupostos da primeira versão da Lei de Emergência Nacional, não
pode invocar distracção ou alheamento quanto à extensão e agravamento de tais
medidas nesta segunda versão. Estas medidas fascistas visam a luta que os
operários e trabalhadores vão ser forçados a protagonizar e os mais que
previsíveis levantamentos populares e não qualquer preocupação sanitária com
vista a travar o progresso da pandemia.
Isso mesmo se pode inferir do cada vez mais notório nervosismo da burguesia. A forma como encarrega a comunicação social vendida e os jornalistas de merda, de divulgarem as detenções dos que se indignam contra os abusos de poder decorrentes do golpe de Estado – e os seus números –, de forma detalhada, indicam que estão em pânico com a possibilidade cada vez mais real de que a situação, para além do descontrolo médico e sanitário, derrape para levantamentos populares, antecâmara da revolução.
Todos os dias, a toda a hora, o esforço mediático do governo e do Presidente da República, centra-se no elencar dos números:
Isso mesmo se pode inferir do cada vez mais notório nervosismo da burguesia. A forma como encarrega a comunicação social vendida e os jornalistas de merda, de divulgarem as detenções dos que se indignam contra os abusos de poder decorrentes do golpe de Estado – e os seus números –, de forma detalhada, indicam que estão em pânico com a possibilidade cada vez mais real de que a situação, para além do descontrolo médico e sanitário, derrape para levantamentos populares, antecâmara da revolução.
Todos os dias, a toda a hora, o esforço mediático do governo e do Presidente da República, centra-se no elencar dos números:
• O número de
infectados, o número de internados – e, entre estes, os que se encontram em
estado crítico –, o número de mortes;
• O comportamento que a curva de infectados e mortos revela e as estratégias para que o pico da pandemia tenha um comportamento de “planalto”, em vez de ser muito pronunciado;
• As acções de contenção que visam assegurar o respeito pelo confinamento social das populações, exibindo inúmeras reportagens sobre as acções levadas a cabo pelas forças militares, paramilitares e de segurança de repressão – mascarada, por vezes, de acção pedagógica de prevenção – sobre as populações;
• Os número envolvidos na chegada de milhares de toneladas de equipamento médico, cirúrgico, de segurança, quer para satisfazer encomendas previamente colocadas, quer por virtude da “solidariedade” de outros países.
• O comportamento que a curva de infectados e mortos revela e as estratégias para que o pico da pandemia tenha um comportamento de “planalto”, em vez de ser muito pronunciado;
• As acções de contenção que visam assegurar o respeito pelo confinamento social das populações, exibindo inúmeras reportagens sobre as acções levadas a cabo pelas forças militares, paramilitares e de segurança de repressão – mascarada, por vezes, de acção pedagógica de prevenção – sobre as populações;
• Os número envolvidos na chegada de milhares de toneladas de equipamento médico, cirúrgico, de segurança, quer para satisfazer encomendas previamente colocadas, quer por virtude da “solidariedade” de outros países.
Números
e notícias que servem, apenas e tão só, para alienar a consciência de operários
e trabalhadores. Números em catadupa que nos contam uma parcela apenas do que se
passa, para nos esconder porque é que as coisas se estão a passar assim
e porque é que as medidas políticas e logísticas que o governo está a adoptar não
resolverão a situação pandémica, sem antes terem feito milhares
de vítimas, algumas delas fatais.
Números
e notícias que escamoteiam o facto de que é a montante, e devido ao modelo de
Serviço Nacional de Saúde existente no país, que se encontra o problema, tal
como o caracterizámos no artigo “Modelo
capitalista na saúde responsável por dezenas de milhar de mortes”.
Números ainda por cima pouco fiáveis quando se adensam suspeitas de que estão a
ser manipuladas as taxas de infectados e mortes, no sentido de criarem uma
realidade virtual, que permita conter a revolta e contestação popular.
O
sistema colapsou, como demonstra toda a histeria que os intervenientes –
Directora Geral da Saúde e Secretário de Estado da Saúde, por vezes
assessorados por Centeno ou por Siza, sempre tutelados por Costa e Marcelo –
exibem nas conferências de imprensa em torno da necessidade de “domar” a curva
pandémica, tentando fazer crer que tal política induziria um comportamento de
“planalto” à dita curva pandémica.

A
presente crise pandémica revela a total subserviência deste governo aos
interesses capitalistas privados – hospitais, clínicas, laboratórios, etc. ,
sendo que a própria ADSE assenta, no essencial , num modelo privado. Revela que
esta solução colapsou. Quando propomos a nacionalização de todo o sector da
saúde, temos plena consciência de que essa medida, no quadro de um sistema
capitalista, nunca poderá ter uma natureza socialista.
Porém,
acreditamos que a ser imposta, esta nacionalização corresponderá – tal como a
reversão da privatização da TAP, dos CTT, da EDP, etc. – a uma vitória popular,
numa matéria que terá como consequência imediata, melhorar, por um lado, a vida
dos operários e trabalhadores e, por outro, elevar a sua consciência para a
necessidade imperiosa de levar a cabo uma revolução comunista, para que o modo
de produção capitalista e a escravatura assalariada que lhe está associada,
sejam destruídos. Nesta matéria estamos nos antípodas do que propõem PCP e BE
que entendem a nacionalização como um fim em si mesmo, apresentando-a como a
solução para tornar mais “humano” o sistema capitalista.
Ao
privilegiar a sacrossanta propriedade privada, o governo de Costa/Centeno,
optou por não integrar os hospitais privados numa rede pública única, sob a
direcção do sector público, assegurando privilégios e lucros chorudos aos
laboratórios de análises clínicas e meios complementares de diagnóstico, assinando
protocolos e contratos que enchem os cofres dessas instituições privadas. O
desplante chega ao ponto de o estado salvar o sector do turismo privado,
protocolizando com alguns hotéis de todo o país, quartos e serviços pagos a peso
de ouro, para instalarem doentes ou suspeitos de infecção para cumprirem
períodos de quarentena a que sejam sujeitos. Ao adoptar este caminho, o governo
amputou a possibilidade de uma acção de saúde coordenada e planificada.
Não
que tenhamos ilusões àcerca da natureza de classe do poder – burguesa,
capitalista e imperialista –, não que não tenhamos consciência, como
comunistas, de que a presente crise pandémica não terá uma solução a contento
dos interesses da classe operária e dos trabalhadores, no quadro de um sistema
capitalista, como aquele que é dominante em Portugal. Mas, como comunistas,
devemos exigir que medidas sejam tomadas para minimizar o quadro com que o país
está a ser confrontado.
Retirado de: http://www.lutapopularonline.org/index.php/pais/104-politica-geral/2698-uma-vez-mais-somos-contra-o-estado-de-emergencia-e-o-anuncio-do-seu-prolongamento
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