sábado, 20 de fevereiro de 2021

Contra a acefalia e a astúcia canalhas

 

É impressionante como Pedro Pacheco, um marxista açoriano, consegue fundir a métrica poética com a dialéctica marxista. E fá-lo com imensa pedagogia.

Um operário, um trabalhador assalariado, poderá através deste seu poema compreender melhor os conceitos marxistas de valor, mercadoria, valor de uso, valor de troca, trabalho, dinheiro, mais-valia, exploração.

O ritmo e a cadência a que propõe tais conceitos é demolidor! E claro e clarividente! Excelente! Uma leitura a não perder!

Sirvo-me das suas próprias palavras para identificar os objectivos que pretende alcançar ao servir-nos este magnífico poema;

"... escrevo pensando no leitor que já se tenha ou que se queira emancipar da tutela burguesa, da esmagadora acefalia e astúcia canalhas que a burguesia semeia e alimenta para gerar e crescer dentro de cada trabalhador, dentro de cada assalariado, por forma a ser desnecessário grandes intervenções externas para o ter domado, serviçal, pronto a não só a aceitar o saque do capital-salário como praticar toda a ignomínia que o patrão privado ou a patrão Estado lho imponha..."

Contra a acefalia e a astúcia

  canalhas

O valor de uso

De uma mercadoria

Resulta do trabalho

Concreto

Qualitativamente diferenciado.

Só no consumo

Pode o valor de uso

Quantitativamente

Discriminar-se.

 

Ao invés

O valor de troca

Resulta de um trabalho

Qualitativamente indiferenciado.

É no abstrato e geral

Social tempo de trabalho

Contido na mercadoria

Que quantitativamente

O valor de troca

Se distingue.

 

A realização

De uma das condições

Está directamente ligada

À realização do seu contrário.

Das grandezas

Essencialmente semelhantes

Quantitativamente diferenciadas

Do valor de troca

Aos objectos qualitativamente

Distintos do valor de uso

Ocorre simultaneamente

No processo de troca

O desenvolvimento e a solução

Da relação contraditória

Do valor de troca

E do valor de uso

Em modo de produção

Burguês.

 

Entre o movimento

E o recurso

Entre a necessidade

E o trabalho

O capital progride

No maior controlo

Interno da produção

E na maior anarquia

Inter produtiva

Da plena concorrência

Onde alimenta

Máxima acumulação

E novos voos

Em exaltante

Assalariamento

E universal

Alienação.

 

O capital

Quem o possui

É a burguesia.

A força de trabalho

Quem a possui

É quem trabalha.

A burguesia compra

A força de trabalho

Ao trabalhador

Que a vende.

Com o trabalho

Anseia o trabalhador

Pão e liberdade.

Com o trabalho

Cobiça a burguesia

Multiplicação

Do capital.

 

Vibra a burguesia

Com o prodígio.

Revolta-se quem trabalha

Com a exploração.

Ao prodígio astúcia

E multiplicada acefalia.

À revolta inteligência

E multiplicada organização.

No braço-de-ferro

Entre o capital

E o trabalho

A exploração e a opressão

A alienação e o ludíbrio

Vence-as o trabalho

Se clarividente

E por junto

Emancipar

com a sua luta

A humanidade.

 

O dinheiro,

Expressão monetária

Do valor da mercadoria

Ou simplesmente

Seu valor de troca,

É instrumento pois

Mas também armadilha.

Varinha de condão

Ao múltiplo valor de uso

Do nosso encanto

Mas também logro

Para quem aliena tudo,

Saúde, território

E força de trabalho

A quem de jure

de facto

Só pretende

Com o valor de uso

E no valor de troca

Comer a pinha

A quem engana.

 

19 Fev 2021

 

Pedro

 

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