Esta madrugada de sábado para domingo houve novo episódio de Governo Sombra. Destaco a polémica que se arrasta há vários anos sobre a que tipo de arranjos florais devem obedecer os brasões/floreiras existentes na Praça do Império, em Lisboa. O inefável Pedro Mexia, um dos “consiglieri” do programa, verberou a opinião daqueles que se opunham a que fosse reproduzida a estética fascista que presidiu à sua concepção inicial.
E, pasme-se, defendeu que, apesar de não ser adepto da estética do Estado Novo fascista de Cottinelli Telmo, deveriam ser preservados os arranjos florais que aquele cineasta e arquitecto do regime fascista havia desenhado para os brasões que se encontram na Praça do Império, espaço que se encontrava integrado na Exposição do Mundo Português (em 1940) com que Salazar pretendia celebrar os feitos colonial-fascistas. Pedro Mexia indignou-se contra as vozes dos que propunham uma nova estética floral para o espaço por defenderem que deveria ser eliminado esse passado sombrio.
Segundo este “consiglieri”, admitir essa possibilidade levaria, in extremis, ao derrube de colunas e capitéis em vários monumentos nacionais, bem como estátuas e outros elementos arquitectónicos que espelham uma época de terror, de pilhagem, de escravatura, de morte, de iniquidade, de ganância.
Péssimo argumento. Tanto mais quanto, este mesmo “consiglieri” deve ter feito parte da turba do sofá que, ululante, apoiava, a turba ululante daqueles que, na rua, em Bagdad e noutras cidades iraquianas, derrubavam estátuas de Sadam Hussein, o tal que possuía armas de destruição maciça que nunca foram encontradas.
Paupérrimo argumento. Porque, então, isso seria o mesmo que advogar que símbolos nazis e fascistas – quer da ditadura hitleriana, quer da ditadura de Mussolini ou Hirohito – nunca deveriam ter sido destruídos, antes preservados para ... memória futura!!!
Não simpatizo particularmente com os movimentos que estiveram por detrás de uma vaga destruidora de monumentos em todo o mundo. Mas, defendo que os sistema políticos que esses símbolos da captura da humanidade e da sua exploração, devam ser destruídos. Destruição que deve ser acompanhada, no entanto, por um vasto debate sobre os males que cada um desses sistemas políticos, culturais e económicos provocou.
Como defendi, em 25 de Abril de 1974, na rua, a "Morte aos PIDES", um símbolo tenebroso da ditadura fascista que prendeu, torturou, assassinou, milhares de activistas que lutavam pela liberdade, pela democracia e pelo fim da guerra colonial. Uma história que não está encerrada e deve ser o mais amplamente discutida para que sejam condenados todos os que pactuaram com a libertação e branqueamento dos crimes praticados pelos esbirros do sistema fascista de Salazar e Caetano.
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