segunda-feira, 23 de junho de 2025

Le Monde à cabeceira do exército americano-israelita ou como se fabrica a inocência (Algérie Patriotique)

 


Le Monde à cabeceira do exército americano-israelita ou como se fabrica a inocência (Algérie Patriotique)

23 de Junho de 2025 Robert Bibeau

Le Monde à cabeceira do exército israelita, ou como se fabrica a inocência

   

                         

  Vincent Duclert, historiador certificado de genocídios consumados.

Por Khaled Boulaziz

É sempre reconfortante constatar que, mesmo no meio das mais obscenas tragédias contemporâneas, podemos contar com certas figuras do domínio da memória para nos recordar as regras do bom gosto jurídico.

Num artigo publicado no Le Monde, Vincent Duclert, historiador especializado em genocídios passados, ensina-nos com a altivez própria dos grandes espíritos que não devemos precipitar-nos em qualificar o que está a acontecer em Gaza como genocídio. E tem razão, claro. Porque a história – a verdadeira, a séria, a decantada – não pode se sobrecarregar com carne fresca. Ela exige mármore. Factos arrefecidos. Recuo. Muito recuo. De preferência uma ou duas gerações. Gaza? Muito viva, muito sangrenta, muito pixelizada.


Vamos esperar que as valas comuns sequem, que as crianças desmembradas se tornem invisíveis e que as ruínas sejam reconstruídas. Então, talvez, possamos considerar uma hipótese de genocídio, se é que o clima político internacional o permitir.

Duclert adverte-nos, portanto: não cedam à tentação da emoção. Um massacre transmitido ao vivo, comentado pelos seus próprios autores, justificado por discursos públicos que apelam explicitamente à aniquilação de um povo, tudo isso ainda constitui apenas um conjunto de «indícios». É preciso, diz ele, «provas». E, sem dúvida, também uma tipografia bonita, uma bibliografia consistente, alguns colóquios discretos e um comité de especialistas em latim jurídico para, finalmente, libertar a palavra proibida: genocídio.

Pois é aí que reside o paradoxo da ortodoxia memorial: ela celebra a memória dos povos exterminados, mas ofende-se quando se ousa falar demasiado cedo daqueles que estão a ser exterminados. O historiador Duclert, que foi tão rápido a analisar os mecanismos do genocídio dos tutsis – três décadas após os factos –, exige agora, para Gaza, «prudência», «rigor» e, acima de tudo, uma espera estratégica. Porque não se deve permitir que a palavra «genocídio», tão banalizada, perca o seu esplendor. Há um massacre em Gaza, tudo bem, mas com precauções terminológicas, por favor.

Notemos, de passagem, que os apelos explícitos à erradicação de um povo, quando provêm de um Estado ocidentalizado, são considerados gafes semânticas. Quando as vítimas são palestinianas, enclausuradas, famintas, bombardeadas, amputadas sem anestesia, o seu martírio merece, naturalmente, a nossa compaixão... mas ainda não o nosso léxico penal. Seria prematuro, não é verdade?


Na realidade, o que Duclert nos propõe é uma ética da análise diferida, uma espécie de virtude intelectual que consiste em nomear o horror apenas quando ele já não incomoda ninguém. Para ele, a história começa após o fim. Entretanto, os vivos podem continuar a morrer – talvez sejam reconhecidos mais tarde, num relatório. Com anexos. E notas de rodapé.

Vamos, portanto, reter a preciosa lição de Vincent Duclert: quando um povo está a desaparecer, é preciso primeiro verificar a intenção jurídica, depois redigir um artigo e, acima de tudo, nunca perturbar a opinião pública com palavras demasiado justas, demasiado cedo.

Os palestinianos vão esperar. Como os outros antes deles. Com um pouco de sorte, também terão direito ao seu monumento comemorativo.

Em 2075. Quando finalmente for permitido olhar.

KB

Fonte:  Algérie Patriotique

Proposto por A. Djerrad




 

Fonte: https://les7duquebec.net/archives/300425?jetpack_skip_subscription_popup#

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice

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