O ataque de
Israel ao Irão, mas não só
Israel
atacou o Irão na noite de 13 de Junho. Teerão e outras sete cidades foram
fortemente bombardeadas, assim como seis instalações nucleares, verdadeiro alvo
do ataque. Por enquanto, há «apenas» algumas mortes, 79, e 350 feridos. Entre
as vítimas estão o chefe da Guarda Revolucionária, Salami, o chefe das Forças
Armadas, Bagheri, e dois cientistas do programa de enriquecimento de urânio. Como
se pode ver, os alvos humanos e instrumentais foram identificados a tempo,
atingidos e destruídos. De acordo com as declarações do governo israelita, este
ataque não foi um episódio «necessário», mas um verdadeiro acto de guerra que
durará muito tempo.
A
iniciativa israelita surge depois de o exército de Netanyahu ter cortado todos
os tentáculos jihadistas ligados a Teerão: o Hamas, o Hezbollah, o governo
alauita de Bashar al-Assad na Síria e outros grupos no Iraque. Em operações
militares anteriores, Telavive destruiu os sistemas de defesa do Irão, tendo o
restante enfraquecimento sido realizado pelas sanções. Era o momento de atacar
e foi isso que se fez. Inicialmente, Trump afirmou que não sabia nada sobre o
ataque, antes de corrigir o tiro, como de costume, admitindo (fonte: Fox News)
«que tinha sido avisado antecipadamente por Israel dos ataques contra os locais
nucleares». Numa declaração em vídeo, o próprio Netanyahu admitiu: «Sem o apoio
deles [dos Estados Unidos, nota do editor], talvez não tivéssemos lançado o
ataque» (espresso.it). Por fim, mais uma vez, Trump completou a sua declaração
com: «O Irão não pode ter a bomba nuclear».
Como
previsto, a dupla imperialista israelo-americana fechou o ciclo da redefinição
das relações de força no Médio Oriente, mesmo que a questão da guerra ainda não
esteja resolvida. Isso diz muito sobre o facto de Israel ter atingido o coração
do seu inimigo mortal, enquanto Trump deixou acontecer com o objectivo de
enfraquecer o Irão, o seu programa nuclear e, por lei transitiva, os seus
aliados russos e chineses. A Rússia recebe de Teerão equipamentos de guerra
para drones, enquanto a China compra 90% do seu petróleo ao Irão, e o Irão
constitui o terceiro componente da tríade imperialista oriental, ao lado da
Rússia e da China. É mais do que evidente que a acção de Israel foi acordada
com Trump e que as consequências para as relações imperialistas internacionais
também foram avaliadas.
Todos
falam de paz, mas os incidentes de guerra multiplicam-se, ameaçando um conflito
mundial. Até mesmo os projectos de acordos entre a China e os Estados Unidos
sobre direitos aduaneiros e exportações chinesas para a América estão prestes a
fracassar.
Netanyahu
afirma que o ataque era necessário para a sua sobrevivência, Trump apoia-o para
forçar a república dos aiatolás a concluir um acordo nuclear para a «paz»
mundial, enquanto ambos estão na origem da crise no Médio Oriente.
O
Irão, a Rússia e a China estão há muito tempo estacionados com os seus navios
de guerra na entrada do Mar Vermelho, apoiando os houthis e mostrando o seu
poderio numa das zonas nodais das rotas comerciais marítimas. Estamos apenas no
início, pois é certo que o Irão, com o apoio directo ou mediático da Rússia e
da China, responderá a Israel (como já começou a fazer com centenas de foguetes
e drones), arriscando assim fragilizar ainda mais toda a zona geo-política,
incluindo os Emirados Árabes, a Arábia Saudita e os BRICS, dos quais fazem
parte, além do Irão, a China, a Rússia, o Brasil e a Índia.
Enquanto
Israel, no silêncio quase total do Ocidente, continua a sua obra de genocídio e
limpeza étnica. Enquanto os Estados Unidos e a China enfrentam um enorme
destacamento de forças navais no estreito de Taiwan. Enquanto a Rússia continua
a atacar a Ucrânia para tentar arrancar o máximo de território possível de
Kiev, os Estados Unidos preparam planos para invadir o Panamá e a Gronelândia.
«Penso que os americanos querem que o Pentágono tenha planos prontos para
tudo», afirmou o secretário da Defesa Pete Hegseth, em resposta à pergunta de
um membro do Congresso durante uma audiência na Câmara dos Representantes, não
excluindo, portanto, «uma acção militar para invadir o Panamá e a Gronelândia,
para os quais Donald Trump expressou repetidamente ambições expansionistas». (Adnkronos)
O cenário de tensões imperialistas
torna-se cada vez mais preocupante. As zonas de conflito alargam-se, os
interesses económicos tornam-se ainda mais incontornáveis, as lutas tarifárias,
financeiras e de refinanciamento da guerra, incluindo na Europa, ampliam-se de
forma geométrica. As mentiras pacifistas desmoronam-se perante a barbárie das
guerras em curso. A crise económica na origem de todos estes fenómenos não
tende a atenuar-se e, precisamente por esta razão, os únicos investimentos que
a economia capitalista é capaz de fazer são direccionados para as indústrias de
guerra.
Estamos perante uma economia que, para
sobreviver, é obrigada a reduzir a segurança social, a manter os salários o
mais baixos possível, a reduzir as despesas com pensões e cuidados de saúde.
Por outras palavras, esta economia em crise precisa de financiar os
instrumentos de guerra para conquistar espaços económicos, zonas de
matérias-primas e energia. Ela também precisa controlar as rotas comerciais,
dominar os mares e os céus, até mesmo o espaço. Ela precisa destruir para
reconstruir e, acima de tudo, precisa que o proletariado internacional continue
a ser uma arma dócil nas suas mãos ensanguentadas.
Quando é que o povo proletário
internacional levantará a cabeça para parar este massacre desumano, perpetrado
em nome de interesses imperialistas tão flagrantes que se escondem atrás das
velhas ideologias habituais do nacionalismo, da defesa dos interesses
económicos nacionais para o «bem colectivo», em nome do deus do dia ou da
sobrevivência ameaçada? Quando é que a classe encontrará o caminho dos seus
interesses alternativos e inconciliáveis com os do capital? Quando é que sairá
da teia burguesa que a envolve, quando é que se organizará política e
estrategicamente no seu próprio partido revolucionário? Quando é que a barbárie
capitalista fará explodir as suas contradições sociais? Mas nada acontece por
espontaneidade, mecanismo idealista ou «vontade divina». Para que esse «quando»
chegue, é preciso trabalhar para isso, mesmo que seja contra a corrente e a
partir de agora.
fd
14
de junho de 2025
Sábado, 14 de junho de 2025
Fonte: L'attaque d'Israël contre l'Iran, mais pas
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Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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