19 de Junho de 2025, um teste
à credibilidade da diplomacia francesa sobre a Palestina
René Naba / 18 DE juNHO DE 2025 / EM Actualités
Última atualização em 18 de junho de 2025
Versão em francês: https://www.madaniya.info/2025/06/18/le-19-juin-2025-un-test-de-la-credibilite-de-la-diplomatie-francaise-sur-la-palestine/
Mensagem de George
Só juntos, e
apenas juntos, os proletários e as diversas componentes das massas populares
podem travar e impedir a ascensão de todos os processos de fascistização em
curso...
Encorajemos,
camaradas, os diversos processos de convergência de lutas a nível local e regional,
e mais ainda a nível internacional.
Que floresçam
mil iniciativas de solidariedade a favor da Palestina e da sua promissora
Resistência!
Solidariedade,
toda a solidariedade, com os resistentes nas prisões sionistas, nas celas de
isolamento em Marrocos, na Turquia, na Grécia, nas Filipinas e noutras partes
do mundo!
O capitalismo
não passa de uma barbárie, e honra a todos os que se lhe opõem na diversidade
das suas expressões!
Juntos,
camaradas, e só juntos venceremos!
As minhas
saudações comunistas a todos vós, camaradas e amigos.
O vosso
camarada Georges Abdallah
19 de Junho de 2025, um teste à
credibilidade da diplomacia francesa sobre a Palestina (1)
Por René Naba, presidente honorário do movimento
Quartier Libre “car tu y es libre”. Autor de um próximo livro sobre Georges
Ibrahim Abdallah, “L'emmuré de Lannemezan”, co-editado pela UNION LOCALE CGT DE
MARTIGUES, “Car t'y es libre” (Quartier Libre) e o colectivo Palestine
Martigues.
Por vezes, as coisas acontecem.
Em 19 de Junho de 2025, a França deveria co-presidir com a Arábia Saudita
uma conferência na sede das Nações Unidas em Nova Iorque com o objectivo de
promover o reconhecimento internacional do Estado da Palestina, no mesmo dia em
que, por uma infeliz coincidência, a justiça francesa deve decidir o destino de
Georges Ibrahim Abdallah, militante libanês de confissão cristã, mas comunista,
que dedicou a sua vida ao reconhecimento de uma Palestina independente.
Uma coincidência histórica ainda mais infeliz, pois o homem por trás da
conferência internacional sobre a Palestina é ninguém menos que Emmanuel
Macron, sob cujo mandato foi aprovada a lei IRHA, que equipara qualquer crítica
a Israel ao anti-semitismo.
Para completar a perfídia, duas semanas antes dessa conferência, a França
planeava entregar a Israel uma carga militar, na data altamente simbólica de 5
de Junho de 2025, data comemorativa da derrota árabe de Junho de 1967. As
explicações rebuscadas fornecidas sobre esse assunto pelo ministro da Defesa
francês, Sébastien Lecornu, revelaram-se, à sua imagem, bizarras.
Essa manobra equivalia a um incentivo ao belicismo israelita. Ela foi
frustrada pela vigilância dos estivadores da CGT do porto de Fos.
Agradecemos-lhes por isso.
Bis repetita placent: numa distorção do espírito típico dos líderes ocidentais em tudo o que diz respeito a Israel, Emmanuel Macron invocou «o direito de Israel de se proteger e garantir a sua segurança» para justificar a agressão caracterizada do Estado hebreu contra as instalações nucleares iranianas, em 13 de Junho de 2025.
Intervenção de René Naba na
manifestação de solidariedade com Georges Ibrahim Abdallah, organizada em 16 de
Junho de 2025 pela UNION LOCALE CGT DE MARTIGUES, Collectif Palestine Martigues
e “Car t'y es libre” (Quartier Libre).
Vertiginosa é a inconsistência intelectual de Júpiter da França. Israel, a única potência atómica do Médio Oriente, semeia o terror na região, e o balneário de Le Touquet, fora do solo, acusa o Irão de perturbar a região, quando o Estado hebreu nunca assinou o tratado de não proliferação nuclear, ao contrário da República Islâmica, que aceitou o controlo das suas actividades pela Agência Internacional de Energia Atómica. Tal incongruência de comportamento é provavelmente atribuível à racionalidade cartesiana de que a tecnocracia francesa tanto se orgulha.
Apesar destes factos altamente prejudiciais para a sua
imagem, a França enfrentará, nesse dia, 19 de Junho, um terrível dilema. Se
mantiver o militante palestiniano na prisão, a sua abordagem diplomática
parecerá antinómica ao seu objectivo na ONU. Uma gesticulação diplomática, como
é habitual. Uma simples postura declamatória. Em suma, «palhaçada».
Georges Ibrahim Abdallah representa, de facto, um
resumo de todas as torpezas da França, revelador do mau funcionamento deste
país, cujos mitos fundadores, sobre os quais prosperou durante muito tempo, se
desmoronaram. Julguem por vós mesmos:
A «Pátria dos Direitos Humanos», neste caso
específico, cometeu um abuso de direito. Ao fazê-lo, revela-se apenas como a
«Pátria da Declaração dos Direitos Humanos» e não como a «Pátria dos Direitos
Humanos», segundo a expressão de Robert Badinter, antigo ministro socialista da
Justiça e antigo presidente do Conselho Constitucional.
A França, que durante muito tempo se considerou «a
filha mais velha da Igreja», arrogando-se, por esse título, a função de «protectora
dos cristãos do Oriente», revelou-se, no caso de Georges, – embora maronita de
nascimento e ex-aluno de congregações religiosas cristãs libanesas – como
exercendo uma função não de protecção, mas de «protectorado» na pura tradição
colonial francesa, perseguindo incansavelmente qualquer pensamento dissidente.
O acaso do calendário – a coincidência destes dois
eventos, a 19 de Junho de 2025, a conferência da ONU sobre a Palestina e o
veredicto no caso Georges Ibrahim Abdallah, selou simbolicamente a ligação
indissociável entre o militante comunista libanês e a causa palestiniana.
Há 77 anos que Israel enterra metodicamente a
identidade palestiniana sob os escombros, ao mesmo tempo que, há 41 anos, a
França se esforça por emparedar o Líbano cristão pró-palestiniano.
De passagem, recordemos que Israel não pratica um
“genocídio”, que etimologicamente significa “o extermínio intencional, no todo
ou em parte, de um grupo nacional”, mas sim um SOCIOCÍDIO, a aniquilação de
toda a sociedade palestiniana em todas as suas componentes humanas, culturais e
económicas, bem como do seu património arqueológico, artístico,
cinematográfico, gastronómico e culinário, arrogando-se a propriedade do
Zaatar.
Ver estes links sobre este assunto:
·
https://www.madaniya.info/2018/06/20/le-pillage-du-patrimoine-cinematograhique-palestinien-par-l-armee-israelienne/
77 anos de luta em vão. O povo palestiniano resiste,
tal como Georges, sem se deixar abater pelo desânimo. A rectidão do seu
comportamento constitui uma lição de coragem exemplar para todos os militantes
que lutam pela concretização das suas reivindicações. Um «Homem de Pé», cuja
atitude contrasta com a subserviência da fauna político-mediática francesa.
Este caso revelou, de facto, a extrema servilidade da
França em relação aos Estados Unidos e a Israel, como atesta o comportamento do
antigo ministro socialista do Interior, Manuel Valls, antigo pró-palestiniano,
agora «ligado eternamente a Israel» devido ao seu casamento com uma francesa de
confissão judaica, obedecendo, sem dizer uma palavra, às ordens de Hillary
Clinton, na época secretária de Estado dos Estados Unidos, levando esse
transfuga socialista a abster-se de emitir uma obrigação de deixar o território
francês, a famosa OQTF, muito apreciada hoje em dia pelos seus sucessores.
Sobre Manuel Valls, consulte este link:
·
https://www.madaniya.info/2016/12/06/france-manuel-valls-no-pasaran/
Uma servilidade acompanhada por uma paralisia do
debate público francês devido à colaboração de Vichy com o nazismo, que
obscurece a razão e obstrui a visão.
No final do mandato de Macron, Manuel Valls, o
renegado socialista, irá imediatamente para o lixo da história, marcado com o
selo da infâmia e afligido com o estigma indelével da mancha moral absoluta,
enquanto Georges Ibrahim Abdallah será elevado à estatura de ícone vivo da luta
política.
De derrota em derrota, o povo palestiniano, de
contratempos judiciais em contratempos judiciais, Georges Ibrahim Abdallah,
irão à vitória final, para retomar o lema revolucionário do líder chinês Mao
Tsé Toung, um conhecedor, «de derrota em derrota até à vitória final».
Vida longa ao povo palestiniano, seja qual for o
resultado da sua luta.
Vida longa a Georges Ibrahim Abdallah, seja qual for o
resultado da sua batalha judicial.
E que na memória dos povos em luta o seu exemplo viva
eternamente.
NOTAS
1- Texto da intervenção de René Naba durante a manifestação de solidariedade
com Georges Ibrahim Abdallah com vista à sua libertação, contra o genocídio e
pela paz na Palestina. Manifestação organizada em 16 de Junho de 2025 por
iniciativa conjunta da UNION LOCALE CGT DE MARTIGUES, do Collectif Palestine
Martigues e do «Car t’y es libre» (Quartier Libre), do qual o autor deste texto
é presidente honorário.
Ver neste link a
Intervenção de Virginie UL Martigues
https://docs.google.com/viewerng/viewer?url=https://www.madaniya.info/wp-content/uploads/2025/06/Intervention-Virginie-UL-Martigues.pdf
René Naba
Jornalista e escritor, ex-responsável
pelo mundo árabe-muçulmano no serviço diplomático da AFP, depois conselheiro do
director-geral da RMC Médio Oriente, responsável pela informação, membro do
grupo consultivo do Instituto Escandinavo dos Direitos Humanos e da Associação
de Amizade Euro-Árabe. De 1969 a 1979, foi correspondente rotativo no
escritório regional da Agência France-Presse (AFP) em Beirute, onde cobriu,
nomeadamente, a guerra civil jordano-palestiniana, o «Setembro Negro» de 1970,
a nacionalização das instalações petrolíferas do Iraque e da Líbia (1972), uma
dezena de golpes de Estado e sequestros de aviões, bem como a guerra do Líbano
(1975-1990), a terceira guerra israelo-árabe de Outubro de 1973 e as primeiras
negociações de paz entre o Egipto e Israel em Mena House, no Cairo (1979). De
1979 a 1989, foi responsável pelo mundo árabe-muçulmano no serviço diplomático
da AFP [ref. necessária], depois conselheiro do director-geral da RMC Médio
Oriente, encarregado da informação, de 1989 a 1995. Autor de «L'Arabie saoudite, un
royaume des ténèbres» (Golias), «Du Bougnoule au sauvageon, voyage dans
l'imaginaire français» (Harmattan), «Hariri, de père en fils, hommes
d'affaires, premiers ministres» (Harmattan), «Les révolutions arabes et la
malédiction de Camp David» (Bachari), «Média et Démocratie, la captation de
l'imaginaire un enjeu du XXIme siècle» (Golias). Desde
2013, é membro do grupo consultivo do Instituto Escandinavo dos Direitos
Humanos (SIHR), com sede em Genebra. Além disso, é vice-presidente do Centro
Internacional Contra o Terrorismo (ICALT), em Genebra; presidente da associação
de caridade LINA, que actua nos bairros do norte de Marselha, e presidente
honorário da «Car tu y es libre» (Quartier libre), que trabalha para a promoção
social e política das zonas periurbanas do departamento de Bouches-du-Rhône, no
sul da França. Desde 2014, é consultor do Instituto Internacional para a Paz, a
Justiça e os Direitos Humanos (IIPJDH), com sede em Genebra. Desde 1 de Setembro
de 2014, é responsável pela coordenação editorial do site https://www.madaniya.info e apresentador de uma coluna semanal na Radio
Galère (Marselha), às quintas-feiras, das 16h às 18h.
Este artigo foi traduzido para Língua
Portuguesa por Luis Júdice
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