Ataque ucraniano contra aviões russos: consequências
para o mundo
6 de Junho de 2025 Robert Bibeau
Por Oleg Nesterenko .
Presidente do CCIE (www.c-cie.eu).
Neste domingo, 1 de Junho de 2025, a Ucrânia realizou
um ataque massivo a aeródromos militares estratégicos russos. Quatro aeródromos
foram atingidos com sucesso: o de «Diaghilevo», o de «Olenya», o de «Ivanovo» e
o de «Belaya», o que constitui o maior ataque à infraestrutura militar russa no
interior do território nacional desde o início da fase activa das hostilidades
entre a Rússia, a Ucrânia e a OTAN, em 20 de Fevereiro de 2022.
O ataque foi realizado por drones FPV transportados em camiões, sem que os motoristas fossem informados – da mesma forma que foi feito com o ataque terrorista à ponte da Crimeia, em 17 de Julho de 2023, no qual o motorista do camião morreu na explosão, sem saber o que transportava.
A responsabilidade pela acção foi imediatamente reivindicada pelo serviço secreto ucraniano SBU, que a chamou de operação «A teia de aranha». De acordo com o comunicado de imprensa do SBU, os danos causados à Rússia consistem na destruição de 41 aeronaves em terra, em parte bombardeiros estratégicos.
A «Tríade nuclear»
Um bombardeiro estratégico é um avião de combate de alcance intercontinental (mais de 5000 km) concebido para transportar e lançar armas nucleares (bombas aéreas, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos), destinadas a destruir alvos estratégicos situados no território inimigo.
Nas forças armadas da Federação Russa, os bombardeiros estratégicos fazem parte da chamada «Tríade Nuclear», que designa as forças armadas estratégicas compostas por três componentes: a aviação estratégica; os regimentos de mísseis balísticos estratégicos intercontinentais e a frota de submarinos nucleares estratégicos portadores de mísseis.
A importância da existência da Tríade Nuclear consiste na partilha de ogivas nucleares estratégicas entre três tipos de forças armadas estratégicas, o que torna impossível a destruição de todo o arsenal nuclear do país em caso de ataque surpresa do inimigo, oferece maior flexibilidade na utilização dessas armas e garante a destruição iminente do inimigo no âmbito de ataques de retaliação.
O Tratado Start-II/SNV-III
As consequências negativas para Moscovo do ataque à infraestrutura militar estratégica da Rússia em relação à campanha militar conduzida na Ucrânia são próximas de zero absoluto. No entanto, as consequências da acção em relação à segurança nuclear mundial são de alcance estratégico e não devem ser subestimadas.
Deixando de lado o aspecto emocional do caso, as posições e reacções das várias partes sobre o assunto, bem como as modalidades da resposta militar de Moscovo, que será, no mínimo, proporcional aos danos sofridos, vejamos as reais consequências para a segurança nuclear.
Não, não se trata de uma potencial explosão de uma ogiva nuclear que poderia estar a bordo de uma das aeronaves no momento da sua destruição, mas de outra coisa completamente diferente.
A primeira pergunta que os observadores não informados sobre o ataque ucraniano de 1 de Junho devem fazer, naturalmente, é: como é que a aviação russa, de importância estratégica para a segurança do país se encontrava em massa num simples parque de estacionamento do aeródromo, em vez de estar cuidadosamente escondida e protegida em hangares de betão armado concebidos para esse efeito e que devem suportar ataques militares de uma potência incomparavelmente maior do que a de pequenos drones vulgares montados manualmente em segredo numa garagem?
A resposta a esta pergunta não reside, em caso algum, na potencial grande falta de profissionalismo e negligência das pessoas responsáveis pelo posicionamento dos aparelhos aéreos estratégicos nos aeródromos em questão, mas no tratado Start-II/SNV-III. O tratado russo-americano sobre a redução de armamentos estratégicos ofensivos.
No âmbito do novo carácter das relações russo-ocidentais estabelecido desde o início das hostilidades na Ucrânia, em Fevereiro de 2023, a Federação Russa suspendeu a sua participação no tratado sobre a redução de armas estratégicas ofensivas Start-II/SNV-III — o que foi uma consequência lógica e perfeitamente previsível: face à ameaça declarada e parcialmente implementada pelo Ocidente colectivo em relação à Rússia, esta última procedeu à supressão legal das restricções ao desenvolvimento do seu armamento estratégico.
Nas cláusulas do tratado Start-II, está estipulado que cada uma das partes signatárias do acordo tem o direito de o abandonar em caso de alteração significativa das circunstâncias: «se considerar que as circunstâncias excepcionais relacionadas com o conteúdo do presente acordo colocaram em risco os seus interesses supremos» (artigo 14.º, n.º 3). A definição pelo Ocidente colectivo como objectivo «a derrota estratégica da Rússia» e as numerosas declarações oficiais deste último nesse sentido constituem uma alteração significativa das circunstâncias que recebeu uma resposta adequada.
A oficialização da iniciativa de Moscovo através da adopção e ratificação da lei federal n.º 38-FZ, de 23 de Fevereiro de 2023, foi empreendida a fim de permanecer em estrita legalidade em relação aos compromissos internacionais assinados e ratificados pela Federação Russa e não criar um precedente que permitisse aos adversários instrumentalizar uma hipotética violação dos compromissos russos no âmbito do direito internacional em vigor.
Assim sendo, por um lado, com o congelamento da sua participação no tratado, Moscovo salientou que continuaria a «respeitar estritamente os limites quantitativos das armas estratégicas ofensivas», independentemente do presente acordo russo-americano;
por outro lado, apesar da suspensão em curso da sua participação no tratado sobre a redução de armas estratégicas ofensivas, a Rússia, no âmbito de um acordo não público russo-americano, continuou a respeitar de forma recíproca a parte do tratado relativa à não ocultação da componente aérea da Tríade Nuclear: não podendo mais realizar visitas recíprocas de controlo das instalações de armas nucleares nos respectivos territórios, as partes continuaram a beneficiar da vigilância recíproca por satélite da aviação estratégica no âmbito do §1b do artigo 4.º e dos §1b e §1c do artigo 10.º do tratado, sem necessidade de deslocação dos controladores.
O §1b do artigo 4 estipula: «A implantação de bombardeiros pesados só pode ocorrer em bases aéreas». E os §1b e §1c do artigo 10 do tratado são inequívocos: «A fim de assegurar o controlo do cumprimento das disposições do presente tratado, cada uma das partes compromete-se a não interferir com os meios técnicos nacionais de controlo de outra parte que exerça as suas funções em conformidade com o presente artigo e a não recorrer a medidas de camuflagem que dificultem o controlo do cumprimento das disposições do presente tratado por meios técnicos nacionais de controlo».
Ou seja, o tratado proíbe impedir os satélites da parte adversária de vigiar os bombardeiros estratégicos 24 horas por dia, 7 dias por semana. Ou seja, eles devem permanecer permanentemente a céu aberto.
O jogo do piromaníaco Zelensky com a caixa de Pandora e as consequências para o mundo
Sabendo perfeitamente que o ataque que ocorreu em 1 de Junho de 2025 não só não terá absolutamente nenhum efeito sobre o desenrolar das operações militares russas realizadas em solo ucraniano e sobre os seus sucessos, mas, pelo contrário, levará a graves represálias de Moscovo que o mundo testemunhará e que a Ucrânia sofrerá em breve, o regime de Zelensky, que não tem qualquer vontade de negociar um acordo de paz e ver o fim da guerra em curso – pois isso estará associado, muito provavelmente, ao fim do seu reinado –, abriu a caixa de Pandora, o que conduzirá, em 100% dos casos, ao agravamento da situação da segurança nuclear mundial.
A iniciativa tomada por Kiev não pode ser considerada senão criminosa em relação a esta última, pois não há dúvida de que a página da possibilidade de vigilância recíproca por satélite da aviação estratégica foi virada para sempre.
Não só a Federação Russa, mas também os Estados Unidos da América não permitirão mais que os seus aparelhos que garantem a segurança estratégica dos países sejam colocados em perigo por potenciais ataques «à ucraniana».
A partir de agora, mesmo que as relações russo-americanas sejam restauradas, o tratado Start-II/SNV-III, suspenso em Fevereiro de 2023 e com término legal em Fevereiro de 2026, não pode mais ser renovado no seu estado actual: doravante, a componente aérea das respectivas tríades nucleares será altamente protegida e, portanto, ocultada, o que conduz, de facto, a uma importante diminuição do controlo das armas nucleares pelo mundo, com todas as consequências que daí advirão.
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/300276?jetpack_skip_subscription_popup#
Este artigo foi traduzido para Língua
Portuguesa por Luis Júdice
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