segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Manifestações massivas na Indonésia – a resistência está inflamada



13 de Dezembro de 2020  Robert Bibeau  

Por Jacques Chastaing.

Neste país de 267 milhões de habitantes com fortes tradições de luta, o governo queria aprovar uma lei que ataca o direito ao trabalho, os salários, o emprego e o meio ambiente. Resultado de 3 dias de greve geral massiva a partir de hoje, que pode muito bem levar a um abalo geral do poder.

Video espectacular aqui (ici)

Com efeito, o ano de 2019 já foi atravessado por greves, manifestações e motins em massa de Maio a Outubro, o que não se via desde os motins de 1998 que provocaram a queda do ditador Suharto e do poder dos militares no poder desde o golpe em 1965 e o massacre da esquerda indonésia (pelo menos 500.000 mortos).

Os tumultos começaram em Maio de 2019 após as eleições que colocaram Joko Widodo no poder acusado de as ter defraudado, seguidos de outros distúrbios e manifestações contra emendas repressivas ao código penal seguido de um levantamento na Papua e, depois ainda, pela greve estudantil de 300 universidades na luta contra a corrupção do regime, com motins aí também, e finalmente por manifestações massivas de trabalhadores contra as novas leis anti-operárias que criminalizam activistas e greves e facilitam demissões ainda mais e sempre com o mesmo objectivo, a 20 de Janeiro de 2020 com a ameaça feita pelos dirigentes sindicais, porém nada radical, de renovar este movimento com uma gigantesca manifestação em 30 de Abril, apesar do covid-19 que teria como alvo o parlamento nacional ao dar um carácter obviamente político ao movimento em torno da mobilização dos operários.

No início de 2020, a imprensa inquieta falava de 2020 como o ano de todos os perigos: o vulcão social não está longe da erupção, titulava ela.

Face a tudo isso e ao coronavírus, o governo não implementou o confinamento generalizado, não com o objectivo principal de manter a actividade económica, mas sim um violento estado de emergência policial regionalizado ou localizado, em particular em Jacarta. Assim, diante da ameaça da manifestação de 30 de Abril em Jacarta, a cidade foi confinada ao mesmo tempo em que o governo tomou as primeiras medidas nacionais de saúde em 23 de Abril. Ao mesmo tempo, o governo tentava mostrar os seus músculos proibindo a manifestação de 30 de Abril sob o pretexto do vírus. É preciso dizer que em Jacarta a situação pode tornar-se explosiva. Nesta cidade de quase 30 milhões de habitantes que teve um 2019 particularmente turbulento, 4 milhões de pessoas amontoam-se em favelas com uma casa com o tamanho médio de 9 m2 por família e apenas pontos de água colectivos com um distanciamento físico impossível, mas por outro lado uma rede de hotéis de luxo Ayarduta com o seu próprio hospital privado e testes para todos os clientes. Além disso, apesar da escolha do governo em favorecer a economia, 1,2 milhão de trabalhadores foram despedidos, incluindo mais de 160.000 na capital no final de Abril.

E no entanto, bem que o governo tentou usar o vírus para pedir aos pobres das favelas que não infectassem os ricos (sic!), Ao tentar isolar as favelas e confinar os trabalhadores em suas casas em Jacarta, proibindo quase qualquer saída excepto por comida, acabou por ceder ao medo do 30 de Abril que se configurava para ele como a data de todos os perigos, rebatendo as suas leis anti-operárias - o que era visto pelos trabalhadores como uma grande vitória e associando as lideranças sindicais nas discussões que estão para vir, o que elas aceitaram.

Apesar da agitação policial do poder, apesar das demissões em massa, a iniciativa está nas mãos dos trabalhadores e a nova tentativa do governo de aprovar as suas leis anti-operárias em Outubro de 2020 pode muito bem - no mínimo - ser mais um fracasso para ele, ou ainda mais, restaurar a consciência de todas a sua força ao mundo do trabalho e empurrá-lo para ir muito mais longe.

 

Jacques Chastaing

 

Fonte : https://les7duquebec.net/archives/260823

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