domingo, 13 de dezembro de 2020

A dignidade da mulher de um operário!

 

Ihor Homenyuk havia sido controlador de tráfego, mas pegava em tudo o que lhe permitisse sustentar a família. Forçado a proletarizar-se devido à profunda crise sistémica do sistema capitalista, como milhões de assalariados oriundos do sector de classe da pequena-burguesia, era agora operário da construção civil e, segundo um amigo e compatriota seu, estava de passagem por Lisboa, mas o seu destino seria a Bélgica onde procuraria trabalho nesse sector.

A sua companheira, que é professora no seu país, a Ucrânia, demonstrando a dignidade que é apanágio de uma trabalhadora casada com um elemento da classe operária, em entrevistas que concedeu a alguns órgãos da comunicação social, afirmou que não era o dinheiro da indemnização que a movia.

Era, isso sim, a exigência de justiça. Que os assassinos do seu marido fossem levados a julgamento, provados os seus crimes e motivações e condenados com a pena mais pesada que a legislação portuguesa contemplasse.

Claro que, em nossa opinião, esta mulher deve ser indemnizada, sobretudo porque lhe assassinaram o seu companheiro de muitos anos e jornadas de luta pela sua sobrevivência, enquanto casal, e enquanto progenitores de dois filhos, um rapaz de nove anos e uma rapariga de catorze.

Uma indemnização que, não lhe devolvendo o marido e pai dos seus filhos, lhe assegure a dignidade e o rendimento que ele, se fosse vivo, asseguraria com a venda da única mercadoria que possuía – a sua força de trabalho. Que lhe foi sonegada por um Estado que levou nove meses a encobrir os assassinos e as instituições que era suposto velarem pela sua segurança durante o tempo em que transitou em Portugal.

E esta apreciação não foi contaminada pela jogada de um advogado à procura de protagonismo que, em entrevista a uma cadeia de televisão nacional, revelou que se propunha, em nome da viúva e dos seus filhos, exigir uma indemnização de 1 milhão de euros.

Não se deixa contaminar, desde logo,  porque ninguém se pode sequer atrever a determinar qual o valor de uma vida e, sobretudo, valorar o que podem esperar dessa vida a família dependente, em grande medida, para além do fruto do seu trabalho, do seu afecto, da sua preocupação em seguir a construção humana de cada um dos filhos cuja orfandade lhes foi imposta.

Apesar de compreendermos que, fruto da dor imensa da perda – e das circunstâncias em que ela ocorreu – a viúva deste operário ucraniano sinta um “ódio profundo” por Portugal, não poderemos deixar de lhe transmitir a nossa solidariedade proletária, assegurando-lhe que o seu ódio de classe é o mesmo que nutrimos pela cambada de assassinos que se alcandorou ao poder, em representação da mesma burguesia e do mesmo grande capital que obrigou o seu marido a sair da Ucrânia, para vir a ser assassinado em Portugal.

Exigimos que a indemnização que seja estipulada a esta viúva por entidade independente e reconhecidamente credível, deva ser paga pelo Estado que não observou o direito à segurança a que este imigrante, e seu companheiro, tinha direito. E que não leve nove meses a ser paga, como levou o encobrimento do seu assassinato. Mas, o valor da indemnização deverá, depois, ser assacada aos responsáveis directos pelo assassinato de Ihor Homenyuk e àqueles que encobriram este crime hediondo, que devem ser demitidos - e não demitirem-se - imediatamente!

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