Ihor Homenyuk havia sido controlador de tráfego, mas pegava em tudo o que lhe permitisse
sustentar a família. Forçado a proletarizar-se devido à profunda crise
sistémica do sistema capitalista, como milhões de assalariados oriundos do
sector de classe da pequena-burguesia, era agora operário da construção civil e, segundo um
amigo e compatriota seu, estava de passagem por Lisboa, mas o seu destino seria
a Bélgica onde procuraria trabalho nesse sector.
A sua companheira,
que é professora no seu país, a Ucrânia, demonstrando a dignidade que é
apanágio de uma trabalhadora casada com um elemento da classe operária, em
entrevistas que concedeu a alguns órgãos da comunicação social, afirmou que não
era o dinheiro da indemnização que a movia.
Era,
isso sim, a exigência de justiça. Que os assassinos do seu marido fossem
levados a julgamento, provados os seus crimes e motivações e condenados com a
pena mais pesada que a legislação portuguesa contemplasse.
Claro
que, em nossa opinião, esta mulher deve ser indemnizada, sobretudo porque lhe
assassinaram o seu companheiro de muitos anos e jornadas de luta pela sua
sobrevivência, enquanto casal, e enquanto progenitores de dois filhos, um rapaz
de nove anos e uma rapariga de catorze.
Uma indemnização que, não lhe devolvendo o marido e pai dos seus filhos, lhe
assegure a dignidade e o rendimento que ele, se fosse vivo, asseguraria com a
venda da única mercadoria que possuía – a sua força de trabalho. Que lhe foi
sonegada por um Estado que levou nove meses a encobrir os assassinos e as
instituições que era suposto velarem pela sua segurança durante o tempo em que
transitou em Portugal.
E esta
apreciação não foi contaminada pela jogada de um advogado à procura de
protagonismo que, em entrevista a uma cadeia de televisão nacional, revelou que
se propunha, em nome da viúva e dos seus filhos, exigir uma indemnização de 1
milhão de euros.
Não se
deixa contaminar, desde logo, porque
ninguém se pode sequer atrever a determinar qual o valor de uma vida e,
sobretudo, valorar o que podem esperar dessa vida a família dependente, em
grande medida, para além do fruto do seu trabalho, do seu afecto, da sua
preocupação em seguir a construção humana de cada um dos filhos cuja orfandade
lhes foi imposta.
Apesar
de compreendermos que, fruto da dor imensa da perda – e das circunstâncias em
que ela ocorreu – a viúva deste operário ucraniano sinta um “ódio profundo” por
Portugal, não poderemos deixar de lhe transmitir a nossa solidariedade
proletária, assegurando-lhe que o seu ódio de classe é o mesmo que nutrimos
pela cambada de assassinos que se alcandorou ao poder, em representação da
mesma burguesia e do mesmo grande capital que obrigou o seu marido a sair da
Ucrânia, para vir a ser assassinado em Portugal.
Exigimos que a indemnização que seja estipulada a esta viúva por entidade independente e reconhecidamente credível, deva ser paga pelo Estado que não observou o direito à segurança a que este imigrante, e seu companheiro, tinha direito. E que não leve nove meses a ser paga, como levou o encobrimento do seu assassinato. Mas, o valor da indemnização deverá, depois, ser assacada aos responsáveis directos pelo assassinato de Ihor Homenyuk e àqueles que encobriram este crime hediondo, que devem ser demitidos - e não demitirem-se - imediatamente!
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