sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

O nacionalismo face à mundialização (Parte 3)





16 de Dezembro de 2020  Robert Bibeau 

 

A mundialização liberal, como lhe chama a direita ou esquerda anti-mundialista, provoca o ressurgimento de nacionalismos que seriam a panaceia contra o caos económico, político, diplomático, jurídico, militar, sanitário e social que está a sacudir o mundo capitalista.

Mergulhando nas entranhas dos movimentos socialistas-comunistas-esquerdistas, desenterramos alguns textos que apresentam teorias nacionalistas sob um aspecto “revolucionário”: Lendo notas de Pierre Souyri: “OS MARXISTAS E A QUESTÃO NACIONAL” (ver link - Notes de lecture de Pierre Souyri: « LES MARXISTES ET LA QUESTION NATIONALE»)  e de Paul Mattick. NACIONALISMO E SOCIALISMO (ver link - Paul Mattick.  NATIONALISME ET SOCIALISME). Nesta terceira e última parte, apresentamos um texto autenticamente proletário publicado pelo Communist Worker (Operário Comunista)em Outubro de 1929: Leninismo ou Marxismo? Imperialismo e a questão nacional (ver link -Léninisme ou marxisme? L’impérialisme et la question nationale) . Os nossos comentários são indicados por NDLR-Robert Bibeau.



O jornal L'Ouvrier Communiste publicou em Outubro de 1929 um artigo em que confronta a posição leninista e a posição que o jornal atribui a Rosa Luxemburgo (Junius). Acreditamos ser importante publicar e comentar este documento mais relevante do que nunca.

Em meados do século XIX, Karl Marx definiu o nacionalismo com que a burguesia se disfarçava como a solidariedade de classe dos exploradores que se voltaram "dentro das fronteiras contra o proletariado" e "fora das fronteiras contra a burguesia de outros países" . Marx acrescentou que a "fraternidade" engendrada pelas relações capitalistas de produção entre as diferentes nações burguesas dificilmente seria mais fraterna do que a engendrada entre as diferentes classes da mesma nação. Para Marx, os fenómenos destrutivos induzidos pelo capitalismo num país reproduzem-se em proporções gigantescas à escala internacional. Atendo-se a essa análise apresentada por Marx no início do capitalismo industrial, as esquerdas europeias concluíram que essas contradições entre as diferentes burguesias nacionais estavam a empurrar os fidalgotes provincianos para o campo proletário, especialmente os dos países coloniais. Lenine, nos seus textos, apresenta uma síntese dessa posição adoptada pelos bolcheviques. Infelizmente, a esquerda não concluiu o seu trabalho de casa. Em primeiro lugar, o campesinato é um grande inimigo do modo de produção comunista e um defensor fanático do pequeno capitalismo agrícola. O capital sabe dessas coisas e antes de expropriar o fidalgote provinciano para reagrupar as parcelas, mecanizar e industrializar a agricultura, começa por matá-la de fome antes de proletarizá-la. Os bolcheviques da União Soviética não podiam fazer de outra forma. O desenvolvimento dos meios de produção e consequentemente das necessidades de matérias-primas, de força produtiva e a necessária expansão dos mercados tem levado o capital a superar as barreiras alfandegárias - fronteiras nacionais - em suma, a desvencilhar-se do casulo nacional que se tornou uma prisão contra a expansão capitalista na fase imperialista. O desenvolvimento do modo de produção capitalista teve como consequência que todas as burguesias nacionais foram obrigadas a reagrupar-se em vastas alianças capitalistas partilhando o fruto da expropriação da mais-valia de acordo com o investimento e a assumpção de risco. O que determina se uma economia nacional pertence a uma aliança imperialista ou a outra é sempre o nível de interdependência entre as economias que constituem essa aliança. A classe proletária não tem controle sobre essas alianças e nunca deve apoiar uma aliança contra outra.

Assim, os Estados Unidos têm sido os maiores detentores de risco económico e militar e os principais beneficiários da expansão imperialista do modo de produção capitalista. Isso é o que Estaline não entendeu quando disse: “O capitalismo tem para oferecer aos povos dos países coloniais e semi-coloniais dependentes apenas dependência e atraso económico, exploração frenética, massacres inter-étnicos, guerras e miséria. Nem é preciso dizer que nenhum país imperialista tem interesse em ajudar outros países burgueses a desenvolver uma indústria e uma agricultura autónomas por medo de ajudar a formar um concorrente. Toda a ajuda ao desenvolvimento contém, portanto, as sementes da sua antítese e visa impedir o desenvolvimento económico nacional verdadeiramente independente ”.

Hoje, referindo-se às ondas de realocação industrial, é fácil contradizer Estaline e demonstrar que o capital não tem pátria e que migra de um país para outro de acordo com a taxa de lucro esperada. A contabilidade capitalista não é mais estabelecida em função dos países, mas em função dos grandes trustes internacionais. Eles estão a espalhar-se por todo o lado onde possam investir para erradicar o precioso lucro que lhes dá vida.

Se os bolcheviques e os partidos comunistas da Terceira Internacional apoiaram as lutas políticas da chamada por assim dizer "libertação nacional e pelo direito à autodeterminação dos povos", foi porque esses partidos estavam sob o controle da pequena burguesia nacionalista que queria tomar a direcção das lutas das massas camponesas dispostas a sacrificar as suas vidas para se apropriar dos seus meios de produção (a terra), o que conseguiram em vários países com as consequências que conhecemos. Sem emancipação económica, não há emancipação política e ideológica. Hoje, tudo deve ser retomado desde o início com, por um lado, uma rica experiência acumulada por ocasião dessas revoluções "proletárias" fracassadas (que não o foram na realidade) e, por outro, uma confusão dez vezes maior nas fileiras da classe proletária. O artigo Comrades of the Communist Worker (Camaradas do Proletário Comunista – NdT), publicado em 1929, é preciso lembrar, mostra que a ideologia proletária revolucionária não estava morta, mesmo nesta época de dominação absoluta do bolchevismo nacional. A acuidade, profundidade e correcção da sua análise de classe da questão nacional burguesa conforta-nos sobre as capacidades que a nossa classe sempre teve para manter o seu curso na revolução, apesar da grande turbulência. NDLR-Robert Bibeau.


LENINISMO OU MARXISMO ? O IMPERIALISMO  E A QUESTÃO NACIONAL 1

Por  L’Ouvrier Communiste


O actual conflito da China com a Rússia e as ameaças de guerra decorrentes deste incidente inter-imperialista, como aliás de todos os que nos trazem as notícias do dia a dia, assinalam a possibilidade iminente de uma nova guerra mundial e impõe-nos uma atenção renovada ao problema que a eclosão e o desenvolvimento da guerra de 1914 tinham então tão brutalmente colocado à esquerda marxista da 2ª Internacional.

Nesta terreno, diferenças muito importantes surgiram entre os elementos leninistas (reduzidos neste caso a Lenine e Zinoviev, os únicos que redigiram eles próprios o Socialdemokrat) e a maioria desta esquerda (especialmente composta por elementos da Alemanha, Polónia e Holanda). Não é somenos importante notar o isolamento do bolchevismo russo na sua posição particular sobre a questão nacional diante de outras correntes. Não há dúvida de que não é mera coincidência que o bolchevismo ou o leninismo já se encontrassem neste terreno em desacordo com a ideologia proletária ocidental.

Durante muito tempo essas diferenças, de fundamental importância para o desenvolvimento da revolução internacional, foram mantidas em segredo pelos vários elementos da Terceira Internacional. Como a maioria, os chamados oposicionistas rotulados de leninistas, trotskistas ou bordigistas sempre fingiram ignorar o antagonismo das tendências luxemburguistas (de Rosa do Luxemburgo) e bolcheviques. Prometeo, que havia publicado recentemente um artigo de Amédée Bordiga sobre a "questão nacional", não faz notar como o conteúdo deste artigo parece afastar -sedo leninismo e se aproxima de Rosa do Luxemburgo. Deve-se acrescentar que o próprio Bordiga ajudou a manter essas diferenças, que existiram durante quinze anos na esquerda marxista, na sombra velada do manto da disciplina bolchevique. Foi apenas na sua palestra sobre Lenine de 1924 que ele fez uma vaga alusão a essa divergência e numa frase diplomática manifestou a sua simpatia pela tendência anti-leninista da esquerda marxista na Segunda Internacional.

De facto, a morte de Luxemburgo e a exclusão de elementos de esquerda, como os Tribunistas holandeses e o Partido Comunista dos Trabalhadores Alemães (KAPD) da Terceira Internacional, permitiram que o leninismo dominasse de forma incontestada as tácticas do Comintern na questão nacional. bem como em todas as outras questões.

É portanto necessário primeiro destacar a posição marxista sobre este problema específico, visto que emerge indiscutivelmente das citações alegadas pelos próprios Zinoviev e Lenine. Em Contra a Corrente, é feito apelo à opinião de Marx no Manifesto Comunista: "Os trabalhadores não têm pátria". Reproduzamos na íntegra o trecho do manifesto em que Marx e Engels expõem o seu pensamento sobre a questão da pátria em relação à classe operária: “Os operários não têm pátria. Não lhe podemos tirar o que eles não têm. Como o proletariado de cada país deve antes de tudo conquistar o poder político, colocar-se como classe dominante da nação, tornar-se a nação, ele ainda é, portanto, nacional, embora não no sentido burguês da palavra. Já as demarcações e antagonismos nacionais entre os povos estão a desaparecer cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia, a liberdade de comércio, o mercado mundial, a uniformidade da produção industrial e as condições de existência que lhe correspondem. O proletariado no poder os fará desaparecer ainda mais. A sua acção comum, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para a sua emancipação. "

Lenine dá aqui uma interpretação exacta do texto de Marx ao reconhecer que a revolução socialista não pode superar os limites da velha pátria, que só pode ser preservada dentro das fronteiras nacionais, apenas com a sua acção comum, como justamente disse Marx, pelo menos nos países civilizados, são uma das primeiras condições para a emancipação. É claro que aqui Karl Marx compromete os proletários avançados num alto sentido de internacionalismo já antes da vitória revolucionária, vendo nisso uma base para o desenvolvimento da revolução. A expressão de nação aplicada ao todo social que domina o proletariado e que ele identifica progressivamente, por ele próprio, é formal como o resíduo vazio de sentido deixado pela burguesia na sua queda. Ela não permite de forma alguma afirmar que Karl Marx tivesse imaginado a existência distinta de uma qualquer "pátria socialista".

É claro, aliás, que os limites nacionais perdem o seu significado económico e político já sob o regime burguês e que estão destinados a uma abolição total pelo desenvolvimento do poder proletário. O subsequente desenvolvimento da economia capitalista demonstrou completamente a correção desta tese ao alcançar a unidade universal do mercado de matérias-primas, escoamento e capital. A última guerra completou o desmascaramento do nacionalismo como uma sobrevivência ultra-reacionária não mais expressando os interesses de uma formação social autónoma, mas servindo como um disfarce ideológico para as realidades imperialistas.

A pequena burguesia de todos os matizes e a aristocracia operária dos monopólios não são senão veículos do patriotismo na medida em que sujeitam ao grande capital que os torna seus fantoches, alternando a comédia da defesa nacional com a do Wilsonismo, do locarnismo, etc. Os operários não têm razão para se apegarem às fronteiras nacionais, o que é manifestado pelo internacionalismo operário; é evidente que a base histórica das suas lutas e experiências revolucionárias levará o proletariado a abolir as fronteiras assim que conquistar o poder em mais do que um país. O carácter étnico das nacionalidades está a perder todo o valor, a fusão dos elementos étnicos mais díspares é há muito uma banalidade, e as fronteiras “naturais”  tal como as fronteiras étnicas não resistem à corrente da civilização.

Assim, a tese internacionalista do marxismo não se presta a nenhum engano; a expressão que a resume: "os operários não têm pátria" é de uma clareza irrevogável, marcando a divisão real entre o nacionalismo burguês e o internacionalismo proletário, o desenvolvimento histórico subsequente desmascarou o carácter distintamente burguês da ideologia patriótica e nacional. E, no entanto, Lenine não apagou completamente da sua concepção "marxista" a influência dessa ideologia patriótica, que os elementos marxistas do Ocidente rejeitaram inteiramente.

É interessante notar que, quando Lenine polemiza com os reformistas, ele assume atitudes ultra-esquerdistas, enquanto quando discute com ultra-esquerdistas ele acolhe as atitudes reformistas. Essa posição eclética é generalizada com ele em todas as questões. As oscilações do seu centrismo são muito bem caracterizadas em obras como A Revolução Proletária e o renegado Kautsky de um lado e A Doença Infantil do Comunismo de outro. Na passagem citada de Contra a Corrente (página 18 do primeiro volume), Lenine polemiza contra os reformistas e social-traidores. Torna-se puramente internacionalista, lembra a expressão marxista: "os operários não têm pátria". Polémico contra o holandês Nieuwenhuis e comparando-o a Gustave Hervé, afirma que este dizia algo estúpido: "Quando deste axioma: 'todo o país é apenas uma vaca leiteira para os capitalistas", ele tirava esta conclusão: "a monarquia alemã ou a República Francesa, são o mesmo para os socialistas ”.

Lenine escreveu “Quando na sua resolução que propõe ao Congresso, Hervé declara que para o proletariado é“ absolutamente indiferente ”que o país esteja sob o domínio desta ou daquela burguesia nacional, formula e defende um absurdo, pior do que o de Nieuwenhuis. Não é indiferente ao proletariado no poder, por exemplo, falar a sua língua materna livremente ou sofrer a opressão nacional em cima da exploração de classe. Em vez de extrair das premissas que anunciam o socialismo, esta dedução de que o proletariado é a única classe que lutará até o fim, certamente contra toda a opressão nacional, pela igualdade completa dos direitos das nações, pelo direito das nações de dispor de si mesmas, ao invés disso, Hervé declara que o proletariado não tem que lidar com a opressão nacional, que ignora a questão nacional em geral ”.

Naturalmente, Lenine adopta nesta circunstância o seu método preferido de analogias para poder recusar uma teoria pela traição de um homem. Mas isso não tem muita importância para nós. O mais importante é o conteúdo desta passagem que resume a teoria leninista sobre a questão nacional. E ele pretende retirar essa concepção peculiar para ele e para os bolcheviques das premissas que anunciam o socialismo!

Mas ele já admitiu com Marx que "os trabalhadores não têm pátria" que a questão nacional não pode ter interesse para a classe operária. Marx deixa claro que não lhes podemos tirar (aos proletários) o que eles não têm. E, no entanto, dessa passagem de Lenine fica claro que a pátria pode ser tirada dos trabalhadores, que não é apenas um privilégio das classes dominantes, é também um benefício das classes exploradas. Com efeito, “não é indiferente sofrer uma opressão nacional que se soma à exploração de classe”. Aqui, a contradição entre o pensamento marxista e o pensamento leninista emerge claramente. Para Lenine, o proletariado deve estar interessado na questão nacional, deve ser contra toda a opressão nacional, isto é, contra toda a opressão da pátria, que, segundo Marx, não tem e não pode ser tirada dela. Para Lenine, o proletariado é até o paladino da defesa nacional, porque representa a única classe que lutará até o fim, especialmente contra qualquer opressão nacional.

Essas são, sem dúvida, as fontes do nacional- bolchevismo. E uma vez que tenhamos reflectido bem sobre o significado do pensamento leninista, não ficaremos surpresos com o que Bukharin disse em 1923: “O conflito entre a França e a Alemanha de 1923 não é uma simples repetição do conflito de 1914. Ele tem mais um carácter nacional. Portanto, o P.C.A. terá que deixar claro para a classe operária da Alemanha que só ela pode defender a nação alemã contra a burguesia, que vende os interesses nacionais do seu país ”.

E de facto, não estava a Alemanha no espírito do pensamento leninista, um país oprimido? Não restam dúvidas sobre isso. As regiões alemãs foram oprimidas pela ocupação francesa, era “dever” dos operários alemães lutar até o fim pela libertação dessas regiões! Pela libertação da Alemanha da opressão da Entente. Todos estão bem cientes dos resultados da aplicação das tácticas leninistas em 1923 na Alemanha.

Resulta desta experiência desastrosa que quando o proletariado se propõe a defender "a sua pátria", "a nação oprimida", ele consegue um único resultado, que é o de fortalecer a sua própria burguesia. Mas será necessário trazer à tona outra contradição muito óbvia, que existe nos artigos de Contra a Corrente, a fim de compreender a natureza equívoca do Nacional -Bolchevismo. No artigo de Zinoviev, The Marauders (página 70 do primeiro volume) diz-se o seguinte: "Enquanto existirem estados capitalistas, isto é, enquanto a política imperialista mundial dominar a vida interna e externa dos estados, o direito das nações à autodeterminação não tem a menor importância na paz ou na guerra. Mais ainda: no actual ambiente imperialista não há lugar para uma guerra de defesa nacional e qualquer política socialista, que ignore este ambiente histórico e que se queira orientar a partir da base isolada de um único país , é construído na areia desde o início. "

Como acabamos de constatar, o imperialismo suprimiu toda a possibilidade de uma guerra nacional no sentido marxista da palavra, e a opinião de Karl Marx de 1871 encontrou uma base sólida no desenvolvimento posterior do imperialismo capitalista. Agora, na passagem mencionada, parece que o leninismo na sua linha geral se aproxima dessa opinião. Mas não é nada disso. Na sua polémica contra os social-democratas polacos, Lenine desenvolve assim o seu pensamento em contraste com este último: “Obviamente, os autores polacos colocam a questão da 'defesa da pátria' de maneira bem diferente do nosso partido. Rejeitamos a defesa da pátria na guerra imperialista (...) Evidentemente os autores das teses polacas rejeitam a defesa da pátria em geral, isto é, até para uma guerra nacional, talvez considerando que as guerras nacionais, na era imperialista, são impossíveis ”.

É óbvio que nesta passagem Lenine afirma que para ele as guerras nacionais ainda não acabaram e que admite a defesa da pátria na guerra nacional. É claro que mesmo aqui a ideologia leninista está em desacordo com o marxismo e consigo mesma. Para Lenine, a realidade oscila entre dois pólos que se negam mutuamente. Por um lado, ele reconhece a terrível realidade da guerra imperialista, que tem a sua origem aparente num conflito nacional, por outro, ele apega-se desesperadamente a um nacionalismo derrubado e ultrapassado que ele deseja pela força reviver. E é por isso mesmo que ele procura exemplos em insurreições nacionais que desmascararam sucessivamente o seu carácter reaccionário e que não trouxeram vantagem ao movimento revolucionário do proletariado. Lenine afirma isto: “Os socialistas querem usar para a sua revolução todos os movimentos nacionais que se desencadeiam contra o imperialismo. Quanto mais clara for a luta do proletariado contra a frente comum dos imperialismos, mais essencial se torna o princípio internacionalista que diz: um povo que oprime outros povos não pode ele próprio ser livre ”.

Na sua controvérsia com o panfleto de Junius (página 154 do segundo volume), o pensamento de Lenine sobre esta questão torna-se cada vez mais precisa. Para Lenine, existe uma linha divisória nítida entre as guerras nacionais e as guerras imperialistas: "Apenas um sofista (página 158) poderia tentar apagar a diferença entre uma guerra imperialista e uma guerra nacional ..."

E mais abaixo chega a afirmar a possibilidade de uma grande guerra nacional: “Se o imperialismo fora da Europa também continuasse por vinte anos, sem deixar espaço para o socialismo, por exemplo por causa de uma guerra americano -japonesa, então seria possível uma grande guerra nacional na Europa. "

Junius (Rosa Luxemburgo) sustenta, como marxista coerente, que não pode mais haver guerras nacionais e Lenine exclama que seria errado "estender a apreciação da guerra actual a todas as guerras possíveis sob o 'imperialismo, esquecer os movimentos nacionais que podem ocorrer contra o imperialismo”. E acrescenta mesmo que até uma grande guerra nacional é possível! Aqui, a contradição entre o seu pensamento e o pensamento marxista torna-se cada vez mais aguda, porque para o próprio Zinoviev a guerra de 1870-71 encerrou a era das grandes guerras nacionais na Europa.

Em vão, a páginas 122-23 do mesmo livro Lenine tenta sair da sua polémica contra os sociais-democratas polacos, recorrendo ao pensamento de Engels contido no livro O Pó e o Reno. A sua contradição com o marxismo não é menos óbvia. Engels acredita que as fronteiras das grandes nações europeias foram determinadas ao longo da história, o que permitiu a absorção de várias nações pequenas e insustentáveis, integradas cada vez mais numa grande pela linguagem e simpatias das pessoas. Essa tese de Engels já é muito fraca do ponto de vista histórico. Mas, acima de tudo, Lenine é obrigado a notar que o capitalismo reaccionário e imperialista está a romper cada vez com mais frequência essas fronteiras definidas democraticamente. No entanto, deve-se notar que a maneira de ver a influência do capitalismo na convulsão das velhas fronteiras que Engels consideraria “naturais” não corresponde de forma alguma à ideia central do marxismo contida no Manifesto dos Comunistas na passagem citada: “Já as demarcações e antagonismos nacionais entre os povos estão a desaparecer cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia, a liberdade de comércio, o mercado mundial, a uniformidade da produção industrial e as condições de existência que a ela correspondem”.

Esse processo de desaparecimento das demarcações nacionais não é considerado por Marx como um fenómeno reaccionário, como afirma Lenine. Lenine vê todo este processo e a forma como ele é posto em prática pelos sociais-democratas polacos como "economismo imperialista". Aqui está o que ele diz: “Os velhos 'economistas', não permitindo senão uma caricatura do marxismo, ensinaram aos trabalhadores que 'o que está na economia' só interessa aos marxistas. Os novos "economistas" pensam que o estado democrático do socialismo vitorioso existirá sem fronteiras (numa espécie de sentimento complexo sem matéria)? Eles acham que as fronteiras serão determinadas apenas pelas necessidades de produção? Na realidade, essas fronteiras serão determinadas democraticamente, ou seja, de acordo com a vontade e as simpatias do povo. O capitalismo influencia violentamente essas “simpatias” e, assim, adiciona novas dificuldades ao trabalho de aproximação das nações ”.

Há um claro contraste aqui entre o pensamento leninista e o pensamento marxista. Para Marx, a burguesia, a organização económica do capitalismo fazem desaparecer as fronteiras, elimina as dificuldades nacionais, para Lenine o capitalismo aumenta essas dificuldades. Podemos notar que a burguesia era progressista em 1848 e reaccionária na fase imperialista. Esta seria uma distinção que não serviria muito, porque a ascensão da economia mundial não cessou desde então, mesmo através de crises formidáveis ​​para determinar uma aproximação cada vez mais íntima entre as populações nacionais, e por vezes a fusão de elementos nacionais.

O pensamento leninista também não se dá conta também do lado artificial dos por assim dizer sentimentos nacionais expressamente alimentados pela burguesia. Ela não se dá conta de que em algumas camadas da população os sentimentos chauvinistas são um simples resultado das suas condições económicas. Que hoje o amor à pátria é relegado nessas camadas, às quais já nos referimos acima.

O pensamento leninista aparece-nos aqui como um anacronismo histórico, um retrocesso. Ele quer alcançar a unidade dos povos voltando a uma base histórica, que o marxismo já considerava em 1848 em vias de extinção. O pensamento leninista neste terreno bem ignorado pelos militantes comunistas ocidentais pode ser definido como reaccionário.

Em vez de combater os sentimentos nacionais, que a burguesia tem todo o interesse em manter vivos, ela os encoraja, os legitima, os torna uma base moral para o desenvolvimento do socialismo. Ninguém duvidará por um momento, lendo a controvérsia de Lenine contra Junius, que a falácia está do seu lado. Na verdade, qual é o único argumento que ele pode adicionar contra Luxemburgo? O pretexto subtil de que a dialética pode cair na falácia. E para isso apela à dialética grega que nada tem a ver com a dialética materialista, que não é um método fora da realidade, mas um método na própria realidade. Porque essa guerra nacional (a pequena Sérvia rebelando-se contra a grande Áustria) se havia transformado em guerra imperialista não na abstração, mas na realidade. Ela provou claramente que o sofisma estava no terreno das guerras e questões nacionais do lado de Lenine.

Mas antes de passar em revista os eventos históricos que vieram confirmar este julgamento, não será errado fixar o pensamento de Lenine de forma mais clara com uma citação que não pode dar origem a qualquer disputa quanto ao seu conteúdo. No artigo contra o panfleto de Junius (página 158, segundo volume), Lenine afirma claramente a sua fé nas guerras nacionais e estende a sua teoria à questão colonial: “As guerras nacionais - diz ele - não são apenas prováveis, elas são inevitáveis, numa era de imperialismo, do lado das colónias e semi-colónias. Nas colónias e semi-colónias (China, Turquia, Pérsia) existem populações que chegam a um bilião de pessoas, ou seja, mais da metade da população mundial. Os movimentos emancipatórios nacionais, deste lado, ou já são muito fortes, ou estão a crescer e a amadurecer. A continuação da política nacional de emancipação das colónias será inevitavelmente em guerras nacionais que elas travarão contra o imperialismo. Guerras como esta podem levar a uma guerra das grandes potências imperialistas de hoje, mas também podem levar a nada, vai depender de muitas circunstâncias. "

Notámos até agora as contradições entre o marxismo e o leninismo no terreno da questão nacional. Notamos o forte contraste entre a tese nacional-bolchevique do leninismo e o internacionalismo marxista dos esquerdistas alemães, polacos e holandeses. Aqueles que leram ou lerão o artigo de Bordiga, O Comunismo e a Questão Nacional , no Prometeo, de 15 de Setembro de 1929, notarão que esse contraste (embora oculto) também existia entre o pensamento esquerdista italiano e o pensamento leninista.

Isso não é pura coincidência. O Leninismo antimarxista escondeu no terreno da questão nacional uma profunda diferença nas condições objectivas entre a Rússia e os outros países europeus. As bases objectivas da próxima revolução russa não eram puramente socialistas, e no pensamento leninista havia essa estranha contaminação de elementos proletários e burgueses que se chocavam contra o pensamento claramente operário do Ocidente. As condições objectivas da Rússia já se reflectiam-se já no seu contraste no pensamento do futuro chefe da Revolução de Outubro.

Estas considerações, que no entanto têm a sua base teórica na concepção do materialismo histórico e que contêm o juízo da concepção nacional do leninismo, não seriam suficientes, se não estivessem baseadas na falência histórica do nacional-bolchevismo. Muitos militantes comunistas acreditaram até agora que as tácticas aplicadas pelo leninismo, bukharism e estalinismo não tinham nada a ver com o leninismo, eles pensaram que essas linhas tácticas da Internacional Comunista eram uma degeneração da linha pura do bolchevismo. Isso deveu-se à atitude diplomática de alguns opositores de esquerda, que como já assinalamos no início deste artigo, ocultaram sérias divergências com o leninismo, apelando para a degeneração do bolchevismo. As nuances zinovievistas, bukharinistas, estalinistas e mesmo trotskistas não se destacam de forma alguma do nacional-bolchevismo autenticamente leninista.

É por isso que fomos forçados a recorrer a muitas citações de Lenine para que os operários comunistas não fanáticos, que leem e pensam, pudessem compreender que o Nacional -Bolchevismo tem uma fonte única que está dentro do Leninismo.

Mas voltemo-nos então para a análise do processo histórico posterior à fundamentação teórica do nacional-leninismo para constatar a natureza anti-proletária e a sua falência definitiva.

Já vimos que Lenine, ao contrário da tese marxista de 1871, vislumbrou a possibilidade de uma grande guerra nacional na Europa, vimos que Lenine considerava o dever do proletariado em defender a nação oprimida. Para os leninistas em 1923, durante o período de ocupação e guerra económica no Ruhr, a Alemanha estava a travar uma guerra nacional. Eles alegaram que, como resultado do Tratado de Versalhes, a Alemanha se havia tornado uma nação oprimida. É por isso que Bukharin, na citação já alegada, acreditava que o proletariado alemão deveria defender a nação. Zinoviev no Rote Fahne de 17 de junho de 1923 afirmava que os comunistas são os verdadeiros defensores do país, do povo e da nação. Bukharin e Zinoviev eram então leninistas, bolcheviques puros. Lenine, em Contra a Corrente, previu a "grande guerra nacional"? É claro que Zinoviev esqueceu-se do seu artigo em The Marauders, mas Lenine não se havia esquecido em 1916 das suas considerações de 1914 contra os reformistas? Radek, exaltando Schlageter e discutindo amigavelmente sobre a Rote Fahne com o fascista Réventlow era também ele um leninista consistente, já que considerava defender a Alemanha oprimida contra o imperialismo da Entente e a burguesia alemã traidora. É verdade que Ruth Fischer foi um pouco além dos limites do leninismo, quando ela procedeu na frente dos estudantes racistas à sua justificação de anti-semitismo fascista para salvar a pátria oprimida, mas isso foi apenas um mau comportamento devido ao temperamento excessivo . Quase nada de leninista em Paul Frœlich quando escreveu no Rote Fahne de 3 de Agosto de 1923: “Não é verdade que nós, comunistas, tivéssemos sido durante a guerra antinacionais. Éramos contra a guerra, não porque éramos anti-alemães, mas porque a guerra não servia senão os interesses do capitalismo ... por isso mesmo não negamos a defesa nacional lá onde ela estava na ordem do dia ! "

Lenine disse que estava rejeitava a defesa da pátria numa guerra imperialista, mas não de uma maneira geral? Podemos ver claramente que nem Zinoviev, nem Bukharin, nem Radek, nem Frœlich trairam o leninismo na sua estratégia de 1923. Foi o leninismo sozinho que matou a revolução alemã, foi o nacional-bolchevismo que, alegando salvar a nação contra a burguesia alemã, salvou a burguesia contra o proletariado alemão. A atenção do proletariado foi desviada do seu objectivo principal: a luta contra o capitalismo internacional, seguida da separação dos sem-pátria alemães dos sem-pátria de outras nações, tagarelando sobre opressão nacional, sobre a traição nacional da burguesia alemão e outras canções pequeno-burguesas. Quais foram os resultados da aplicação consistente das tácticas leninistas nacionais no 23 alemão? Que o proletariado fosse derrotado, que a burguesia alemã se fortalecesse tanto que Bukharin no VI Congresso da Internacional Comunista foi forçado a revelar-nos a ressurreição do imperialismo alemão!

Foi assim que a ideologia nacional leninista, pelo menos no que diz respeito à "grande guerra nacional europeia", encontrou o seu túmulo no 23 alemão. E por trás dessa tumba aparece a imagem sangrenta do autor do panfleto Junius a gritar: "Não existe mais guerra nacional sob o imperialismo capitalista."

Mas se a grande guerra nacional europeia encontrou seu túmulo no 23alemão, as pequenas guerras nacionais das colónias e semi-colónias (Turquia, Pérsia e China) também morreram no pântano da reação imperialista. Elas também não podiam escapar da influência do meio histórico dominado pelo capitalismo. A história das guerras nacionais chinesa e turca é a conhecida história de Kemal Pasha e Chang-Kai-Chek. Aí estão duas tragédias sangrentas nas quais o proletariado e os comunistas turcos e chineses desempenharam o papel da vítima.

A Rússia de Lenine, do bolchevismo, da construcção socialista forneceu as armas para essas guerras nacionais a Chang-Kai-Chek e Kemal Pasha; estes, imediatamente inseridos no círculo da política imperialista, fizeram uma frente única com os imperialistas contra o proletariado, viraram as armas que a Rússia lhes fornecia contra o proletariado e os comunistas. Mesmo assim, nessas circunstâncias, foram aplicadas tácticas leninistas puras, digam o que disserem Trotsky e os seus seguidores. O proletariado chinês, o proletariado turco, foi instruído a defender a sua pátria oprimida pelos imperialistas e os agentes dos imperialistas; a cruzada das nações oprimidas contra o imperialismo foi proclamada. O próprio Lenine não defendeu também o uso da frente única das nações oprimidas contra o imperialismo? Certamente não se pode afirmar que a luta pela defesa da nação oprimida se possa conciliar com os  interesses revolucionários dos trabalhadores, pois a luta do proletariado contra o capitalismo e o imperialismo internacional é a luta contra a sua própria burguesia, não em nome da sua nação, mas em nome do proletariado internacional. O que mais importava na China para o proletariado chinês e internacional era a entrada da classe operária chinesa na luta revolucionária proletária e não na luta nacional, que era reaccionária na sua essência, que em nenhum caso poderia levar à emancipação nacional da China, mas em todo caso à conexão da burguesia chinesa com o imperialismo. Podemos hoje chamar guerras nacionais a conflitos que não podem escapar ao meio histórico do imperialismo? Não, evidentemente? Além disso, a ideologia das guerras nacionais, da pátria não capitalista e não imperialista falhou completamente em terríveis derrotas e num mar de sangue proletário. E a sagrada cruzada das nações oprimidas contra o imperialismo opressor transforma-se numa ligação das burguesias nativas e contra o proletariado mundial. Se na China e na Turquia o mito da guerra nacional terminou em tragédia, no Afeganistão e na Pérsia ela morreu sob o ridículo da história na farsa de Amanullah.

As próprias colónias, Egipto, Índia, esses países que incluem milhões de homens e que Lenine esperava lançar no seu fogo nacional contra o imperialismo do colosso capitalista, não nos permitem uma guerra nacional. Porque no Swaraj, no Wafd, etc. a burguesia nativa já perdeu a sua agressividade nacional, e procura o compromisso, a aliança submissa com o colosso imperialista. E, no entanto, os ferozes leninistas ainda estão a preparar novas cruzadas nacionalistas, isto é, novos massacres de proletários coloniais em vez de se preparar para a revolução socialista desenvolvendo a consciência do proletariado dos mesmos países.

Que conclusões podemos retirar desta análise de pensamentos e de factos sobre a questão nacional ?

 Que não existe uma questão nacional para o proletariado, que os operários não podem tirar qualquer proveito da existência para eles de uma pátria e que não têm que se ocupar com as opressões nacionais, do direito das nações a dispor delas mesmo. O proletariado está a desenvolver o seu movimento, fazendo a sua revolução como classe e não como nação. Imediatamente após a vitória do proletariado em várias nações, as fronteiras só podem desaparecer. A tese leninista da autonomia nacional dos estados socialistas é um absurdo. Lenine afirma que enquanto o estado existir, a nação continuará a ser uma necessidade. Ora, a nação é apenas um produto do estado burguês e não do estado proletário. Os estados proletários só podem tender a unificar e remover fronteiras. Muito melhor: o socialismo como ordem económica e social só pode ser realizado a partir do desaparecimento total das fronteiras. A supressão das diferenças económicas nacionais não pode ser alcançada sem a eliminação dos limites nacionais, que, aliás, são artificiais e convencionais. A ditadura do proletariado, o Estado operário, que não é o estado burguês, só pode ter um carácter universal e não nacional, democraticamente unitário e não federativo. Os comunistas marxistas não precisam construir os Estados Unidos da Europa ou do mundo, o seu objectivo é a República universal dos conselhos operários.

Os marxistas comunistas devem, portanto, propagar entre as amplas massas operárias o ódio à pátria, que é um meio para o capitalismo semear a divisão entre os proletários dos diferentes países. Eles devem preconizar entre as amplas massas operárias a necessidade da fraternização, da união internacional de todos os proletários em todos os países. Eles devem lutar ferozmente não apenas contra todas as tendências chauvinistas, fascistas ou social-democratas, que envenenam até mesmo os círculos da classe operária, mas também todas as tendências ocultas, que tentariam dar alguma base ao ideal nacional. Eles devem lutar contra o mito das guerras nacionais, o mito das cruzadas populares anti-imperialistas. Eles devem ancorar, usando a experiência histórica, no fundo das massas proletárias a fé na vitória do socialismo, apenas em bases puramente classistas, puramente internacionalistas.

Portanto, será necessário concentrar todos os nossos esforços no renascimento do genuíno internacionalismo marxista, no qual os social-reformistas e os nacional-bolcheviques semearam confusão.

Estamos bem cientes de que a nossa propaganda, por si só, não pode realizar esse esforço de trazer o internacionalismo de volta às massas e desenvolvê-lo  a um grau até então desconhecido. Sabemos que a nossa propaganda, embora necessária, não terá a menor influência se não for confirmada por desenvolvimentos subsequentes no processo histórico. Mas também sabemos que estes desenvolvimentos só podem empurrar o proletariado para posições que os verdadeiros internacionalistas nunca traíram, que Rosa Luxemburgo manteve até a morte.


 Fonte: https://les7duquebec.net/archives/260906



Notas

 

  1. L’Ouvrier Communiste, n°2/3. Octobre 1929. Léninisme ou marxisme ? L’impérialisme et la question nationale. Url  https://bataillesocialiste.wordpress.com/documents-historiques/1929-10-leninisme-ou-marxisme-limperialisme-et-la-question-nationale-goc/

 

   Fonte : QUESTION NATIONALE ET RÉVOLUTION PROLÉTARIENNE SOUS L’IMPÉRIALISME MODERNE.  142 pages • 15,5 €  •  EAN : 9782343114743

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Para descarregar o volume gratuio em Inglês, em Italiano e em Espanhol : https://les7duquebec.net/archives/225366

 

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