Naquela que já foi considerada a crise pandémica provocada pelo “vírus da desigualdade”, existem estudos e relatos que demonstram que os mais pobres – os operários, os trabalhadores assalariados, os trabalhadores precários e em lay-off, os desempregados – demorarão cerca de 14 anos a recuperar da crise, enquanto os mais ricos levarão cerca de 9 meses par o conseguir.
O estudo,
realizado por uma daquelas milhentas ONG que pululam em torno do poder político
burguês e vivem às custas da mais-valia extorquida a quem toda a riqueza
produz, peca por defeito. O que esta crise pandémica, que veio exponenciar a
crise sistémica do sistema capitalista e imperialista mundial, prova, é que as
fortunas dos bilionários de todo o mundo cresceram exponencialmente, na razão
directa da miséria que tem provocado entre quem nada mais tem do que a sua
força de trabalho para vender – quando a pode vender.
Basta atender
às conclusões do mais recente relatório da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), para se perceber que a crise sistémica do capitalismo e do
imperialismo, agravada pela crise pandémica Covid-19, provocaram uma crise sem
precedentes no mercado laboral, em grande medida devido às imposições
terroristas e fascistas, alegadamente de combate ao Covid-19.
Ao que se
assiste é à diminuição generalizada, quer das horas de trabalho, quer dos
salários. A um acentuar do desemprego e da precariedade. Segundo a OIT,
“...para 2021, prevê-se uma recuperação lenta, desigual e incerta...”
Permitimo-nos discordar. Não só não haverá recuperação – lenta ou incerta –
como se registará o seu oposto.
É que, para
recuperar o ritmo da acumulação de capital desejado, a burguesia capitalista e
imperialista irá impôr a fórmula do costume, mas agravada. Isto é, aprofundar,
alargar e agravar a exploração dos operários e restantes trabalhadores
assalariados, extrair o máximo de mais-valia – de sub-produto – que lhe for
possível, mesmo à custa da saúde e da vida de quem explora, para se tornar
ainda mais rica e poderosa.
Na sua sanha
de levar a cabo a “reinicialização” do sistema capitalista (Great Reset), a
burguesia levou a uma diminuição de cerca de 8.8%, à escala mundial, das horas
de trabalho, somente em relação ao quarto trimestre de 2019. Ou seja, o
equivalente, segundo as mesmas estatísticas a 255 milhões de empregos a tempo
inteiro, um índice quatro vezes superior àquele que foi provocado pela crise
financeira mundial de 2009. Uma diminuição das horas de trabalho que, contudo,
não colocou em causa o enriquecimento dos grandes bilionários mas que, em
sentido inverso afectou 114 milhões de operários e trabalhadores assalariados.
Como seria de
esperar, o impacto mais severo destas consequências está a recair sobre os
trabalhadores mais jovens e, também, sobre as mulheres. Ainda segundo a OIT, a taxa de ocupação dos
trabalhadores mais jovens – entre os 15 e os 24 anos – diminuiu 8,7%, enquanto
nos adultos tal taxa representou uma diminuição de 3.7%. Quanto às mulheres,
foram mais afectadas do que os homens pelas consequências da crise pandémica. A
nível mundial, a sua taxa de ocupação diminuiu cerca de 5%, enquanto a dos
homens se quedou pelos 3,9%.
Segundo a
OIT, «... houve uma saída do mercado de trabalho por não poder trabalhar,
provavelmente devido às restrições da pandemia, ou porque as pessoas afectadas
deixaram de procurar trabalho...”, que conclui que “... a análise do
desemprego, por si só, subestima drasticamente o impacto da Covid-19 no mercado
de trabalho»,
Tendo as horas de trabalho sofrido a diminuição que acima se assinala, nada mais seria de esperar, num mercado que se regula pelas leis da procura e da oferta, que tivesse havido uma concomitante redução dos salários provenientes da escravatura assalariada, na ordem dos 8,3%, e isto apesar da aplicação de “medidas de apoio” para “garantir” os salários, medidas que serviram sobretudo para os capitalistas se verem ressarcidos, por parte do Estado, de uma parte do sobre-produto que não conseguiram arrecadar directamente, pela exploração da mais-valia. Medidas que, no seu conjunto, equivaleram, a nível mundial, a 3.959 milhões de euros, o que equivale a 4,4% do Produto Interno Bruto Mundial (PIB).
O sector mais afectado, segundo a OIT, foi o da hotelaria e restauração, onde se verificou a diminuição de mais de 20% da taxa de ocupação, seguida do comércio retalhista e das actividades de producção industrial. Panorama que, em Portugal, se apresenta muito mais negativo, onde as taxas de ocupação registaram quedas muitas vezes superiores a 50%!
A escravatura assalariada, agravada pela crise sistémica do sistema capitalista e imperialista, exponenciada pela crise pandémica, nunca terá solução no quadro do modo de produção capitalista que a gerou. Acreditar nas promessas de pleno emprego é um autêntico suicídio. Os operários e os trabalhadores assalariados são os únicos a ter nas suas mãos a solução para a crise. São eles os produtores de toda a riqueza. Basta-lhes remover do caminho quem lhes rouba essa riqueza e se apropria abusiva e criminosamente dos futos do seu trabalho.
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