Parece ter passado despercebido – sobretudo para os jornalistas de merda que pululam pelo espaço mediático controlado pela burguesia – aquilo que, na noite da consagração da vitória pel sua reeleição, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de afirmar.
Para além da populista referência à pandemia e às juras de que tudo faria para que ela viesse a ser debelada, o reeleito presidente disse:
· Que tudo faria para que o país tivesse um governo forte
· Que o país necessitava de uma alternativa igualmente forte e assertiva
· E que tudo faria para que Portugal não se metesse em (a)venturas!
Nesta, que terá sido sem dúvidas a parte mais importante e esclarecedora do seu discurso de vitória, ficou claríssimo qual a agenda política de Marcelo para os próximos cinco anos de mandato:
· Prosseguir o “romance” que mantém com Costa, assegurando-lhe as condições políticas e institucionais para que prossiga a sua política reaccionária, terrorista, até porque, segundo Marcelo, é necessário um “governo forte”, que imponha uma disciplina “musculada”;
· Criar as condições para que o PSD – com ou sem Rui Rio – se afirmem como uma oposição forte a Costa e seus lacaios, num quadro em que ele percebe que a direita em Portugal entrou em processo de reconfiguração
· Processo que se deve a um aventureiro fascista, levado ao colo para as luzes da ribalta pela política oportunista e reaccionária que Costa e as suas muletas do PCP, BE e Verdes (e agora, também o PAN) levaram a cabo ao longo destes últimos 5 anos.
As raízes do populismo que agora começa a ganhar alguma expressão no panorama político burguês dominante, deve-se não tanto aos méritos do seu líder, mas ao demérito daqueles que, em nome da “convergência” de “esquerda”, literalmente frustraram as expectativas de vários sectores do proletariado e da pequena burguesia – dos trabalhadores assalariados até aos pequenos e médios empresários – que vislumbraram no populismo fascista de Ventura respostas mais consentâneas com os seus preconceitos e fantasmas ideológicos e culturais, para além da sua cobardia política congénita.
Agora que Ventura já contribuiu para que se aprofundasse o clima de terror e de medo que Costa fizera introduzir com a desculpa da crise pandémica, há que impedir que este se constitua como bloqueio àquilo que Marcelo considerou, no seu discurso de vitória, como a “necessidade” de haver uma “alternativa” forte ao governo de Costa, e se lhe envie uma carta de dispensa a anunciar o seu despedimento com "justa causa".
Marcelo, ao avisar que pretendia facilitar uma “alternativa forte” ao governo de Costa, dá a entender que a “direita social” que diz representar não perdoará a Ventura o facto de este estar a tentar “romper com o espectro da direita nacional” (Ventura dixit no discurso de encerramento da noite eleitoral).
Aliás, congregando Marcelo o apoio do “centrão” – direita democrática, direita social e direita humanista, vá-se lá saber o que isto é -, fizeram saber a Ventura que não admitirão que este se aproprie do exclusivo de falar com a mais alta divindade do universo e, ainda por cima, que esta lhe revele qual a missão que este deve levar a cabo numa parcela da Terra a que vulgarmente se dá o nome de Portugal.
Ainda hoje, concluído que está o processo eleitoral, muitos se questionam porque defendemos que este acto se revelou uma autêntica fraude eleitoral. Pois bem:
· Uma recandidatura que é anunciada por Costa no âmbito de uma deslocação àquela que é a maior empresa de origem alemã a operar em território português, só ela responsável por uma das maiores taxas de exportação e correspondendo a uma percentagem significativa do PIB nacional, tem, necessáriamente, uma mensagem política associada à condição de colónia de Portugal e à observância do governo e da presidência da República face aos ditames do imperialismo germânico;
· Apesar de, na altura, Marcelo ter dado a entender, pelo seu semblante de surpresa, que estava “a leste” desta iniciativa de Costa, todos perceberão que uma tal iniciativa só pode derivar de um entendimento prévio entre os envolvidos.
· Ou seja, ao pré-anunciar o apoio do PS – ou, pelo menos, de Costa e seus lacaios - a Marcelo, Costa, como é seu hábito, denegou a liberdade e a democracia ao impor o candidato do regime ao eleitorado que, pura e simplesmente, deveria comer e calar, isto é, aceitá-lo como seu candidato.
· O resto do folclore, do circo eleitoral, foi o que se sabe. Uma trafulha a tentar ganhar espaço político no seu próprio partido – Ana Gomes – dois candidatos que são responsáveis pela epifenómeno populista fascista e dois bobos da corte que se apresentaram, apenas e tão só, para, segundo a expressão popular, “encher chouriços”.
Nestas condições, em que o candidato vencedor é apresentado muitos meses antes do acto eleitoral, como não considerar absolutamente fraudulentas estas eleições?
Dir-se-á, que nas condições de um modo de produção dominante – o capitalismo e o seu estadio supremo , o imperialismo – toda e qualquer eleição é uma mascarada e, em última análise, não proporcionará qualquer alteração qualitativa do quadro da exploração e da guerra, fome e miséria em que o regime capitalista assenta. É verdade!
Porém, também é verdade que:
· As eleições legislativas e as autárquicas se realizam num quadro diferente, em que a burguesia é forçada, para não perder de vez a sua máscara de hipocrisia “democrática", a criar a ilusão de que será o “povo” a eleger os “seus candidatos”;
· Podendo os verdadeiros comunistas aproveitar o acto, não para criarem a ilusão de que, no quadro do sistema capitalista dominante, é possível alterar, a favor dos operários e restantes trabalhadores assalariados, as condições da sua exploração, mas, precisamente, para divulgarem o seu programa marxista, comunista, concitando-os a organizarem-se e a prepararem-se para opor a guerra civil revolucionária à guerra imperialista mundial que já se trava.
A lição que os operários e restantes assalariados têm de retirar deste acto eleitoral só pode ser a de que nunca será no quadro de eleições burguesas que alcançará o fim da escravatura assalariada e, muito menos, libertará a humanidade do sistema de exploração do homem pelo homem, que é o seu devir histórico.
A burguesia une-se, “desune-se”, “reconfigura-se”, não para defender os seus interesses mas precisamente para melhorar a sua máquina de exploração e repressão sobre quem só tem a sua força de trabalho para vender.
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