Realizou-se
este domingo, dia 24 de Janeiro, mais um acto eleitoral, desta feita destinado
a reeleger o Presidente da República, para mais um mandato de 5 anos. Os
estrondosos números da abstenção, para além de retirarem qualquer legitimidade ao
acto eleitoral e ao eleito, demonstram que a classe operária e os trabalhadores
assalariados, ainda que não tenham consciência relativamente ao que pretendem
para assegurar o seu futuro, já manifestam uma enorme consciência do que NÃO
querem!
É
necessário enfatizar que a abstenção – a maior de sempre em eleições
presidenciais, se situou nos cerca de 61%, à qual se têm de adicionar mais de
2% de votos nulos e em branco. Não podemos perder de vista, também, que num
universo de 10.791.490 eleitores,
apenas votaram 4.261.209, tendo
Marcelo obtido 2.533.799 votos
expressos. Ou seja, a sua “representatividade, face ao universo de eleitores inscritos,
não passa de cerca de 23,48% !!!
A
classe operária e os trabalhadores assalariados já vêm a demonstrar o seu
desprezo pelas instituições burguesas, bem como pelas personagens políticas que
as representam e defendem, desde há pelo menos uma década. Esse desprezo não
tem a ver com a pandemia ou com as condições climatéricas. Lembramos que em 2011, quando Cavaco Silva – o energúmeno
de Boliqueime - ganhou à primeira volta
com 52,95% dos votos expressos, a abstenção foi de 55,48%! Cinco anos volvidos,
em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa não
fez melhor. Apesar de vencer as eleições à primeira volta, com 52% dos votos
expressos, a abstenção registou uma taxa de 51,34% relativa ao universo de
votantes inscritos nos cadernos eleitorais.
Claro
que a burguesia e todos os seus lacaios vão tentar fazer crer que este
resultado se deveu à alegada crise pandémica de Covid-19, à situação
climatérica ou a outros fenómenos externos a este fenómeno. Se é certo que quem semeia ventos colhe tempestades, apesar do clima de terror, de medo, da
repressão inqualificável, do terrorista ataque às liberdades consagradas pela
própria Constituição burguesa, a resposta que a abstenção encerra é
eminentemente política.
E,
a mensagem que os operários e os trabalhadores assalariados passaram, ao
abster-se ou ao votarem em branco ou nulo, foi a de que não querem mais do
mesmo. O regime que os engana, que representa os interesses daqueles que impiedosamente
os exploram para reproduzir a acumulação do capital. O regime que representa
aqueles que, quanto mais profunda e sistémica for a crise económica e
pandémica, mais ricos se tornam, a avaliar pelas conclusões a que chegam várias
agências internacionais – incluindo a FORBES – que revelam ser cada vez maior o
número de bilionários, na razão directa do agravamento do desemprego, da
precariedade, da morte e da miséria de quem trabalha ou procura vender a sua
força de trabalho.
Tal
como o sistema económico do capital – a infraestrutura económica do capitalismo
e do imperialismo – a sua superestrutura está em manifesta deliquescência. Já
não consegue enganar por muito mais tempo aqueles que pretende dominar e
explorar. É ao canto da sereia do sistema a que estamos a assistir. A hipocrisia,
a mentira, a manipulação, o medo, já não funcionam como condicionador das
consciências.
Se
é certo que, ainda assim, o sistema capitalista e imperialista dominantes consegue
enganar muitos operários e assalariados durante muito tempo, não os conseguirá
enganar durante o tempo todo. A crise económica e política sistémica, a
pandemia que a agrava, acompanhada da deliquescência da superestrutura política
e ideológica do sistema capitalista e imperialista cada vez mais pronunciada,
profunda e alargada, prenunciam o fim deste sistema caduco e anunciam um novo
modo de produção forjado pela única classe que tem o devir histórico de libertar toda a humanidade da escravatura assalariada.
Portugal,
como país enquadrado no sistema capitalista e imperialista mundial, não foge a
uma regra a que se assiste: a de que quase todos os países do mundo inteiro
estão em eleições permanentes, seja para a área legislativa, seja para
constituir governo, seja para eleger o Presidente da República.
Todos
eles têm um objectivo em comum. Como assegurar que as suas populações em
desequilíbrio estejam coladas à televisão ou a outros órgãos de “comunicação
social”, para serem alienadas pelos diversos regulamentos e avisos, por uma
falsa impressão de segurança, para que concitem uma popularidade necessária à
sua reeleição.
Ao
contrário de várias correntes oportunistas que sugerem a abstenção como “forma
de luta”, os comunistas nunca sugeriram a abstenção, em circunstância alguma.
Acreditam mesmo que abster-se é votar a favor ... de forma envergonhada!
Traição maior ao programa autónomo revolucionário do proletariado teria sido,
face a uma autêntica farsa eleitoral que se desenrolava perante os nossos
olhos, indicar um dos candidatos de um regime "floral" que apenas
interessa â burguesia.
O que os
comunistas propuseram ficou bem claro. Que se fosse votar, mas NULO! Isso
poderia constituir, desde logo, uma clara declaração de que não se está de
acordo com o programa de nenhum dos candidatos que se apresentou a estas
eleições. Inscrever a frase VIVA A REVOLUÇÃO
COMUNISTA teria, adicionalmente, um significado político enorme, já que
quem o fez demonstraria, não só que sabe o que NÃO QUER, como, e sobretudo, evidenciaria que sabe O QUE QUER!
O que estes
resultados evidenciam é que operários e trabalhadores assalariados, uma vez
mais, não se deixaram enganar pela campanha mediática ou pelos uivos da falsa
esquerda patética de serviço, cuja missão foi, justamente, a de credenciar toda
a sorte de disparates e promessas vãs que os diferentes candidatos foram
propondo durante a campanha eleitoral, para dar a cada um dos candidatos que se
apresentava a voto o máximo apoio “popular”, que é extrapolado pela comunicação
social burguesa.
Tal como
referia em artigo anterior, as últimas mascaradas eleitorais levadas a cabo
pela burguesia para legitimar a sua ditadura “democrática” sobre os operários e
trabalhadores assalariados, têm-se traduzido numa crescente abstenção por parte
daqueles que só têm a sua força de trabalho para vender e estas eleições
presidenciais, em 2021, também denotam uma consciência, por parte de quem só
possui a sua força de trabalho para vender, um elevar da consciência de que não
é por mudar de pavão que encontra uma solução para o seu direito à dignidade, à
saúde, à educação, à habitação, ao transporte, ao lazer.
Durante as
próximas semanas ouviremos várias teorias sobre a “reconfiguração” da direita,
a confirmação das juras de amor entre Rui Rio e André Ventura, o passar de
culpas da falsa esquerda de uns para os outros, pelo facto de a extrema-direita
ter progredido de uma forma exponencial. Ouviremos relatos sobre Costa, como
tendo sido o único a sair vitorioso deste ciclo eleitoral.
Os operários
e os restantes assalariados não se devem deixar iludir por toda a sorte de
patranhas com que a burguesia e os seus partidos – tanto os da direita, como os
da falsa esquerda – os tentará, uma vez mais, endrominar. Têm de ser
resolutos, têm de ser ousados, têm de aproveitar o momento histórico em que
estão diante de um estado em deliquescência, de uma crise económica sistémica
do sistema capitalista e imperialista, agravada por uma crise pandémica.
Enfim, têm de
estar conscientes de que, só a Revolução Comunista, assente num modo de produção
que tenha colectivizado todos os meios de produção e assegurado o fim da escravatura
assalariada os poderá fazer concretizar uma nova sociedade, finalmente liberta
da exploração do homem pelo homem, da escravatura assalariada e da guerra.
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