Situado na freguesia de Camarate, no concelho de Loures, o Bairro
da Torre ergueu-se em terrenos onde, no Século XVI, proliferavam quintas
vinícolas da nobreza lisboeta, onde se produzia a casta camarate. Até meados do
Século XX cumpria a função, juntamente com a restante “região saloia”, de
abastecer a cidade de Lisboa.
Seguiu-se o desenvolvimento industrial e a subsequente terceirização que transformaram as freguesias rurais do Norte de Lisboa em
autênticos dormitórios da capital, sobretudo para a classe operária da sua
Cintura Industrial e para trabalhadores de serviços não qualificados e mal
pagos.
O movimento de ocupação de terras e subsequente construção de
barracas tem inicio em finais de 1960. São sobretudo migrantes oriundos do
norte do país e cidadãos que chegam ao nosso país após os processos de
independência que decorreram da luta anti-colonial e pela independência dos
países africanos – ex-colónias de Portugal – que fazem com que este tipo de
bairros cresça exponencialmente e sem nenhum plano de urbanização.
Nascido em terrenos rurais que circundavam o futuro aeroporto de
Lisboa – ainda em construcção – ergue-se o Bairro da Torre, e muitos outros
bairros de barracas. Os operários viram na auto-construcção uma solução para os
seus problemas de habitação. Apesar de terem progressivamente melhorado,
consoante as disponibilidades financeiras das famílias que neles habitavam,
essas melhorias nunca foram de molde a conferir segurança, salubridade, dignidade
a esses operários e trabalhadores e suas famílias.
Em 2011, ao abrigo do Programa de Realojamento (PER), o bairro
começou a ser demolido. Porém, aí continuaram a viver, desde então, 23
famílias, em condições extremamente precárias. E é assim que, em
pleno Século XXI, habitam seres humanos no Bairro da Torre, em Camarate, um dos
mais degradados bairros do concelho de Loures, no Distrito de Lisboa.
Num terreno que foi ocupado na década de 1970 por cerca de 200 a
250 pessoas, residem actualmente neste bairro cerca de 18 famílias, sem acesso
a luz eléctrica, saneamento básico e água. Os moradores
das barracas são portugueses, muitos deles de origem africana e cigana, e
brancos. A câmara liderada por Bernardino Soares nada fez pelos pobres que
ficaram sem casa. Uns gatunos, estes social-fascistas do PCP.
Não é pois de surpreender que o concelho de Loures seja o dos que, a nível
nacional, mais aumento de casos de infecção por COVID-19 apresente. Lares para
idosos sem quaisquer apoios e sem quaisquer planos de contingência, a par de
zonas degradadas, insalubres e miseráveis de que o Bairro da Torre não é caso
único, só poderiam ter como resultado um quadro desses.
Em Julho de 2018, o camarada Arnaldo Matos,
num tuíte vigoroso, relatando um incêndio que ali havia ocorrido e levara ao
desalojamento de 14 cidadãos, “...mulheres e crianças sem lugar para dormir e
numa autarquia (município de Loures) dirigida por Bernardino Soares, do
PCP...”, denunciava que continuavam a “...haver bairros de barracas em Lisboa, capital do
País...”.
Prosseguindo a denúncia, o camarada Arnaldo Matos referiu que “...o
incêndio teve origem no facto de que a companhia de electricidade , a EDP dos
chineses, não ligou o fornecimento da luz eléctrica às barracas em condições de
segurança. Cuidados da EDP só para crápulas como Pinho, Luís Amado, Mexia e
Eduardo Catroga.”
A situação de degradação actual chegou a um ponto que os moradores deste
precário Bairro da Torre, ainda iludidos com a “generosidade” do poder burguês
instalado, quer na Câmara Municipal de Loures, quer na presidência da
República, quer no governo, decidiram escrever uma carta aberta a todas estas
entidades a pedir uma intervenção urgente que minimizasse a sua situação de vulnerabilidade.
A resposta foi, e será sempre, a que se antecipa. O total desprezo por
parte da vereação social-fascista de Bernardino Soares para com as condições de
miséria a que aqueles cidadãos estão sujeitos. Não satisfeito, Bernardino
Soares tem o desplante de tentar manipular a “opinião pública” do concelho de
Loures, ao afirmar que ele e a sua equipa bem que gostariam de resolver a
situação, mas que se vê confrontado com a recusa das famílias das propostas de
realojamento que lhe têm sido feitas pela autarquia que dirige.
Na carta, subscrita pela Associação de Moradores do Bairro da Torre e
assinada por 313 moradores, para além da denúncia das condições vulneráveis a
que os moradores estão sujeitos, refere-se o contexto do surto de COVID-19 que encontra
um bairro fragilizado, potencialmente alvo de uma pandemia como a do
coronavirus e exige-se o fornecimento de água, energia eléctrica, saneamento e
condições de habitabilidade.
É preciso relembrar que o incêndio ocorrido em Julho de 2018 teve origem
num curto-circuito, muito provavelmente provocado pelas “baixadas” de
electricidade que os moradores fizeram desde 2016, precisamente para, face aos
diminutos ou inexistentes rendimentos, fazerem face às suas necessidades de
energia eléctrica.
Depois do supracitado incêndio os cerca de 35 habitantes por ele afectados, ou seja, 13
famílias, sobrevivem em condições ainda mais precárias. E, se não aceitam
abandonar o bairro é porque continuam a alimentar o desejo de que aquele seja
transformado num bairro novo, sua morada permanente.
Apesar das “baixadas” ditas ilegais que proporcionavam luz ao bairro, os
moradores pagavam a energia eléctrica que utilizavam à EDP. Deixaram de pagar
para que o seu fornecimento fosse regularizado e acompanhado de medidas de
segurança que prevenissem novos incêndios.
A EDP, apesar de haver uma resolução aprovada por todos os partidos do
“arco parlamentar” em Junho de 2017, a recomendar ao governo Costa/Centeno, com
o apoio das muletas do PCP/BE/Verdes, “a prestação do serviço público de electricidade
aos habitantes dos bairros e núcleos de habitações precárias”, decidiu, pura e
simplesmente, cortar a energia, alegando que os moradores tinham deixado de
proceder ao pagamento da mesma!
A maioria das casas continua às escuras, Os seus habitantes, com
rendimentos muito baixos ou inexistentes, são confrontados com a opção entre
comprar alimentos – diariamente, uma vez que não podem ligar frigoríficos à
corrente eléctrica que não existe - e pagar transportes para se deslocar para
os seus locais de trabalho ou pagarem a factura da água, da electricidade ou de
uma renda de casa.
Para além de vergonhosa é criminosa a posição de Bernardino Soares do PCP e
da autarquia a que preside. Com uma gestão absolutamente caótica, prefere fazer
jorrar verbas para festivais de natureza popular duvidosa ou para encher os
bolsos de amigos e correlegionários, do que investir no bem estar, na segurança
e na dignidade destes moradores.
É manifesta a sua falta de empatia para com os
moradores do Bairro da Torre que coabitam com ratazanas, todo o tipo de doenças
– incluindo infecciosas -, fome, violência policial e racista – sobretudo sobre
a raça dos pobres. E, agora, exponenciado por estas condições de salubridade e
habitação absolutamente degradantes, mais em risco de serem infectados pelo
COVID-19.
Uma população maioritariamente operária e
trabalhadora – grande parte agora no desemprego, na precariedade, recorrendo
aos biscates ou sendo obrigados ao lay
off que lhes rouba cerca de 33% do já magro rendimento – abandonada pelo
poder burguês.
Para esta população não há abraços nem selfies
de Marcelo Rebelo de Sousa e a única preocupação do Ministério da Saúde e da
Direcção-Geral da Saúde (DGS), é a de impor o confinamento, nem que seja
recorrendo a uma musculada força policial.
Planos de desinfecção do Bairro, programas de
testagem da população, distribuição de máscaras e hidro-gel desinfectante, ou
de profilaxia que assegure a contenção da pandemia no bairro, nem pensar!
Os habitantes do Bairro da Torre foram abandonados
à sua sorte. Quer pelo governo de António Costa, quer pelo presidente da Câmara
Municipal de Loures, o social-fascista e cacique do PCP, Bernardino Soares, que
preside a um dos concelhos de Lisboa e Vale do Tejo, que maior crescimento de
infectados regista e número de mortos entre idosos que estão ao abandono em
lares daquele concelho.
Se tem sido esta a actuação de Bernardino
Soares, em matéria de crimes contra a população dos bairros pobres e dos
munícipes de Loures, não ficarão atrás Graça Freitas, directora da DGS, e a
ministra da Saúde, Marta Temido. A sua criminosa inépcia está a levar a um
autêntico genocídio sanitário entre os idosos dos lares que existem naquele
concelho e a expansão do número de casos de infecção por COVID-19, sobretudo em
bairros degradados como é o Bairro da Torre, devido a uma gestão
caótica, quer dos recursos financeiros a atribuir ao sector da saúde, quer
quanto à ausência de planeamento da prevenção e do ataque adequado à pandemia.
Os moradores do Bairro da Torre não devem
perder tempo com quem tem constituído a razão do seu problema. A solução só
pode ser imposta com a solidariedade de moradores de outros bairros degradados
do concelho e com os munícipes de Loures que, tal como eles próprios, são explorados
por este governo e por esta autarquia.
Retirado de: http://www.lutapopularonline.org/index.php/pais/96-local/2731-bairro-da-torre-camarate-insalubridade-e-morte-situado-na-freguesia-de-camarate-no-concelho-de-loures-o-bairro-da-torre-ergueu-se-em-terrenos-onde-no-seculo-xvi-proliferavam-quintas-vinicolas-da-nobreza-lisboeta-onde-se-produzia-a-casta-camarate-ate-meado
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