O bom senso comum revela-nos que quando crimes e actos criminosos não são julgados e os seus autores – morais e materiais – não são condenados, o que se pode esperar é que eles se repliquem continuamente.
Fixemos bem este número! 66 mortos nos incêndios que assolaram Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira, ocorridos em 2017.Assinalam-se hoje, precisamente , três anos! E o que aconteceu? Nenhum dos verdadeiros responsáveis por essa tragédia humana foi levado a tribunal e, muito menos, condenado. Arranjaram já uns quantos bodes expiatórios para os acusar e levar a tribunal, mas nem mesmo esses foram até agora condenados.
Não foram, como tentou o energúmeno António Costa fazer acreditar na altura, as “circunstâncias atmosféricas particulares” que determinaram a gravidade e extensão dos incêndios naquela zona do país. Foi a incúria criminosa, o total desinvestimento na agricultura e nos organismos do Estado que deveriam assegurar a fiscalização dos procedimentos de limpeza e de segurança que pudessem prevenir os incêndios.
As próprias medidas entretanto tomadas e apresentadas como sendo destinadas a resolver o problema, pelos resultados em mortos que entretanto causaram – em 2018, segundo a imprensa faleceram 12 pessoas em queimadas destinadas a limpar os terrenos, depois deixou de haver notícia, não porque tenham deixado de haver casos mas porque o silêncio foi imposto – só podem ser consideradas terroristas: os pequenos proprietários florestais viram-se confrontados com o dilema, ou pagar uma multa avultada ou pagar custos astronómicos para manter o seu terreno limpo.
O melhor é ficar sem terra… e é isso que verdadeiramente está em jogo. Costa e o seu Conselho de Ministros, com a prestimosa colaboração da assembleia da República e dos partidos que por ora lá vegetam e o assentimento do lastimável presidente Marcelo, não passam de cipaios dos novos capitalistas florestais em processo de acumulação primitiva.
As sucessivas “cativações” de Centeno, apoiadas por Costa e pelas muletas do PCP/BE e Verdes, agravaram o quadro de abandono dos bombeiros à sua sorte, com sucessivos cortes orçamentais e falta de investimento em meios de socorro e combate aos incêndios, foram a cereja em cima do bolo. E, esse é mais um elemento que nos diz que não estamos somente perante uma “fatalidade”, mas sim diante de um crime anunciado, com os resultados trágicos que se conhecem. E é por isso, também, que não calaremos a nossa voz a exigir a punição dos crimes e dos seus autores.
E, apesar da tragédia que ocorria perante os nossos olhos, no mesmo ano de 2017, em meados de Outubro, ocorreram novos incêndios, desta vez nos distritos de Viseu, Guarda, Castelo Branco, Aveiro e Leiria, onde vieram a morrer – devido à mesma incúria criminosa do Estado – mais 45 cidadãos. A revelar que a impunidade faz o seu caminho e leva os criminosos a sentirem-se à vontade para cometer os seus crimes!
Ou seja, o ano de 2017 foi o pior ano de que há memória e registo no que concerne o número de mortes em incêndios florestais. Mais de 100! Para além disso, naquele ano, registaram-se mais de 500 mil hectares de área ardida e muitos milhões de euros de destruição de habitações, terrenos agrícolas e meios de produção.
Ao mesmo tempo, o Estado, que supostamente deve velar pela segurança dos cidadãos, desertou dessa função. Ministros, secretários e subsecretários de Estado, toda a cadeia de comando da Protecção Civil, adoptaram a postura cínica e odiosa de aplaudir o esforço, valentia, empenho e coragem dos bombeiros e respectivas corporações – os assim designados soldados da paz – no seu esforço para combater e apagar os fogos.
Mas, fizeram-no, não por que eles de facto o merecessem inteira e justamente, mas para desviar as atenções do povo para o facto de ser o governo e os órgãos de protecção que tutelam os responsáveis materiais e morais dos fogos e dos assassinatos que deles resultaram. Crimes que, por continuarem sem castigo, fizeram com que mais assassinatos e ataques às riquezas naturais e instrumentais – os chamados meios de produção – resultassem. Permitiram que o ministro Cabrita continuasse no seu lugar, todos estes anos, sem tomar medidas para que incêndios de enorme grandeza ocorressem.
Confiar na possibilidade de um governo que é o gestor de negócios do grande capital e que se está profundamente a borrifar para a defesa da segurança e dos rendimentos de quem trabalha, é perpetuar a impunidade desta gente que devia já ter respondido, há muito, pelas mortes – autênticos assassinatos – que ocorreram, quer em Pedrógão, quer nos distritos de Viseu, Guarda, Castelo Branco, Aveiro e Leiria e,nos anos seguintes, vários outros, dos quais destacamos o incêndio de Monchique.
Retirado de: http://www.lutapopularonline.org/index.php/pais/104-politica-geral/2735-pedrogao-grande-3-anos-de-impunidade
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