Por Marc Rousset.
Os 750 biliões do plano de
relançamento
Os 750 biliões do
plano de relançamento (Le Monde) emprestados pela União Europeia deverão ser
reembolsados um dia pelos Estados na proporção da sua riqueza ou por novos
impostos europeus. Se os Estados tiverem que pagar, a França será então
obrigada a pedir mais emprestado.
A França devia pois beneficiar exclusivamente de
"doações" de 38,8 biliões de euros sem qualquer empréstimo da UE, mas
receber empréstimos de cerca de 127 biliões de euros para reembolsar
empréstimos da UE, se tivermos em conta a sua participação no PIB da UE de
cerca de 17% depois da saída Reino Unido. Qual
seria o interesse da operação para o galo gaulês, se isto não passa de um
presente federalista de Macron para a UE por uma França arruinada, exangue, hiper-endividada, com uma taxa de desemprego
muito alta, em progressão acelerada ?
Para ajudar ao reembolso, a Comissão propõe dotar a UE de novas fontes de
receita: venda de licenças no mercado europeu de carbono, imposto sobre o
carbono em produtos fabricados por empresas poluidoras no exterior, imposto
sobre plástico não reciclado , ou mesmo um
imposto sobre empresas digitais, mas nada foi decidido ou definido até o
momento. O futuro imposto sobre o carbono nas fronteiras poderia gerar entre 5
e 14 biliões de euros por ano, o imposto digital de 750 a 1,3 biliões de euros,
a extensão do sistema de comércio de quotas de C02 em 1,3 biliões e o imposto
sobre as grandes empresas 10 biliões. Mas até agora, os estados membros nunca
conseguiram chegar a acordo sobre estes impostos.
Cada vez mais, a Comissão fortaleceria o seu poder federalista e tecnocrático com ainda mais funcionários que enviariam mais dossiers em inglês para gerir a fábrica a gás de todos esses dossiers e desbloqueá-los apenas segundo a boa vontade da UE. Os Estados beneficiários deverão apresentar antecipadamente um plano nacional de recuperação, sujeito a condições. Macron não defendeu o interesse da França nessa operação, mas apenas a marcha em direcção ao federalismo, enquanto os povos só aceitam uma confederação. A Comissão sonha poder aumentar o limite máximo de recursos do seu orçamento europeu de 1,2% para 2% ou 3% do PIB europeu.
A única vantagem é que, graças à sua excelente notação financeira (triplo A), as taxas de empréstimos pela Comissão serão mínimas, até negativas. Os primeiros empréstimos da UE seriam mínimos e não deveriam ocorrer antes de 2028. Os primeiros reembolsos pela UE não deviam acontecer antes de 2028. E os empréstimos seriam no mínimo a dez anos e, mais provavelmente, a 20 ou 30 anos. Mas esses 750 biliões de euros de empréstimos adicionais não farão senão contribuir para a fuga para a frente dos países europeus, que não sabem senão pedir ainda mais empréstimos e criar dinheiro falso (dinheiro fictício, por assim dizer. Nota do editor) com o BCE.
O célebre relatório de 350 páginas In Gold We Trust 2020 tornou-se público em 27 de Maio de 2020 e traz-nos
de volta às tristes realidades, para além dos sonhos federalistas europeus e
tecnocráticos de Macron: o coronavírus não fez senão
acelerar uma recessão que não se fez esperar. As capacidades de endividamento
de muitos países já estão desactualizadas. Por causa da hiper-endividamento,
não será possível combater a inflação a longo do termo aumentando
acentuadamente as taxas de juros.
Estamos no limiar de turbulências monetárias e geopolíticas
que tornarão o ouro a única moeda de reserva, porque não depende de nenhum
Estado. Os autores antecipam, a prazo, um preço do ouro de 4.800 dólares a
onça, com base numa "estimativa conservadora" na próxima década.
É, pois, provável que todas essas gesticulações da comunicação social em torno deste empréstimo federalista de 750 biliões de dólares da UE nos pareçam, um dia, como um elemento entre muitos outros da cortina de fumo criada pelas democracias ocidentais para esconderem às suas populações a gigantesca catástrofe que se perfilha no horizonte.
Realço:
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