quarta-feira, 3 de junho de 2020

Minneapolis, o início da resistência popular ao confinamento mortal





Dediquemos alguns instantes para observar, a partir de um exemplo concreto, como o grande capital, através da sua comunicação social e com a cumplicidade da pequena burguesia, está a tentar transformar uma luta de resistência popular numa guerra reaccionária inter-racial.

É errado pretender que o assassinato de cidadãos negros ou brancos é um acto de  "brutalidade" de um policia com excesso de zelo, inexperiente ou aterrorizado. Não é a população americana que aterroriza a polícia, é a polícia dos ricos que aterroriza a pobre população americana de todas as raças, todas as cores e todas as origens étnicas ... essa realidade Obama, os democratas e a burguesia americana negra gostariam de mascarar. Enquanto isso, Trump assume abertamente os seus impulsos reaccionários, os quais Joe (Biden) "Sonolento" (“Sleepy Joe” – NdT) recrimina.

A cada ano, mais de 500 cidadãos americanos são mortos pela polícia americana e a carnificina prossegue há décadas, com a aprovação implícita, se não a recomendação explícita das autoridades americanas, sob o reinado de Clinton, Obama, Bush e de Trump. Nos Estados Unidos, além da pena de morte judicial, o Estado também pratica a pena de morte extrajudicial preventiva ou punitiva, assim como o exército americano no exterior a pratica nas várias frentes dos seus "compromissos".

Kadafi e Bin Laden foram duas vítimas célebres, como outras, menos conhecidas. Na época do presidente Obama, todas as terças-feiras no Salão Oval pessoas de diferentes raças, cores e origens étnicas eram condenadas à morte, sem julgamento, pelo chefe militar da Casa Branca, laureado com o Prémio Nobel da Paz. ! Uma vez assinado o decreto de morte, os drones do Pentágono faziam o trabalho do policia Chauvin (mítico soldado do exército de Napoleão Bonaparte que deu azo ao termo “chauvinismo” – NdT).

Essa política de repressão policial contra o proletariado negro, mas também contra trabalhadores brancos e latinos, contra os sem-abrigo, contra os ameríndios (nativos americanos – NdT), contra os escravos asiáticos das "sweats shops" (pequenas fábricas de mão de obra intensiva e mal paga – NdT) e contra os imigrantes ilegais, atinge todo o mundo do trabalho sem discriminação racial. Essa repressão não tem como alvo uma determinada raça, grupo étnico ou minoria. Ela tem como alvo a classe social proletária, os sem-abrigo e, desde a pandemia de coronavírus e o confinamento assassino, também atinge a pequena burguesia empobrecida. Essa política repressiva dá uma lição às populações locais aterrorizadas não pelos assalariados em cólera, mas pelos polícias. A mensagem subjacente a esses assassinatos policiais filmados é a seguinte: "Cidadãos da miséria, proletários em cólera, não resistam às vossas miseráveis ​​condições de vida e trabalho, caso contrário, nós vamos matá-los e esmagar a vossa resistência, como todos podem ver nos vídeos postados nas redes sociais ”. Por isso, em Minneapolis, em 25 de maio, nenhum dos policias envolvidos se dignou lidar com as numerosas testemunhas que filmaram o assassinato ao vivo. A transmissão de cenas de repressão faz parte da manobra terrorista da polícia dos ricos.


Em suma, o assassinato de um sem-abrigo pela polícia de Minneapolis em 2016 - e a retoma de um "espectáculo" semelhante em 2020 fazem parte de um plano estatal terrorista que visa assustar o povo americano, independentemente da raça ou cor dos assassinados. Como sempre escrevemos, o proletariado americano é o mais evoluído e o mais avançado. Ele vive sob a ditadura capitalista mais degenerada, mais depravada, mais desesperada e mais terrorista porque é a mais assustada e mais consciente da sua queda.
A situação económica do imperialismo americano é catastrófica, o que força o capital ianque a aumentar a pressão sobre o proletariado para além do imaginável, e isso simplesmente para permanecer à tona, de cabeça fora da água, face à crise e à guerra que o capital americano empreendeu contra os seus concorrentes.

O que os capitalistas americanos aprenderam, em 2014 em Ferguson e Dallas (5 mortos e 7 policias feridos), em Minneapolis em 2016 e novamente em 2020 é que o proletariado americano está armado e é perigoso e que, se não se deixar desorientar pelo absurdo racista propagado pela comunicação social a soldo e pela pequena burguesia, então o grande capital poderia estar em perigo face ao aumento da resistência popular. Não são os negros que são alvo de assassinatos de policias brancos, latinos, negros ou nativos americanos, são os combatentes que resistem ao estado dos ricos. Mas cuidado, o proletariado não é terrorista, anárquico nem individualista e deve responder como uma classe consciente e unida às provocações do capital.

Em Minneapolis, por este enésimo assassinato de um cidadão pela polícia, cada qual tem a opção de denunciar um policia branco racista que matou um negro pacífico. Ou, então,  denunciar a polícia fascista ao serviço do estado dos ricos, que ataca trabalhadores sem dinheiro resistindo ao confinamento assassino que atirou 34 milhões dos seus companheiros para o desemprego e a pobreza. Toda a classe política ocidental, a comunicação social a seu soldo e a pequena burguesia de serviço privilegiam a primeira versão ... adivinhem por quê? O proletariado de qualquer raça, cor ou origem étnica defende a segunda versão correspondente à sua experiência de vida.








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