As ideologias do anti-racismo e do racismo são baseadas na
mesma impostura: existiriam raças humanas distintas que não podiam ter
descendência comum com boa saúde; postulado estúpido de que cada qual pode
constatar a inépcia. Quando questionados sobre esse assunto, os partidários
dessas duas ideologias não podem assegurar senão que falam em sentido figurado,
mas retomam pouco após a sua interpretação racial da humanidade e da sua
história. Como mostra Thierry Meyssan, esse casal
apaixonado nunca serviu senão os interesses das potências dominantes.
As comunidades humanas tendem a sobre-estimar o seu modo de
vida e desconfiar do de outras pessoas. Para manter a coesão do seu grupo,
alguns dos seus membros têm um reflexo de rejeição dos recém-chegados. No
entanto, assim que os conhecem, quando entendem que são homens como eles, as tensões
apaziguam-se.
A esse funcionamento etnológico, vieram juntar-se ideologias
nos séculos XIX e XX: o racismo e o anti-racismo. No contexto do imperialismo
britânico e do desenvolvimento da biologia e da genética, essas teorias permitiam
justificar a hierarquia ou a igualdade de direitos das populações.
Para o Prémio Nobel de Medicina (1912) Alexis Carrel
(pesquisador da Fundação Rockefeller e apoiante de Philippe Pétain e de Adolf
Hitler), conviria eliminar as minorias, os loucos, os criminosos logo que eles
se afigurem perigosos.
O racismo científico
Na sequência das teorias de Charles Darwin (1809-1882) sobre
a evolução das espécies animais, Herbert Spencer (1820–1903) postulou que havia
raças humanas distintas e que a selecção natural tinha resultado na
superioridade dos brancos. Foi o começo do "social-darwinismo". Um
primo de Darwin, Sir Francis Galton (1822-1911), escalonou as raças e ligou a
taxa de fertilidade das mulheres à degeneração dos indivíduos. Pode assim, não
apenas provar a superioridade dos brancos sobre as pessoas de cor, mas também
dos ricos sobre os pobres.
Um "consenso científico" estabeleceu que os
acasalamentos inter-raciais estavam na origem de numerosas deficiências. A partir
de então, tornou-se indispensável interditá-los na mesma medida que o incesto para preservar cada raça. Fera o
"eugenismo". A aplicação desse princípio tornou-se ainda
mais complexa pelo facto de que, qualquer que seja a definição de cada raça, nenhum indivíduo é de raça pura; por
consequência, cada situação está sujeita a discussão. Nos Estados Unidos, esta
lógica não apenas desencorajou a formação de casais entre europeus de um lado e
índios, negros ou chineses do outro, mas também privilegiou os brancos
anglo-saxões sobre os brancos não anglo-saxões (Italianos, polacos, sérvios,
gregos etc.) (Lei de Imigração – Immigration
Act - em vigor de 1924 a 1965).
O Instituto do Kaiser Wilhelm (equivalente alemão do CNRS
francês) demonstrou que não somente a preservação da raça exigia não se
reproduzir com indivíduos de uma raça diferente, mas também não se acasalar de
todo. De facto, no caso da penetração anal, os genes de um e de outro misturam-se,
embora não tenham descendentes. Daí a proibição da homossexualidade pelos nazis.
Foi preciso esperar pela queda do nazismo e da
descolonização para que o "consenso científico" regressasse e que
tomasse-mos consciência da incrível diversidade dentro de cada suposta raça. O
que nos parece em certos indivíduos de outras supostas raças é muito mais
importante do que o que nos distingue dos indivíduos da nossa suposta raça.
Em Julho de 1950, a Unesco proclamou a vacuidade do "darwinismo
social" e do "eugenismo". Muito simplesmente,
é claro que a humanidade é originária de várias raças homo sapiens pré-históricas distintas, mas não constitui senão uma raça em que os indivíduos podem acasalar
sem riscos. Evidentemente, não era necessário ser um cientista para perceber
isso, mas as ideologias imperialistas e coloniais obscureceram temporariamente
a mente dos "sábios".
Ao contrário da crença popular, a escravidão não foi
abolida nos Estados Unidos por causa dos movimentos abolicionistas, mas porque
os dois campos da Guerra Civil Americana precisavam recrutar novos soldados. Da
mesma forma, a segregação racial não foi abolida por causa de Martin Luther
King, mas porque o Pentágono precisava de soldados contra o Vietname. Ele foi
assassinado pelo FBI, não pelo seu compromisso com os direitos civis, mas
porque era contra essa guerra.
O racismo jurídico
Enquanto os cientistas recuperavam a sua unidade, os
juristas dividiram-se em duas maneiras diferentes de abordar a questão. Desta
vez, não são as ideologias imperialista e colonial que as separam, mas as suas concepções sobre a nação. Para os
anglo-saxões, é um agrupamento étnico (no sentido cultural), enquanto que para
os franceses é uma escolha política. O principal dicionário jurídico dos
EUA diz: "Nação: um grande
grupo de pessoas que têm uma origem, uma língua, uma tradição e costumes comuns
que constituiem uma entidade política”, » (“Nation : A large group of people having a
common origin, language, and tradition and usu. constituting a political entity,” Black’s
Law Dictionary, 2014). Pelo contrário, a França depois da Revolução
determina: Nação: "Pessoa jurídica
constituída pelo conjunto dos indivíduos que compõem o Estado" (Decreto do
rei Luís XVI de 23 de Julho de 1789).
A visão francesa é hoje quase universal, a dos britânicos é
defendida apenas por eles e pelas suas criações coloniais: a Irmandade
Muçulmana e o RSS indiano [1].
Assim, apesar dos avanços da ciência, os britânicos hoje
vivem sob a Lei de Relações Raciais de 1976 (Race Relations Act 1976 ) e são arbitrados
pela Comissão de Igualdade Racial (Commission for Racial Equality), enquanto os os textos oficiais franceses
falam de "suposta raça" (“prétendue race”). Na prática, as duas
sociedades não estabelecem diferenças "raciais", mas de classe social para os britânicos e de nível
social para os franceses.
Nos Estados Unidos, os media estabelecem uma ligação
entre os tumultos anti-racistas e as
sequelas da escravatura. No entanto, os primeiros escravos não eram africanos,
mas europeus (servos contratados) e os Estados Unidos são um país de imigração:
a esmagadora maioria da população actual não tinha antepassados na época da
escravidão.
O anti-racismo
No Ocidente, o anti-racismo é contudo confundido com o anti-fascismo. Mesmo que não haja mais racismo por ausência de raças, nem fascismo por ausência das situações económicas às quais esse pensamento respondeu. Os grupos que se reclamam dessas ideias têm hoje a particularidade de se reclamarem como extrema -esquerda anti-capitalista, mas de serem subsidiados pelo especulador George Soros e de trabalhar em nome da OTAN, defensora do capitalismo. Eles dispõem, portanto, de treino militar.
O presidente Erdoğan relata a sua discussão com o
presidente Trump na televisão turca. Retomando as nossas revelações que foram
validadas pelo MIT, ele coloca em causa o Pentágono e a OTAN na organização de
manifestações anti-racistas nos Estados Unidos e na Europa.
Foi com satisfação que o presidente turco Recep Tayyip
Erdoğan não deixou de enfatizar, durante uma entrevista por telefone com o seu
colega norte-americano em 8 de Junho de 2020, que a Otan havia usado as
Brigadas Antifascistas Internacionais, à vez,
contra a Síria e contra a Turquia [2]; os mesmas "Antifas" que
coordenam os actuais tumultos anti-racistas nos Estados Unidos.
O provável candidato do partido democrático, Joe Biden
- cuja proximidade com o Pentágono já lhe valeu a eleição de vice-presidente de
Barack Obama – exprime-se em vídeo durante o funeral de George Floyd. Os media
dão conta de uma cerimónia anti-racista. Ora, ao serviço de ordem da celebração
cristã foi confiada à Nação do Islão, solidária com a comunidade negra. Esta
organização vive em circuito fechado e proíbe casamentos inter-raciais aos seus membros.
Na realidade, o racismo e o anti-racismo
são dois lados da mesma moeda. Ambos se baseiam nos fantasmas das raças que
sabemos, no entanto, não existirem. Nos dois casos, é um conformismo em
sintonia com os tempos. Os racistas correspondiam às ideologias imperialistas e
coloniais, os anti-racistas à globalização financeira. A sua única utilidade
política comum é ocupar o terreno para mascarar lutas sociais autênticas.
Notas
[1] « Histoire mondiale
des Frères musulmans » (6 parties), Thierry Meyssan, 21 juin 2019.
« Déjà 10 mois de
confinement du Jammu-et-Cachemire », par Moin ul Haque, Dawn (Pakistan)
, Réseau Voltaire, 10 juin 2020.
[2] « Les Brigades
anarchistes de l’Otan », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire,
12 septembre 2017.
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