sexta-feira, 26 de junho de 2020

Racismo e anti-racismo como mentiras





Por Thierry Meyssan.



As ideologias do anti-racismo e do racismo são baseadas na mesma impostura: existiriam raças humanas distintas que não podiam ter descendência comum com boa saúde; postulado estúpido de que cada qual pode constatar a inépcia. Quando questionados sobre esse assunto, os partidários dessas duas ideologias não podem assegurar senão que falam em sentido figurado, mas retomam pouco após a sua interpretação racial da humanidade e da sua história. Como mostra Thierry Meyssan, esse casal apaixonado nunca serviu senão os interesses das potências dominantes.


As comunidades humanas tendem a sobre-estimar o seu modo de vida e desconfiar do de outras pessoas. Para manter a coesão do seu grupo, alguns dos seus membros têm um reflexo de rejeição dos recém-chegados. No entanto, assim que os conhecem, quando entendem que são homens como eles, as tensões apaziguam-se.

A esse funcionamento etnológico, vieram juntar-se ideologias nos séculos XIX e XX: o racismo e o anti-racismo. No contexto do imperialismo britânico e do desenvolvimento da biologia e da genética, essas teorias permitiam justificar a hierarquia ou a igualdade de direitos das populações.

Para o Prémio Nobel de Medicina (1912) Alexis Carrel (pesquisador da Fundação Rockefeller e apoiante de Philippe Pétain e de Adolf Hitler), conviria eliminar as minorias, os loucos, os criminosos logo que eles se afigurem perigosos.



O racismo científico

Na sequência das teorias de Charles Darwin (1809-1882) sobre a evolução das espécies animais, Herbert Spencer (1820–1903) postulou que havia raças humanas distintas e que a selecção natural tinha resultado na superioridade dos brancos. Foi o começo do "social-darwinismo". Um primo de Darwin, Sir Francis Galton (1822-1911), escalonou as raças e ligou a taxa de fertilidade das mulheres à degeneração dos indivíduos. Pode assim, não apenas provar a superioridade dos brancos sobre as pessoas de cor, mas também dos ricos sobre os pobres.

Um "consenso científico" estabeleceu que os acasalamentos inter-raciais estavam na origem de numerosas deficiências. A partir de então, tornou-se indispensável interditá-los na mesma medida que o  incesto para preservar cada raça. Fera o "eugenismo". A aplicação desse princípio tornou-se ainda mais complexa pelo facto de que, qualquer que seja a definição de cada raça, nenhum indivíduo é de raça pura; por consequência, cada situação está sujeita a discussão. Nos Estados Unidos, esta lógica não apenas desencorajou a formação de casais entre europeus de um lado e índios, negros ou chineses do outro, mas também privilegiou os brancos anglo-saxões sobre os brancos não anglo-saxões (Italianos, polacos, sérvios, gregos etc.) (Lei de Imigração – Immigration Act - em vigor de 1924 a 1965).

O Instituto do Kaiser Wilhelm (equivalente alemão do CNRS francês) demonstrou que não somente a preservação da raça exigia não se reproduzir com indivíduos de uma raça diferente, mas também não se acasalar de todo. De facto, no caso da penetração anal, os genes de um e de outro misturam-se, embora não tenham descendentes. Daí a proibição da homossexualidade pelos nazis.

Foi preciso esperar pela queda do nazismo e da descolonização para que o "consenso científico" regressasse e que tomasse-mos consciência da incrível diversidade dentro de cada suposta raça. O que nos parece em certos indivíduos de outras supostas raças é muito mais importante do que o que nos distingue dos indivíduos da nossa suposta raça.

Em Julho de 1950, a Unesco proclamou a vacuidade do "darwinismo social" e do "eugenismo". Muito simplesmente, é claro que a humanidade é originária de várias raças homo sapiens pré-históricas distintas, mas não constitui senão  uma raça em que os indivíduos podem acasalar sem riscos. Evidentemente, não era necessário ser um cientista para perceber isso, mas as ideologias imperialistas e coloniais obscureceram temporariamente a mente dos "sábios".

Ao contrário da crença popular, a escravidão não foi abolida nos Estados Unidos por causa dos movimentos abolicionistas, mas porque os dois campos da Guerra Civil Americana precisavam recrutar novos soldados. Da mesma forma, a segregação racial não foi abolida por causa de Martin Luther King, mas porque o Pentágono precisava de soldados contra o Vietname. Ele foi assassinado pelo FBI, não pelo seu compromisso com os direitos civis, mas porque era contra essa guerra.

O racismo jurídico

Enquanto os cientistas recuperavam a sua unidade, os juristas dividiram-se em duas maneiras diferentes de abordar a questão. Desta vez, não são as ideologias imperialista e colonial que as separam, mas as suas concepções sobre a nação. Para os anglo-saxões, é um agrupamento étnico (no sentido cultural), enquanto que para os franceses é uma escolha política. O principal dicionário jurídico dos EUA diz: "Nação: um grande grupo de pessoas que têm uma origem, uma língua, uma tradição e costumes comuns que constituiem uma entidade política”, » (“Nation : A large group of people having a common origin, language, and tradition and usu. constituting a political entity,” Black’s Law Dictionary, 2014). Pelo contrário, a França depois da Revolução determina: Nação: "Pessoa jurídica constituída pelo conjunto dos indivíduos que compõem o Estado" (Decreto do rei Luís XVI de 23 de Julho de 1789).
A visão francesa é hoje quase universal, a dos britânicos é defendida apenas por eles e pelas suas criações coloniais: a Irmandade Muçulmana e o RSS indiano [1].

Assim, apesar dos avanços da ciência, os britânicos hoje vivem sob a Lei de Relações Raciais de 1976 (Race Relations Act 1976 ) e são arbitrados pela Comissão de Igualdade Racial (Commission for Racial Equality), enquanto os os textos oficiais franceses falam de "suposta raça" (“prétendue race”). Na prática, as duas sociedades não estabelecem diferenças "raciais", mas de classe social para os britânicos e de nível social para os franceses.

Nos Estados Unidos, os media estabelecem uma ligação entre  os tumultos anti-racistas e as sequelas da escravatura. No entanto, os primeiros escravos não eram africanos, mas europeus (servos contratados) e os Estados Unidos são um país de imigração: a esmagadora maioria da população actual não tinha antepassados ​​na época da escravidão.

O anti-racismo

No Ocidente, o anti-racismo é contudo confundido com o anti-fascismo. Mesmo que não haja mais racismo por ausência de raças, nem fascismo por ausência das situações económicas às quais esse pensamento respondeu. Os grupos que se reclamam dessas ideias têm hoje a particularidade de se reclamarem  como  extrema -esquerda anti-capitalista, mas de serem subsidiados pelo especulador George Soros e de trabalhar em nome da OTAN, defensora do capitalismo. Eles dispõem, portanto, de treino militar.

O presidente Erdoğan relata a sua discussão com o presidente Trump na televisão turca. Retomando as nossas revelações que foram validadas pelo MIT, ele coloca em causa o Pentágono e a OTAN na organização de manifestações anti-racistas nos Estados Unidos e na Europa.

Foi com satisfação que o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan não deixou de enfatizar, durante uma entrevista por telefone com o seu colega norte-americano em 8 de Junho de 2020, que a Otan havia usado as Brigadas Antifascistas Internacionais, à vez,  contra a Síria e contra a Turquia [2]; os mesmas "Antifas" que coordenam os actuais tumultos anti-racistas nos Estados Unidos.

O provável candidato do partido democrático, Joe Biden - cuja proximidade com o Pentágono já lhe valeu a eleição de vice-presidente de Barack Obama – exprime-se em vídeo durante o funeral de George Floyd. Os media dão conta de uma cerimónia anti-racista. Ora, ao serviço de ordem da celebração cristã foi confiada à Nação do Islão, solidária com a comunidade negra. Esta organização vive em circuito fechado e proíbe casamentos inter-raciais aos  seus membros.

Na realidade, o racismo e o anti-racismo são dois lados da mesma moeda. Ambos se baseiam nos fantasmas das raças que sabemos, no entanto, não existirem. Nos dois casos, é um conformismo em sintonia com os tempos. Os racistas correspondiam às ideologias imperialistas e coloniais, os anti-racistas à globalização financeira. A sua única utilidade política comum é ocupar o terreno para mascarar lutas sociais autênticas.



Notas

[1] « Histoire mondiale des Frères musulmans » (6 parties), Thierry Meyssan, 21 juin 2019. « Déjà 10 mois de confinement du Jammu-et-Cachemire », par Moin ul Haque, Dawn (Pakistan) , Réseau Voltaire, 10 juin 2020.
[2] « Les Brigades anarchistes de l’Otan », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 12 septembre 2017.













Sem comentários:

Enviar um comentário