A guerra imperialista
generalizada como factor central da situação histórica
1 de Maio de 2025 Robert Bibeau
Par le GIGC.IGCL.
A guerra
imperialista generalizada como factor central da situação histórica
Decidimos publicar um número da nossa
revista (https://igcl.org/-Revolution-ou-Guerre-)
especialmente dedicado ao campo proletário - os grupos da Esquerda
Comunista Internacional - e à sua relação com a questão da guerra imperialista
generalizada em que o capitalismo internacional está a tentar lançar-nos. Por
conseguinte, a publicação da última parte do texto de Vercesi sobre A Tática do
Comintern aparecerá no próximo número da revista, em Setembro.
Os primeiros meses da administração Trump eliminaram
todas as dúvidas que ainda subsistiam sobre a actual dinâmica em direcção à
Terceira Guerra Mundial. Chegou o momento de um “rearmamento” geral e urgente,
particularmente para os (antigos?) aliados europeus e asiáticos dos Estados
Unidos. A perspectiva de uma guerra mundial imperialista tornou-se o factor
central da situação. Dita agora, directa ou indirectamente, as decisões e políticas
essenciais que cada classe dirigente é levada a tomar “internamente” e
“externamente”.
A burguesia de cada país redobrará os seus ataques
contra o proletariado de todos os países - com a diferença de que, em relação
às décadas anteriores, eles serão efectuados em nome da preparação para a
guerra. Os proletários, a grande maioria dos assalariados, individual e
colectivamente, são confrontados com a seguinte alternativa: aceitar os
sacrifícios em nome da nação ameaçada e da democracia - e deixar que o curso da
guerra se acelere - ou recusar os sacrifícios e lutar em nome dos seus
interesses de classe “egoístas” - e abrir assim o caminho para a única
alternativa ao holocausto generalizado: a insurreição operária, a destruição do
Estado burguês, a ditadura do proletariado, o fim do capitalismo e o advento da
sociedade comunista. A segunda opção é a materialização, se for concretizada,
do princípio do internacionalismo proletário que a teoria revolucionária do
proletariado, ou marxismo, sempre defendeu desde o Manifesto Comunista: "Os
operários não têm pátria. (...) Proletários de todos os países, uni-vos! "
Não temos dúvidas de que os ataques do capital ao
trabalho vivo para fins de guerra provocarão confrontos maciços entre as
classes, entre a burguesia e o proletariado. Portanto, a questão não é se
haverá lutas proletárias ou não. A questão é saber se serão capazes de
responder a estes ataques ao nível necessário, de os abrandar, ou mesmo de os
inverter. Mais concretamente, conseguirão opor-se e ultrapassar as divisões, as
sabotagens e as armadilhas colocadas pelas forças burguesas no meio operário,
em primeiro lugar os sindicatos e as esquerdas, e alargar, generalizar e
unificar a sua resposta aos aparelhos de Estado de cada nação capitalista? Cabe
em grande parte às fracções mais combativas e “conscientes” do proletariado
tomar a seu cargo esta dimensão política das lutas operárias, assumir o
confronto político com o Estado e os seus órgãos e disputar-lhes a direcção
política das lutas [1]. Entre estas fracções da classe
revolucionária, as minorias políticas - produtos históricos e não imediatos -
têm e terão cada vez mais um papel decisivo a desempenhar, quanto mais não seja
definindo, adoptando e defendendo orientações e palavras de ordem
correspondentes às necessidades imediatas das lutas proletárias.
A outra dimensão da luta de classes “contra a guerra imperialista” consiste
em propor palavras de ordem que apliquem o princípio do internacionalismo
proletário a diferentes situações e em relação ao desenvolvimento da
luta entre as classes. Esta tarefa e esta responsabilidade são por definição,
pela sua própria natureza, da exclusiva responsabilidade das minorias
comunistas. Responsabilidade exclusiva, dizemos nós, porque o internacionalismo
proletário, o ponto essencial do programa comunista, só pode ser uma realidade
se se basear na luta de classes e na perspectiva revolucionária da ditadura do
proletariado, princípios e palavras de ordem materializados e levados por
diante hoje apenas pelos grupos da esquerda comunista.
Por conseguinte, temos de lutar contra qualquer pretensão de internacionalismo de fachada, tal como
pode ser reivindicada por correntes políticas que há muito passaram para o
campo da contra-revolução, como o esquerdismo trotskista ou anarquista - para
não falar do estalinismo, é claro. Por exemplo, o grupo trotskista Lutte Ouvrière, sem dúvida o mais
“marxista e operário” dos principais grupos trotskistas em França, intitulou o
seu editorial de 17 de Março de Se queres a paiz,
prepara a revolução [2].
Numa leitura superficial, pode parecer internacionalista. No entanto, no
seu 54º congresso, em Dezembro de 2024, a Lutte Ouvrière defendeu abertamente o
nacionalismo palestiniano na guerra israelo-palestiniana: « Nesta
guerra, estamos naturalmente no campo dos povos oprimidos pelo imperialismo e
seus aliados. Por isso, somos totalmente solidários com o povo palestiniano
face ao massacre a que está a ser sujeito e apoiamos as suas aspirações
ao pleno gozo dos seus direitos nacionais, incluindo o direito ao seu próprio
Estado. [3]. »
Já tivemos ocasião de denunciar este
tipo de “internacionalismo” de geometria variável a propósito da realização de
uma conferência dita internacionalista em Milão [4] em Julho de 2023 e Fevereiro de
2024, em grande parte por iniciativa do grupo Lotta comunista e
com a participação dos principais grupos trotskistas. Recusam-se a tomar
partido na Ucrânia, mas apoiam o campo nacionalista palestiniano no Médio
Oriente. Este tipo de iniciativa, dita “internacionalista”, destinada a
mistificar os proletários, está destinada a repetir-se, como a convocatória do
grupo Revolução Permanente, também trotskista, para um “Encontro
Revolucionário Internacionalista”, a 24 de Maio, em Paris.
Mesmo os chamados “anarquistas internacionalistas” que não apoiam nem a
Ucrânia nem a Rússia, nem os palestinianos nem Israel, ao rejeitarem o
princípio da ditadura do proletariado - um passo indispensável para superar o
sistema que produz a necessidade de uma guerra mundial - não podem, no final,
ir além do pacifismo radical, a menos que deixem de ser anarquistas e assumam
posições verdadeiramente revolucionárias. Combater e denunciar qualquer forma
de pacifismo ou suposto “internacionalismo” que seja à la carte, por exemplo
internacionalista na Ucrânia mas pró-palestiniano no Médio Oriente, ou que
desarme o proletariado quando os acontecimentos atingem um ponto de viragem
revolucionário, como é o caso do pacifismo radical, será também um dos momentos,
ou terrenos, do confronto de classes em torno da guerra e da sua preparação.
A bandeira do
internacionalismo proletário é, portanto, também objecto de uma batalha entre
classes que só os grupos da esquerda comunista podem travar. Idealmente, deveriam
poder fazê-lo em conjunto, tanto mais que estão todos, mais ou menos
firmemente, do mesmo lado da barricada de classe contra a guerra imperialista.
Isto multiplicaria o alcance e a força da intervenção. Mas, actualmente, o
campo proletário não pode exibir abertamente a sua unidade de classe face ao
proletariado e às forças da burguesia. E, pela nossa parte, não estamos em
condições de apelar, pelo menos de momento, a uma conferência do tipo da que
teve lugar em Zimmerwald em 1915, nem a iniciativas internacionalistas unidas.
A dispersão e mesmo as
tendências sectárias que persistem no seio do campo proletário só poderão muito
provavelmente ser ultrapassadas sob a pressão da situação, ou mais precisamente
do proletariado por ocasião dos confrontos maciços... que a preparação para a
guerra irá desencadear. Infelizmente, é provável que isso resulte num atraso na
luta decidida pelo partido e ainda mais na sua constituição. A questão que se
coloca é a seguinte: a formação do partido vai concretizar-se e, se se concretizar,
será tardiamente ou demasiado tarde? Mas, em todo o caso, a
formação do partido, tarde ou não, far-se-á sob o impulso, não do proletariado
em si mesmo, abstractamente, mas da luta do
proletariado contra as consequências sobre as suas condições de vida e de
trabalho, a intensificação da sua exploração, a preparação e a marcha para a
guerra.
A nossa posição perante a guerra imperialista generalizada será o critério
de selecção das forças que participarão na luta pela construção do partido
comunista internacionalista de amanhã. Aqueles que hoje, e pensamos em
particular na Corrente Comunista Internacional, se recusam a reconhecer não só
a dinâmica, mas mesmo a possibilidade de uma 3ª guerra imperialista mundial,
encontram-se, no melhor dos casos, na cauda dos acontecimentos; e, no pior dos
casos, são levados a fazer do internacionalismo uma palavra de ordem abstracta,
uma frase revolucionária ao modo anarquista, válida em qualquer lugar e em
qualquer momento, e portanto inadaptada, se não mesmo oposta, às necessidades
da luta de classes.
Tendo em conta a realidade “dispersa” do campo proletário, e tendo sempre
considerado a nossa revista como pertencente a este campo como um todo,
parece-nos importante reunir e sublinhar as forças que estão firmemente do mesmo
lado da barricada de classe e mostrar a sua unidade.
Lendo as posições que seleccionámos neste número, poderíamos ter escolhido
outras [5], o leitor perceberá que a unidade
internacionalista vai muito além de um princípio em si, mas que se afirma em
torno da própria dinâmica que a marcha para a guerra imperialista imporá ao
antagonismo de classes, à luta entre as classes. É a fidelidade à posição marxista
sobre a alternativa histórica da revolução proletária ou da guerra
mundial imperialista que permite que as forças mais dinâmicas do campo
proletário compreendam todo o significado e consequências da ascensão de Trump
ao poder nos Estados Unidos. Por si só, isso deveria permitir a essas forças
intervir com orientações e palavras de ordem que vão na mesma direcção nas
lutas operárias e, assim, abrir caminho, ainda que modestamente, para o partido
de amanhã.
Se a guerra imperialista é hoje o principal factor da situação
internacional e da luta de classes, é também o principal factor de selecção e
decantação no seio do campo proletário entre forças pró-partido e anti-partido.
Fonte : https://igcl.org/La-guerre-imperialiste-generalisee
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/299601?jetpack_skip_subscription_popup
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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