Torquemada no Ministério do Interior da França
20
de Maio de 2025 Robert Bibeau
Torquemada no
Ministério do Interior
Por Mohamed El Maadi*
A República Francesa descobriu um ministro muito
estranho. Retailleau, num delírio místico que raia a obsessão patológica,
parece ter perdido os fundamentos da democracia laica, algures entre os bancos
e o seu gabinete ministerial. Eis um homem que, em vez de cumprir os seus
deveres régios, se vê como um templário dos tempos modernos, combatente de um
inimigo imaginário que ele próprio criou nos meandros da sua mente febril.
Le Nouvel Observateur revela-nos o retrato desolador de um louco que transforma cada missa dominical num espectáculo político, como se a frequência dos serviços religiosos pudesse substituir um programa de governo. Esta devoção teatral, tão grotesca quanto perigosa, revela um homem que confunde perigosamente o serviço ao Estado com uma missão divina.
O seu livro “Refondation”, publicado em 2019, é o manifesto alucinatório de um espírito preso nas cruzadas do século XII. A metáfora do “sistema imunitário” que utiliza para falar do Islão ultrapassa a ignomínia: eis uma religião e os seus seguidores reduzidos ao estado de agentes patogénicos dos quais o corpo social deve ser expurgado. Esta retórica nauseabunda, que parece querer repetir a batalha de Hattin, onde Saladino esmagou Guy de Lusignan, revela a verdadeira natureza do seu pensamento: a de um sectarismo religioso de outra época.
Como podemos tolerar que um Ministro dos Assuntos Religiosos, que é suposto garantir a liberdade de consciência, se comporte como um grande inquisidor? A sua visão paranoica de uma França judaico-cristã sitiada por hordas muçulmanas é mais do domínio da psiquiatria do que da análise política. Este delírio persecutório, misturado com uma velada conotação xenófoba, transforma cada um dos seus discursos numa cruzada contra os muçulmanos de França, os mesmos cidadãos que é suposto servir e proteger.
Retailleau, na sua postura de auto-proclamado cavaleiro branco, representa o arquétipo do político que perdeu todo o contacto com a realidade. A sua obsessão doentia com uma alegada ameaça islâmica, a sua propensão para ver conspirações em todo o lado e a sua crença de que foi investido de uma missão divina fazem dele um perigo para as instituições republicanas.
A esquizofrenia política deste ministro, que confunde a acção pública com uma guerra santa pessoal, está a atingir níveis preocupantes. O seu vocabulário bélico, as suas referências constantes às Cruzadas, a sua visão maniqueísta de um mundo dividido entre “bons cristãos” e “muçulmanos invasores” fazem parte de uma insanidade política que não tem lugar numa democracia moderna.
Estamos a assistir à deriva mística de um homem que utiliza a sua posição oficial para travar uma guerra religiosa imaginária. O seu “sistema imunitário” não é mais do que um eufemismo para legitimar discriminações institucionalizadas, uma tentativa mal disfarçada de reintroduzir a inquisição no arsenal legislativo.
A República merece mais do que este Dom Quixote em guerra com os moinhos de vento islâmicos. A urgência já não está em debater com um homem que perdeu claramente o sentido da realidade, mas em questionar a compatibilidade das suas posições com o cargo que ocupa. Afinal, como é que um indivíduo que vê sarracenos em cada muçulmano, que sonha com cruzadas e se imagina um templário, pode pretender servir o interesse geral numa república laica?
É tempo de chamar as coisas pelos nomes: Retailleau não é um ministro, é um místico perdido nos corredores da República, um perigo para a coesão nacional, um coveiro do laicismo que confunde o seu ministério com uma catedral e os seus deveres com uma missão divina. A França de 2025 não precisa de um novo Torquemada, mas de um ministro capaz de servir todos os cidadãos, independentemente da sua fé.
*Comentário em Algérie Patriotique
Fonte: https://reseauinternational.net/torquemada-au-ministere-de-linterieur/
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/299982#
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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