Ucrânia-Rússia, da fantasia à realidade, da ilusão à
desilusão (Antoine Martinez)
5 de Maio de 2025 Robert Bibeau
Por General Antoine Martinez (França), Julho de 2022.
Face à guerra na Ucrânia, que poderia e deveria ter sido evitada, ainda temos o direito, num mundo supostamente livre, de abordar esta dramática situação com uma perspectiva não maniqueísta, ou somos obrigados a submeter-nos à única verdade oficialmente dita, sob pena de sermos invectivados e insultados?
Porque sim, este conflito poderia ter sido evitado
admitindo objectivamente, após a expansão contínua da OTAN desde o fim da
Guerra Fria em direcção às fronteiras russas – uma obsessão que se tornou
patológica para alguns – que a admissão da Ucrânia nesta organização não é
aceitável porque constitui um casus belli para
a Rússia.
As preocupações de segurança da Rússia, tão legítimas
quanto as dos estados-membros da UE, não podem ser ignoradas, e querer
excluí-la, mesmo sendo uma parte interessada, de uma arquitectura de segurança
europeia que diz respeito a todo o continente europeu não parece nem sensato
nem responsável.
Tal situação provavelmente criará tensões
desnecessárias e perigosas.
Portanto, cometer um erro de cálculo hoje, depois de
ter criado as condições para o início deste conflito, subestimando a
determinação da Rússia, seria um erro culpável com consequências dramáticas
para toda a Europa.
Porque quando Vladimir Putin diz que a questão da
Ucrânia se tornou uma questão existencial, temos que acreditar nele. Ou então
ele irá até o fim.
A falta de cultura histórica de muitos líderes actuais
e de muitos jornalistas, ou mesmo a sua falta de discernimento ou a sua
ignorância, pode levar a excessos mortais.
Cinco meses após o envio de tropas russas para
território ucraniano, é importante tentar fazer um balanço da situação e reflectir
sobre esta guerra, que na realidade acaba por ser mais do que apenas uma guerra
militar entre dois estados.
É preciso levantar, desenvolver e analisar uma série
de questões para destacar os problemas reais e os riscos de um confronto
generalizado que não é do interesse dos europeus.
CONFLITO
UCRÂNIA-RÚSSIA: DA FANTASIA À REALIDADE, DA ILUSÃO À DESILUSÃO
·
LEMBRETE DO CONTEXTO QUE OPÕE O BLOCO
OCIDENTAL AO BLOCO ORIENTAL
·
A REALIDADE SOBRE A SITUAÇÃO MILITAR E
SUAS
CONSEQUÊNCIAS
·
O REINADO ABSOLUTO DA MEDIA
·
O HOMEM QUE SACRIFICOU A UCRÂNIA
·
A DERROTA DA UCRÂNIA ASSINALA A MORTE DA
OTAN
·
OS ESTADOS UNIDOS FARÃO TUDO PARA IMPOR O SEU
HEGEMONISMO
·
A UNIÃO EUROPEIA ASSINA O SEU SUICÍDIO GEO-POLÍTICO
E GEO-ESTRATÉGICO
·
FRANÇA, UM ENCONTRO PERDIDO COM A HISTÓRIA
·
UMA RAZÃO INCONFESSÁVEL PARA ESTA GUERRA
·
CONCLUSÕES
LEMBRETE
DO CONTEXTO QUE OPÕE O BLOCO OCIDENTAL AO BLOCO ORIENTAL
Primeiro, é necessário relembrar o contexto. A Guerra
Fria, que desde o fim da Segunda Guerra Mundial opôs o bloco ocidental (OTAN)
ao bloco oriental (Pacto de Varsóvia), terminou no início da década de 1990 com
a vitória do primeiro, finalmente alcançada sem luta, levando ao colapso e
desaparecimento da URSS. As consequências desta convulsão foram imediatas, com
o desaparecimento das fortes tensões que marcaram a região da Europa Central
durante décadas, trazendo muita esperança aos povos da Europa (remoção da
Cortina de Ferro, sendo a destruição do Muro de Berlim o símbolo mais
emblemático).
Essas consequências geo-políticas resultaram na
dissolução do Pacto de Varsóvia, na reunificação da Alemanha e na saída dos
países do Leste Europeu da União Soviética para a Europa Ocidental, com o
desejo rapidamente expresso por esses antigos satélites da União Soviética de
ingressar na OTAN antes mesmo de considerar a sua adesão à União Europeia (UE).
No plano geo-estratégico e político-militar, é preciso reconhecer que os
esforços dedicados à defesa – que, no entanto, permitiram vencer a Guerra Fria
– foram rapidamente esquecidos. Era hora, de facto, de acordo com as agora
famosas palavras, de "colher
os dividendos da paz" (L. Fabius).
É assim que, durante mais de trinta anos, os países
europeus continuaram a reduzir perigosa e irresponsavelmente os seus recursos
destinados à defesa. A França, por exemplo, passou de 3,5% do PIB no final da
Guerra Fria para 1,2% no final do mandato de cinco anos de François Hollande!
Portanto, quando surge uma grande crise, como a que estamos a viver no
continente europeu, é impossível para a UE, colectivamente ou para qualquer um
dos seus membros, mesmo a França, ter a menor influência ou a menor capacidade
de fazer uma contribuição diplomática ou de exercer pressão para permitir a
distensão. A diplomacia torna-se impotente na medida em que não conta com um
braço armado adequado para intervir numa crise grave. A continuação da OTAN –
uma organização originalmente defensiva, mas que rapidamente se tornou ofensiva
– após a dissolução do Pacto de Varsóvia está na origem desta impotência dos
países europeus que cederam a sua própria protecção aos Estados Unidos.
A OTAN transformou-se, então, numa organização mais
política do que militar, tornando-se uma ferramenta para controlar os países
europeus e defender os interesses dos Estados Unidos. Mais de trinta anos após
o fim da Guerra Fria, estes últimos opõem-se e opor-se-ão por todos os meios a
uma reaproximação entre os países europeus e a Rússia. É por isso que a
autonomia estratégica europeia – para não falar da indústria de defesa europeia
ou de um hipotético exército europeu – mencionada por alguns, e em particular
pela França, nunca poderá existir, constituindo a NATO um obstáculo proibitivo
à nossa soberania e à dos europeus.
Este preâmbulo sobre o contexto é importante porque
levanta o problema da renúncia e da fraqueza dos países europeus e, por
conseguinte, da sua impotência em termos diplomáticos e militares. A próxima
adesão da Suécia e da Finlândia à NATO não só vem alimentar o fogo, como
confirma a subserviência da Europa aos Estados Unidos. No entanto, o conflito
entre a Rússia e a Ucrânia pode, paradoxalmente, ser a causa de uma derrota
esmagadora para a NATO, levantando a questão da sua própria sobrevivência
quando a Ucrânia for forçada a admitir a derrota. Porque a Rússia, empurrada
para a agressão, está condenada a não perder.
O
restante do volume (44 páginas) em formato Word: julio-tradução-Ucrânia-Rússia-Da-fantasia-à-realidade14540
O restante do volume (44 páginas) em formato PDF: julio-translation-Ukraine-Russia-From-fantasy-to-reality14540
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/299652#
Este artigo foi
traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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