18 de Abril de 2024 Robert Bibeau
Por Robert Bibeau
Se a Primeira Guerra Mundial foi a resposta do modo de produção capitalista à crise económica do final do século XIX, no século XX, a Segunda Guerra Mundial foi a resposta do modo de produção capitalista à crise económica de 1929. A conquista de novos mercados ou a redistribuição de velhos mercados foram os objectivos dessas primeiras ondas de "mundialização" (1873-1945), sob a hegemonia imperial da França e da Grã-Bretanha no início, e depois dos Estados Unidos. Este período foi marcado pela formação de monopólios, pela acumulação e concentração de capital e por uma série de crises económicas sistémicas, incluindo a "Longa Depressão" de 1873 a 1891. Essa crise de sobreprodução foi o produto deletério da "era de ouro" financeira que alegrava os rentistas parasitas, que não podiam contribuir para a reprodução ampliada do capital. Esta longa depressão, que começou com uma grave crise bancária, foi precedida por um duplo movimento de especulação imobiliária e bolsista, facilitado pela liberalização dos bancos durante a década de 1870. Que semelhanças surpreendentes existem entre esta "Longa Depressão" e a actual depressão económica, e a guerra que está a preparar! (Ver: https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2024/04/discurso-do-grupo-internacional-da_13.html ).
A crise económica mundial conduz à guerra mundializada
Sob o modo de produção
capitalista (MPC), uma guerra não é fundamentalmente ideológica, étnica,
linguística, racial, religiosa, moral, social ou nacional. Estes vectores fazem
parte do contexto que molda os interesses económicos dos confrontos armados.
Sob o modo de produção capitalista, uma guerra é, antes de mais, a consequência das profundas contradições económicas que se reflectem nas relações sociais de produção das classes e fragmentos de classes sociais em confronto. No entanto, ao manipular a opinião pública através de uma intensa propaganda destilada pelos aparelhos de condicionamento ideológico (meios de comunicação social, sistemas educativos e culturais), a guerra pela apropriação dos meios de produção (capital e trabalho), a guerra pelo roubo de recursos, a guerra pela partilha de mercados e pela conquista de zonas de influência, assume a aparência de um conflito étnico, linguístico, cultural, religioso, racial ou territorial - numa palavra, a aparência de um conflito "patriótico". Estes ecrãs ideológicos e políticos servem para ocultar a contradição fundamental deste sistema de exploração, que é incapaz de assegurar pacificamente - sem concorrência - as condições de acumulação e de reprodução da espécie humana.
2.
A guerra "patriótica"
gera a guerra mundialista
O recrudescimento
constante da crise económica sistémica do capitalismo obriga as potências da
Aliança Atlântica (NATO) a provocar guerras no Médio Oriente, na Europa de
Leste, nos Balcãs, no Cáucaso, em África e no Sudeste Asiático, a fim de manterem
o seu controlo sobre os recursos energéticos, as matérias-primas, os meios de
produção e os mercados. Assassinam e substituem os antigos intermediários
nacionalistas locais que se tornaram incómodos, embaraçosos ou oposicionistas.
No entanto, desde a emergência de uma nova superpotência na cena mundial, estas
guerras locais tornaram-se por vezes desvantajosas para as potências
imperialistas ocidentais.
Assim, na Síria, a França perdeu o jogo contra Bashar al Assad apoiado pela Rússia e pela Aliança dos Países Capitalistas Emergentes. Na Ucrânia, o governo fantoche de Volodymyr Zelensky teve de se curvar à poderosa Rússia Imperial. Na Palestina, ocupada há 76 anos, a superpotência americana e o seu representante israelita estão a recuar face à repetida investida do nacionalismo patriótico árabe. Uma coisa é certa, esta sucessão de guerras por procuração terá levado à deslocação das relações sociais de produção nestes países integrados no todo económico imperialista mundializado.
Em vez de consolidarem o seu domínio sobre estes países, as potências
ocidentais e orientais terão fomentado a emergência de tensões tribais, a reactivação
de conflitos étnicos seculares, o ressurgimento do fanatismo religioso e do
nacionalismo chauvinista, activados pelos diferentes segmentos da burguesia e
pelas oligarquias feudais locais empurradas pelas potências imperialistas
ocidentais e orientais que se preparavam para um confronto mundial.
3.
A pseudo estratégia do "caos"
Ao contrário do que sugerem os "teóricos da conspiração", o "caos" social não é o objectivo das potências capitalistas concorrentes. No entanto, o "caos" social é, de facto, o resultado das suas desesperadas intervenções militares, pois as guerras e a diplomacia das canhoneiras são apenas o prolongamento das suas actividades políticas tirânicas, que, por sua vez, são o resultado da sua competição económica histérica (8).
4.
Da Grande Guerra Patriótica à
Guerra do Donbass
Voltemos à Segunda Guerra Mundial, que tem sido
amplamente falada desde que a guerra na Ucrânia se intensificou em Fevereiro de
2022. Em 1941, o capitalismo soviético foi atacado pelo exército alemão.
Durante os quatro anos do conflito, uma horda de seis milhões de soldados
alemães assassinos foram destacados pelas planícies da Rússia europeia,
composta por unidades de elite da Wehrmacht. Era a partir da riqueza confiscada
à União Soviética que o Império Alemão esperava abastecer o seu exército,
reanimar a sua economia, revitalizar a sua indústria, preparar-se para
contrariar a invasão americano-britânica na Frente Ocidental e continuar a sua
agressão no Norte de África. No entanto, o capitalismo monopolista estatal
russo conseguiu mobilizar as forças dos povos soviéticos multiétnicos numa Grande Guerra Patriótica (nacionalista
burguesa e chauvinista) para salvaguardar o poder do Partido Bolchevique sobre
o aparelho totalitário do Estado e para repelir o invasor que veio saquear,
explorar, espremer e sangrar a chamada "Pátria dos Operários" com as suas
múltiplas nacionalidades.
O poderoso exército nazi, animado por uma selvajaria inaudita, foi repelido à custa de grandes sacrifícios (25 milhões de mortos e milhões de soviéticos feridos). Após a guerra, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em virtude de acordos negociados com os seus aliados imperialistas, protegeu as suas fronteiras com um glacis (fortaleza inclinada – NdT) de países escravizados. Estes países, a começar pela Jugoslávia titoísta e pela Roménia de Ceausescu, viriam mais tarde a tentar libertar-se do controlo imperialista soviético e a colocar-se sob a égide do imperialismo da NATO. Esses esquerdistas estão convencidos de que jogar nos tabuleiros soviético e americano-britânico poderia ser lucrativo para eles.
O colapso do modelo
soviético de desenvolvimento capitalista monopolista de Estado (1991) e o fim
da primeira fase de competição "fria" (Guerra Fria) demonstraram a
pusilanimidade dos seus objectivos imperiais multipolares. Hoje, Vladimir Putin, digno sucessor dos apparatchiks
nacionalistas soviéticos da Guerra Fria, prossegue esta política de manter um
glacis de países subjugados às portas do sitiado Império Russo. A guerra na
Ucrânia, depois da guerra na Síria, marca uma viragem histórica no jogo das
alianças imperialistas entre a Aliança Ocidental e a Aliança Oriental.
5.
O verso e o reverso do campo do capital
Obviamente, a Rússia está actualmente sob ataque da Aliança Atlântica
(OTAN). Este é o preço que está a pagar por se aliar à nova superpotência
capitalista da China, cuja sombra paira no horizonte da economia política
mundial. A agressividade da Aliança Atlântica (NATO) não impede a Rússia e a
China de expandirem as suas zonas de influência no Médio Oriente, África,
América do Sul e Sudeste Asiático, um movimento centrípeto que a superpotência
americana em declínio é incapaz de inverter.
Qual é o interesse da classe proletária
revolucionária em conhecer os parâmetros do esforço feito por cada uma das
potências envolvidas nessas guerras de carnificina e saque? O que é importante
saber é que em todas estas guerras a classe proletária serviu de carne para
canhão para a defesa dos interesses das várias burguesias nacionalistas,
plutocracias e oligarquias, e que continuará a fazê-lo no futuro.
Todas estas guerras têm um carácter imperialista, apesar de as burguesias nacionalistas ocidentais afirmarem defender a democracia burguesa contra o militarismo e o totalitarismo asiático (sic), e lutar contra o fascismo ou o nazismo, dois modos de governação inerentes ao modo de produção capitalista. Os dois blocos imperialistas, a versão "libertário-democrática" e a versão "dirigista totalitária", são económica e politicamente idênticas. Todos os beligerantes das guerras imperialistas estão integrados no capitalismo mundializado e formam o verso e o reverso do grande capital.
Cada uma das alianças
entre potências é capaz das piores barbaridades (campos de concentração,
gulags, colónias penais, Hiroshima, Nagasaki, Gaza, genocídios, extermínios,
epidemias e pandemias, lockdowns, etc.) contra a classe proletária
internacional. Os lockdowns em massa durante a pandemia de COVID-19 entre 2020 e
2022 foram uma demonstração desastrosa disso que apanhou a classe proletária e as
suas organizações desprevenidas (9)... Voltaremos a isso.
Fonte: La guerre mondiale comme aboutissement de la crise économique mondialisée – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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