28 de Abril de 2024 ROBERT GIL
Pesquisa realizada por Robert Gil
Ao longo da sua história, o capitalismo foi abalado por crises que resolveu
através de guerras, repressão, colonização e golpes de Estado, mas actualmente
atravessa, sem dúvida, uma das mais graves crises que alguma vez enfrentou.
Podemos estar numa encruzilhada. Ou a tomada do poder pela classe operária para
uma política social que elimine o capitalismo, ou a opção reaccionária, que
dará as rédeas do poder às organizações fascistas. Contrariamente ao que
pretendem fazer crer, os partidos de extrema-direita protegem o sistema
capitalista. Estes movimentos são a favor de uma sociedade hierarquizada e
dividida em classes sociais, e promovem a superioridade de uma raça sobre as
outras, de uma classe sobre as outras. Política e socialmente, são inimigos da
classe operária. Sob o verniz, as suas belas palavras para atrair as classes populares
não resistem à análise dos seus votos nas antecâmaras do poder.
O fascismo foi sempre a roda sobresselente do capitalismo, nascido após a
revolução bolchevique de 1917; foi nessa altura que a grande burguesia receou
verdadeiramente um contágio revolucionário em toda a Europa e entregou as
chaves da sua salvação a Mussolini, depois a Hitler. É certo que foi obrigada a
conceder avanços sociais para aliviar a pressão, mas, ao mesmo tempo, teve o
cuidado de direccionar o descontentamento crescente para as organizações
sindicais, os partidos políticos e as minorias. O fascismo só pode estabelecer
o seu poder depois de as organizações operárias terem sido destruídas, que é o
que a social-democracia e a direita têm estado a fazer nas últimas décadas. É
por isso que as liberdades estão hoje a ser atacadas, que o direito de se
manifestar, de se expressar e de protestar está a ser reprimido, muitas vezes
com uma brutalidade sem precedentes, por uma força policial que está em grande
parte gangrenada pelas ideias da extrema-direita. A burguesia, que controla efectivamente
a democracia, desliza inevitavelmente para o fascismo quando as dificuldades de
exploração e o descontentamento das classes populares e médias ameaçam. A
burguesia denuncia então os "inimigos internos", dos estrangeiros aos
sindicalistas, e encoraja o desejo de ordem, de polícia, de segurança e de
Estado. As nossas democracias estão a encorajar, sem o dizer, a transição para
o fascismo. A par do desejo de segurança, têm de inventar uma perda dos nossos
valores e tradições ligada à perda do sentido de identidade nacional. O desejo
de ordem e de polícia leva a que a polícia seja quase obrigada a apoiar a
tomada do poder. Jean-Michel Fauvergue, na Cnews, 22 de Julho de 2023: "Numa carreira de polícia, é-se obrigado a
cometer um acto ilegal. Hoje em dia, temos de tratar os polícias de forma
diferente, tem de haver desigualdade no tratamento dos polícias a favor desses
polícias. Tem de haver uma desculpa para a violência, e eu peso bem as minhas
palavras”. Esta declaração vem no seguimento da declaração da polícia
emitida em Junho de 2023, na sequência da violência que se seguiu à morte de
Nahel durante uma operação stop, quando foi baleado por um agente da polícia,
embora a sua vida não corresse perigo.
Quando os meios militares, policiais ou parlamentares "normais"
da autoridade burguesa já não são suficientes para manter a sociedade em
equilíbrio, o fascismo assume o controlo. A burguesia encorajará o fascismo até
ao ponto da guerra civil, se necessário. Através dos agentes do fascismo, o
capital põe em acção as massas da pequena burguesia desclassificada e os bandos
de assalariados desmoralizados, por outras palavras, todos aqueles que o
próprio capital financeiro mergulhou na raiva e no desespero. Depois, há os vários agrupamentos de
extrema-direita que se deixaram desenvolver para os ter à mão para acções
violentas, organizados como milícias para destruir obstáculos e fomentar o
caos. A burguesia exige resultados do
fascismo, e os agentes do fascismo esforçar-se-ão por satisfazê-la. A vitória
do fascismo significa que o capital financeiro se apodera directamente de todos
os órgãos e instituições de poder, dominação, organização e educação. O
aparelho de Estado, o exército, a polícia, os municípios, as universidades, as
escolas, a imprensa, os sindicatos, as cooperativas... tudo deve estar sob
controlo. A fascização do Estado implica, antes de mais, a aniquilação de todas
as organizações operárias: os operários e os assalariados devem ser reduzidos a
um estado de completa apatia e todas as suas organizações devem ser reguladas e
supervisionadas para impedir qualquer indício de independência por parte dos
assalariados. É precisamente esta a essência do
regime fascista. Não nos enganemos, as nossas “democracias liberais” sempre
tiveram uma boa opinião dos regimes “totalitários fascistas”, de Franco a
Pinochet, de Zelenski a Netanyahu, e não têm senão desprezo por Castro, Chavez,
Guevara ou Sankara. Actualmente, os países onde o fascismo está a avançar
perante os olhos da opinião pública perplexa são os Estados Unidos, bem como a
França, a Alemanha e a Grã-Bretanha, mas são a Rússia, a China e todos aqueles
que resistem a um mundo baseado nas regras americanas que são tratados como
fascistas. O nosso anti-fascismo não passa de uma fachada.
Desde há alguns anos, o capital e os
seus meios de comunicação social fazem tudo o que podem para que a opinião
pública aceite o facto de a sociedade francesa estar a tornar-se “de direita”,
e a última etapa é que está a tornar-se “fascista”. O fascismo foi definido
mais claramente por Dimitrov nos anos 30 do século XX. É, disse ele: “a ditadura terrorista aberta dos elementos
mais reaccionários, chauvinistas e imperialistas do capital financeiro”.
Para terminar, escolhi uma citação de Bertolt Brecht, que morreu em 1956, o ano
em que nasci: “A ficção democrática tem
dificuldade em não aparecer em todo o lado como aquilo que é, o caminho directo
para o fascismo”.
Fonte: Nos «démocraties» mènent au fascisme – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa
por Luis
Júdice
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