4 de Abril de 2024 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Parem, senão faço uma confusão! Esta tem sido a atitude constante e
ridiculamente belicista do ocupante do Palácio do Eliseu nos últimos meses.
Macron, o pícaro, pensa que é Napoleão I: quer enviar tropas para a Rússia, ou
mais precisamente para as suas fronteiras, para a Ucrânia, o berço da
"Rus" de Kiev, do mundo russo. Para recordar, a campanha russa (ou
"Guerra Patriótica de 1812") foi a expedição militar conduzida contra
o Império Russo pelo exército do imperador Napoleão I, que resultou na derrota
das tropas francesas, que foram esmagadas pelas forças russas.
Nos últimos anos, apesar de presidir aos destinos de uma França
desindustrializada e de um país em declínio, Macron tem trabalhado
incansavelmente para rearmar a França. Não no plano económico, mas no plano
militar. Este lançamento da corrida aos armamentos é tanto mais cínico quanto
surge no meio de uma campanha de austeridade orçamental decretada por Bercy.
Homem de pouco vigor político, mas adepto do rigor económico, Macron
decidiu empenhar o país numa economia de guerra para fazer frente à Rússia,
declara. Uma economia de guerra implica uma transformação profunda do modelo
económico, para compensar as perturbações de um conflito armado e, assim,
concentrar-se essencialmente no esforço de guerra. Ora, a França, ridiculamente
militarista, não dispõe de meios financeiros e industriais à altura das suas
ambições bélicas e da sua postura imperialista!
Esta viragem económica militarista beneficiará, no entanto, alguns capitalistas,
cujas carteiras de encomendas crescerão a olhos vistos.
Dito isto, durante o mandato de Macron, que terá rimado com ditadura e
decrepitude, a França terá duplicado o seu orçamento militar. No total, serão
gastos 413 mil milhões de euros até 2030, no âmbito de um aumento contínuo do
orçamento anual do exército, que passará de 41 mil milhões de euros em 2022
para quase 70 mil milhões em 2030.
Desde a expulsão da França de África, o exército francês tem vindo a
reorientar os seus esforços de guerra para a Europa de Leste. De facto, as suas
gesticulações de guerra.
No seio da Europa, acusando os seus parceiros europeus de serem cobardes e
de se terem prestado a Putin, Macron flecte os seus músculos e gaba-se de ser o
único a assumir corajosamente o esforço de guerra contra a Rússia. Esse inimigo
imaginário que serve os seus planos políticos maquiavélicos internos. Para
provar a sua determinação, Macron, o demolidor, anunciou mesmo que planeia
enviar tropas francesas para a Ucrânia, apesar de o governo ucraniano não ter
pedido de forma alguma que o exército francês fosse enviado para o seu
território. Que bluff da parte deste imbecil (tête de bœuf)!
Como toda a gente sabe, não só o exército francês é incapaz de sustentar
uma guerra de alta intensidade, como toda a população francesa se opõe a
qualquer conflito militar com a Rússia. Pior ainda, como salientou um oficial
superior na revista Marianne: "Não nos enganemos, quando se trata dos
russos, somos um exército de majorettes!
Então, porque é que Macron se entrega a uma retórica belicista e guerreira?
Estará ele a levantar o espectro da ameaça russa e da necessidade de a
neutralizar, quando o exército francês não dispõe de recursos humanos ou
militares para liderar uma ofensiva militar contra a Rússia, e muito menos de
legitimidade jurídica internacional para o fazer?
Neste período de crise económica que atinge cruelmente a França, o governo
Macron precisa de criar um clima de guerra ou de medo da guerra para exigir que
os trabalhadores participem no fantasmagórico "esforço de guerra",
fazendo sacrifícios socio-económicos adicionais. Esta é também uma forma indirecta de ajudar
os capitalistas, impondo austeridade aos trabalhadores. Sobriedade económica e
social em nome do imaginário perigo russo.
A ameaça de guerra serve também para justificar e legitimar o endurecimento
autoritário da governação, as restricções políticas, a repressão, as detenções
arbitrárias e as expulsões. Por outras palavras, para formalizar a viragem
fascista da França.
De que outra forma podemos manter um clima de psicose de guerra para
justificar e legitimar novas medidas de austeridade económica e restricções às
liberdades, senão através da fabricação histérica do perigo russo, embelezada
com dados militares alarmistas deliberadamente amplificados. Macron quer
fazer-nos crer que o exército russo está a cercar a França, que está às portas
de Paris.
Como evitar e neutralizar a exacerbação das actuais tensões sociais
generalizadas em França e acelerar e reforçar a militarização da sociedade,
associada a uma estratégia de controlo social, senão através de uma campanha de
propaganda militarista, apoiada por um tratamento militarista da informação,
provocador de ansiedade, destinado a criar um estado de atordoamento num
cenário de psicose colectiva, propício à consolidação da unidade nacional?
Como dizia Hermann Göring, ministro do regime nazi e fundador da Gestapo:
"E se conseguirmos encontrar algo para os assustar, podemos fazer-lhes
tudo o que quisermos".
Neste projecto de propaganda dedicado à exaltação da unidade nacional,
todas as forças foram mobilizadas para darem o seu apoio e participarem na operação
de recrutamento ideológico e militarista.
As autoridades estatais também são chamadas a intervir. É o caso do
Tribunal de Contas, que acaba de publicar um relatório alarmista, acompanhado
de recomendações de poupança nas finanças públicas. Neste recente relatório,
estes magistrados, servidores do Estado capitalista francês, estimam que seriam
necessárias 50 mil milhões de poupanças suplementares, acompanhadas de um
aumento dos impostos.
Os partidos políticos de todos os quadrantes são igualmente instados a unir
forças, a pôr de lado as suas diferenças e a cerrar fileiras para ajudar a
reforçar a unidade nacional. Esta é a principal razão pela qual o Governo
Macron convocou os deputados para um debate simulado para votar o
"acordo" de segurança co-assinado por Volodymyr Zelensky e Emmanuel
Macron, em meados de Fevereiro.
Um acordo (ideológico) que serve mais os interesses da burguesia francesa
decadente do que os da Ucrânia. O governo ucraniano está ciente de que não pode
esperar nada de uma França em declínio, desindustrializada e sobre-endividada.
No entanto, tanto Macron como Zelensky, estes perdedores da história, precisam
um do outro para enganar os seus respectivos povos, perpetuar o seu domínio e
assegurar a sua governação e espoliação ao estilo mafioso.
É como se a França estivesse em guerra com a Rússia. É como se fosse a
França que tivesse sido invadida. O medo alimenta-se da imaginação. A psicose
apodera-se da população quando o sentimento de perigo iminente deixa de ser
real e passa a ser imaginário. O Governo Macron está, portanto, ocupado a
espalhar o medo obsessivo.
Na verdade, o verdadeiro inimigo da senil burguesia francesa não é a
Rússia, mas o proletariado francês. O inimigo não está acampado lá fora, mas à
espreita dentro.
Sem meios militares para fazer a guerra no exterior, o governo Macron trava
uma guerra de propaganda belicista no interior do país, para unir a nação, para
convencer o povo a fazer sacrifícios económicos, sociais e até políticos,
aceitando o endurecimento do autoritarismo e o enterro da democracia, em nome
da ameaça imaginária simbolizada hoje pela Rússia. E, em breve, por um novo
país. A China?
Na realidade, Putin tornou-se o melhor aliado de Macron: serve de baluarte
à sua guerra de classes contra o proletariado francês, um espantalho para
justificar e legitimar o endurecimento autoritário da governação. Para assegurar a transição fascista da França.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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