segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

A Grande Ilusão

 


 13 de Fevereiro de 2023  Olivier Cabanel  

OLIVIER CABANEL — Pode a energia nuclear combater o aquecimento mundial?

Ao misturá-lo inteligentemente com energias suaves, eólica, solar, biomassa, os defensores da energia nuclear estão a demonstrar uma manipulação mediática questionável.


De acordo com o investigador Benjamin Sovacool, "se tivermos em conta todo o ciclo de vida do átomo. Ou seja, desde a extracção de urânio até ao desmantelamento de centrais elétricas, a energia nuclear produz CO2" (relatório científico citado em 26 de Novembro no jornal belga "Le Soir").

Diz:

"Enquanto as centrais de carvão, petróleo e gás emitem até quinze vezes mais CO2 do que as centrais nucleares, o ciclo de vida do combustível nuclear pode, em alguns casos, produzir quase dois terços das emissões de ciclo de vida das centrais de vapor de gás de alto desempenho."

O investigador destaca ainda o facto de as emissões de CO2 provenientes do ciclo de vida das energias renováveis serem muito mais baixas do que no sector nuclear.

Soem os clarinetes, rufem os tambores...

A energia nuclear permite a independência energética?

Nada é menos certo.

Quase 70% do nosso urânio vem do Níger, provocando uma guerra de que quase ninguém fala.

Um jornalista da ARTE foi privado da sua liberdade por se atrever a tentar uma reportagem sobre o assunto.

A energia nuclear rima com electricidade barata?

Isto é questionável.

Os futuros EPRs vêem o custo da sua construção disparar, devido a atrasos consecutivos e erros de concepção, e como resultado o preço por quilowatt também sobe.

Segundo a rede "sortir du nucléaire", num comunicado de imprensa de 3 de Dezembro de 2008, o preço de um kW nuclear passou de 43 euros (prometido pela EDF durante o debate público oficial de 3 de Novembro de 2005) para 55 euros por megawatt-hora.

As acções nucleares não estão a melhorar e estamos a assistir a uma queda de 84 euros para 39 euros. Isto não pode ser atribuído à crise mundial, uma vez que a EDF e a AREVA já tinham caído significativamente antes de a crise económica ter eclodido.

Mesmo sem um acidente, o nuclear é poluente?

Aprendemos sob a caneta de Isabelle Chevallier, presidente da ecologia liberal:

"Hoje em dia está na moda afirmar que a energia nuclear é energia limpa. Mas isto é para esquecer como o urânio é enriquecido.

Tomemos o Níger, que tem duas minas de urânio: uma a céu aberto e uma subterrânea. Os mineiros que lá trabalham não fazem ideia do que é o urânio, quanto mais de quão perigoso é. Por exemplo, quando o urânio tinha de ser transportado para a capital, era, até ao ano passado, simplesmente despejado ao ar livre no convés dos camiões... Os gestores da mina também costumavam oferecer a velha sucata da mina aos seus trabalhadores, que o vendiam aos sucateiros da cidade de Arlit. Depois poderia começar a transformação desta velha sucata, nomeadamente em caçarolas, caixilhos de janelas, etc. Um relatório da CRIIRAD mostrou recentemente que estes objectos estavam contaminados e tinham sido vendidos em todo o país. Como as minas estão localizadas no meio do deserto, toda a água foi retirada dos lençóis freáticos e os lençóis freáticos fósseis estão agora a ser atacados (levam 500 anos a regenerar-se). Quase não restam árvores na região, uma vez que não podem ir buscar a água de que necessitam.

Quando o urânio é extraído, menos de 1% é urânio físsil. O enriquecimento gera portanto grandes quantidades de resíduos, que são armazenados ao ar livre. Esta poeira, que ainda contém 80% da radioactividade, está sujeita aos ventos fortes que são comuns no deserto e, no processo, contamina toda a região.

Como se isto não fosse suficiente, o processamento do urânio requer grandes quantidades de ácido sulfúrico. Isto é produzido directamente no local em condições terríveis. Esta produção gera chuva ácida, que destruiu toda a flora local.

Em suma, a energia nuclear é cara, não permite a independência energética, gera conflitos e polui o ambiente durante muito tempo, mesmo sem acidentes.

Como um velho amigo africano costumava dizer:

"Tudo tem um fim, excepto a banana, que tem dois".

 

Fonte: La grande illusion – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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