2 de Dezembro de 2021 Robert Bibeau
Por Brigitte Bouzonnie.
Alain Badiou denuncia as desigualdades abismais que estruturam o planeta: 10% da humanidade controla 86% da riqueza. 40% das classes médias têm 14% da riqueza mundial. 50% da humanidade não tem nada" (veja o seu livro: "O nosso mal vem de mais longe, a pensar nos assassinatos de 13 de Novembro de 2015", edição de Lignes, 2016). A França está a atravessar uma explosão de desigualdades: passámos de um fosso de rendimentos de 1 para 20 nos anos 70 para um fosso de 1 a 400 hoje (números da Martine Orange).
Alain Badiou acrescenta: "Para um jovem sem dinheiro, começa
a sua vida sendo constituído pela sociedade como um problema. Há uma
obscenidade em apresentar, por meios de comunicação descontínuos, a vida dos
ultra-ricos: belos carros, villas sumptuosas, mulheres de sonho, etc. Há um
derrame contínuo destas imagens em todo o mundo. Um mundo que faz um número
máximo de frustrados, que nem sequer têm o mínimo para viver, corre até à sua
perda" (sic) (ver entrevista com Alain Badiou no Clique de
1 de Fevereiro de 2016).
Com todo o respeito pelo INSEE
apresentando a pobreza como um fenómeno "externo" à vontade dos
políticos, "evidente", a pobreza em massa é o resultado voluntário,
consciente e premeditado das políticas liberais levadas a cabo pela direita e
pela esquerda no poder desde os anos 80. Como disse Nelson Mandela: "A
pobreza não é natural: são os homens que a criam, são os homens que a vão
ultrapassar" (sic).
1º)- A ocultação da pobreza em massa pelos
meios de comunicação mentirosos e pelos oligarcas da "esquerda".
Sim, desde os anos 80, a classe dominante tem colocado
as classes populares francesas e parte da classe média na miséria, o primado do
aumento mecânico do preço do mercado bolsista obriga. Como resultado, tem havido um número
crescente de candidatos a emprego desde os anos oitenta: 1 milhão de
desempregados em 1980. 2 milhões em 1988. 3 milhões em 1997. 6 milhões hoje, de
acordo com os números da DARES.
Esta maré de pobreza resulta em 15
milhões de pobres, de acordo com os nossos cálculos, uma catástrofe social
cuidadosamente escondida pelos políticos no poder. Os media no comando, e os
líderes da "esquerda". Por prolofobia, ódio aos populares, são os
líderes do PS, PCF, FI, que não deixam de repetir: "a questão social é uma
"questão ultrapassada". O social acabou. "inútil".
"Arccaico". "Marxista". A questão social tornou-se esta
caixa negra, sem pensamento voluntário de reflexão política. Esta mesma
burguesia intelectual, que se reuniu para a classe dominante, da qual constitui
o exército de reserva; trabalhando activamente ao serviço da imobilidade
social, Alain Accardo analisa lúcidamente no seu livro: "Le
petit-bourgeois gentilhomme: sur les prétentions hégémoniques de la classe
moyenne", edição agone, 2009.
Depois de todos estes anos de Inverno e silêncio sobre
a questão social, o seu regresso ao topo da lei por ocasião da próxima eleição
presidencial não é evidente. Pierre Bourdieu explica como a questão da divisão
pobre/rico foi abandonada na sequência de Jean-Marie Le Pen, a favor da questão
franco-imigrante. "Ninguém pode contestar que todo o campo político
francês, incluindo o PS, o PC, etc. foi transformado pela existência de Le Pen
(pai). Quem substituiu, algo muito grave mas passado despercebido, A OPOSIÇÃO
RICOS-POBRES, a oposição nacional/estrangeiro"(sic)
que ele escreve no seu livro: "Propos sur le champ politique", edição
Presses universitaires de Lyon, 1998.
Durante 40 anos, o discurso político, sobretudo
aquele da “esquerda” bem pensante, dourado no limite, avança, nega ferozmente,
hipocritamente a crónica falta de dinheiro, afectando, infelizmente, 80% dos
franceses, que lutam para pagar as despesas. Os
líderes políticos da "esquerda" ridicularizam o povo francês
descartado, preferindo apenas problemas "sociais" como a ecologia ou
a defesa do Islão.
E falo por experiência própria. Podemos
testemunhar o imenso desprezo que tenho sentido há anos, os meus artigos sobre
o desemprego e a pobreza, as minhas propostas de criação de 2 milhões de postos
de trabalho no sector associativo rejeitados com as costas das mão, como uma
coisa inútil e suja. Colocado directamente no lixo por todos os líderes de
Partidos de Esquerda, desde 2009: Coquerel, Girard e Obono em particular. Mas
também os líderes do PCF, NPA e ATTAC, para não falar de todas as editoras,
incluindo as edições "La Découverte", que não quiseram o meu livro intitulado:
"Emprego, emprego, emprego". Vendo isto, criei a minha "carta
política independente", onde as questões da pobreza ocupam um lugar de
destaque.
A verdade é que há muita miséria,
sofrimento nestas vidas minúsculas, ignorado por todos, não de interesse para o
campo político. Os meios de comunicação, propriedade de 10 bilionários, optam
por falar das pessoas que brilham: por exemplo, um Benzema chegando à sede da
polícia com um magnífico Porsche, uma riqueza fedorenta, inaceitável, quando
sabemos que os roubos de comida se multiplicam nos supermercados: muitas vezes
o gesto daqueles que não têm nada a partir do dia 12 de cada mês. E que os
mercados da miséria se desenvolvem: Porte de Vanves, Porte de Saint Ouen, são
2000 todos os fins-de-semana para vender alimentos expirados, tecidos velhos,
medicamentos fora de uso a 50 cêntimos ou um euro.
2º)- O regresso da questão social com o
movimento dos Coletes Amarelos (Novembro de 2018) e a aproximação das eleições
presidenciais!
Mas o movimento dos Coletes Amarelos,
surgido em Novembro de 2018, a perspectiva das eleições presidenciais de 2022
em seis meses, estes dois factores combinados permitem um surpreendente
regresso da questão social no debate político. É chocante ouvir o mundo
político da direita e a falsa esquerda a marcar o assunto. Por exemplo, durante
o debate primário à direita, Valérie Pécresse propôs um aumento de +10% nos
salários abaixo dos 2,2 SMIC. Xavier Bertrand defendeu um bónus para o emprego
reservado aos trabalhadores de baixos rendimentos.
Foi uma falsa verdade, insinceridade, hipocrisia real, ouvir Macron falar de "pleno emprego", durante o seu último discurso. E ver o "Le Monde" de 20 de Novembro de 2021, um jornal ao serviço dos poderosos se for, titular solenemente:"O REGRESSO AO PLENO EMPREGO, NOVA QUESTÃO POLÍTICA"(sic). Mais hipócrita, e morres!
2)-Propostas de luta contra a pobreza:
Se alguns homens criam deliberadamente a pobreza, outros pelo contrário lutam com toda a sua força para superar a privação em massa. Abolir a miséria. Puxando os mais fracos entre nós, dando-lhes esperança para o futuro.
Foi por isso que redigimos um programa
de 35 pontos do “Encontro Poder ao Povo” ("Rassemblement Pouvoir au
Peuple"), que coloca um grande foco na luta contra a pobreza e no regresso
ao pleno emprego.
O Comício "O Povo Primeiro"
reúne o Polo da Renascença para o Comunismo (PRCF) em França, o PARDEM, o
Comité Nacional Soberano para a Justiça Social animado por Jacques Cotta, Os
Insumises Democráticos, Os Francamente Insubmissos, a corrente interna/externa
do IF: "Ruptura, Poder para os rebeldes".
Excertos deste programa nos seus aspetos económicos e sociais.
ECONOMIA
1º)- Nacionalização dos bancos, seguros,
principais meios de produção, transportes e telecomunicações, e laboratórios
médicos.
2°)-Poder devolvido ao Banco de França
para cunhar dinheiro. Revogação
da Lei Rothschild de 1973.
3°)-Encerramento da Bolsa de Valores.
4°)-Restauração de todos os nossos
serviços públicos.
5)°) Reforma fiscal redistributiva,
incluindo a reposição do imposto sobre grandes fortunas, note-se
que as 300.000 famílias sujeitas ao ISF têm um rendimento total de 1000 mil
milhões de euros por ano, ou seja, metade do PIB.
6°)- Eliminação das lacunas fiscais e da
segurança social : 160 mil milhões dados anualmente às grandes
empresas.
7°)-Abolição do CICE.
8°)- Bloqueio do preço do aquecimento,
electricidade, gasolina e rendas.
SOCIAL
1º)-Plano de recuperação económica no
valor de 500 mil milhões de euros para iniciar actividades socialmente úteis tanto nos
sectores comerciais como nos não comerciais.
2°)-Desde 1974, a França perdeu 2,5 milhões de postos
de trabalho no sector secundário. O objectivo é recriar um sector industrial poderoso
que crie empregos qualificados.
3°)-Regresso ao pleno emprego e luta contra a
pobreza. Criação
de 2 milhões de postos de trabalho no sector associativo.
4°)-Nos últimos 30 anos, os hospitais perderam 100.000
camas, o que levou à eliminação de 450.000 cuidadores. Por isso, é importante criar um número
equivalente de enfermeiros e auxiliares de enfermagem .
5º)- Aumento substancial dos salários,
pensões de reforma e mínimos sociais,especialmente
para as classes populares e para as pequenas classes médias.
6°)- Restauração da escala móvel, ou seja, a indexação dos salários aos preços.
7 °)- Poder conferido ao conselho de
empresa para frustrar um plano social de despedimento do empregador.
8 °)restauração num primeiro tempo do código de
trabalho, o DP e CE, o CHSCT. Depois, a elaboração de um novo código de trabalho mais
favorável aos trabalhadores.
9°)-Regresso à reforma aos 60 anos.
10 °) Limite salarial com diferença de 1 a 5, sendo a
remuneração mínima de 1500 € líquido. Diferença de rendimentos de 1 a 10.
Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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