domingo, 5 de dezembro de 2021

Questão Nacional e Revolução Proletária Sob o Imperialismo Moderno

 


                                                                Capítulo 5

                                             Marxismo, nacionalismo e lutas nacionais hoje

                                   David Mcnally

 

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Nesta secção do volume, reproduzimos o texto de David Mcnally, um militante canadiano de esquerda que apresenta no “Marxismo, nacionalismo e lutas nacionais hoje” uma excelente síntese da ideologia nacionalista esquerdista. Reproduzimos o texto tal como foi  publicado em 1996 como documento de discussão para O Novo Grupo Socialista, traduzido em francês pelo Grupo A Esquerda. Ao longo do texto, apresentamos as nossas reflexões em itálico, seguidas das letras NDLR.

 

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Primeira Parte: o desafio do nacionalismo ao marxismo

 

1. O nacionalismo domina a política mundial – e fá-lo com uma facilidade surpreendente. Abri não importa que jornal, escutai as discussões no trabalho ou na escola, guardai ou escutai não importa que emissão de notícias, examinai os cursos que se dão nas universidades, e vereis que a divisão da população global em entidades nomeadas nações é de maneira esmagadora tomada em consideração. No momento em que escrevo estas linhas, os Jogos Olímpicos de verão desenrolam-se em Atlanta. Todos os atletas destes Jogos são organizados pelos Estados nações, representam o seu Estado, trazem a sua cor e a sua bandeira. As medalhas ganhas por estes atletas pertencem ao seu país, são os garantes da honra do seu país e do seu orgulho. Todos os dias, um quadro de medalhas é aberto para cada nação e é difundido aos milhões de pessoas que seguem este acontecimento.

Para a vasta maioria das pessoas, não há nisso nada de bizarro, de insidioso ou de perigoso. Elas dão por adquirido que são membros de um Estado nação, sentem-se orgulhosas desta realização, sofrem quando a nação fica embaraçada ou humilhada (lembramo-nos do caso Ben Johnson?). Raramente se diz, se é que isso tenha tido lugar, que o sistema dos Estados nações é uma criação recente na história humana, que a maior parte das sociedades humanas nunca teve  um conceito de nação qualquer que ele seja, e que a expansão do sistema dos Estados nações corresponde ao desenvolvimento internacional do capitalismo. De mais a mais,muito raramente se acha  no debate político o facto de que o sistema do Estado–nação é a forma política que regula, controla e disciplina as pessoas de maneira a facilitar a sua exploração pelo capital. A maior parte das vezes vivemos num universo mental onde as discussões se conduzem em termos nacionais – automóveis japoneses, aço canadiano, filmes americanos, atletas russos, música jamaicana e assim sucessivamente – e fazem parte do senso comum que organiza a nossa compreensão política e cultural do mundo. Mesmo a ascensão dos nacionalismos étnicos virulentos – como os da ex-Jugoslávia ou os que matam centenas de milhões de pessoas no Burundi ou no Ruanda actualmente, raramente nos conduzem a questionar a ideia da nação ou o nosso próprio nacionalismo. De modo esmagador examina-se o nacionalismo dos outros, que é visto como um problema, e quase nunca o nosso.

 

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Que há de extraordinário no facto de que, sob o modo de producção capitalista, a ideologia burguesa seja dominante e cubra com a sua chapa de chumbo o conjunto da sociedade e das classes sociais, de que controla a quase totalidade das instituições e dos órgãos da comunicação social? Todavia contestamos a afirmação do professor Macnelly no sentido de que o nacionalismo domina a política mundial. O nacionalismo estiola-se docemente sob os assaltos das actividades económicas internacionais do capital mundial. NDLR.

 

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2. Por todas estas razões, o nacionalismo representa sem dúvida o maior desafio colocado ao marxismo. “Os trabalhadores não têm pátria”, diziam Marx e Engels no Manifesto Comunista. Neste espírito, o marxismo lançou o primeiro movimento político que ensinou nos termos internacionais que procurava a emancipação da humanidade à escala mundial e afirmava que a eliminação do Estado nacional era o seu objectivo mais elevado. A Associação Internacional dos Trabalhadores (mais conhecida como a Primeira Internacional), lançada em 1864, representava a forma de organização que quadrava com esta concepção de um movimento político internacional da classe operária. Mas durante quase todo o período de 150 anos depois da publicação do Manifesto Comunista houve um período durante o qual os movimentos da classe operária tenderam (fora do interlúdio de 1917-23 ou perto disso) a tornar-se de maneira cada vez mais esmagadora dominada pelo nacionalismo. Os movimentos operários são quase todos organizações inteiramente nacionais. Pensam organizar os trabalhadores de um dado país, tendo poucas preocupações com os seus irmãos e irmãs de outros lados. Mais ainda: é que são dominados pelo nacionalismo: tendem a sustentar os controlos das importações (e as outras formas de proteccionismo nacional) a proteger  os nossos empregos e o nosso modo de vida. Não será exagerado dizer que o nacionalismo de esquerda é a ideologia dominante dos movimentos operários através do mundo.

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 “ Sendo verídicas estas constatações, que pensas delas? É preciso concluir que,  muito embora a classe operária  esteja desorientada – sem ideologia proletária revolucionária dominante nas suas fileiras – sem organização proletária  influente, deverá baixar os braços e juntar-se ao nacionalismo burguês , às lutas de libertação nacional burguesa  para fazer sair a sociedade  do feudalismo e a fazer entrar no capitalismo e cumprir as duas revoluções sucessivas como Lenine o propunha? Decerto que não, porque as duas revoluções em cascata não são realizáveis, como o provam as revoluções russa, chinesa, cubana e as outras. É preciso saber que estas análises pseudo-científicas da economia política capitalista são falsas mesmo se os sindicatos, as organizações de esquerda burguesa e os intelectuais esquerdistas as propaguem. Cada revolucionário proletário  deve dedicar-se à tarefa e, em lugar  de procurar encontrar entre esta amálgama confusa esquerdizante a explicação mais  “marxista “ – frequentemente  a mais dogmática –, deve fazer um trabalho de pesquisa, de análise da realidade concreta, para difundir os resultados e debater estas ideias com toda a gente.

Em resumo: recomendamos que os proletários revolucionários se afastem de todo o partido político, de toda a organização de esquerda dogmática e sectária, herdeira da II, da III e da IV Internacionais. É preciso quebrar o cordão sanitário anti-proletário que a pequena burguesia sectária, sindicalista, as ONGs subvencionadas, a sociedade civil  altermundialista , ecosocialista, esquerdista , oportunista e reformista ergueram à volta dos proletários”. NDLR.

 

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Se bem que a influência do nacionalismo possa ser quebrada, as perspetivas são verdadeiramente fracas para as políticas do internacionalismo socialista. É por isso que  a  discussão sobre a questão nacional reaparece de maneira recorrente no movimento socialista.  No que se segue, tento passar em revista, os elementos principais dos debates marxistas sobre o nacionalismo, para examinar as suas forças e as suas fraquezas e para aplicar algumas lições que se podem tirar deste estudo sobre as questões nacionais no Canadá hoje em dia.

 

Segunda parte: a questão nacional de Marx a Trotski

 

3. A persistência do nacionalismo e da realidade das lutas nacionais forçaram os socialistas a voltar regularmente a esse assunto. Mas sabe-se que generalidades não funcionam neste domínio. A grande maioria dos socialistas adaptaram-se ou acomodaram-se ao nacionalismo; eles viam o seu projecto como uma maneira mais humana e esclarecida de liderar um estado nacional (e não a sua eliminação no curso de uma luta internacional contra a "miséria do mundo"). Uma pequena minoria de socialistas simplesmente tentou ignorar a realidade das lutas nacionais, constantemente pedindo a unidade internacional dos trabalhadores do mundo que não mobilizavam ninguém e que ignoravam questões nacionais reais e concretas. Existem algumas situações importantes em que os socialistas têm lutado para encontrar um caminho internacionalista vinculado às realidades da opressão nacional. A atitude de Marx em relação à Irlanda na década de 1860 e a abordagem de Lenine aos povos oprimidos da Rússia czarista são consistentes com essa visão. Antes de examinar esses exemplos, no entanto, quero me deter por um momento nas duas tendências a que me referi.

 

 

 

A luta do proletariado revolucionário contra o modo de producção capitalista não é uma cruzada, “ uma maneira mais humana e esclarecida de dirigir o Estado–nacional” burguês. É uma guerra que terá de ser levada até ao fim, onde o proletariado ou  desaparecerá sob as bombas termonucleares do capital decadente, que não terá de fazer desse capital  um  capital vivo não valorizável; ou o proletariado substituirá o capital nacional e internacional para dar capacidades de  criar um novo modo de producção revolucionário. Contrariamente ao que pretendiam os bolcheviques, não há nenhuma alternativa reformista estadista socialista, nem de coexistência pacífica entre o modo de producção capitalista e o modo de producção proletário comunista. NDLR

 

4. O movimento socialista mundial adquiriu um carácter de massas pela primeira vez na Alemanha no final da década de 1880. Naquela época, a Alemanha era uma monarquia com um parlamento eleito por uma pequena minoria da população adulta. Com o passar dos anos, mais e mais trabalhadores tiveram o direito de votar e o partido da classe trabalhadora foi organizado, o Partido Social Democrata (mais conhecido por suas iniciais alemãs, o SPD), que se tornou uma força política de primeira importância. O SPD rapidamente se identificou com a "tomada do controlo" do estado alemão e não com o seu derrube. Isso levou os líderes do SPD a tornarem-se cada vez mais influenciados pela ideia de interesse nacional. Gradualmente, os líderes começaram a defender a idéia de um colonialismo alemão "progressista". Eles alegaram que um governo do SPD não daria liberdade às colónias alemãs; simplesmente os trataria melhor. A identificação com o estado nacional foi tão poderosa, tão arreigada que a maioria da liderança do SPD veio apoiar o governo alemão quando ele entrou na Primeira Guerra Mundial. A maioria dos partidos da II Internacional (fundada em 1889) seguiu rapidamente esse caminho.

5. A marxista germano-polaca Rosa Luxemburgo e o marxista russo V.I. Lenine estiveram na vanguarda da oposição socialista à guerra. Ambos denunciaram a guerra como produto do imperialismo e como consequência da competição entre as principais potências capitalistas para dividir o mundo. Luxemburgo e Lenine desenvolveram as políticas da oposição socialista internacional à guerra e argumentaram que os trabalhadores deveriam recusar-se a apoiar as"suas" classes dominantes nacionais e que deveriam trabalhar para transformar as crises sociais associadas à guerra em guerra de classe dos trabalhadores contra o sistema capitalista.

6. Luxemburgo e Lenine deram uma contribuição essencial ao movimento internacionalista e anti-imperialista dentro do movimento socialista. Apesar de suas convergências significativas nessa área, divergiram bastante sobre a questão da atitude socialista em relação às lutas nacionais. Luxemburgo argumentou que na era do imperialismo e do capitalismo totalmente internacionalizado, as lutas nacionais estavam desactualizadas. A economia mundial estava tão desenvolvida que a idéia de um Estado-nação economicamente independente tornou-se ridícula. "Em meados do século XIX", disse ela, "as guerras nacionais irromperam velhos impérios e criaram novos estados burgueses democráticos, e isso foi progressista. Mas desta vez acabou. Na era do capitalismo internacional, é reaccionário apoiar a criação de novos estados-nação. A tarefa agora era mobilizar a classe trabalhadora internacional contra o capitalismo mundial”. Em tempos de capitalismo desenfreado, não pode mais haver guerras nacionais, disse ela. As lutas nacionais "só podem servir como meio de desmoralização", de engano das massas. A posição de Rosa Luxemburgo tinha um ponto forte: o de um internacionalismo de princípios, sua vigorosa oposição ao nacionalismo. Mas, segundo Lenine, ela tinha duas fraquezas importantes. Em primeiro lugar, negligenciava o caráter hierárquico das relações entre as nações - de facto, algumas são dominantes e outras são oprimidas - e a sua posição pode levar os socialistas a uma posição de indiferença ou neutralidade nas lutas entre nações opressoras e nações oprimidas.

 

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“Detenhamo-nos de novo nestes conceitos de “nações dominantes, opressoras e exploradoras” e de “nações dominadas, oprimidas e exploradas “, hierarquicamente diferentes, afirma o professor Macnelly. Convenhamos antes de tudo que uma nação não é uma classe social, mas antes um agrupamento de classes sociais. Numa nação, as pessoas têm uma ocupação – um ofício – condições de existência – um vende a sua força de trabalho, a sua propriedade ou quase – a outra compra meios de producção e força de trabalho para extrair a mais-valia, fonte da sua riqueza, do seu capital em definitivo. Mercadorias que outros enfim vendem e revendem aos proletários que aí delapidam os seus salários comidos pela inflacção. Entre estas diferentes classes sociais não há nada de comum, nada de mentalidade comum: o proletário tem necessidade da paz para se reproduzir, o capitalista vem à guerra para assegurar a reprodução do seu capital. Por vezes, até a língua é diferente de uma classe social para outra, o que em todo o caso não cria uma opressão linguística de classe. Se a classe dominante capitalista francesa e o seu Estado oprimem as classes camponesas e proletárias na Costa do Marfim, não é a classe operária francesa que se aproveita desta exploração de classe e não é a classe capitalista marfinense que é explorada e oprimida pelos seus mentores franceses que, ao contrário, lhe atribui prebendas, contratos de subempreitada e participação de acções das multinacionais do capital, que erradamente se qualificou de multinacionais francesas, belgas ou americanas. Em resumo: a nação francesa não explora a nação marfinense. Incidentalmente, após algum tempo os milionários franceses e marfinenses cooptam-se no seio de conselhos de administração na Costa do Marfim, em França e algures no mundo. Ultimamente, anunciou-se que um primeiro milionário vietnamita comprou acções de uma empresa química multinacional, a mesma que produziu o agente laranja, cujos efeitos fazem ainda morrer as crianças vietnamitas, cujos pais se esfalfam nestas fábricas exploradoras de mão de obra da morte propriedade de um milionário vietnamita.  Não há nações oprimidas e exploradas, tal como não há nações opressoras-exploradoras, não há senão classes sociais oprimidas e classes sociais opressoras, vivendo para as primeiras sob o tecto opressivo dos governos nacionais e dos seus Estados, que cada clã nacionalista burguês quererá controlar para seu benefício. Depois de um século, depois das vitórias bolcheviques e maoistas, os comunistas e esquerdistas do mundo inteiro propuseram-se substituir-se  aos burgueses nacionalistas apodrecidos e mutantes, a fim de realizar as revoluções democráticas burguesas, esperando prosseguir até à revolução socialista em marcha para o modo de producção comunista. Todas foram derrotadas não pela falta de traidores revisionistas e oportunistas reformistas, mas porque as condições económicas objectivas, o desenvolvimento das forças produtivas nesses países atrasados, de um ponto de vista industrial exigem o desenvolvimento prévio do capitalismo. Os chefes comunistas têm-se portanto colocado na posição de quadros do capitalismo de Estado dito em marcha para o modo de producção proletário comunista via a economia de mercado e o modo de producção socialista que nunca foi outra coisa senão a via estática totalitária para o capitalismo, e depois para o imperialismo, como o demonstraram a história da URSS e da China comunista. Na história nunca houve luta de libertação nacional proletária, nunca houve senão lutas de uma burguesia nacional ou de uma facção desta, servindo-se das classes sociais camponesas e proletárias nacionais como carne para canhão para a defesa das suas causas e das suas ambições assim como o demonstram todas as guerras de libertação nacional burguesas onde o proletariado se encontra hoje, após múltiplas guerrilhas e guerras para se libertar dos seus novos carrascos nacionais. Sem libertação económica global, não há libertação política e ideológica nacional. Pior: na época do imperialismo moderno mundializado é impossível para uma secção nacional do proletariado internacional conduzir uma revolução emancipadora num só, ou em dois ou três países. A revolução proletária do futuro será mundial ou não será revolução. NDLR.

Em segundo lugar, a posição de Rosa Luxemburgo substima a importância para os socialistas da defesa dos povos oprimidos até à sua auto determinação como meio de desafiar o chauvinismo nacional que envolve os trabalhadores e as nações dominantes. Segundo Lenine, o erro de Luxemburgo, noutros termos, provêm do facto de que ela considera as lutas nacionais do ponto de vista geralmente abstracto da economia mundial.Ao fazer isso, perde de vista as dinâmicas políticas concretas, a maneira como os conflitos nacionais estruturam o terreno da luta política e a consciência de classe da classe operária. Se os marxistas devem ser realmente parte componente dos debates políticos na sociedade, afirma Lenine, uma posição abstracta e intemporal desta espécie “ todas as lutas nacionais estão ultrapassadas”,  não servem para nada. Ao invés, os socialistas revolucionários devem tentar compreender como é que as lutas    dadas afectam o terreno geral da luta política na sociedade e constroem a partir daí o seu ponto de partida Lenine apresentou a tese que desenvoveu neste domínio como uma elaboração da posição que Marx tinha tomado na luta pela independencia irlandesa. De facto, a posição de Lenine era muito mais original do que isso. Ele desenvolveu uma aproximação completamente nova de todo o problema das lutas nacionais. Mas comecemos por examinar a posição de Marx sobre a Irlanda e veremos o que fez Lenine.

 

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O professor Mcnally penetra aqui no coração da teoria leninista. Mcnally explica que Lenine efectou algumas piruetas e convida-nos  a seguir o seu caminho: 1) constata que o proletariado é influenciado pela ideologia burguesa hegemónica, pela ideologia nacionalista chauvinista, nomeadamente. Com efeito, numa sociedade de classes, a ideologia da classe dominante é hegemónica, já o escrevemos. 2) Lenine, enquanto táctico pragmático, afirma que os socialistas devem tentar compreender como as lutas nacionais dadas afectam o terreno  geral da luta política (…) é preciso construir um ponto de começo a partir daí, sugere Lenine. Tereis notado que Lenine não propõe ainda que os comunistas se apoderem da direcção das lutas nacionalistas burguesas, mas simplesmente “que  eles construam um ponto de partida!?...” Sabe-se hoje que este ponto de partida consistirá, para os partidos comunistas da III Internacional, nomeadamente, em se substituir aos burgueses nacionalistas hesitantes ou então em pôr-se a reboque das burguesias nacionais, a fim de assegurar a vitória das revoluções democráticas capitalistas. 3) Lenine tenta, em seguida, encerrar o círculo de Rosa Luxemburgo e dos internacionalistas revolucionários, chamando Marx em socorro. Voltaremos a este ponto. NDLR.

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7) Marx e Engels tinham em primeiro lugar dado pouca importância à luta da independência irlandesa face à Grã-Bretanha. Em 1848, por exemplo, haviam afirmado que o movimento operário de massa britânico deste período (conhecido como o (Chartismo) devia preocupar-se com este problema. Viam a questão irlandesa como um aspecto verdadeiramente menor da luta da classe operária de Inglatera e muitas vezes acusaram os nacionalistas irlandeses de não se aliarem ao Chartismo .Depois do declinio do Chartismo, como o sentimento anti-irlandês comecasse a desempenhar um papel mais importante na política britânica e logo que o movimento Feniano pela indepedência da Irlanda se desenvolveu de novo nos anos 60, a posição de Marx mudou de novo. A tese de Marx exprimia-se como se segue: em primeiro lugar, afirmou que sendo dado que o sentimento anti-irlandês conduziria os trabalhadores irlandeses a identificarem-se com as classes dirigentes, esta realidade era o obstáculo mais importante a uma política de independência da classe operária.

O trabalhador inglês ordinário odiava o trabalhador irlandês como um concorrente que baixasse o seu nível de vida. Nestas relações com os trabalhadores irlandeses o inglês via-se ele próprio como membro da nação dominante e posicionava-se ele mesmo como instrumento dos aristocratas e dos capitalistas do seu país contra a Irlanda,reforçando assim o seu domínio sobre ele. Este antagonismo é o segredo da impotência da classe operária inglesa.” ( Marx e Engels, a Irlanda e a questão irlandesa).

Em segundo lugar, Marx defende agora que a luta nacional na Irlanda era a chave que iluminaria a revolução operária na Inglaterra. Com isso, Marx reconhecia que havia uma alteração da sua posição anterior. “Durante muito tempo, acreditei que seria possível substituir o regime irlandês graças à subida da classe operária inglesa. Um estudo mais aprofundado convenceu-me do contrário: a classe operária inglesa não fará nada de decisivo aqui na Inglaterra, enquanto não romper de maneira absolutamente nítida, na sua política para a Irlanda,com a política das classes dominantes; enquanto não fizer  não somente a causa comum com os irlandeses, mas também não tomar a iniciativa da dissolução da união forçada de 1801 e da sua substituição por uma confederação igual e livre.” (Marx e Engels, a Irlanda e a questão irlandesa, página 294).

No extracto precedente, Marx comete um erro perfeitamente compreensível neste começo do movimento operário. Marx cria que o proletariado devia organizar-se num vasto partido de massa e apresentar uma plataforma eleitoral às eleições burguesas. Um programa de classe  compreendendo proposições como “a substituição da união forçada por uma confederação igual e livre. Mais de um século de história eleitoralista dos partidos operários no mundo ensina-nos que, de um ponto de vista revolucionário não há nada a esperar destes partidos políticos eleitoralistas de massa, nem da participação proletária nas eleições burguesas. Sabemos agora que o movimento insurreccional e revolucionário espontâneo se desenvolve de outra maneira, nomeadamente, reforçando o desprezo e a rejeição completa que de qualquer maneira o proletariado desenvolverá instintivamente sem desprezo pelos candidatos da “esquerda”  face ao estado burguês e à sua governação, face às mascaradas eleitorais e face ao nacionalismo chauvinista. Nisso podemos  afirmar que a classe operária é a vanguarda da vanguarda”. NDLR.

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A experiência de repensar a questão irlandesa foi de uma importância universal para Marx e Engels. Ela conduziu Marx, por exemplo, a formular esta magnífica reflexão: “Toda a nação que oprime uma outra forja as suas próprias cadeias”. A bem dizer , o que Lenine fez foi retomar esta intuição e aplicá-la sistematicamente.

O imperio dos czares da Rússia englobava dezenas e dezenas de comunidades internacionais oprimidas. Tentando organizar o movimento da classe operária no império czarista, os marxistas russos estavam inevitavelmente confrontados com as aspirações nacionais. Muitos dos marxistas russos recusaram-se a isso e sugeriram que as questões nacionais não teriam lugar num movimento marxista. Os primeiros escritos de Lenine não davam atenção a estas questões. Mas com o tempo a questão nacional acabou por desempenhar um papel cada vez mais importante no seu pensamento. Com a Primeira Guerra Mundial, desenvolveu uma atitude muito específica em relação a esta questão. As concepções de Lenine tomaram os seguintes desenvolvimentos…

 

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Por que é que Lenine se viu constrangido a desenvolver uma política nacionalista no decurso da revolução Russa? Porque os bolcheviques não dirigiram uma revolução proletária anti-capitalista, estando o capitalismo balbuciante e o proletariado pouco desenvolvido  na sociedade russa semifeudal onde as massas camponesas formadas maioritariamente de  mujiques  quase escravos, submetidos às relações de producção feudais, onde os elementos constituintes de uma nação estavam em desenvolvimento. Não faltava senão o Estado-nação capitalista que Estaline criou posteriormente. Para conduzir uma revolução proletária é preciso um vasto proletariado educado, experimentado, empobrecido, consciente internacionalmente e conectado com as outras facções do proletariado mundial. Para conseguir a tal revolução democrática capitalista e abolir o modo de producção feudal, Lenine e os bolcheviques tiveram de mobilizar e enquadrar as massas camponesas atrasadas, analfabetas, numa vasta  insurreição camponesa para “dar a terra a quem a trabalha” (o que não durará muito tempo), no quadro de comunidades  locais  ou regionais, e assim os leninistas consolidaram as nações burguesas de todas as Rússias, ao mesmo tempo que construíram um capitalismo de Estado vigoroso, assaz potente para enfrentar o capitalismo alemão. Não há nada de revolucionário proletário em tudo isto. E a razão pela qual, na morte de Estaline, Kruchov não teve dificuldade em consolidar o império nacional russo sob o conjunto nacional soviético, sob o qual ainda hoje voga Vladimir Putin.  NDLR

 

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Em primeiro lugar, a ordem do mundo imperialista estabelece uma hierarquia entre as nações o que produz inevitavelmente revoltas nacionalistas. Em segundo lugar, o problema principal para os marxistas é como encontrar uma base internacionalista num mundo dominado pelos conflitos nacionais. Em terceiro lugar, o problema estratégico central é o de  tentar levar trabalhadores com sentimentos nacionalistas para sentimentos internacionalistas. Em quarto lugar o maior obstáculo para fazer isso é o nacionalismo dos trabalhadiores das nações dominantes ( como afirmava Marx a respeito dos os trabalhadores ingleses no caso da Irlanda) o que os conduziu a identificar-se com a sua classe dirigente, o que rerforçava o nacionalismo dos trabalhadores das nações oprimidas (porque estes últimos não viam que os trabalhadores da nação dominante simpatizassem de todo com as suas aspirações de se libertarem da sua opressão  nacional). Em consequência, segundo Lenine, os marxistas devem sustentar o direito das nações oprimidas ao direito da auto-determinação, inclusive o direito de formar um Estado independente.

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Por que é que o facto do capitalismo se desenvolver a diferentes velocidades nos diferentes países produzirá revoltas nacionais se não é porque as burguesias desses diversos países são forçadas a afrontar-se pelos mercados? Que se deve pensar destas observações de Lenine e da sua conclusão sob o direito das nações à auto-determinação, ou seja, sobre o direito das nações a disporem de si próprias? Em 1917, e nós acrescentamos em 1949, no momento da libertação burguesa da China pela Revolucão da democracia nova, as condições objectivas e subjectivas  da revolução proletária internacionalista não estavam ainda reunidas e desta maneira a revolução proletária era impossível. Um modo de producção não pode ser substituído, enquanto não tiver desenvolvido todas as forças produtivas que é  capaz  de conter  e reproduzir o que estava longe  de ser o caso para a indústria nascente na Rússia czarista, e  da mesma maneira para a China Maoísta em 1949. É esta triste realidade que impulsionou as conclusões oportunistas de Lenine, e depois de Mao, para justificar que os comunistas dirigem estas revoluções democráticas nacionalistas burguesas. NDLR

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O ponto central da tese de Lenine é a sua insistência sobre a política contrária de Rosa Luxemburgo, que se apoiva sobre uma tese fundamentalmente económica. Lenine insiste que o nacionalismo representa uma divisão política importante no interior da classe operária. A aproximação marxista toma esta visão política como ponto de partida do esforço para a ultrapassar. Nesta finalidade, a principal questão não é a da viabilidade económica de um dado Estado- nação, mas quais as tácticas que serão mais importantes para construir a solidariedade de classe e o internacionalismo. E a resposta de Lenine é clara: minar o chauvinidsmo nacional dos trabalhadores da nação dominante, fazendo  campanha aberta pelo  direito das nações oprimidas a determinar o seu próprio fututo. Para ganhar os trabalhadores da nação oprimida, uma tal posição deverá representar o principal golpe desferido sobre as identificações nacionalistas.

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Este raciocínio do senhor Mcnalli é o contrário do de uma aproximação materialista dialéctica. As relações de producção decorrem do desenvolvimento das forças produtivas e dos outros meios de producção, e não o inverso. O que tornará os proletários internacionalistas não serão os sermões dos comunistas e de outras esquerdas oportunistas, mas o próprio desenvolvimento do capitalismo mundializado e globalizado, que forçará a internacionalização da classe operária, na prática, seja política ou ideológica o que está hoje em vias de se cumprir. NDLR.

 

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Lenine tornou muito claro que isso não significava que os marxistas quisessem ver cada vez mais Estados nacões independentes. Ao contrário como internacionalista marxista ele favorecia as federações que conduzissem os trabalhadores numa via política comum. Mas tais federações deviam ser voluntárias. Não deviam opor-se às federações políticas forçadas ou coercivas ou opressivas.” Se pedimos a liberdade de secessão para os Mongóis, os Persas, Egípcios e todas as outras nações oprimidas sem excepção, não é porque nós favoreçamos a secessão, mas somente porque defendemos a associação voluntária e diferente de uma associação forçada.”

Sustentar o direito das nações à auto-determinação tornou-se assim um elemento chave da aproximação estratégica à construcção da solidariedade internacional dos trabalhadores. Não para sustentar que este direito significa o alinhamento com o    nacionalismo dominante. Isto significa que contentar-se  com um internacionalismo abstracto conduz a reconhecer a importância da experiência da dominação ou o que Lenine chamava a psicologia que é tão importante no que concerne à questão nacional.” ( Obras Completas, Volume XIX, página 499).

A solidariedade internacional necessita, noutros termos, que os trabalhadores das nações dominantes se tornem nos defensores mais consequentes dos direitos dos povos oprimidos aos seus estados, à sua autodeterminação ( incluindo, à sua separação)

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Mas de onde provém esta ideia de que um povo oprimido possa  autodeterminar-se e emancipar-se no seu Estado nacional burguês? O Estado nacional burguês (capitalista classico ou sovietico) nunca foi o estado de “todo um povo”, e sobretudo nunca foi  do proletariado, mas é sempre o Estado da classe dominante, que oprime esse proletariado. O Estado é o primeiro instrumento de alienação da classe oprimida. Esta classe se deseja emancipar-se  deve começar por destruir o Estado democrático burguês nacional e chauvinista. Assim na União Soviética, após dezenas de anos de capitalismo de Estado, o nacionalismo, o chauvinismo, a religião retrógrada e toda uma avalanche de ideias burguesas  decadentes eram florescentes e explodiriam em plena luz do dia no momento da Perestroica - Glasnost. As vozes pias dos bolcheviques a propósito de abordar a auto-determinação nacional nunca permitiu a um único povo, ou a uma única minoria étnica deixar as correias do Estado soviético. NDLR

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Ao mesmo tempo, Lenine defende uma tal oposição de princípio ao nacionalismo dominante e permite aos trabalhadores das nações oprimidas caminhar do nacionalismo ao socialismo. Enquanto que os socialistas das nações opresssoras defendem o direito das oprimidas à auto-determinação, os socialistas das nações oprimidas  “devem conceder uma importância central à unidade e à aliança dos trabalhadores das nações oprimidas com os das nações opressoras; de outra maneira, as Teses destes sociais democratas sobre as questões nacionais e coloniais da Internacional Comunista tornar-se-iam involuntariamente aliadas da sua própria burguesia nacional.” Na mesma ordem de ideias, afirmam que mesmo concedendo um apoio às lutas nacionais burguesas contra o nacionalismo, os socialistas insistem sobre “ a independência de classe do movimento proletário.”

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 Em que país já se viu os trabalhadores da dita “nação oprimida” caminhar do nacionalismo para o internacionalismo comunista pela magia espontaneista da libertação nacional de facto? É precisamente o contrário o que a maior parte das vezes se observa. Os proletários indiferentes às ideias nacionalistas e chauvinistas burguesas subjugadas pelas ideias reaccionárias, aprisionadas como estão nas guerras nacionais fraticidas onde as suas casas são destruídas em nome da Pátria. Da nossa parte, pensamos  que, no momento em que as condições objectivas da revolução proletária mundial estiverem reunidas, a questão nacionalista burguesa já não será uma questão importante, sobretudo para o proletariado internacionalista e isso não será por falta  dos comunistas. NDLR

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Esta análise reforçou consideravelmente a capacidade  dos socialistas se empenharem com seriedade nas lutas nacionais em curso, sem abandonar os seus objectivos socialistas. Por estas razões, podemos aprender  bastante dos escritos de Marx sobre a Irlanda e das discussões de Lenine sobre a questão nacional. Ao mesmo tempo,  estes escritos já não oferecem nada senão balizas. Acima de tudo, defender o direito de separação nada diz sobre as condições em que se o defende. Mais do que fornecer uma fórmula que pode simplesmente ser aplicada em todos os contextos, serão um ponto de partida para guiar a nossa análise. Tentar utilizá-los não é um substituto para uma análise séria.  Antes de discutir como, devemos utilizar estas análises na nossa aproximação às lutas nacionais no Estado canadiano, e é importante examinar as jogadas do nacionalismo e do internacinalismo conforme se exprimem após a morte de Lenine em 1924. O movimento comunista internacional trepou do internacionalismo ao nacionalismo sob o impacto da degenescencia da revolução de 1917 na Rússia e da ascensão do estalinismo.

 

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A Revolução de 1917 foi, do princípio ao fim, uma luta da libertação nacional das burguesias nacionais de todas as Russias  que se precipitaram para aderir ao partido bolchevique enquanto a aristocracia corrompida migrava em massa para a Europa ou ainda quando ela erguia as armas brancas para defender o seu modo de producção feudal  decadente. O estalinismo não foi o coveiro da revolução proletária russa, pois esta revolução proletária nunca teve lugar – o pequeno proletário russo, fraco e inexperiente , era bem incapaz de conduzir uma tal revolução sob o vasto continente russo atrasado e pouco industrializado e ainda menos de a exportar para o mundo inteiro. Foi então que Estaline fez a demonstração de que tinha compreendido a urgência nacional soviética,  que consistia em construir rapidamente um capitalismo nacional e um Estado industrializado. Rodeada de inimigos como se achava a Rússia bolchevique, o aventureirismo pseudo- revolucionário de Trotsky, metia medo, e eis porque este intelectual burguês foi afastado do Poder. Estaline não modificou a política nacionalista bolchevique,  aplicou-a simplesmente e aceleradamente.  Apoiando-se sobre este nacionalismo, o “Pai” dos Povos pôde exigir os maiores sacrifícios estacanovistas aos camponeses russos transformados em proletários e assegurar assim a industrialização rápida do país lançando-o para confrontos com o imperialismo alemão. NDLR

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Da mesma maneira que em 1923, a ideia de um “bolchevismo nacional” foi desenvolvida pelo Partido Comunista Alemão. Uma vez que Estaline declarou que era possível construir “ o socialismo num só país”, a porta ficou aberta para a adopção da ideia de lutas nacionais distintas para o socialismo, termos de referência dos nacionalismos dominantes. Assim, e por exemplo, o Partido Comunista do Canadá descobriu rapidamente que o nacionalismo canadiano era progressista, enquanto que os membros do PC do quebec, que tentava promover uma compreensão mais deferenciada da luta nacional do Quebec era regularmente expulso sobre o apodo de nacionalismo burguês.

Uma das grandes contribuições históricas de Leão Trotski foi o resistir à noção de luta pelo socialismo como se fosse uma luta nacional e de se ater firmemente ao internacionalismo marxista. Com todos os seus terríveis problemas, os grupos trotsquistas desempenharam um papel importante na salvaguarda destas ideias vivas à época, onde o nacionalismo dominava  a esquerda. A contribuição específica de Trotsty à época foi a sua teoria da revolução permanente. Originariamente formulada como a perspectiva estratégica para a revolução russa do futuro, nos fim dos anos 20, Trostky reformulou-a como a teoria das relações entre as lutas de classes e as lutas nacionais na época do imperialismo.

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8. A teoria da revolução permanente foi uma contribuição brilhante e original para o pensamento marxista. Ao rejeitar a ideia esquemática, linear e mecânica de que toda a sociedade deveria passar por certos estádios históricos antes de lutar pelo socialismo, Trotsky defendeu que a análise concreta das dinâmicas de classe numa dada sociedade deveria fazer-se no contexto das relações com a economia mundial. Assim, enquanto que a maior parte dos marxistas russos defendia que a Rússia deveria antes de tudo fazer uma revolução democrática burguesa  contra o czarismo, e então completar um estádio do desenvolvimento capitalista antes de que a luta pelo poder operário esteja na ordem do dia, Trotsky defendeu que a burguesia russa estava demasiado assustada com o poder crescente do jovem proletariado russo para conduzir a luta contra a monarquia czarista russa. Assustada de que o movimento revolucinário pela democracia liberal pudesse transformar-se em greves de massa e fizesse descer o proletariadio insurrecto às ruas, batendo-se pelas suas reivindicações de classe particulares (o que de facto ocorreu em 1905), a burguesia russa rapidamente abandonou uma tal luta, sustentava Trotsky. Daí resultou que a direcção da luta anti-czarista passaria ao proletariado que imporia a sua marca ao movimento, conduzindo-o em direcção à luta pela democracia operária. Tomando de empréstimo uma frase de Marx, Trotsky descreveu-a como a revolução permanente – que começa como um movimento revolucionário pela democracia liberal e que se transforma  numa luta pela democracia socialista e pelo poder operário.

A teoria de Trotsky (desenvolvida em 1905-1906) demonstrou uma profunda antecipação de dinâmica de classe do processo revolucionário de 1917. Sob o impacto do movimento revolucionário na China nos anos 20, Trotsky rapidamente estende a teoria da Rússia ao mundo colonial em geral. Nas colónias, sugere ele que o mesmo modelo deva ser aplicado: uma burguesia temerosa retira-se da luta anti-colonial, esta última triunfará somente sob a direcção do partido revolucionário da classe operária.Se bem que haja aí ensinamentos importantes a extrair desta análise, existe o risco de uma sobregeneralização (sic) De mais a mais, na ausência de uma classe operária auto-organizada e combativa, como a do movimento operário russo de 1905 e 1917, por que é que os grupos burgueses e pequeno burgueses se haveriam de retirar da direcção das lutas nacionais? E, com efeito, não se retiraram.Em países como a Ìndia, a Argélia, o Paquistão, o Bangladesh e dezenas de outros, os movimentos nacionalistas não foram dirigidos pela classe operária e deram lugar ao aparecimento de Estados-nações independentes. Na China, o dito partido comunista conduziu uma luta sem nenhuma actividade auto-organizada da classe operária, e sem nenhuma aparição de órgão de democracia operária.

 O mundo posterior a 1945 foi testemunha de uma sucessão de independencias nacionais nas quais os movimentos da classe operária não desempenharam um papel significativo. Claro está que estas realidades exigem que seja revista a teoria de Trostsky. Qualquer que seja a sua força, não poderá ser utilizada como uma antevisão universalmente válida a respeito das lutas nacionais na época do imperialismo. Certos trotsquistas procuram discutir estes acontecimentos que estão claramente em contradição com a teoria de Trotsky. Outros, todavia, continuam a defender dogmaticamente à letra os escrotos de Trotsky. A maior organização  trotsquista americana ( Socialist Workers Party) produziu um documento em 1964, por exemplo, que afirma: “ Na época imperialista, a burguesia nacional nos países industrialmente retardatários trai a sua própria revolução e as tarefas democráticas burguesas, e, inclusivé a realização da independencia nacional não pode ser realizada senão através da revolução socialista.”

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9. Agora, o facto de que esta pretensão seja evidentemente falsa ( isto é, que a independencia nacional possa ser relizada sem revolução socialista) não parece ser tida em conta. Foi Trotsky quem o disse e, por conseguinte, deve ser verdadeira. E um grande número de trotsquistas que defende uma tal linha começaram a ver revoluções socialistas e estados operários um pouco por toda a parte. Na Argélia, no Egipto, onde um regime nacionalista progressista tomara o poder. Apesar de tudo, se a independencia nacional não pode ser realizada senão por uma revolução socialista, então a realização da independencia nacional deveria querer dizer que uma tal revolução já tinha tido lugar. O facto de que nada de semelhante a uma revolução socialista possa ser reconhecida – como milhões de pessoas oprimidas, descendo às ruas e lançando as bases do exército, como greves de massas e ocupação dos lugares de trabalho, como novas instituições populares de auto-governo apareceram nos locais de trabalho e nas comunidades não parecem importantes? Indo mais longe do que Trotsky foi, alguns grupos começaram a defender que havia uma lógica escondida que conduzia as lutas nacionais à revolução socialista. Mesmo que o não soubessem, os nacionalistas burgueses e pequeno-burgueses conduzem actualmente revoluções operárias. A primazia da auto-emancipação operária desapareceu rapidamente( como se a maior parte dos grupos sociais pudesse construir o socialismo). E inevitavelmente, a linha entre o nacionalisnmo e o socialismo rompeu-se. No fim de contas, se o nacionalismo anti-imperialista se transforma automaticamente em socialismo, então a linha entre os dois é verdadeiramente muito tenue. Certos trotsquistas que defenderam tais concepções tornaram.-se eventualmente mais ou menos acríticos e aderiram ao nacionalismo de feição progressista (Cuba, Nicarágua, Granada) e abandonaram a ideia da revolução permanente e a sua insistência sobre a independencia da classe operária e da sua organização socialista na luta nacional. Foi neste sentido que evoluiu o SWP americano ( Socialist Workers Party).

(Recordei)Lembrei estes elementos porque eles sublinham como é importante resistir às fórmulas simples quando falamos de lutas nacionais. Não há lei geral ou da dinâmica das lutas nacionais hoje (e aliás nunca houve) um dos erros de muitos marxistas foi procurar uma dessas leis, em vez de tomar conta da tarefa, de longe mais importante de desenvolver uma análise muito concreta da particularidade das lutas nacionais numa conjuntura histórica determinada. Com esta preocupação na cabeça, proponho-me rapidamente fazer algumas considerações preliminares sobre as lutas nacionais no Estado canadiano. Mas antes disso, quero sublinhar os sectores nos quais a aproximação marxista do nacionalismo permanece fraca e devemos estar conscientes de que tais sectores devem ser sectores de trabalho para desenvolver uma compreensão cada vez mais ampla do nacionalismo no mundo moderno.

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Terceira Parte : os Problemas da Teoria Marxista do Nacionalismo

 

10. Um dos elementos fortes das concepções de Marx sobre a Irlanda num dos escritos de Lenine sobre a questão nacional, é que eles fornecem uma maneira de sustentar as lutas nacionais dos povos oprimidos sem se fazerem campeões de uma qualquer forma de nacionalismo. É o que torna a sua herança uma herança das mais importantes.  Mas dito isto, devemos estar conscientes que nem Marx nem Lenine nos forneceram realmente uma teoria que nos permita compreender um dos problemas mais importantes que encontramos neste domínio: o incrível poder e a persistência do nacionalismo e das identificações nacionais. Mais do que uma diversão temporaria ou episódica de uma consciência de classe mais desenvolvida o nacionalismo dominou e continua a dominar os pensamentos da vasta maioria da classe operária e dos povos oprimidos. Não pretendo ter todas as respostas pelas quais ele se tornou assim. Mas deixai-me fornecer quatro explicações parciais  sobre o que deve ser explodado e desenvolvido.

11. O primeiro sujeito  é o que podemos chamar a atracção pela cidadania. Lembremo-nos que nos primeiros movimentos da classe operária foram  criados  nos contextos em que a vasta maioria da classe operária não votava. Por esta razão, a luta pelos direitos democráticos, especialmente o direito de voto, ocupava um lugar maior na agitação socialista. Com efeito, o socialismo- habitalmente designado sob o nome social democracia – apareceu muitras vezes para a inclusão da classe operária no interior da democracia capitalista. Isso produziu toda uma tradição história onde a democracia socialista era criticada nuito simplesmente por não ser sufucientemente inclusiva . Resultado: a questão da forma do poder poítico capitalista – o Estado-nação burguês – e os seus problemas inerentes (  burocratismo, definição nacional de cidadania, separação do poder económico do poder político) raramente foram ultrapassados. Isso significa que os movimentos operários procuraram geralmente a plena cidadania no interior da democracia capitalista. Não se pode negar a importancia desta luta. No fim de contas a luta pelos direitos democráticos burgueses, a batalha para ser considerado como um membro de corpo inteiro da sociedade tem um significado fundamental. Mas no processo, a classe operária acaba muitas vezes ligada a esta especie de ideia, a de que tem poucas ligações com as tradições políticas que avançam uma crítica radical dos limites inerentes e das ligações da democracia liberal em si mesma. Assim, uma definição liberal dos direitos e da cidadania enraizam-se historicamente e profundamente nos movimentos oprerários - nos quais as pessoas são definidas como entidades separadas chamadas individuos, que estão em competição económica nos mercados que são regulados por leis que não reconhecem senão os direitos dos individuos ( e das suas famílias) que são amplamente compradores e vendedores de bens e de serviços( tudo isso é num certo sentido muitas vezes definido como o reformismo ) Diz-se que os marxistas não prestam suficiente atenção ao poder ideológico das noções de cidadania, preferindo simplesmente sublinhar a corrupção e o carácter vendido dos dirigentes que trairam o movimento socialista. Se devemos desenvolver uma alternativea séria ao reformismo, será todavia necessário não somente denunciar os dirigentes corrompidos , mas o que é mais importante, de encontrar as maneiras de avançar uma crítica da democracia socialista e da cidadania, reconhecendo a importância dos direitos quando fazemos uma crítica dos seus limites, crítica que poderá ter assim eco na experiência da classe operária em lugar de soar como slogans redutores.

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Todos terão notado que o intelectual titula  o seu capítulo “ Os problemas da teoria marxista e do nacionalismo” indicando,   com isso  que o objecto do seu  estudo  não é o nacionalismo, como entrave à revolução proletária na prática concreta da luta de classes, mas a teoria marxista em si mesma, a sua pureza e a sua defesa contra a impureza desviacionista (sic), actividade que constitui em si mesma um desviacionismo proletário. O intelectual nem sequer imaginou que  “a incrível persistência do nacionalismo” chauvinista e reaccionário estivesse ligado à incrível persistência do modo de producção capitalista  que nunca acaba de titubear e de se incrementar uma crise após outra. A esquerda reformista que numa certa época se chamava “ oportunismo de esquerda”, depois “revisionismo de direita” andou sempre errante na periferia da classe proletária, procurando uma postura não demasiado constrangente pela qual poderia  vender as suas aspirações visando conservar o regime nacionalista democrático burguês ou reformá-lo até o tornar aceitável à classe operária. A pequena burguesia foi sempre a base social do esquerdismo, do anarquismo e do terrorismo, que não são senão variantes radicais do reformismo. A pequena burguesia, incluindo a sua  secção intelectual, – classe social votada ao desaparecimento sob a evolução imperialista do modo de producção capitalista - agarrou-se desesperadamente às particularidades do capitalismo nacional que asseguraram a sua subsistência, tal como o direito burguês, a representação parlamentar, a governança “democrática” do imenso Estado burguês tentacular. Tudo isso conduz a subclasse  pequeno burguesa a aderir a todas as lutas para a defesa dos direitos democráticos burgueses (gentrificação, feminismo, LGBT, direitos dos animais, comunitarismo, laicidade, justiça social, defesa dos assistidos sociais e dos SDF, escolaridade, cuidados de saúde, ambiente, agricultura humana, ecologia, consumo e sobreconsumo, pobreza voluntária, caridade pelo terceiro mundo, descolonização, nacionalismo, pacifismo, anti-racismo, direitos dos detidos, ciclismo urbano, naturismo, nutrição, etc), tudo e não importa o quê, exceptuadas as lutas da classe proletária que ela julga demasiado radical, por vezes violenta, e que não são publicitadas pelos órgãos de comunicação social populares e  pelos  tablóides. A pequena burguesia é muito sensível a este aspecto de visibilidade mediática e do efeito da moda. Isto está ligado à sua prática social e cultural. A pequena burguesia tem por função principal assegurar o serviço da reprodução da população, sob todos os aspectos. O pequeno- burguês concebe a luta de classes como uma missão e um benevolência onde deve consciencializar e fazer progredir a vontade dos oprimidos que o pequeno-burguês crê incapazes de compreenderem a sua opressão e a sua miséria. Para o  pequeno-burguês, se ele consegue convencer suficientemente as pessoas de uma causa, elas vencerão pela petição porque a pequena burguesia crê sinceramente  na democracia representativa burguesa, na democracia cidadã do número – forçosamente é o seu ganha-pão. O pequeno-burguês não compreende que para conduzir uma revolução social, deve existir uma conjuntura revolucionária que mobilizará espontaneamente os efectivos requeridos – não haverá nada a fazer por isso – a crise económica lá chegará. A verdadeira questão será então – não quantos operários serão mobilizados – mas para que objectivos são eles dirigidos? Pela sua luta quotidiana na frente económica, nomeadamente a classe proletária conhece a pusilanimidade  dos “direitos-privilégios”, das aquisições sociais efémeras arrancadas temporariamente apesar da ditadura do grande capital. A classe proletária sabe que a ditadura burguesa é “ fecha a  boca”, enquanto que a democracia burguesa é “ discute sempre”.  Nada senão a mobilização da classe operária como carne para canhão nas guerras de libertação nacional burguesas se relacionará com o proletariado, - a mobilização da classe operária nas guerras burguesas para a defesa da liberdade, da  democracia, do direito de negociar e os pseudo-direitos e aquisições sociais não lhe dizem qualquer respeito, senão a experiência de luta e das decepções . Sob a crise económica sistémica do capitalismo não há nenhum programa de reforma que valha. É a substituição do Estado burguês e a abolição do modo de producção capitalista e a sua substituição não pela economia socialista mas pelo modo de producção proletário-comunista que são os objectivos da revolução social proletária. NDLR

 

12. Ligado com este elemento, há um segundo problema: as versões do socialismo centradas na questão do Estado dominaram o século XX. Durante todo este período histórico, a parte mais importante da esquerda apresentou a propriedade estatal como a essencia social e económica do socialismo. Marx colocou no centro da sua crítica do capitalismo o que chamou as relações sociais de producção, o que significa as relações de domínio, de controlo, de alienação e de exploração induzidas pela maneira como a riqueza é produzida na sociedade capitalista. O que decorreu desta aproximação foi a ideia de que o socialismo conduz ao desenvolvvimento de novas relações de producção, baseadas sobre formas não alienadas de controlo e de auto-gestão da producção pela classe operária. O controlo operário sobre a produção e de novas instituições governamentais auto-gestionárias estão no centro de uma tal perspectiva.

Durante a época em que os partidos comunistas estalinistas dominaram a esquerda (1925-1980 ou à volta disso), estas aquisições perderam-se. A propriedade estadual dos meios de producção e a economia planificada eram apresentadas como a essência da nova sociedade. A despeito das melhores intenções, numerosos trotsquistas também colocaram a esse nível o seu ponto essencial. Resultou que a ideia de propriedade de Estado é em si mesma progressista, seja  em si socialista ou se tenha tornado largamente partilhada pela esquerda. Isso contribuiu para as políticas centradas sobre o Estado, onde as ideias de regulamentação estadual e de planificação do Estado foram elavadas a uma posição de primeiro plano na propaganda socialista. Uma das consequências disto foi que a natureza opressiva inerente ao Estado nação raramente foi atacada. De facto, até hoje, muita gente na esquerda continua a defender tais concepções e parece esquecido da hostilidade das massas para com as burocracias estaduais centralizadas, que se desenvolveram- por boas razões-, nas fileiras da classe operária na maioria dos locais do mundo.

O que estas políticas socialistas estatistas (a que podemos chamar socialismo de cima) esquecem é que o Estado nação se desenvolveu  com o desenvolvimento do capitalismo pelas classes burguesas, que procuram integrar a marcha nacional por um sistema uniforme de leis e de taxas, numa língua comum, numa governação unificada e num exército nacional para defender e avançar as suas pretensões contra os capitalistas estrangeiros  ( e esmagar as revoltas domésticas quando isso se torne necessário). Assim se perdeu o sentido próprio da forma democrática inerente à democracia burguesa (como o sublinhou Marx em A Guerra Cívil em França). Enfim, as versões estatistas do socialismo tendem a perder de vista o facto de que as estruturas nacionais e as instituições do Estado- nação perpetuam a divisão do mundo entre um nós ( que pertence a uma dada nação) e um eles ( os estrangeiros, os de fora). As consequências do socialismo estatista são o reforço do nacionalismo à custa do internacionalismo.

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Contrariamente ao que pretende Mcnally, não é o socialismo que conduz ao desenvolvimento de novas relações de producção baseadas em formas não alienadas de controlo e de auto-gestão da producção pela classe operária, mas sim o modo de producção comunista que não pode impor-se senão após um longo e considerável desenvolvimento das forças produtivas sob o capitalismo liberal, totalitário ou socialista. Incidentalmente, a classe operária tem então vocação a desaparecer (sob o comunismo). A contradição fundamental de um modo de producção (qualquer que ele seja) reside sempre no processo de producção e não nas relações sociais de producção. Assim, o que desqualifica o modo de producção capitalista é que o capital produtivo já não chega a valorizar-se em grande quantidade para assegurar a sua reprodução alargada, o que desencadeia a implosão das relações sociais de producção, provoca tumultos sociais, envenena as lutas de classes antagónicas até à insurreição e potencialmente até à revolução. Não decorre dos revolucionários  proletários criar as condições objectivas da crise económica, politica e depois social, tudo isso será espontâneo, mecânico e incontrolado. O que será consequência da revolução dos revolucionários proletários será estimular e inflectir este movimento popular insurrecional espontâneo, até fazê-lo cumprir a sua missão histórica, destruir o antigo modo de producção capitalista, para em seguida transformar esta insurreição popular em revolução proletária, o que significa construir o novo modo de producção proletário- comunista. Dito isto, o professor Mcnally tem razão em sublinhar que daí resulta entre os socialistas que a ideia da propriedade do Estado é em si progressista (….) uma consequência disso foi que a natureza opressiva inerente ao Estado nação  raramente se viu atacada….” Pela esquerda reformista nacionalista. NDLR.

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13.  Tudo isto nos conduz a um terceiro ponto: a política do espaço. Os marxistas têm curiosamente ficado indeferentes quanto às questões do espaço, especialmente no que diz respeito às idendades dos povos que têm pontos de referência espaciais e geográficos. Mesmo as memórias pessoais têm invariavelmente dimensões espaciais : Nós pensamo-nos a nós mesmos como tendo nascido num certo local, vivido , crescido, trabalhado, ir à escola em diferentes sítios, e assim sucessivamente. Até agora, para a maior parte da história da humanidade, as relações de espaço não têm nada a ver com pertencer a uma nação. De facto, as pessoas pertencem a grupos   que têm espaços mais pequenos ou maiores. Mas o capitalismo construiu aquilo que Benedict Anderson descreveu como comunidades imaginárias. As nações são assim, em parte, construcções imaginárias, - organizadas à volta de símbolos como as bandeiras, os hinos, as cores nacionais, os mitos e as histórias em grande parte artificiais ligadas às unidades administrativas nomeadas Estado nação. Nós não temos necessidade senão de observar um fenómeno como os jogos olímpicos para comprender o poder de atracção das comunidades imaginárias. Milhões de pessoas que nunca encontraram Silken Launnaum ou Donovan Bailey ajem todavia como se “fossem sua carne e seu sangue”, glorificando-se das suas vitórias e mortificanco-se das suas derrotas. Digo isto não porque pense que tudo é inevitável no que respeita às identificações nacionais, mas pelo contrário. Mas sem a compreensão socialista revolucionária de que tais identificações respondem a uma necessidade real – o desejo de pertencer a uma comunidade com outros, de ter objectivos comuns – substimaremos a necessidade para os movimentos socialistas de massa no futuro ajudarem a desenvolver os  sentimentos internacionalistas de uma comunidade que está ligada às experiências locais e mundiais. Não bastará ter uma vanguarda que poderá dizer que o nacionalismo é o seu inimigo; será necessário favorecer com novas experiências de espaço baseadas em formas de organização que criam nova solidariedade e novas identificações, forjadas na luta comum, e que ultrapassa o Estado nação.

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14. E isto leva-me ao meu quarto ponto: a subida do nacionalismo na era da mundialização. A globalização económica desencadeou-se; nenhuma parte do planeta ou quase foi poupada pela ascensão considerável das empresas transnacionais e pelos mercados financeiros globais.A maior parte dos Estados nações são economicamente mais pequenos do que as grandes empresas transnacionais e os mercados monetários mundiais ultrapassam somas todos os dias que excedem em muito tudo quanto possui um banco central qualquer ( ver o meu artigo O Fim dos Estados Nações, New socialist, n.º 3, Maio-Julho de 1996). Estas entidades económicas mundiais causam razias na vida dos povos: as empresas que encerram, as comunidades que são destruídas, os serviços sociais que são desfeitos: os hospitais comunitários, as escolas, os escritórios de correios que desaparecem, tudo em nome da globalização. Em tais circuntancias, o nacionalismo torna-se o primeiro e mais simples meio de compreender e de resistir a estas forças. Lembremo-nos que um governo nacional pode parecer como mais próximo e mais compreensível que os transnacionais ou o mercado monetário electrónico e global centrado no ciberespaço. Mas pedir ao Estado nacional que nos proteja contra o capital global conduz inevitavelmente a ver o problema em termos nacionais. Os estrangeiros ( e o que é estrangeiro) tornam-se inimigos da nossa segurança e do nosso bem- estar. Os políticos perigosos e sem escrúpulos tornam-se rapidamente os adeptos que nutrem e manipulam tais sentimentos. Assim, Os Trabalhadores Unidos do automóvel empenharam-se no afastamento dos automóveis japoneses, os jovens sem-emprego na Alemanha lançaram bombas incendiárias contra os hotéis cheios de trabalhadores imigrantes de origem turca, pessoas da Califórnia sustentaram protestos contra os ilegais do México, os canadianos-ingleses denunciaram os do Quebeque. Os Servos, os Croatas, os muçulmanos opuseram-se uns aos outros na ex-Jugoslávia. Os Hutus e os Tutsis afrontaram-se em conflitos sangrentos no Ruanda e no Burundi – e a lista poderia alongar-se.

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Partindo de um mau diagnóstico o professor propõe um mau remédio. A “globalização económica” não é um espectro que se desencadeia, repentinamente nem o fruto de uma má política liberticida e neoliberal, cujo Estado burguês cumplice poderia protejer o proletariado. O Estado burguês não é cúmplice é o artesão da globalização e não pode em caso algum ser a solução para  o modo da economia capitalista e ainda menos da sua vítima proletária.  A classe dominante e o seu Estado nacional não controlam nada no aprofundamento da crise do capitalismo. Quem é esse nós, que os reformistas utilizam? O nós cidadão-eleitor-consumidor-colaborador do Estado, transcendem os interesses das classes. É contra este tipo de reformismo pequeno- burguês que o proletariado se deve prevenir. O Estado nacional, burguês, renovado e tenso, última masmorra isolada da louca fortaleza capitalista, não é o último refúgio para a classe proletária revolucionária que, ao contrário, deve investir para destruí-lo e não fazer dele um Estado socialista. Sabemos que o espírito de capitulação pequeno-burguês já contaminou a mentalidade dos proletários desamparados, sabemos que os burocratas sindicais de negócios, que os mercenários da indústria das ONGs e outras associações da sociedade civil a soldo já se alastraram fortemente nas fileiras proletárias e que a lista dos seus crimes se irá alargar; todavia, o dever dos revolucionários proletários é o de apontar sem cansaço o nosso inimigo implacável, a classe capitalista e o seu Estado burguês nacionalista - classe contra classe - porque o proletariado não tem pátria, tal é a nossa divisa. NDLR.

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Não é por acaso, se neste período de reestruturação feroz do capital, os antigos e os novos nacionalismos levantam a cabeça – e que muitos de entre eles se tornem violentos e virulentos. Muito raramente  temos escutado o grito de clarim dos nacionalismos anti-colonialistas depois dos anos 50 e 60, visto que a maior parte de entre eles ficaram desacreditados pela incapacidade de responder às nossas esperanças de desenvolvimento. E num contexto de raiva e de desespero, quando a esquerda e o movimento operário apareciam enfraquecidos, os nacionalismos étnicos de direita retomavam a iniciativa política. Mas, ainda uma vez mais, não havia nada de inevitável.

Seria contudo imprudente subestimar a subida do nacionalismo de que temos sido testemunhas neste período de globalização. E devemo-nos lembrar que a necessidade, para os  socialistas, de colocar à frente das suas posições nacionalistas é talvez mais urgente do que nunca, agora que a maioria da esquerda adoptou o nacionalismo em 1914.  Para o fazer teremos necessidade de análises da tradição do socialismo internacional e de as desenvolver em relação às questões políticas do espaço, dos Estados nação, da globalização económica, e da crítica da forma do Estado nação burguês a partir de uma perspectiva do socialismo vista de baixo.

 

Quarta Parte: as Questões Nacionais no Canadá Hoje

15. O Canadá é um produto da expansão imperialista das potências europeias. Estabelecido como colónia de povoamento, o Canadá baseou o seu domínio na opressão e no domínio dos povos autóctones e nos habitantes franceses que tinham povoado a Nova- França e outras partes do Canadá conquistadas pelos Britânicos em 1759. O Canadá formou-se sob a opressão destes grupos: por esta razão, as políticas canadianas foram modeladas por duas lutas nacionais principais: as dos povos autóctones (ou as primeiras nações) e as dos Quebequenses.

16. Porque os povos autóctones eram economicamente marginais, politicamente não-libertos e terrivelmente oprimidos pelos políticos do apartheid da Lei dos Índios perderam muito tempo a encontrar as alavancas para exercer as suas pressões políticas. Foi precisamente no meio da explosão de protestos sociais dos anos 60 e 70 que os movimentos autóctones politicamente organizados deixaram a sua marca. Inspirados por grupos como o Black Panther Party e l’Americaine Indian Moviment dos Estados Unidos, os militantes autóctones começaram a conduzir lutas mais militantes e mais coordenadas.

Depois das insurreições do fim dos anos 60 e do princípio dos anos 70, houve tentativas de profissionalizar o movimento autóctone para fazer dele o movimento de pressão mais ordinário. Na vanguarda deste deslizamento esteve a direcção da Assembleia das Primeiras Nações. A APN centrou o seu trabalho nas mudanças constitucionais, em especial a tentativa de obter o reconhecimento do direito inerente ao autogoverno para os povos autóctones inserido no Acto Constitucional (AANB). É essencial que os socialistas apoiem esta reivindicação. Dado que os povos autóctones nunca mais aceitaram ser governados pelo Estado canadiano, o direito inerente a escolher qual seria a forma de autogoverno que desejavam deve ser reconhecido e defendido.

Da mesma maneira, devemos reconhecer que toda uma camada de militantes autóctones (muitos de entre eles formaram a jovem geração dos dirigentes da APN) rejeita a insistência sobre as mudanças constitucionais e as reclamações territoriais por intermedio dos cursos de Justiça que dominam a corrente principal dos políticos autóctones.

Estes militantes foram a vanguarda das formas de acção directa de desobediência civil como os bloqueios de estradas e autoestradas e as ocupações de terras antigas como vimos em Oka, Gustafen, Lake e Ipperwash. É essencial que os socialistas, do mesmo passo que defendem as reivindicações de um grupo como o APN, tentem também organizar a solidariedade com estas formas mais militantes das lutas autóctones. Devemos tornar claro que sustentamos a auto-actividade e a auto-organização militante dos autóctones e que denunciemos as práticas colonialistas do Estado canadiano para todas as violências que se produzam.

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É talvez essencial que os  “socialistas” sustentem as aspirações à autonomia dos chefes das tribos das Primeiras nações que desejam administrar fundos e doações de caridade, concedidos pelos governos aos grupos autóctones, com o fim de    obter a sua adesão à exploração dos recursos das reservas, mas isso não é um combate para os proletários autóctones que desejam sobretudo concentrar os seus esforços sobre a substituição do modo de producção capitalista em concordância  com os seus camaradas proletários canadianos. NDLR

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 17. A questão nacional que domina a política oficial do Canadá é a dos Quebequenses. Isso tem a ver com o facto de que, querendo aproveitar o desenvolvimento da agricultura e do comércio da Nova-França, desejam que os agricultores franceses continuem a trabalhar a sua terra, não tendo os colonizadores britânicos interesse em expulsar as pessoas da colónia. Enquanto os autóctones são cada vez mais empurrados para a margem da vida económica as coisas ficam mais complicadas para os habitantes franceses. Em primeiro lugar, os Britânicos tentaram suprimir a igreja católica e a língua francesa. Todavia, deram-se rapidamente conta de que tinham necessidade de uma aliança com a elite francesa – os senhores, o clero e alguns capitalistas – se realmente queriam governar a região. Daí resultou o encerramento da Nova- França nas relações de domínio colonial pelas autoridades britânicas em lugares que tinham feito concessões: tolerância para a língua francesa, para a igreja católica e para o código civil francês. Quando o movimento para a integração das colónias britânicas da América do Norte teve lugar, nos anos de 1860, o Quebeque obteve uma outra concessão: a restauração da sua própria assembleia legislativa. Daí resultou que uma entidade política foi criada (a província de Quebeque) onde se encontrou a segunda mais importante população do país, cuja vasta maioria era francófona, - e onde se acharam alguns dos mais importantes centros agrícolas, manufactureiros e comerciais. O que quer dizer que os agravos do Quebeque eram habitualmente negociados por uma classe dominante que falava antes de tudo inglês.

Enquanto que as pressões nacionalistas vindas regularmente do Quebeque ( e isso era muito frustrante para eles em período de guerra) e enquanto a igreja católica dominava a vida cultural e política, o nacionalismo do Quebeque não parecia particularmente ameaçado pela classe dirigente do Canadá. Tudo isso mudou nos anos 60 com a ascensão de uma classe média laica e um novo movimento operário em ruptura com o movimento da igreja e aparição de um novo movimento nacionalista (que se cristalizou finalmente com a criação do Partido Quebequês). A revolução tranquila dos anos 60, a crise de Outubro de 1970 (na qual o governo de Trudeau utilizou o exército e a polícia para esmagar a frente de libertação do Quebeque), a greve geral militante de 1972 e a eleição do governo do PQ sob a direcção de  René Lévesque em 1976, tudo isso conduziu a colocar a questão do Quebeque no poscénio do debate político.

E isso continuou assim pelo período de uma trintena de anos. Contudo, a obsessão dos políticos federais para resolver a questão do Quebeque foi explorada pelos políticos de direita que sugeriam que no meio das provações, os quebequenses procuravam obter um tratamento especial.

18. Antes de tudo, a atitude dos socialistas deve ser clara: o Quebeque é uma nação oprimida no Estado Canadiano. Conquistado primeiro pelo imperialismo britânico, o Estado canadiano continua a negar os direitos democráticos do Quebeque à autodeterminação, incluindo a secessão da Confederação Canadiana (o que não significa aceitar o direito do governo do Quebeque a negar o mesmo direito às nações autóctones). Mas a partir daí as coisas complicam-se. Como o sublinhei mais acima, não há regras gerais ou de direito universal que digam aos socialistas se eles devem defender ou opor-se à separação ou à secessão. Para escolher temos necessidade de uma análise concreta.

No fundo, a atitude socialista deve assemelhar-se à atitude de Marx a respeito da Irlanda. Se um movimento operário poderoso, unido, demonstra capacidade de abordar os problemas da opressão nacional, então a separação nacional não é necessária. Marx pensava que era o caso da Inglaterra durante o período do Chartismo que culminou em 1848. Mas se o chauvinismo em relação à nação oprimida se tornar um meio contínuo de bloquear o desenvolvimento da independência política de classe da classe operária, então será sensato defender a independência como uma maneira de acabar com o antagonismo nacional que podem defender os políticos de esquerda. O que quer que se diga a respeito do passado, creio que um bom exemplo pode ser extraído das consequências dos debates sobre a Lei 101 e da Lei 172 (as recentes leis linguísticas do Quebeque), sobre os acordos do Lake Niich e de Charlotte Town e da enorme hostilidade que gerou em todo o país a ideia de garantir o reconhecimento do Quebeque como uma sociedade distinta; O chauvinismo anti-quebequense funciona da mesma maneira que o chauvinismo anti-irlandês nos anos de 1860: uma maneira de ligar os trabalhadores anglófonos com os seus próprios dirigentes e as tradições do seu Estado canadiano. Todas as tentativas de responder às reivindicações nacionais do Quebeque reencontram em breve uma poderosa oposição de uma parte considerável das pessoas comuns de língua inglesa. No meio deste tecto anti-quebeque a identidade nacional da classe operária unida  atrás das tradições do Estado canadiano afirmou-se. Podemos pôr a questão de saber como defender uma Nova Confederação livre e igualitária, o que Marx propunha no caso da Inglaterra e da Irlanda, de modo a defender a nossa posição neste caso.

 

 

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Foi um erro da parte de Marx propor aos operários assumirem uma problemática nacionalista burguesa. Isso demonstra a sua inexperiência política, reflexo da imaturidade da consciência da classe operária britânica no princípio do capitalismo industrial. Não é de modo algum da alçada do proletariado solucionar os problemas constitucionais, legislativos e parlamentares entre duas burguesias nacionalistas e entre dois Estados capitalistas em guerra. O proletariado não quereria podê–lo fazer, pois que não possui por único poder e única riqueza senão a sua força de trabalho para vender sem sequer ter a possibilidade de  recusar . O proletariado britânico desse tempo, como o proletariado canadiano de hoje, não devem alimentar nenhuma ilusão desta natureza, não haverá nova confederação dos sovietes realmente livres e igualitários entre os proletários da terra senão no dia em que a ditadura do proletariado se imporá sob  o modo de producção comunista proletário. A superestrutura legal repousa sobre a infraestrutura fundamental, jamais o inverso. Longe de afastar o proletariado duma nação ou de uma outra futilidade nacionalista, a atitude oportunista da esquerda social-nacionalista não fez senão semear a confusão de acreditar o mito da opressão nacional e de uma possível liquidação política nacional, fora de uma fundamental emancipação económica da classe proletária. NDLR.

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Pretendo deixar bem claro neste ponto que a minha sugestão de que os  socialistas deveriam naturalmente defender a independência do Quebeque não tem nada a ver com o pensamento de que um novo Estado do Quebeque seria em si mesmo progressista, ou que a luta por ele deveria inevitavelmente desencadear um movimento social radical. Ao invés, contrariamente aos camaradas da Esquerda Socialista , penso que o Quebeque burguês independente realizado sem sublevação maciça é uma possibilidade muito real. Dela resultaria um Estado do Quebeque independente com os controlos de imigração, das práticas racistas e uma hostilidade contra os povos autóctones, o que me parece muito possível. De facto, penso que os camaradas da Esquerda Socialista se enganam quando sugerem que os nacionalistas burgueses do Quebeque (como Lucien Bouchard) não querem realmente um Estado independente e que os socialistas deviam tentar abordá-los enquanto mais  soberanistas do que os soberanistas. De facto, penso que uma tal posição corre o risco de não ser suficientemente crítica do nacionalismo quebequês e do estado nacional como forma política

 

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O professor Mcnally resume perfeitamente o ponto de vista da inteligência proletária burguesa, tanto da esquerda como da direita, a propósito da questão nacional quebequense. Contudo, o ponto de vista materialista dialéctico do proletariado revolucionário é muito diferente. Nós já o explicámos longamente: uma nação não é nunca oprimida, uma nação não é nunca opressora. Sob o modo de producção capitalista, a classe social dominante explora e oprime, em primeiro lugar, a classe alienada da sua própria nação, e se esta classe capitalista está à cabeça de uma infraestrutura industrial, comercial e de negócios, multinacionais, ela captura e oprime também a classe proletária dos países estrangeiros. A classe operária canadiana não tira nenhuma vantagem da exploração dos proletários da província do Quebeque ou dos proletários autóctones vivendo nas  reservas ou fora das reservas e neste sentido pode dizer-se que esta classe operária alienada não explora as facções quebequenses ou autóctones da classe proletária internacional. Ademais, a secção quebequense da classe capitalista canadiana obteve todos os poderes políticos e jurídicos que lhe foram requeridos para assegurar o seu desenvolvimento, enquanto secção da classe dominante no seio do conjunto federal canadiano. Podemos portanto afirmar que a classe capitalista quebequense não é oprimida pela classe capitalista canadiana de que faz parte e à qual fornece vários palhaços políticos nacionais. A emergência de vários milionários de negócios do Quebeque na cena internacional é disso uma manifestação evidente. Tudo se jogou aquando das negociações do Acto da América do Norte Britânica (AANB). Nessa ocasião (1867) a burguesia nacional quebequense obteve o controlo do seu próprio aparelho de Estado burguês, logo que a oportunidade de participar na governação do aparelho de Estado burguês canadiano assegurou também o seu desenvolvimento. Melhor, contrariamente às pretensões da esquerda e da direita burguesas, o governo do Quebeque alertava contra o direito de secessão (separação – autodeterminação – direito de dispor do proletariado quebequense). À prova, o governo nacionalista chauvinista do Quebeque fez dois referendos sobre a questão nacional (1980 e 1995) e se ele tivesse vencido um ou outro desses referendos, o Quebeque seria hoje um Estado capitalista soberano assegurando a exploração da classe proletária quebequense multiétnica e a exploração do proletariado destes países. O capital quebequense enquanto segmento do capital canadiano atingiu o patamar do desenvolvimento imperialista da economia capitalista. Como em toda a parte, a dita luta de libertação política nacional do povo do Quebeque, sem libertação económica da carapuça capitalista internacional ter-se-ia saldado para os operários pela consolidação da posição dos seus carcereiros quebequenses. A crise sistémica do imperialismo internacional bateria mesmo assim duramente o proletariado quebequense multiétnico como o proletariado canadiano multiétnico, que teriam ambos a missão histórica internacionalista de substituir a sua classe capitalista e destruir o seu respectivo Estado, a fim de erigir o modo de producção proletário-comunista. As classes proletárias quebequense e canadiana recusaram jogar este jogo nacionalista chauvinista e a cada referendo quebequense ou canadiano a classe operária internacionalista recusou deixar-se enlear nas peias  grosseiras dos capitalistas e dos seus comparsas  da esquerda aburguesada. Verdadeiramente a classe proletária canadiana não precisou de uma vanguarda nacional-socialista de rectaguarda. NDLR.

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19. Uma outra referência deve ser feita no que concerne às questões nacionais do Canadá. A maior parte das pessoas de esquerda que entretêm estas questões vêm de um período em que os imigrantes e os povos de cor não estavam ainda politicamente organizados. Muitas vezes esfalfavam como se existisse uma entidade homogénea chamada Canadá Inglês, de maneira que parecia não ter o carácter multiétnico e multiracial do país. Resultou daí que o carácter sistematicamente racista do    canadiano era subestimado ou ignorado. Isto deve ser corrigido. Os socialistas não devem privilegiar as questões autóctones ou quebequenses de uma maneira que ignore a opressão racial das pessoas de cor no Canadá. Por esta razão, o apoio consequente ao anti-racismo deve ir de par com um apoio de princípio aos direitos dos povos autóctones e quebequenses à autodeterminação.

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20. As questões nacionais tornar-se-ão mais importantes na política mundial nos próximos anos. Os socialistas revolucionários têm obrigação de tentar encontrar as maneiras de fazer face aos debates e às crises que daí decorrerão. Isso nem sempre será fácil. Se se pode utilizar as contribuições históricas dos marxistas do passado para guiar as nossa análises, devemos permanecer em guarda contra as respostas dogmáticas e simplistas que aparecem a prestar justiça à complexidade dos fenómenos implicados. E apoiando o direito das nações oprimidas a determinar o seu futuro, não devemos perder nunca de vista que um dos traços essenciais do socialismo de base é o empenhamento por uma comunidade mundial sem Estado nação.

 


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