19 de Janeiro
de 2022 Robert Bibeau
O Fórum Económico Mundial, Davos, apresenta regularmente o seu relatório sobre os riscos mundiais. Se o ano passado foi uma admissão real de incompetência por parte da classe dominante, este ano marca um salto nas preocupações do enxame de especialistas que, em todo o mundo, aconselham o topo da burguesia corporativa e os governos (totalitários). No centro das atenções: a aceleração do empobrecimento maciço dos trabalhadores e as tensões imperialistas entre estados.
Índice
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Uma sensação crescente de que
as contradições no sistema vão criar cada vez mais pontos de mudança
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Os riscos mundiais e a crise
histórica de acumulação
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Um novo nível nas tensões
imperialistas
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As consequências dos riscos mundiais
de acordo com o Fórum Económico Mundial
Uma sensação crescente de que as contradições no sistema vão criar cada vez
mais pontos de mudança
Mais de metade dos especialistas esperam que os riscos mundiais se concretizem em "surpresas" e "resultados catastróficos" nos próximos três anos.
A maioria dos
inquiridos espera que os próximos três anos sejam caracterizados pela
continuação da volatilidade a todos os níveis, com muitos momentos de tensão,
"surpresas" e "resultados catastróficos" que definem pontos
de ruptura entre "vencedores e vencidos relativos" tanto na
competição entre países como na estrutura de classes. Menos de 16% dos
especialistas consultados sentem-se confiantes ou optimistas sobre a perspectiva
mundial e apenas 10,7% acreditam que a recuperação mundial vai acelerar.
Mais importante
ainda, os
"riscos sociais", uma forma morna de designar a resposta recebida
pelas classes dominantes e pelos seus estados, ocupam o topo da lista de
preocupações.
Os conselheiros e gurus
da burguesia mundial vêem imediatamente uma crescente e potencialmente
explosiva "erosão da coesão social". E não só nos países mais fracos
e sob tensão do G20 como a África do Sul, a Argentina e o México, a França e a
Alemanha já estão no que receiam ser o quebra-mar de um crescente protesto nos
próximos três anos.
A "erosão da coesão social" (insurreição
popular) é o risco que mais se agravou no mundo desde o início da crise
COVID-19, segundo os GRPS. É visto como uma ameaça crítica ao mundo a todos os
níveis – a curto, médio e longo prazo – e é considerado um dos mais
prejudiciais para os próximos 10 anos. Em 31 dos 124 países estudados no EOS –
incluindo Argentina, França, Alemanha, México e África do Sul entre o G20 – a
"erosão da coesão social" foi considerada uma das 10 maiores ameaças
de curto prazo para os seus países.
Responder o quê? Em
primeiro lugar, aquilo a que chamam uma "crise de subsistência" que acaba por se
resumir à enorme
precariedade e empobrecimento e
que, recordam, se manifesta, entre outras coisas, no facto de a "deterioração
da saúde mental" afectar as camadas mais importantes.
A "crise de
subsistência" é a segunda ameaça mais imediata a nível mundial nos GRPS, e
a primeira a nível nacional no Inquérito de Opinião Executiva (EOS). É a ameaça
nacional mais imediata em 97 países, incluindo 16 das economias do G20.
Os riscos mundiais e a crise histórica de acumulação
Como base de tudo isto, eles próprios
reconhecem a crise histórica do capitalismo. Prevêem que a acumulação de países centrais
– excluindo a China – está geralmente estagnada. Para 2024,
esperam um crescimento face aos níveis de 2019 de apenas 0,9%. E estes seriam os
"vencedores". Quanto ao resto, esperam que o valor da produção total
continue a ser 5,5%
menor no mesmo ano.
Já conhecemos a
resposta dos Estados: sugar
cada vez mais rendimentos do trabalho para manter a todo o custo a
rentabilidade do capital. E isto com a concentração de capital e com pouca
ou nenhuma produção para distribuir, torna a desigualdade de classes
dolorosamente visível.
Citando o Banco Mundial, recordam que os 20%
mais ricos recuperaram metade das suas perdas em 2021 e que em 2030 esperam ter
mais 51 milhões de
pessoas do que as já calculadas em condições de pobreza extrema.
Entretanto, o sistema não oferecerá nada à grande massa dos trabalhadores
mundiais, senão uma deterioração das suas condições de vida e de trabalho mais
básicas.
A economia mundial
precisará, pelo menos, até 2023 para criar os postos de trabalho perdidos para
o COVID-19, mas espera-se que muitos destes postos de trabalho sejam de baixa
produtividade e de má qualidade, segundo a Organização Internacional do
Trabalho.
Por outras palavras,
esperam que o empobrecimento seja
tão generalizado que lhes seja impossível manter as ficções igualitárias e de
"bem-estar" que estão no centro do discurso da "justiça
social" dos Estados(totalitários), que os preocupa e lhes
dá um sentido de urgência.
As disparidades de rendimentos são susceptíveis de aumentar a polarização e
o ressentimento dentro das sociedades.
Um novo nível nas tensões imperialistas
Aviões de combate chineses e bombardeiros nucleares patrulham ao longo da fronteira com Taiwan.
Este ano, o Relatório Mundial de Riscos continuou a falar no presente de
"fracturas geopolíticas".
A concorrência entre os Estados Unidos e a
China está a intensificar-se. A crescente proeza económica e
militar da China está a alterar o equilíbrio de poder no Pacífico Ocidental. Os
Estados Unidos estão a reforçar as alianças centradas no Pacífico em resposta,
mais recentemente com o Pacto de Segurança Austrália-Reino Unido-Estados Unidos
(AUKUS).
Outros Estados, como a
Rússia e a Turquia, estão também a demonstrar maior capacidade e vontade de
projectar o seu poder no estrangeiro. Entretanto, as grandes potências mundiais
e regionais estão a testar os limites do direito internacional e da cooperação,
conduzindo exercícios militares em áreas tensas como a fronteira
russo-ucraniana e o Estreito de Taiwan.
O que é mais
interessante, o relatório destaca não só este processo de formação de blocos,
mas como estes blocos já estão a destruir o mercado global, unindo a guerra comercial e a
preparação para a guerra (viral-sanitária)e militarizando o
espaço e o ciberespaço.
A concorrência está a intensificar-se em novas dimensões e geografias, como
evidenciado pela militarização do espaço e pela evolução do ciberespaço, onde
as tensões já agudas entre governos afectados pelo cibercrime e governos
cúmplices continuarão a aumentar.
As tensões geopolíticas
transbordam para a esfera económica. Por exemplo, a Índia e o Japão
implementaram políticas proteccionistas durante a pandemia. As empresas
ocidentais em sectores sensíveis como a tecnologia têm cada vez mais
dificuldade em fazer negócios na China e na Rússia, e os próprios países
ocidentais estão a limitar os investimentos dos seus concorrentes geopolíticos
em sectores estratégicos.
As consequências dos riscos mundiais de acordo com o Fórum Económico
Mundial
Sala de jantar popular na Grécia
A imagem resultante da perspectiva, como pode imaginar, não é de todo optimista.
Para além do empobrecimento em massa, temos de acrescentar o resultado do
colapso de estados inteiros – a começar pelos seus sistemas de segurança social
e cuidados básicos – um aumento sustentado da migração involuntária, uma
explosão de doenças mentais e uma cultura derrotista entre os jovens.
Por outro lado, a explosão de lutas imperialistas pelo controlo dos recursos estratégicos ligados ao Green Deal e à emergência climática e uma tendência cada vez mais forte para o conflito militar entre Estados. E em torno de tudo isto, novas epidemias e uma catástrofe ambiental já em curso, com consequências crescentes para a saúde, segurança e bem-estar de centenas de milhões de pessoas.
Porque é que é importante?
Plenário em Davos 2018
Há cada vez mais
relatos e análises dos centros de pensamento e opinião da burguesia mundial que
reconhecem o desastre humano
e ambiental que
o capitalismo gera, a começar pelas tendências da guerra. https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2022/01/quem-ganhou-o-torneio-preparatorio-para.html
Mas o relatório anual
de riscos mundiais do
Fórum Económico Mundial vai mais longe. Pode ser entendido como algo
semelhante a um "relatório de gestão" anual da burguesia mundial com
os seus fundos, empresas e Estados. É um resumo da evolução das condições
operacionais e das expectativas do sistema que gerem na primeira pessoa no
plural, escrito a partir das respostas directas dos seus milhares de
conselheiros e técnicos de confiança.
O resultado é devastador. Descreve uma classe já anti-histórica, incapaz de
lidar com as consequências do próprio sistema que gere, que mal atinge o
crescimento e que, quando o consegue,é à custa do desenvolvimento humano mais
básico. Um verdadeiro obstáculo para a humanidade que é cada vez mais urgente
separar-se da evolução da espécie humana.
Pode também ler"Relatório do Fórum Económico Mundial "Riscos Globais": A pós-pandemia de acordo com a burguesia mundial e os seus especialistas em Espanha
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Fonte: L’APRÈS-PANDÉMIE SELON LA BOURGEOISIE
MONDIALE ET SES EXPERTS (2022-2025) – les 7 du quebec
Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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